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SUMÁRIO

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2. ESTRUTURA SUPERFICIAL DA PAISAGEM

4.2.3. Descrição micromorfológica

Durante os trabalhos de campo, foram coletadas amostras não deformadas de camadas e horizontes para a realização de análises micromorfológicas. Unidades constituídas por quantidades elevadas de cascalhos, ou por materiais extremamente friáveis ou duros, não foram amostradas. As coletas foram feitas preferencialmente em apenas um ponto, localizado no interior de cada camada e horizonte. Caso duas unidades fossem muito parecidas, ou pouco espessas, a amostragem era efetuada na transição de ambas. Depois de selecionar pequena área na face do perfil, limpa e relativamente plana, esculpiu-se bloco (7 x 5 x 4 cm) com uso de faca e canivete. Na sequência, o bloco foi acondicionado em caixa de papel-cartão de dimensões iguais, desprendido do perfil e, finalmente, envolvido com filme de PVC. As amostras foram colocadas em caixas de papelão forradas com “plástico- bolha” e jornal, para evitar que se quebrassem durante o transporte. O material foi levado para o Laboratório de Impregnação do Departamento

de Geologia Sedimentar e Ambiental do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), sob responsabilidade da técnica Verônica Gabriel Santos. Após a secagem ao ar, as amostras foram impregnadas com resina de poliéster diluída em solvente e adicionada de catalisador. Os blocos endurecidos foram enviados posteriormente para Luiz Cláudio Nogueira, chefe da Seção de Laminação da referida instituição, onde foram cortados e laminados com serra diamantada; muitas vezes, havia o desprendimento de partículas da superfície das amostras, sendo necessário impregná-las novamente. Em seguida, as amostras laminadas foram coladas sobre lâmina de vidro, desbastadas e polidas até alcançar espessura de 30 a 35 µm. O acabamento consistiu na colagem de lamínula sobre cada lâmina delgada. No total, foram produzidas 45 lâminas delgadas com tamanho de 4,5 x 2,5 cm.

As lâminas delgadas foram descritas em microscópio óptico polarizante (tipo petrográfico), com objetivas de 4, 10, 20 e 40 vezes de aumento, do Laboratório de Geodinâmica Superficial do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Baseado em apostila organizada por Castro (2008), o roteiro de descrição caracterizou os seguintes elementos: 1) fundo matricial: consiste no conjunto dos constituintes do material e é definido pelo percentual de esqueleto (areia e silte), plasma (argila) e poros; 2) estrutura de base (ou distribuição relativa): refere-se ao arranjo espacial entre esqueleto, plasma e poros; pode ser classificada em mônica (apenas grãos do esqueleto), enáulica (agregados plásmicos dissociados do esqueleto e dispersos pelos poros intersticiais), gefúrica (grãos do esqueleto ligados por meio de pontes de plasma), quitônica (grãos do esqueleto envolvidos pelo plasma) ou porfírica (esqueleto imerso em matriz de plasma, ausência de poros intersticiais) (Fig. 26; STOOPS & JONGERIUS, 1975 apud CASTRO, 2008, p. 55); 3) poros; 4) esqueleto; 5) plasma; 6) feições pedológicas: 6.1) cutãs: películas coloidais que revestem a superfície de agregados, poros e grãos; 6.2) glébulas: acumulações relativas, não-cristalinas, de certos componentes do plasma; e 6.3) pedotúbulos: feições tubulares preenchidas por materiais de diferentes origens. Neste trabalho, não foram encontrados dois tipos de feições pedológicas: cristalárias e excrementos. A avaliação de percentuais de constituintes foi baseada na carta de estimativa visual de Fitzpatrick (1980, apud BULLOCK et al. 1985, p. 24-25; Fig. 27).

Figura 26 – Tipos de estrutura de base ou distribuição relativa do material (esqueleto, plasma e poros).

Figura 27 – Carta de estimativa visual utilizada para avaliar os percentuais de constituintes do material.

Fonte: Bullock et al. (1985).

Os poros foram classificados conforme: 1) dimensão: macroporos grossos (> 5.000 µm), médios (2.000 – 5.000 µm), finos (1.000 – 2.000 µm) e muito finos (75 – 1.000 µm), mesoporos (30 – 75 µm) e microporos (5 – 30 µm) (BREWER, 1976, p. 182); 2) rugosidade das paredes: ortoporos (paredes rugosas, formadas pelo arranjo do esqueleto e do plasma) e metaporos (paredes alisadas e adensadas)

(BREWER, 1976, p. 185); 3) distribuição de base: aleatória, agrupada, concêntrica, radial, linear e em faixas (Fig. 28; BREWER, 1976, p. 168); e 4) morfologia: intergranulares (poros muito pequenos, irregulares e interligados, originados pelo empilhamento aleatório de grãos), cavidades (poros relativamente grandes, irregulares e não interligados), vesículas (poros relativamente grandes, regulares e não interligados), canais (poros relativamente grandes, regulares, de forma cilíndrica), câmaras (alvéolos regulares, interligados por meio de canais) e planares (fissuras, regulares ou irregulares, com padrão de distribuição aleatório) (Fig. 29; BREWER, 1976, p. 187-198).

Figura 28 – Tipos de distribuição de base de poros e grãos do esqueleto. Fonte: Castro (2008).

Figura 29 – Classificação de poros quanto à morfologia. Fonte: Castro (2008).

O esqueleto foi caracterizado pelos seguintes elementos: 1) tamanho de grão: areia muito grossa (1.000 – 2.000 µm), areia grossa (500 µm – 1.000 µm), areia média (250 – 500 µm), areia fina (125 – 250 µm), areia muito fina (62 – 125 µm) e silte (4 – 62 µm); 2) grau de seleção: muito bem selecionado (apenas uma fração granulométrica),

bem selecionado (5 – 10% de outras frações), moderadamente selecionado (10 – 30% de outras frações), pobremente selecionado (sem fração dominante) e mal selecionado (grande variabilidade de frações granulométricas) (BULLOCK et al., 1985, p. 26); 3) mineralogia: percentual de grãos transparentes e opacos; teor de quartzo; 4) distribuição de base: idêntica à utilizada para os poros (Fig. 28); 5) orientação de base (eixo maior): forte (> 60% das partículas), moderada (40 – 60% das partículas), fraca (20 – 40% das partículas) e não- orientada (< 20% das partículas) (BREWER, 1976, p. 171); 6) arredondamento: angular, subangular, subarredondado, arredondado e bem arredondado (Fig. 30; PETTIJOHN, 1957, apud CASTRO, 2008, p. 129); 7) morfoscopia: quebrado (interrupção abrupta da forma), picotado (superfície com marcas de impacto), rugoso (superfície ondulada), polido (superfície lisa), cariado (superfície corroída) e ferruginizado (superfície com manchas de óxidos e hidróxidos de ferro) (CASTRO, 2008, p. 71).

Figura 30 – Classes de arredondamento de grãos do esqueleto. Fonte: Modificado de Bullock et al. (1985).

A descrição das propriedades do plasma determinou: 1) cor: sob luz natural (MUNSELL, 1994) e polarizada (termos genéricos – preto, cinza, marrom, vermelho, laranja e outros); 2) orientação de base: 2.1) grau: forte (birrefringência contínua), moderado (extinção incompleta, manchada), fraco (birrefringência fraca, extinção ondulante), não resolvível (agregados plásmicos muito pequenos e anisotrópicos, aparência pontilhada), não orientado (plasma isotrópico) e indeterminado (plasma isotrópico por opacidade) (BREWER, 1976, p. 172); e 2.2) padrão: contínuo (agregados plásmicos não observáveis, extinção em conjunto ou linhas), estriado (agregados plásmicos visíveis, extinção alternada em estrias lineares ou curvas) e pontilhado (agregados plásmicos visíveis, extinção cintilante) (BREWER, 1976, p. 172-173); 3) orientação referida: parede de fenda, parede de poro e superfície de grão (CASTRO, 2008, p. 79); 4) orientação relativa: argilassépica (plasma formado por argilominerais anisotrópicos, de orientação pontilhada), silassépica (plasma dominado por silte, de orientação pontilhada), insépica (separações plásmicas, de orientação estriada, em ilhas isoladas dentro de plasma com orientação pontilhada), mossépica (separações plásmicas, de orientação estriada, em grupos numerosos e contíguos ou separados por pequenas áreas de plasma com orientação pontilhada), vossépica (separações plásmicas, de orientação estriada, associadas às paredes de poros), esquelsépica (separações plásmicas, de orientação estriada, associadas às superfícies de grãos do esqueleto), massépica (separações plásmicas, de orientação estriada, em zonas com disposição subparalela ou aleatória no fundo matricial) e omnissépica (plasma com padrão complexo de orientação estriada) (Fig. 31; BREWER, 1976, p. 309-316).

Figura 31 – Tipos de orientação relativa do plasma. Fonte: Castro (2008).

Em relação aos cutãs, os principais aspectos observados foram: 1) tipo de superfície associada: agregados, poros e grãos livres ou englobados (BREWER, 1976, p. 209-211); 2) contraste: proeminente (saliente e distinto do entorno), distinto (claramente visível, apresenta algumas semelhanças com o entorno) e fraco (pouco evidente, muito similar ao entorno) (BULLOCK et al., 1985, p. 33); 3) aderência: forte (cutã totalmente ligado ao suporte), moderada (cutã parcialmente ligado ao suporte) e fraca (cutã separado do suporte por fissura) (CASTRO, 2008, p. 98); 4) fábrica interna: não laminada (maciça), microlaminada (lâminas < 30 µm, com alternância entre argila límpida e manchada); laminada (lâminas > 30 µm, geralmente de 100 a 200 µm, de textura semelhante), acamada (níveis alternados com texturas diferentes – argila impura e silte argiloso) e acamada composta (níveis alternados de argila microlaminada, silte e argila) (BULLOCK et al., 1985, p. 112); 5) orientação de base: 5.1) da laminação: paralela, convoluta e cruzada (Fig. 32; BULLOCK et al., p. 112); e 5.2) das partículas de argila (ou extinção): nítida (partículas de argila bem orientadas), difusa (partículas de argila parcialmente orientadas) e ausente (partículas de argila não orientadas) (Fig. 33; BULLOCK et al., 1985, p. 112); e 6) tipos genéticos: cutãs de iluviação – originados pela deposição de material transportado em solução ou suspensão (contraste proeminente, orientação nítida, extinção forte e contínua ou estriada à indeterminada ou específica dos cristais reconhecíveis) – cutãs de difusão – gerados pela concentração de material por meio de difusão (contraste distinto a proeminente, orientação difusa, extinção indeterminada ou específica dos cristais reconhecíveis) – e cutãs de tensão/contração – separações plásmicas formadas in situ devido ao efeito de forças diferenciais, como cisalhamento, são encontradas ao longo de fissuras ou na superfície de grãos (contraste distinto a fraco, orientação difusa, extinção estriada, geralmente associada com plasma subcutânico também estriado) (BREWER, 1976, p. 224; CASTRO, 2008, p. 98). Os neocutãs são feições subcutânicas diferenciadas do fundo matricial pela textura, estrutura ou fábrica, que ocorrem imediatamente contíguas à superfície de certos constituintes do material; dividem-se em neomatrãs (aumento da densidade do fundo matricial provocado pela pressão de raízes ou animais nas paredes de poros), neoesqueletãs (concentração de grãos do esqueleto causada pela eluviação do plasma) e neoestriãs (estriamento do plasma nas proximidades de poros, em razão da alternância entre umedecimento e ressecamento) (BREWER, 1976, p. 294; CASTRO, 2008, p. 102).

Figura 32 – Tipos de orientação de base da laminação de cutãs. Fonte: Bullock et al. (1985).

Figura 33 – Tipos de orientação de base das partículas de argila (extinção). Fonte: Castro (2008).

As glébulas foram descritas por: 1) tamanho; 2) morfologia: amidaloide (forma de amêndoa), laminada (forma de lâmina), botrioide (agregação de esferas na forma de cacho de uvas), convoluta (forma contorcida em curvas suaves), elipsoidal (forma de elipsoide), lenticular (forma de lente ou lentilha), lamelar (forma de lâminas ou placas superpostas), mamilar (saliências e reentrâncias arredondadas), reniforme (forma de rim), tuberosa (forma de tubérculo ou raiz nodosa), esférica (forma de esfera) e irregular (sem forma definida) (BREWER, 1976, p. 264); 3) grau de pureza ou impregnação: puro (claramente

distinta do fundo matricial), forte (distinta, porém com alguma semelhança em relação ao fundo matricial), moderado (pouco distinta em relação ao fundo matricial) e fraco (muito similar ao fundo matricial); 4) fábrica interna: indiferenciada (sem padrão de orientação e distribuição), concêntrica (zonas paralelas entre si e em relação ao núcleo da glébula), radial/concêntrica (fissuras radiais e/ou concêntricas), central (presença de vazio central, com cristalizações nas paredes), difusa (acumulação difusa ao redor de núcleo adensado), lamelar (lâminas paralelas, lineares ou levemente curvas) e contínua (material anisotrópico, sem lâminas visíveis, com extinção em conjunto) (BREWER, 1976, p. 261); e 5) tipo: nódulos (fábrica interna indiferenciada), concreções (fábrica interna concêntrica), septárias (fábrica interna radial e concêntrica), pédodos (fábrica interna com vazio central), halos glebulares (fábrica interna difusa) e pápulas (fábrica interna lamelar ou contínua) (Fig. 34; BREWER, 1976, p. 266-275).

Figura 34 – Tipos de glébulas. Fonte: Castro (2008).

Finalmente, os pedotúbulos foram definidos de acordo com: 1) tamanho; 2) forma: 2.1) seção transversal: circular, elíptica e arqueada (BREWER, 1976, p. 248); e 2.2) ramificações: única, dendrítica e anastomosada (BREWER, 1976, p. 249-250); 3) preenchimento: 3.1)

densidade: denso completo (totalmente preenchido), denso incompleto (totalmente preenchido, com presença de poros), solto contínuo (preenchimento friável constituído por agregados, grãos e excrementos distribuídos regularmente) e solto descontínuo (preenchimento friável constituído por agregados, grãos e excrementos distribuídos irregularmente, em grupos ou isolados) (Fig. 35; BULLOCK et al., 1985, p. 103); e 3.2) tipo: granotúbulos (preenchidos somente por grãos do esqueleto), agrotúbulos (preenchidos por grãos do esqueleto e plasma sob a forma de agregados), isotúbulos (preenchidos por grãos do esqueleto e plasma, sem a formação de agregados) e estriotúbulos (preenchidos por grãos do esqueleto e plasma, arranjados conforme a morfologia do pedotúbulo) (Fig. 36; BREWER, 1976, 239-242); e 4) aderência: forte (limites nítidos em relação ao fundo matricial) e fraca (limites difusos em relação ao fundo matricial) (CASTRO, 2008, p. 106).

Figura 35 – Tipos de preenchimento de pedotúbulos. Fonte: Castro (2008).

Figura 36 – Tipos de pedotúbulos. Fonte: Castro (2008).