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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 INOVAÇÃO – CONCEITO E DEFINIÇÃO

2.1.2 Graus de Novidade da Inovação

As inovações também podem ser classificadas em função do grau de novidade gerada e tradicionalmente são separadas em incrementais ou radicais. As inovações incrementais são aquelas que geram o aprimoramento do conhecido, ou seja, são melhorias pequenas ou moderadas que aumentam o desempenho dos produtos ou processos. A sua importância reside na maximização da eficiência com uma menor exposição dos investimentos ao risco. Programas como Qualidade Total ou Produção Enxuta trazem o conceito da busca cíclica por melhorias e são grandes fontes de inovações incrementais, permitindo que as empresas façam cada vez melhor o que já sabem fazer. Por outro lado, isso é visto por Davila, Epstein e Shelton (2007) como a representação de uma criatividade limitada e com pouca flexibilidade de solução, acomodando a organização em melhorias incrementais e em uma relativa segurança, inibindo-a para oportunidades mais valiosas. É o que Leonard-Barton (1992) denomina de core rigidities5 e corresponde ao “efeito colateral” das capacidades essenciais (core capabilities); a autora entende que capacidades essenciais são o conjunto de sistemas técnicos e gerenciais combinados a habilidades organizacionais que proporcionam vantagem competitiva devido ao enraizamento dos valores corporativos. Portanto, uma vez que os valores estejam consolidados, as inovações que desafiam o status quo ativam a core

rigidities engessando a empresa frente a novos desafios.

Já as inovações radicais são aquelas que causam mudanças significativas e impactam tanto o modelo de negócios quanto a tecnologia da empresa, e geralmente mudam as regras do jogo no cenário competitivo (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008; DAVILA, EPSTEIN e SHELTON, 2007). Dentre os exemplos

4 O conceito de produto adotado nesta tese considera tanto produto, propriamente dito, quanto serviço.

clássicos de inovações radicais, podemos citar: transistores, antibióticos, pílula anticoncepcional, rádio, televisão, entre tantos outros. No extremo, mais do que mudar o cenário competitivo, tais inovações podem mudar a sociedade.

Tanto que Galbraith (1999) considera que há um continuum entre inovações incrementais e radicais, sendo esta última no seu limiar uma inovação disruptiva (Figura 3).

Figura 3 – Continuum do grau de novidade. Adaptado de Galbraith, 1999.

É necessário destacar que o continuum da inovação não representa uma trajetória linear do processo de inovação das empresas, mas sim o posicionamento estratégico desta em relação à inovação que se pretende desenvolver. Portanto, uma empresa pode adotar uma estratégia que contemple tanto inovações incrementais quanto inovações radicais, tanto de forma simultânea quanto de forma intercalada.

Tal possibilidade não significa que o desafio seja simples. Afinal, as características das inovações incrementais e radicais são bastante diferentes e demandam, no mínimo, uma reflexão nas premissas e lógicas dos dois tipos de inovação na sua modelagem de governança e processos. Algumas dessas diferenças destacadas por Terra (2012) estão na Tabela 2 e devem ser entendidas como os extremos de uma escala contínua. Por outro lado, para Tidd, Bessant e Pavitt (2008), o grau de inovação está associado ao nível de incerteza e comprometimento de recursos. Afinal, as inovações incrementais possuem um ponto de partida conhecido devido ao conhecimento existente e, portanto, geram menos riscos e demandam menor comprometimento de recursos. Em contrapartida, as inovações radicais possuem alto grau de incerteza e riscos, pois necessitam de novos conhecimentos e nem

sempre propiciam uma visão concreta dos resultados, que só devem ser alcançados a longo prazo. Assim, os autores apregoam que quanto maior a incerteza das condições para inovar, maior o comprometimento de recursos para reduzir as incertezas e transformá-las em conhecimento.

Tabela 2 – Diferenças entre o processo de inovação incremental e radical. Adaptado de Terra, 2012 Já, Henderson e Clark (1990) reconhecem que as inovações incrementais reforçam as capacidades estabelecidas nas organizações, enquanto as inovações radicais forçam-nas a lidar com um novo conjunto de questões e diferentes abordagens de resolução de problemas, contudo eles consideram que tais classificações são incompletas. Os autores destacam a crescente quantidade de evidências sobre inovações que aparentemente envolvem pequenas mudanças nas tecnologias empregadas, mas que causam grandes impactos na competição.

Para exemplificar, citam o caso da empresa Xerox, inventora da tecnologia de fotocópia e pioneira no mercado de fotocopiadoras, quando ela enfrentou a competição de novas copiadoras menores e mais robustas em meados da década de 1970. Os novos produtos lançados pela concorrência necessitavam de poucos conhecimentos novos em ciência e engenharia, mas mesmo assim a Xerox demorou quase uma década para lançar um novo produto competitivo. Esta dificuldade causou a perda de metade do mercado de fotocopiadoras e provocou sérios problemas financeiros à companhia (CLARK, 1987 apud HENDERSON e CLARK, 1990).

Este caso ilustra que mesmo o domínio de certa tecnologia ou conceito central – termo vinculado à função do produto, e no caso da fotocopiadora o seu conceito

Processo de Inovação Incremental Processo de Inovação Radical

Foco nos produtos e tecnologia atuais Foco nas necessidades dos clientes e não clientes

Linear e contínuo Não linear e descontínuo

Riscos reduzidos, baixa incerteza Riscos altos, alta incerteza

Racional e explícito Tácito e emocional

central é tirar cópias – não implica que a empresa tenha a capacidade de criar novos produtos por meio de novas configurações ou combinações entre seus componentes (parte física do produto com função definida), pois isso demandaria novos conhecimentos que a empresa pode não possuir. Desta forma, a abordagem de Henderson e Clark (1990) de analisar a inovação do produto como um todo (análise sistêmica) ou pelas suas partes (análise dos componentes) nos permite entender a vinculação dos tipos de inovação e os conhecimentos necessários para produzi-lo. Com isto, os autores propõem uma estrutura conceitual para caracterizar a inovação como o cruzamento de duas dimensões: conceitos centrais e relação entre conceitos centrais e componentes, conforme ilustra a Tabela 3.

Conceitos Centrais Vigentes

Reforçados Superados Rel ão e nt re conce itos ce nt ra is e componentes

Inalterados Inovação Incremental Inovação Modular

Alterados Inovação de Arquitetura Inovação Radical Tabela 3 – Estrutura conceitual para definição da inovação. Adaptado de Henderson e Clark, 1990. Sob esta estrutura conceitual, a inovação incremental é caracterizada por refinamentos e extensões do produto no qual as melhorias ocorrem somente no nível dos componentes, isso propicia que o relacionamento entre os componentes e os conceitos centrais permaneçam inalterados. Enquanto isso, a inovação radical estabelece um novo design dominante e, consequentemente, a aplicação de novos conhecimentos de conceitos centrais em componentes que são integrados a uma nova arquitetura.

Já a inovação de arquitetura corresponde à “reconfiguração de um sistema estabelecido para integrar os componentes existentes de uma nova maneira” (HENDERSON e CLARK, 1990), como ilustrado no caso da Xerox e as fotocopiadoras concorrentes menores e mais robustas. Ou seja, a Xerox tinha o domínio da tecnologia de fotocópias, mas não tinha conhecimento de miniaturização

e a capacidade para integrar as duas tecnologias. Desta forma, a estrutura conceitual proposta pelos pesquisadores destaca os diferentes conhecimentos necessários para desenvolver novos componentes e recombiná-los de forma a gerar um produto inovador.

Por isso, argumentam que a inovação tecnológica de ruptura em um componente demanda um conhecimento que é passível de ser absorvido pelos especialistas atuais, permitindo a estes desenvolverem as chamadas inovações modulares; como é o caso de uma lanterna com lâmpada de filamento e outra de led, no qual o último componente é uma inovação de ruptura e sua integração com o restante da lanterna não exigiu muitos saberes novos. Mas quando a inovação exige mudanças na integração dos componentes, por exemplo, aquelas decorrentes de fusão tecnológica – como entre refrigerador e Internet, permitindo compras online de mantimentos –, o conhecimento atual pode não ser suficiente para desenvolver novos produtos. Logo, ter a capacidade de elaborar certos tipos de inovação está vinculado ao acesso a determinados conhecimentos e recursos.

Desta forma, a decisão de comprometer os recursos e em qual intensidade fomentar a inovação passa ao nível estratégico. Isso porque as três inovações (incremental, de arquitetura e radical) são importantes para a perpetuação das empresas, uma vez que a inovação incremental traz benefícios em curto prazo, enquanto a inovação de arquitetura e radical abrem novas oportunidades e criam condições mais sustentáveis no longo prazo. Assim, balancear estas estratégias levanta o questionamento sobre como modelar a organização para atender estes diferentes tipos de inovação.

Tanto que no estudo de caso realizado por Mello (2010) em três petroquímicas brasileiras buscou-se averiguar se haveria estruturas organizacionais específicas para atender a inovação incremental e a inovação radical, conforme preconizava a literatura; ela constatou que isso não ocorria apesar de haver algum esforço nas empresas em separar as duas inovações, principalmente quanto à alocação de recursos. Pois, não havia flexibilidade organizacional para assimilar os dois tipos de inovação, levando projetos de inovação radical a se adequar à estrutura e processos existentes. Isto demonstra que aparentemente não há uma solução determinada e

prescrita sobre a melhor forma de se organizar para a inovação, nem na prática, nem na literatura.

Entretanto, o propósito deste tópico não é meramente conhecer a taxionomia da inovação, mas aprender a identificar as características da inovação e os respectivos requisitos (tais como conhecimento, organização, recursos, etc.) necessários para desenvolvê-la nos planos de negócios.