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Em relação às referências individuais, foram recorrentes as alusões à busca de atendimento por familiares de usuários de álcool e outras drogas (com ênfase em crack); aos conflitos familiares e sofrimentos desencadeados por divórcio, disputa por guarda de filhos, violência doméstica; e às pessoas com discursos delirantes persecutórios em busca de defesa diante de conflitos com familiares e com a comunidade, ameaças vivenciadas em seus delírios e/ou diante de violações de seus direitos. Também se fizeram presentes referências aos temas de busca por internação e/ou interdição; conflitos envolvendo disputa de bens, situações envolvendo cuidados de idosos, e de pais diagnosticados como portadores de transtornos mentais que requerem a restituição da guarda de seus filhos.

A ênfase nas demandas de violência doméstica e de conflitos familiares:

“Aqui chega de tudo, de tudo mesmo. Por exemplo, saúde mental: dependência, uso e abuso de drogas psicoativas; questão da violência contra a mulher; acolhimento de crianças, questão da área da infância; a questão do atendimento à família; a questão das conciliações [...]; casos que envolvem idosos, a questão do cuidado com o idoso da família, pra tentar fazer o acordo; quando envolve criança, a guarda” (ADAS 01). “Principalmente nessa área de Família. Nessa que a gente nota sofrimento, muitas vezes, boa parte chega como violência, de violência doméstica, aí a pessoa chega ou por conhecimento da Defensoria mesmo ou muitas vezes por encaminhamento de algum órgão da rede, principalmente pelo Centro de Referência da Mulher. Às vezes chega uma pessoa muito fragilizada por conta de histórico de violência familiar. Violência doméstica sempre vem com a demanda de medida protetiva. Acho que até

pela mídia. Ah! A mulher tem direito, então eu vou vir aqui porque eu quero uma medida protetiva, eu quero afastar. E família vem atrás de pensão, divórcio. A procura inicial é sempre essa, sempre essa, relacionada a esses pontos específicos jurídicos” (DP 01).

Conflitos relacionados a bens de família, internação e interdição:

“Eu não sei o que ele é, acho que ele tem transtorno, acho que ele é bipolar, mas ele tem uma questão jurídica. Foi levantado, ele trouxe, acho que é uma questão de bens da família. Ele trouxe, o pessoal pesquisou e constatou que tem mesmo, então ele é atendido. Os defensores atendem ele e já estão acostumados” (ADAS 01).

“Já na Família, a principal entrada era a família sim. Principalmente na interdição. Então, ia lá eu preciso interditar meu pai, meu tio, meu parente porque ele é portador de transtorno, tô com o laudo médico aqui que ele é esquizofrênico e etc. E de vez em quando, como eu te falei, vinha uma pessoa que tinha dificuldade de comunicação, às vezes a pessoa tinha uma narrativa confusa, aparentemente delirante” (DP 01).

“Às vezes, as pessoas têm resistência pra internar, eu já internei um caso de esquizofrenia aqui, entrei com a ação e o hospital não queria receber, entrei com a ação e o juiz não deu aqui, eu recorri, ganhei e a pessoa está internada. Ela tinha surtos psicóticos, não sei se é assim que fala, ela tinha crises, ela era esquizofrênica séria, e a família não tinha condições de cuidar dela. Como é que a gente vai fazer com essas famílias? A gente não vai protegê-las também? [...] Já vi mãe aqui que é tanto drama que torce até pro pior. Porque não aguenta mais! Não aguenta mais! Hoje eu atendi uma mulher aqui que o filho dela está usando dez, doze pedras de crack por dia. Ela falou assim, eu tô rezando pra ele ser preso; se ele for preso vai ser um alívio pra mim; tomara que ele morra na cadeia. Ela usou esses termos. Pra uma mãe chegar nisso!!” (DP 03).

Pais em busca da restituição do poder familiar:

“Na área da Infância o familiar com o diagnóstico de transtorno também vinha, mas, mas por que, por algum motivo a prole dele tinha sido acolhida numa instituição sob a justificativa de que aquela família, aquela mãe e aquele pai não estavam dando os cuidados necessários, para o Conselho Tutelar. Então, tinha o acolhimento institucional, aí, com a notificação de algum órgão, ou até se a pessoa comparecesse na Defensoria e ah, eu vim... eu quero a guarda do meu filho de novo, quero ter acesso, quero ter a companhia dele. Aí vai ser investigado no processo da infância, você via que a pessoa tinha, os pais tinham algum transtorno” (DP 01).

As ideias persecutórias e a busca por defesa:

“Muitos se queixavam de problemas com a família, ou que se desentendiam com alguém da família ou tinham uma ideia persecutória em relação a alguém da família ou alguma ideia persecutória em relação a algum órgão da cidade, alguma coisa de, Ah! Fizeram isso comigo; estão me espionando. Bastantes ideias persecutórias, de fixação em cima de alguma coisa. Questões familiares, eu acho que em quantidade ganhava. É assim, meu irmão tá fazendo isso, minha mãe tá fazendo aquilo, desconfiando de alguma coisa” (ADP 01).

“Eu ganhei a Mega-Sena e não querem me dar, eu quero que você entre com uma ação contra o governo porque eles não querem me dar a Mega-Sena. Ou pessoas que, por exemplo, olha, eu fui raptado e me implantaram um chip na cabeça, e aí eu quero

que vocês processem essas pessoas, eu sei quem é... E aí tem as coisas mais idiossincráticas, né? Por exemplo, mas como é que o senhor sabe que te implantaram esse chip? Ah, porque eu penso e a televisão muda de canal ou eu sei que a pessoa do programa de televisão tá falando comigo, tem câmeras na minha casa... Essa também é uma coisa bastante comum... tem câmeras e estão violando a minha intimidade e eu preciso de uma compensação em dinheiro. Então tem muita gente que vem atrás de um processo de indenização porque tem câmeras na casa dele. Então, são mil histórias diferentes, mas de um núcleo pulsante que tem essa coisa da persecutoriedade e de uma fantasia em torno da figura da lei” (ADP 02).

Embora referências aos atendimentos individuais estejam mais presentes nos discursos dos participantes, caracterizando sua predominância na rotina de trabalho, foram também mencionadas demandas coletivas, em que se nota constante entrelaçamento das dificuldades sociais e do sofrimento mental das pessoas usuárias dos serviços da DPESP.