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Processos morfogenéticos e pedogenéticos 399 6.1.2 Sequência cronológica de eventos paleoambientais

SUMÁRIO

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 99 1 COMPARTIMENTAÇÃO TOPOGRÁFICA

6.1.1. Processos morfogenéticos e pedogenéticos 399 6.1.2 Sequência cronológica de eventos paleoambientais

6.1.3. A influência de mudanças paleoambientais ... 416 6.1.4. Correlação com outras áreas da Região Sul do Brasil e da Argentina ... 422 7. CONCLUSÕES ... 427 REFERÊNCIAS ... 433 ANEXO A ... 457

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o Quaternário é definido como o Sistema/Período iniciado há 2,58 milhões de anos (Estágio Isotópico Marinho 103) – idade que também assinala a base da Série/Época Pleistoceno e do Estágio/Idade Gelasiano (GIBBARD et al., 2010, p. 101). Nesse intervalo da escala de tempo geológico ocorreram mudanças climáticas globais que afetaram as taxas de intemperismo e pedogênese, os regimes fluviais, o nível dos oceanos e a distribuição ecológica dos seres vivos, implicando contínuas transformações da paisagem (MOURA, 1998, p. 335). Além de serem relativamente recentes, os estudos sobre o Quaternário no Estado do Rio Grande do Sul estão concentrados especialmente na Planície Costeira. No interior continental, as pesquisas são menos numerosas e não têm caráter sistemático; essa produção científica atingiu o auge durante as décadas de 1960 e 1970, e foi muito influenciada por abordagens tradicionais da Geologia e da Geomorfologia Climática. Em virtude disso, a maioria dos trabalhos geralmente se voltava para a identificação e a caracterização de unidades litoestratigráficas – Formação Gravataí (MORRIS, 1963), Formação Graxaim (DELANEY, 1965), Formação Touro Passo (BOMBIN, 1976) e outras – e/ou superfícies de aplainamento – Superfície da Campanha, Superfície de Gravataí (AB’ SABER, 1969) e outras – cuja origem era relacionada a mudanças climáticas e variações do nível de base. Entretanto, a aplicação da litoestratigrafia aos depósitos quaternários é limitada devido à frequente similaridade de litologias e de fácies e à natureza descontínua do registro sedimentar (MELLO, 1994, p. 100; MOURA, 1998, p. 340). Apesar da reconhecida importância do clima na evolução da paisagem, os efeitos de atividade tectônica também não podem ser completamente descartados de antemão. Outro problema significativo de vários desses estudos se refere à utilização de métodos de datação relativa e ao pequeno número de idades absolutas incorporadas ao referencial geocronológico; a falta de precisão e a pouca representatividade dos dados, respectivamente, dificultam a correlação entre regiões diferentes do território sul-rio-grandense.

A evolução paleoambiental da Bacia do Rio Pardo durante o Quaternário foi estudada inicialmente por Dutra (1974). Embora se tenha fundamentado no enfoque morfoclimático de Bigarella e colaboradores, a referida autora constata que existem algumas divergências em relação à sucessão de eventos paleoclimáticos registrada em outras áreas nos Estados de Santa Catarina, Paraná e São

Paulo. Segundo ela, a glaciação Nebraskan – entre o Plioceno e o Pleistoceno Inferior – teria sido a única a caracterizar-se por clima semiárido, com a formação do pedimento P1. Do final da glaciação

Nebraskan até a glaciação Wisconsin – Pleistoceno Médio e Superior – predominariam condições climáticas de estepe úmida na região; nesse intervalo, dois baixos terraços com cascalheiras (Tc2 e Tc1) teriam sido

originados por variações do nível de base local. Tal interpretação contraria o pressuposto da correspondência de climas semiáridos e úmidos com períodos glaciais e interglaciais, respectivamente. Além disto, a gênese desses terraços não estaria associada a mudanças climáticas, pois as glaciações Kansan, Illinoian e Wisconsin não teriam influenciado a dinâmica fluvial. Após três décadas, as pesquisas na Bacia do Rio Pardo foram reiniciadas por Fett Júnior (2005), que analisou a arquitetura deposicional do médio curso do Rio Pardo no município de Candelária. Os resultados do trabalho revelam que o padrão de canal do Rio Pardo provavelmente mudou – de entrelaçado para anastomosado – há cerca de 58.500 ± 6.900 anos (LOE) entre os Estágios Isotópicos Marinhos 4 e 3. Essa fase teria sido marcada pela passagem de condições climáticas frias e secas para clima relativamente quente e úmido (interestádio). No entanto, a idade desse evento também não condiz com a perspectiva morfoclimática clássica, visto que a modificação do padrão de canal deveria ocorrer na transição do período glacial para o interglacial.

Esses dois estudos concordam sobre o fato de que as mudanças climáticas quaternárias aparentemente foram importantes na evolução da paisagem da Bacia do Rio Pardo, porém não podem ser explicadas adequadamente por meio do viés morfoclimático tradicional. Além disso, é provável que algumas morfologias tenham sido geradas por mecanismos distintos, como variações do nível de base e/ou movimentos tectônicos. Ambas as pesquisas, assim como várias outras realizadas no Estado do Rio Grande do Sul, baseiam-se na associação entre Geomorfologia, Estratigrafia e Sedimentologia, embora praticamente não existam referências sobre a gênese de paleossolos (Paleopedologia). Mesmo indicando condições ambientais pretéritas – clima, vegetação, topografia e outras – os paleossolos geralmente são utilizados como simples marcadores estratigráficos. Diante disso, a proposta da presente tese consiste em definir o significado paleoambiental de formas de relevo, depósitos sedimentares, paleossolos e solos em ambientes fluviais e de encosta no médio curso do Rio Pardo, de modo a reconstituir a evolução da paisagem durante o Quaternário. O enfoque se fundamenta na análise integrada de elementos

geomorfológicos, estratigráficos, sedimentológicos, paleopedológicos e geocronológicos. Este trabalho pretende contribuir para o entendimento da possível influência de mudanças climáticas e/ou atividade tectônica quaternária na evolução dos grandes vales fluviais localizados na borda do Planalto Meridional – rios Jacuí, Taquari, Caí e dos Sinos.

A tese está dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo será feita breve revisão sobre o estado atual do conhecimento relativo ao Quaternário continental do Estado do Rio Grande do Sul e da Bacia do Rio Pardo; em seguida, se caracterizará a área de estudo e se apresentarão os objetivos do trabalho. O segundo capítulo é subdividido em três partes. A primeira tratará sobre o papel de mudanças climáticas e movimentos tectônicos quaternários no modelado da paisagem, de acordo com as principais abordagens utilizadas no Brasil. A segunda parte consistirá na exposição do enfoque adotado nesta pesquisa, no qual fases de instabilidade e estabilidade da paisagem são marcadas, respectivamente, por processos de erosão e deposição e pela formação de solos, destacando-se a relevância da associação entre aloestratigrafia, análise de fácies e classificação de paleossolos e solos no estudo do registro sedimentar e pedológico. Finalmente, na terceira parte serão discutidos aspectos referentes à origem e ao significado paleoambiental de formas de relevo, depósitos sedimentares, paleossolos e solos em ambientes fluviais e de encosta. O terceiro capítulo abordará os procedimentos metodológicos básicos empregados em diferentes etapas do trabalho. No quarto capítulo serão apresentados os resultados obtidos na tese, e no quinto, o modelo de evolução da paisagem do médio curso do Rio Pardo durante parte do Quaternário.

2. AS PESQUISAS SOBRE O QUATERNÁRIO CONTINENTAL