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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4 DEMAIS DETERMINANTES NA DECISÃO DE INOVAR

A decisão de inovar não é algo simples, dado que a inovação é um tema complexo e multivariado. Diante disto, surgem diversos questionamentos como: Em que inovar? Como inovar? Quando inovar? E, talvez, a pergunta que antecede todas as anteriores é: por que inovar?

Esta última pergunta não significa que a empresa nunca tenha inovado, até porque não existem empresas sem nenhuma forma de inovação. Assim, considerando o contexto de cada organização, a pergunta pode ser desdobrada em: por que inovar mais? Por que focar mais em inovação? Por que inovar radicalmente? Por que inovar em processos? E em produtos? E tantas outras dúvidas pertinentes.

Enfim, há razões que impulsionam as companhias a adotar a inovação ou aumentar a intensidade e o foco em inovação na sua estratégia competitiva e são antecedentes às decisões operacionais (o quê, como, quando, quem, onde) da inovação. Há uma vasta literatura sobre como as empresas devem inovar, mas poucos textos referentes aos fatores determinantes no processo de tomada de decisão para realizá-la.

Um dos trabalhos que expõe esse tema é o de Braga (2010), no qual a autora constatou, em pesquisa com 36 empresas portuguesas, os fatores que influenciam as empresas a inovar, são eles:

 As empresas pesquisadas decidem inovar para melhorar seu desempenho econômico-financeiro, especialmente em questões relacionadas ao aumento de lucro e à redução do custo de pessoal;

 A ocorrência de obstáculos à inovação influencia negativamente a decisão de inovar, tais como: percepção de altos riscos, custos elevados, falta de informação, reduzida dimensão do mercado, falta de pessoal qualificado, estrutura organizacional pouco flexível, entre outros;

 A existência de acordos de cooperação contribui na decisão de inovar, especificamente no nível de cooperação com clientes e concorrentes;

 A disponibilidade de fontes de financiamento para fomento de projetos estimula a tomada de decisão para alçar novos planos.

Outro fator decisivo é dado por Coral, Ogliari e Abreu (2011), para eles as companhias passam a empreender processos concretos de inovação após identificarem ameaças prementes ao negócio, as quais atuam como gatilhos e deflagram a decisão por investir em inovação. E consideram (sem descrever a fonte das conclusões) que alguns dos impulsionadores mais comuns são:

 Não competir somente no mercado de commodities;  Obtenção de vantagem competitiva sustentável;

 Busca por uma nova plataforma de crescimento para seu negócio;

 Necessidade de gerar oportunidades de crescimento para atingir receitas de longo prazo;

 Determinação para aumentar sua fatia de mercado, inclusive via exportação. Já Cooper (2001), analisando dados de pesquisa efetuada pela revista Fortune, conclui que há quatro determinantes para a inovação na visão de executivos seniores:

 Avanços tecnológicos: o crescimento exponencial da base tecnológica e de conhecimentos proporciona soluções e produtos nunca antes imaginados, colocando a organização em risco de obsolescência cada vez mais iminente;  Mudança das necessidades dos clientes: tal comportamento entre

consumidores tem-se acelerado, tornando-os cada vez mais exigentes em suas necessidades e desejos. Assim, corre-se o risco de perder mercado, se não agir rápido para atender as novas demandas;

 Redução do ciclo de vida dos produtos: há mais de 16 anos atrás, pesquisa da consultoria A.D. Little7 constatou que o ciclo de vida de alguns produtos foi

7 Fonte utilizado por Cooper (2001): A. D. Little apud von BRAUN, C. F, The Innovation War (Upper Saddle River, N. J.. Prentice Hall PTR, 1997)

reduzido para um quarto, quando analisado num período de 50 anos. Isso faz com que as organizações lancem novos produtos com maior rapidez no mercado, provocando fortes pressões internas;

 Aumento da competitividade global: a globalização aumenta o ritmo de desenvolvimento de novos produtos para conter o avanço de produtos importados e conquistar o mercado internacional.

Por outro lado, no trabalho realizado por Ramanujan e Mensch (1985) – com o intuito de desenvolver um modelo conceitual que relacionasse as atividades de inovação com os objetivos estratégicos e pressões externas – foi elaborado um

ranking com as principais causas de pressão por inovação, percebidas por 122

gestores, e atrelou-as aos objetivos declarados de inovação. Portanto, os autores categorizaram as pressões e objetivos da inovação da seguinte forma:

 Custo: exclusivamente os custos com material, energia e mão-de-obra;  Novas tecnologias: sistemas de manufatura, novos materiais e componentes;  Valor ao cliente: problemas decorrentes da obsolescência do produto,

mudanças na demanda e na criação de produtos sucessores, melhoria na experiência do cliente e reestruturação do mix de produtos;

 Competição: especificamente devido à superioridade do produto do concorrente e menor preço dos importados;

 Recursos humanos: inerentes a necessidade de empreendedorismo, envolvimento dos colaboradores, melhoria no ambiente de trabalho e recursos especializados;

 Regulação: demandas por segurança do produto, legislação e meio ambiente;  Produtividade/eficiência: tipicamente ligada ao aumento da eficiência geral e

da eficiência produtiva.

Um ponto importante destacado pelos autores é que o ranking é contextual, isto é, a categoria ou posição dentro dela corresponde ao momento e situação em que a pesquisa foi aplicada. Desta forma, os determinantes na decisão de inovar variam em função do contexto em que é analisado.

Entretanto, percebe-se que os fatores para inovação descritos acima estão basicamente alinhados com as estratégias genéricas postuladas por Porter (1986). De fato, os determinantes como custo, competição, produtividade e eficiência estão em consonância com a estratégia genérica de liderança em custo total. Enquanto determinantes como adoção de novas tecnologias, o lançamento de novos produtos, a entrega de valor ao cliente e também a competição estão na linha de uma estratégia por diferenciação. E, por fim, a estratégia genérica de foco se aplica a pautas como a adoção de novas tecnologias e a entrega de valor ao cliente de um determinado nicho.

Portanto, para efeito desta tese, foram considerados os seguintes determinantes das estratégias genéricas, visto que sofreram menor impacto do contexto entre as empresas pesquisadas: surgimento de novas tecnologias, entrega de valor ao cliente (considerando mudanças de perfil e de demandas do mercado), redução de custo, aumento de competitividade e aumento de produtividade e eficiência. Também será considerado o determinante regulação, pois impacta toda a indústria e setor.

Afinal, tais fatores geram impactos na organização quando as táticas orientadas à inovação, em função dos determinantes atendidos, são incorporadas ao planejamento estratégico. E isso se materializa na forma de alocação de recursos financeiros, humanos e estruturais; consequentemente, pode mudar a forma como a empresa se estrutura para inovar, assim como os seus processos de inovação. Desta forma, a trajetória futura da inovação nas organizações é dependente das tomadas de decisão para inovar em função dos determinantes requeridos durante o desenvolvimento da estratégia.