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Desafios na Promoção dos Direitos da Criança, Infância e Adolescência

No que tange ao ambiente empresarial, os desafios e oportunidades deste compro- misso passam por três eixos:

• Combater a exploração sexual de crianças e adolescentes; • Erradicar o trabalho infantil; e

• Promover o desenvolvimento do jovem aprendiz.

É importante ressaltar que tanto o trabalho infantil quanto a exploração sexual são atividades ilícitas e têm conotação comercial, sendo consideradas exploração econômica indevida.

A exploração sexual se manifesta na prostituição e na veiculação de pornografia, mas também no turismo sexual e no tráfico. O ato é praticado por adultos e a remuneração em espécie vai para uma terceira pessoa, também adulta. As principais situações que podem deixar a criança e o adolescente sob a ameaça de exploração sexual são pobreza, exclusão social, violência sofrida dentro de casa, vulnerabilidade da família, consumo de drogas e abandono escolar.

Classificação Idades relacionadas

Criança O Estatuto da Criança e do Adolescente considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos (Art. 2º). Já para a Convenção nº 182 da OIT “o termo criança aplicar-se-á a toda pessoa menor de 18 anos” (Art. 2º).

Adolescência O Estatuto da Criança e do Adolescente considera adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos de idade (Art. 2º).

Jovem De acordo com a Unesco, o período de juventude vai dos 15 aos 24 anos de idade.

Aprendiz Conforme a Constituição Federal, o jovem só pode ingressar no mercado de trabalho a partir dos 16 anos, exceto se for contratado na condição de aprendiz, dos 14 aos 24 anos. No caso de atividades insalubres, perigosas ou penosas, a idade do aprendiz deve ser entre 18 e 24 anos.

Trabalho infantil O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) visa retirar do trabalho crianças e

De acordo com a publicação Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes1, da Agência

de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), os locais onde mais ocorre a prática ou oferta de exploração sexual são casas de massagem, agências de modelos, prostíbulos, bares e casas noturnas, pensões e pousadas, hotéis, praças, rodoviárias, aeroportos, áreas turísti- cas, áreas de garimpo e de extração de minérios, rodovias, postos de combustível e portos marítimos e fluviais. As empresas, dentro de sua esfera de influência, devem estar atentas a eventuais ocorrências entre suas relações comerciais. Uma das áreas mais suscetíveis a situações relacionadas à exploração sexual é a de logística e transporte.

Um levantamento feito pela Universidade do Estado do Ceará e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou um perfil das vítimas:

• 78,5% delas têm entre 15 e 18 anos de idade; • 89,4% são do sexo feminino;

• 71,5% são negras;

• 77,3% não completaram o ensino fundamental; e

• 50,3% têm renda mensal familiar de, no máximo, um salário mínimo.

A exploração sexual é uma violação aos direitos humanos e se caracteriza como uma forma de violência de gênero – já que a maior parte das vítimas são meninas – e um problema de saúde pública, pois gera efeitos na sanidade física, mental e emocional das vítimas, assim como riscos associados ao consumo de drogas, à gravidez indesejada e às doenças sexualmente transmissíveis.

A mão de obra infantil é usada principalmente nas ruas, nos lixões, no narcotráfico e, direta ou indiretamente, em outras atividades econômicas, normalmente terceirizadas e precarizadas. Muitas vezes, a própria família desconhece os riscos do trabalho precoce e ainda alimenta a ideia de que a criança pode conciliar o seu desenvolvimento os estudos e o trabalho, geralmente motivada por sua condição socioeconômica. No entanto, é exer- cendo atividades classificadas como as piores formas de trabalho infantil que crianças e adolescentes sofrem efeitos danosos no seu desenvolvimento.

A publicação Piores Formas de Trabalho Infantil – um Guia para Jornalistas2, da Andi,

destaca alguns desses efeitos sobre o desenvolvimento da criança: • Físico, pela possibilidade de contrair a lesões ou doenças;

• Emocional, pelos maus-tratos a que está exposta ou pela relação ambígua de trabalho; • Social, pela ausência de convívio com outras crianças e de atividades próprias da sua idade; • Educacional, havendo comprovação de maior incidência de repetência e abandono da escola entre crianças que trabalham; e

• Democrático – sem educação e informação, a criança deixa de ter acesso aos seus direitos.

1 http://www.andi.org.br/infancia-e-juventude/publicacao/

exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes-guia-de-referencia-para

Capítulos

Temáticos

O trabalho infantil no país

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004, do IBGE, havia em 2003 5,1 milhões de crianças e adolescentes trabalhando no país. Desse total, 4,1% tinham de 5 a 9 anos de idade, 33,3% estavam na faixa dos 10 aos 14 anos e 62,6% tinham entre 15 e 17 anos.

Quase metade das crianças que trabalham vivem em famílias com rendimento familiar até meio salário mínimo e a renda que auferem em seu trabalho é parte substancial do sustento da família. Entretanto, foi possível observar um declínio nos percentuais de trabalho infantil, na última década, com prováveis impactos positivos das políticas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e dos programas de apoio às famílias.

Trecho adaptado do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar Comunitária3.

Com relação ao programa de aprendizagem as empresas devem cumprir a cota de aprendizes, que está fixada entre 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, por estabelecimento, calculados sobre o total de empregados cujas funções demandem formação profissional. Na pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, de 2010, embora 93% das empresas contratem aprendizes, 43% não atendem a cota mínima de 5% e apenas 3% delas têm um percentual de contratação superior a 15%. Os resultados mostrados na tabela abaixo sinalizam algumas dificuldades importantes.

Aqui é possível ver que, mesmo entre os mais jovens, as pessoas com deficiência têm dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, justamente em uma fase da vida onde a exigência de experiência profissional não é uma barreira. A Lei do Aprendiz determina que pessoas com deficiência possam ser contratadas como aprendizes em qualquer idade. A mesma exclusão se repete na contratação de mulheres e de negros como aprendizes. Elas representam apenas 37% do total e os negros, somente 35,6%.

Questão SIM NãO

Sua empresa tem dificuldade para cumprir a Lei do Aprendiz? 30% 70%

Entre os aprendizes mantidos por sua empresa há pessoas com deficiência? 22% 78%

Sua empresa mantém uma política de efetivação dos aprendizes que concluem o contrato de

aprendizagem? 56% 44%

Entre as empresas que não cumprem a cota mínima de aprendizes, as razões alegadas estão distribuídas da seguinte forma:

• 41% atribuem à falta de conhecimento ou experiência da empresa para lidar com o assunto;

• 36% atribuem à falta de qualificação de aprendizes; e

• 23% atribuem à falta de interesse dos aprendizes pela empresa.

Quadro Referencial em Gestão

Adicionalmente às referências que constam neste quadro, a empresa deve buscar possíveis referências setoriais em gestão, as quais trarão um olhar mais apurado aos desafios, dilemas e indicadores a serem monitorados em seu setor especificamente. Referências Indicadores quantitativos e qualitativos

Critérios

Essenciais 1. Respeitar e apoiar a proteção dos direitos humanos expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros documentos relacionados ao tema. 5. Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil, tanto em suas atividades diretas quanto em sua cadeia produtiva.

Diretrizes GRI HR1. Descrição de políticas e diretrizes para manejar todos os aspectos de direitos humanos. HR6. Medidas tomadas para contribuir para a abolição do trabalho infantil.

SO8. Descrição de multas significativas e número total de sanções não monetárias. PR7. Casos de não conformidade relacionados à comunicação de produtos e serviços.

Indicadores Ethos 9. Compromisso com o futuro das crianças. 10. Compromisso com o desenvolvimento infantil.

17. Compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade (a empresa oferece aos estagiários boas condições de trabalho, aprendizado e desenvolvimento profissional e pessoal em suas respectivas áreas de estudo, com o devido acompanhamento; ao encerrar o período referente ao estágio, procura empregar os estagiários na própria empresa; quando isso não é possível, busca colocação para eles em empresas ou organizações parceiras).

25. Critérios de seleção e avaliação de fornecedores (relacionado ao trabalho infantil). 26. Trabalho infantil na cadeia produtiva (relacionado ao trabalho infantil).

28. Apoio ao desenvolvimento de fornecedores (relacionado ao trabalho infantil).

29. Política de comunicação comercial (a empresa tem política formal contra propaganda que coloque crianças em situação preconceituosa, constrangedora, desrespeitosa ou de risco?). 40. Participação em projetos sociais governamentais (a empresa adota ou desenvolve parceria com organismos públicos visando objetivos como erradicar o trabalho infantil).

Norma ISO 26000 TEMA: DIREITOS HuMANOS Questão: Diligência

• Estruturar política de direitos humanos com orientações que façam sentido para quem esteja dentro e para aqueles diretamente ligados à organização.

• Determinar meio de avaliar como as atividades existentes e as propostas poderão afetar os direitos humanos.

• Determinar meio de integrar a política de direitos humanos em toda a organização. • Determinar meio de medir o desempenho ao longo do tempo, para conseguir fazer os ajustes necessários nas prioridades e na abordagem.

Questão: Situações de Risco para os Direitos Humanos

• Estar atento à existência de conflito ou extrema instabilidade política, falhas no sistema democrático ou judiciário, ausência de direitos políticos e outros direitos civis.

Questão: Evitar Cumplicidade

• Não fornecer bens ou serviços a uma entidade que os use para cometer violações dos direitos humanos.

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Temáticos

Referências Indicadores quantitativos e qualitativos

Norma ISO 26000 • Não estabelecer parceria formal com um parceiro que cometa violações dos direitos humanos no contexto da parceria.

• Informar-se acerca das condições socioambientais em que os bens e serviços que a empresa compra são produzidos.

• Considerar tornar público ou tomar outra medida para indicar que a empresa não se coaduna com atos de discriminação que ocorrem na área trabalhista do país em questão.

Questão: Resolução de Queixas

• Estabelecer mecanismos de reparação eficazes garantindo que sejam legítimos, acessíveis, previsíveis (por exemplo, com processos e monitoramento já previstos), equitativos (permitindo um processo justo de queixa), compatíveis com seus direitos (respeito às normas internacionais), claros e transparentes, baseados no diálogo e na mediação.

Questão: Discriminação e Grupos Vulneráveis

• Examinar suas operações e as operações de outras partes, dentro de sua esfera de influência, para determinar se há alguma forma, direta ou indireta, de discriminação. • Conscientizar os membros de grupos vulneráveis acerca de seus direitos.

• Contribuir para a reparação de discriminação ou de um legado de discriminação do passado, sempre que possível.

Questão: Direitos Fundamentais do Trabalho

• Avaliar seu impacto na promoção da igualdade de oportunidades e não discriminação e adotar medidas positivas para promover a proteção e o progresso de grupos vulneráveis. • A idade mínima para emprego é determinada por meio de instrumentos internacionais.

Recomenda-se que a organização não se envolva nem se beneficie do uso do trabalho infantil. Se uma organização tiver trabalho infantil em suas operações ou esfera de influência, recomenda-se que ela não somente assegure que a criança seja retirada do trabalho como também que alternativas apropriadas, especialmente educação, sejam oferecidas para a criança. Trabalho leve que não prejudique a criança nem interfira na frequência escolar ou em outras atividades necessárias para o pleno desenvolvimento da criança não é considerado trabalho infantil.

Questão: Condições de Trabalho e Proteção Social

• Garantir que as condições de trabalho obedeçam a leis e regulamentos nacionais e sejam consistentes com as normas internacionais do trabalho pertinentes.

• Respeitar níveis mais altos de condições estabelecidas por meio de outros instrumentos legalmente obrigatórios, como os acordos coletivos.

• Observar, pelo menos, as condições mínimas definidas em normas internacionais do trabalho, como as estabelecidas pela OIT, principalmente quando não tiver ainda sido adotada legislação nacional.

Questão: Saúde e Segurança no Trabalho

• Contemplar as formas específicas e, às vezes, diferentes como trabalhadores menores de 18 anos de idade podem ser afetados.

Questão: Desenvolvimento Humano e Treinamento no Local de Trabalho

• Oferecer acesso a todos os trabalhadores em todos os estágios de sua experiência profissional a capacitação, treinamento e aprendizado, além de oportunidades para progresso na carreira, de forma equitativa e não discriminatória.

TEMA: QuESTõES RELATIVAS AO CONSuMIDOR

Questão: Marketing Justo, Informações Factuais e Não Tendenciosas e Práticas Contratuais Justas

• Não visar grupos vulneráveis injustamente.

• Fornecer informações referentes à acessibilidade dos produtos e serviços.

Questão: Proteção à Saúde e Segurança do Consumidor

Minimizar o risco no design do produto, identificando provável grupo de usuários, e dar atenção especial a grupos vulneráveis.

Referências Indicadores quantitativos e qualitativos Pacto Empresarial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras4

Uma iniciativa da Childhood e do Instituto Ethos, o Pacto contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras apresenta sete compromissos, que são acompanhados por indicadores5:

1. Intervir com ações e procedimentos junto à rede de serviços de transportes e aos

prestadores de serviços ligados ao setor de transportes, levando o caminhoneiro a atuar como agente de proteção, objetivando eliminar a exploração sexual de crianças e adolescentes das rodovias brasileiras.

2. Participar, como signatário deste pacto, de campanhas de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, em caráter contínuo e permanente. 3. Criar mecanismos nas relações comerciais que estabeleçam compromissos com seus fornecedores, especialmente aqueles diretamente envolvidos com a cadeia produtiva dos serviços de transporte, para que, igualmente, cumpram os princípios e compromissos deste pacto.

4. Informar e incentivar todas as pessoas que integram as estruturas da empresa ou entidade a participar das ações de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.

5. Apoiar, com recursos próprios e/ou do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), projetos de reintegração social de crianças e adolescentes vulneráveis à exploração sexual comercial ou vítimas dela, garantindo-lhes oportunidade para superar sua situação de exclusão social. Tais projetos podem ser implementados em parceria com as diferentes esferas do governo e organizações sem fins lucrativos, visando sua maior efetividade.

6. Monitorar a implementação das ações descritas acima e o alcance das metas propostas, tornando públicos os resultados desse esforço conjunto.

7. No caso de federações e entidades empresariais representativas, considerando que estas não possuem poder fiscalizador, o compromisso consiste em recomendar a seus associados que observem as práticas recomendadas no presente pacto.

Pacto Global 1. Apoiar e respeitar os direitos humanos proclamados internacionalmente. 2. Evitar a cumplicidade no abuso dos direitos humanos.

3. Erradicar efetivamente o trabalho infantil.

Marcos Regulatórios

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