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SUMÁRIO

10. Solos relativamente jovens ou com pouco/nenhum desenvolvimento de perfil:

5.2. LEVANTAMENTO DE SEÇÕES ESTRATIGRÁFICAS

5.2.1. Perfil Linha do Rio

A seção estratigráfica de Linha do Rio está localizada na margem direita do Rio Pardo, aproximadamente 8 km ao norte de Candelária (perfil 1 – Fig. 37), e tem 56 m de altitude. Coberto atualmente por vegetação secundária (capoeira), o perfil exibe 4,98 m de espessura (Fig. 40) e pertence ao compartimento do terraço fluvial. Em afloramento semelhante na margem oposta, distante 3,7 km a jusante, coletou-se amostra de restos de plantas na base do perfil para datação por 14C, sendo também encontrados alguns artefatos pré-históricos no local.

Figura 40 – Perfil Linha do Rio (LR): as unidades descritas são designadas por meio de letras e algarismos romanos; fácies, horizontes e unidades aloestratigráficas (U. A.) correspondentes, assim como a variação das principais propriedades químicas, são apresentadas nas colunas ao lado.

5.2.1.1. Descrição macromorfológica

Situada na base do perfil, a unidade LR – I mede 177 cm de espessura. A cor seca é bruno-clara (7,5YR 6/4), e a úmida, bruno- amarelada-escura (10YR 4/4). O material predominantemente rudáceo exibe laminação horizontal incipiente, com muitos clastos imbricados (Fig. 41); contém lentes arenosas – maciças, ou com laminação horizontal ou cruzada – de espessura média igual a 20 cm (Fig. 42). A porosidade é dominada por poros intergranulares, muito pequenos e pequenos.

Figura 41 – Unidade LR – I, caracterizada por laminação horizontal incipiente e com diversos cascalhos imbricados (foto do autor).

Figura 42 – Detalhe de lente de areia com laminação cruzada, encontrada no interior da unidade LR – I (foto do autor).

A unidade LR – II tem 112 cm de espessura e transição abrupta e plana para a camada subjacente. De cor seca bruno-amarelada-escura (10YR 4/4) e cor úmida bruna (7,5YR 4/4), o material é maciço e caracterizado por textura de areia siltosa. Poros intergranulares, muito pequenos e pequenos, são abundantes; também são comuns poros tubulares e tubulares dendríticos, de dimensões similares. Existem algumas lamelas com espessura média de 6 cm, proeminentes, de cor bruna muito escura (seca: 7,5YR 2,5/2; úmida: 10YR 2/2; Fig. 43). O material apresenta consistência seca muito dura e consistência úmida extremamente firme; é ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.

Figura 43 – Detalhe da unidade LR – II, na qual se observa a presença de lamelas de cor bruna muito escura, com espessura média de 6 cm (foto do autor).

A unidade LR – III, com 138 cm de espessura, encontra-se acima de contato inferior gradual e plano. Apresenta cor seca bruno-clara (7,5YR 6/3) e cor úmida bruna (7,5YR 4/3). A textura é classificada como lama siltosa levemente arenosa. Há estrutura pedológica, de blocos subangulares grandes a colunar média, fortemente desenvolvida (Fig. 44). A porosidade é abundante, constituída por poros tubulares e tubulares dendríticos, muito pequenos e pequenos. Mais numerosas, as lamelas são bastante semelhantes às anteriormente descritas; a principal diferença é o matiz da cor úmida bruna muito escura (7,5YR 2,5/3). O material mantém as propriedades da unidade subjacente – exceto a consistência úmida, considerada muito firme.

Figura 44 – Detalhe da unidade LR – III, que apresenta estrutura pedológica de blocos subangulares a colunar, com forte desenvolvimento; além disto, se encontram lamelas similares às da unidade LR – II (foto do autor).

Sobreposta a limite inferior claro e plano, a unidade LR – IV tem 71 cm de espessura. A cor seca é bruna (7,5YR 5/4), e a cor úmida, bruno-avermelhada (5YR 4/3). Não há mudança textural em relação à unidade LR – III. A estrutura pedológica é formada por grandes blocos subangulares, fortemente desenvolvidos (Fig. 45). Os poros são tubulares e tubulares dendríticos, de tamanhos predominantemente muito pequenos e pequenos; secundariamente, ocorrem poros com dimensões médias e grandes. O material é duro quando seco, e firme quando úmido; a plasticidade e a pegajosidade não se alteram.

Figura 45 – Detalhe da unidade LR – IV, caracterizada por estrutura pedológica em blocos subangulares, fortemente desenvolvidos (foto do autor).

5.2.1.2. Análise granulométrica e morfométrica

O perfil se caracteriza por variação textural significativa, com tendência a diminuir o tamanho de grão da base para o topo (granodecrescente). Três tipos de materiais são distinguidos (Fig. 46): cascalho, areia lamosa e lama levemente arenosa. Esses grupos texturais apresentam distribuições granulométricas típicas. Os clastos rudáceos da unidade LR – I são unimodais, com predomínio de blocos (64 mm) (Fig. 47). A unidade LR – II tem duas modas (bimodal): a principal equivale a areia fina (0,125 mm) e a secundária, a silte (0,004 mm); no entanto, é possível identificar uma terceira moda nas lamelas (polimodais), associada à presença de argila (< 0,004 mm). A unidade LR – III não exibe diferença marcante entre lamelas e áreas interlamelas e é muito similar à unidade LR – IV; ambas são classificadas como unimodais, devido ao elevado percentual de silte (≥ 60%).

Figura 47 – Distribuição granulométrica de cada unidade do perfil Linha do Rio. 0 10 20 30 40 50 60 70 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - IV 0 10 20 30 40 50 60 70 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - III (interlamelas) 0 10 20 30 40 50 60 70 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - III (lamelas) 0 10 20 30 40 1 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - II (interlamelas)

Figura 47 (continuação) – Distribuição granulométrica de cada unidade do perfil Linha do Rio.

Constituídos principalmente por basalto (96%), os cascalhos da unidade LR – I geralmente têm formas laminares (27%) e muito laminares (13%) (Fig. 48). A esfericidade varia consideravelmente; as classes dominantes consistem nos intervalos de 0,5 a 0,6 (26%) e 0,6 a 0,7 (25%), porém há ocorrência expressiva de clastos nas categorias de 0,4 a 0,5 (20%) e 0,7 a 0,8 (18%). O arredondamento das partículas corresponde predominantemente a 0,5 (32%), 0,6 (27%) e 0,7 (24%) (Fig. 49). 0 10 20 30 40 1 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - II (lamelas) 0 10 20 30 40 50 128 64 32 16 8 4 2 1 0, 5 0, 25 0, 125 0, 062 0, 004 < 0, 004 F re q u ên ci a (%) Tamanho de grão (mm) LR - I

Figura 48 – Diagrama de forma-esfericidade de cascalhos da unidade LR – I.

Figura 49 – Arredondamento de cascalhos da unidade LR – I.

5.2.1.3. Descrição micromorfológica

A unidade LR – II exibe distribuição relativa porfírica. A parte interlamelar tem 15% de poros, 45% de esqueleto e 40% de plasma (Fig. 50a). Há o predomínio de macroporos muito finos (48%) e microporos (45%), cuja morfologia geralmente se classifica em juntas (50%) e ortocavidades (25%). De seleção pobre, o esqueleto é constituído por silte (35%) e areia fina (30%). Grãos transparentes totalizam 90%, e são representados principalmente por quartzo (90%). Partículas subangulares (35%) e angulares (30%) são frequentes e comumente mostram superfícies ferruginizadas (40%) e rugosas (33%). A cor do plasma, sob luz natural, é tipicamente variegada: bruna escura (7,5YR 3/2), bruna (7,5YR 4/3 e 4/4), bruno-forte (7,5YR 4/6 e 5/8), amarelo- avermelhada (7,5YR 6/8), amarelo-brunada (10YR 6/8) e amarela (10YR 7/8 e 8/8); nas estruturas plásmicas, as cores tendem a variar de bruna (7,5YR 4/3 e 4/4) a bruno-forte (7,5YR 4/6, 5/6 e 5/8), amarelo- avermelhada (7,5YR 6/8), amarelo-brunada (10YR 6/8) e amarela (10YR 7/8). Sob luz polarizada, o plasma apresenta cor marrom-escura a preta; as cores amarelo-escura a vermelha ou marrom-clara são características das áreas de estruturas plásmicas. O plasma tem

0 5 10 15 20 25 30 35 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 F re q u ên ci a ( % ) Arredondamento LR - I

orientação relativa predominantemente argilassépica a isótica por opacidade; em alguns locais, ocorrem orientações dos tipos esquelsépica e vossépica (Fig. 50b). É possível encontrar alguns cutãs de tensão/contração, de difusão e de iluviação (10%), com espessura entre 10 e 120 µm, contraste fraco a distinto, aderência forte a fraca, fábrica interna maciça a microlaminada plano-paralela ou convoluta e orientação difusa a nítida (Fig. 50c, d). Existem poucas glébulas (10%), com dimensões entre 60 e 380 µm, formas irregulares ou esféricas com contornos irregulares e fábrica interna fraca a moderadamente impregnada; dividem-se em halos glebulares (75%) e nódulos ferro- manganíferos (25%) (Fig. 50e).

Figura 50 – Fotomicrografias da unidade LR – II (parte interlamelar): A) visão geral de área com distribuição relativa porfírica (luz natural); B) predomínio de plasma com orientação relativa argilassépica a isótica por opacidade, além de alguns domínios esquelssépicos e vossépicos (luz polarizada); C) e D) área com presença de cutãs de difusão (paredes de poros) e de tensão/contração (superfícies de grãos) (luz natural e polarizada, respectivamente).

Figura 50 (continuação) – Fotomicrografias da unidade LR – II (parte interlamelar): E) nódulo ferro-manganífero (luz natural) (fotos do autor).

A parte lamelar da unidade LR – II é formada por 20% de poros, 40% de esqueleto e 40% de plasma (Fig. 51a). A porosidade é representada basicamente por macroporos muito finos (50%) e microporos (40%), que comumente se dividem em juntas (55%) e metacavidades (30%). Pobremente selecionado, o esqueleto se constitui principalmente de areia fina (35%) e silte (25%). O conteúdo de grãos transparentes se mantém constante (90%), com ligeiro aumento no teor de quartzo (95%). As partículas subangulares (35%) e subarredondadas (25%) são abundantes, geralmente com superfícies rugosas (35%) e ferruginizadas (30%). Sob luz natural, o plasma tem cor variegada: bruna (10YR 4/3), bruno-amarelada-escura (10YR 4/4), bruno- amarelada (10YR 5/6 e 5/8), amarelo-brunada (10YR 6/8) e amarela (10YR 7/8 e 8/8); essa variabilidade de cores ocorre igualmente nas áreas de estruturas plásmicas. Sob luz polarizada, a cor do plasma é marrom-escura a preta, passando para amarelo-escura a laranja-escura nas estruturas plásmicas. Em relação à porção interlamelar, verifica-se redução do plasma argilassépico e isótico por opacidade, que se restringe a domínios isolados; predomina a orientação relativa vossépica e, pontualmente, setores caracterizados por separações plásmicas do tipo esquelsépica (Fig. 51b). Abundam cutãs de iluviação, de difusão e de tensão/contração (25%), com espessura de 10 a 300 µm, contraste proeminente a distinto, aderência moderada a fraca, fábrica interna microlaminada plano-paralela a maciça e orientação nítida a difusa (Fig. 51c, d). A ocorrência de nódulos ferro-manganíferos é muito pequena (2%); têm diâmetro de 240 µm, morfologia irregular e fábrica interna fortemente impregnada (Fig. 51e).

Figura 51 – Fotomicrografias da unidade LR – II (parte lamelar): A) visão geral de área com distribuição relativa porfírica (luz natural); B) predominância de plasma vossépico, e alguns domínios com orientação relativa argilassépica a isótica por opacidade e, pontualmente, esquelsépica (luz polarizada); C) e D) área caracterizada por cutãs de iluviação e de difusão (luz natural e polarizada, respectivamente); E) nódulo ferro- manganífero (luz natural) (fotos do autor)

A unidade LR – III exibe distribuição relativa porfírica. Na parte interlamelar, há 5% de poros, 50% de esqueleto e 45% de plasma (Fig. 52a). Macroporos muito finos (60%) são dominantes, com menor proporção de mesoporos (40%); quanto à forma, os poros são definidos como ortocavidades (65%) e metacavidades (35%). O esqueleto, de

seleção moderada, é constituído por silte (80%) e, secundariamente, areia muito fina (10%) e fina (10%). O percentual de grãos transparentes atinge 85%, dos quais 90% correspondem a quartzo. Predominam partículas subangulares (40%) e angulares (30%), cujas superfícies geralmente são ferruginizadas (50%) e rugosas (20%). Sob luz natural, a cor do plasma é variegada: bruno-acinzentada muito escura (10YR 3/2), bruno-acinzentada-escura (10YR 4/2), bruna (10YR 4/3), bruno- amarelada-escura (10YR 4/4), bruno-amarelada (10YR 5/4, 5/6 e 5/8), amarelo-brunada (10YR 6/6 e 6/8) e amarela (10YR 7/8). Nas áreas de estruturas plásmicas, a cor varia de bruna (10YR 4/3) a bruno- amarelada-escura (10YR 4/4), bruno-amarelada (10YR 5/6 e 5/8), amarelo-brunada (10YR 6/8) e amarela (10YR 7/8). Sob luz polarizada, o plasma tem cor marrom-escura a preta, e amarelo-clara a laranja nas estruturas plásmicas. A orientação relativa do plasma é silassépica e argilassépica a isótica por opacidade, com presença de alguns domínios vossépicos (Fig. 52b). Existem poucos cutãs de iluviação e de difusão (5%), com espessura entre 20 e 240 µm, contraste proeminente a distinto, aderência moderada a forte, fábrica interna maciça a microlaminada plano-paralela e orientação nítida a difusa (Fig. 52c, d). De ocorrência rara (2%), as glébulas são classificadas como halos glebulares (65%) e nódulos ferro-manganíferos (35%), com dimensões entre 50 a 80 µm, morfologias irregulares e fábrica interna fraca a moderadamente impregnada (Fig. 52e).

Figura 52 – Fotomicrografias da unidade LR – III (parte interlamelar): A) visão geral de área com distribuição relativa porfírica (luz natural); B) predomínio de plasma silassépico e argilassépico a isótico por opacidade, além de alguns domínios vossépicos (luz polarizada).

Figura 52 (continuação) – Fotomicrografias da unidade LR – III (parte interlamelar): C) e D) cutã de iluviação, caracterizado por microlaminação plano-paralela (luz natural e polarizada, respectivamente); E) nódulo ferro-manganífero (luz natural) (fotos do autor).

A parte lamelar da unidade LR – III é constituída por 5% de poros, 45% de esqueleto e 50% de plasma (Fig. 53a). Predominam macroporos muito finos (55%) e microporos (30%); as morfologias mais comuns são metacavidades (40%) e juntas (35%). As características granulométricas do esqueleto são análogas às da porção interlamelar. No que se refere à mineralogia, o teor de grãos transparentes é ligeiramente maior (90%). As partículas subangulares (35%), angulares (25%) e subarredondadas (25%) são abundantes e exibem superfícies ferruginizadas (45%) e rugosas (30%). O plasma tem cores idênticas àquelas da parte interlamelar, sob luz natural e polarizada; a única diferença é que a cor das estruturas plásmicas varia de amarelo-clara a marrom-clara, sob luz polarizada. O plasma apresenta orientação relativa argilassépica e silassépica a isótica por opacidade, além de vários domínios vossépicos (Fig. 53b). Cutãs de iluviação e de difusão são mais comuns (15%), com espessura de 20 a 640 µm, contraste proeminente a distinto, aderência moderada, fábrica interna microlaminada plano-paralela a maciça e orientação nítida a difusa (Fig.

53c, d). A quantidade de glébulas é relativamente maior (5%); consistem em halos glebulares (75%) e nódulos ferro-manganíferos (25%), com dimensões entre 60 e 580 µm, formas irregulares e amidaloides de contornos irregulares e fábrica interna fraca a moderadamente impregnada (Fig. 53e).

Figura 53 – Fotomicrografias da unidade LR – III (parte lamelar): A) visão geral de área com distribuição relativa porfírica (luz natural); B) predomínio de plasma argilassépico e silassépico a isótico por opacidade, com ocorrência de vários domínios vossépicos (luz polarizada); C) e D) área caracterizada por cutãs de iluviação e de difusão (luz natural e polarizada, respectivamente); E) nódulo ferro-manganífero (luz natural) (fotos do autor).

De distribuição relativa porfírica, a unidade LR – IV tem 20% de poros, 40% de esqueleto e 40% de plasma (Fig. 54a). A porosidade é representada basicamente por macroporos muito finos (85%), com ocorrência secundária de mesoporos (15%). Morfologicamente, os poros são classificados geralmente em metacavidades (60%) e ortocavidades (35%). Bem selecionado, o esqueleto é constituído por silte (90%) e quantidades muito pequenas de areia muito fina (5%) e fina (5%). Os minerais transparentes equivalem a 85% do total, com 85% de quartzo. Predominam grãos subarredondados (35%) e proporções menores de elementos subangulares (25%) e angulares (25%). As superfícies das partículas frequentemente são ferruginizadas (55%), rugosas (15%) e quebradas (15%). O plasma apresenta cor variegada em luz natural: bruno-acinzentada-escura (10YR 4/2), bruna (10YR 4/3), bruno- amarelada-escura (10YR 4/4), bruno-amarelada (10YR 5/4, 5/6 e 5/8), amarela-brunada (10YR 6/8) e amarela (10YR 7/8). Estas cores também aparecem nas estruturas plásmicas, exceto os matizes bruno- acinzentado-escuro (10YR 4/2) e bruno-amarelado (10YR 5/4). A cor do plasma sob luz polarizada varia de marrom-escura a preta, e amarelo- clara a laranja e vermelha nas estruturas plásmicas. O plasma se caracteriza por orientação relativa silassépica e argilassépica a isótica por opacidade, e vossépica em alguns domínios (Fig. 54b). Os cutãs de iluviação e de difusão são comuns (10%), com espessura de 10 a 560 µm, contraste proeminente a distinto, aderência moderada a fraca, fábrica interna microlaminada plano-paralela e cruzada a maciça e orientação nítida a difusa (Fig. 54c, d). Há muito poucas glébulas (2%), divididas em halos glebulares (85%) e nódulos ferro-manganíferos (15%), com dimensões entre 60 e 150 µm, morfologias irregulares e fábrica interna fracamente impregnada (Fig. 54e).

Figura 54 – Fotomicrografias da unidade LR – IV: A) visão geral de área com distribuição relativa porfírica (luz natural); B) predominância de plasma com orientação relativa silassépica e argilassépica a isótica por opacidade, além de alguns domínios vossépicos (luz polarizada); C) e D) área com presença de cutãs de difusão e de iluviação (luz natural e polarizada, respectivamente); E) nódulo ferro-manganífero (luz natural) (fotos do autor).

5.2.1.4. Análise química

O pH apresenta ligeiro aumento do topo até a porção intermediária do perfil – de 6 a 6,3 – e, em seguida, diminui para 5,9 na unidade LR – I (Fig. 40). O teor de matéria orgânica é muito baixo e tende a decrescer com a profundidade – de 0,6 a 0,3%. O conteúdo de bases (Ca2+, Mg2+, K+) não exibe padrão de variabilidade bem definido, exceto o sódio (Na+), que aumenta do topo para a base do perfil. A acidez potencial (Al3+ + H+), a capacidade de troca catiônica (CTC) e a saturação por bases não mostram tendência clara de oscilação dos valores. Nas unidades LR – II, III e IV, a capacidade de troca catiônica da argila varia de 65,8 a 98,6 cmolc/dm

3

, típica de argilominerais do grupo da esmectita (Fig. 40); na unidade LR – I, o valor de 155,5 cmolc/dm

3

pode indicar a presença de vermiculita ou a mistura de zeólitas.

5.2.1.5. Datações

No perfil Linha do Rio, foi coletada amostra de lente de areia dentro da unidade LR – I para datação por luminescência opticamente estimulada (LOE). A idade obtida foi 19.100 ± 2.200 anos (Fig. 42). Em outro afloramento, localizado 3,7 km a jusante, na margem esquerda do Rio Pardo, foi coletado fragmento de madeira no contato entre os cascalhos e o material areno-lamoso para datação por 14C (Fig. 55). O resultado foi 400 ± 25 anos AP. Também se coletou amostra para datação por luminescência opticamente estimulada (LOE) num terceiro afloramento, distante aproximadamente 3 km a jusante do perfil Rebentona (perfil 5 – Fig. 37). O material foi retirado de lente arenosa com laminação plano-paralela, que ocorre no interior de camada basal de cascalhos (Fig. 56); a idade corresponde a 9.300 ± 1.300 anos.

Figura 55 – Restos de plantas (galhos, folhas e sementes) encontrados no contato entre os cascalhos basais e o material areno-lamoso em afloramento a jusante do perfil Linha do Rio, que foram datados de 400 ± 25 anos AP (14C) (foto do autor).

Figura 56 – Lente de areia com laminação plano-paralela, situada próximo ao topo da camada basal de cascalhos, em afloramento localizado a jusante do perfil Rebentona; ao fundo, é possível observar a existência de lamelas na sequência areno-lamosa (foto do autor).

5.2.1.6. Interpretação e significado paleoambiental

O perfil Linha do Rio é constituído basicamente por três fácies diferentes: 1) cascalho suportado por clastos, com acamamento horizontal incipiente (Gh): está associada à unidade LR – I, que representaria depósitos de barras longitudinais ou depósitos residuais de canal. Às vezes se encontram lentes arenosas no interior da camada, que são classificadas como areia com estratificação cruzada tabular (Sp) ou

areia com laminação horizontal (Sh); a primeira seria formada pela migração de dunas subaquosas bidimensionais (ou ondas de areia), enquanto a segunda estaria relacionada a condições de leito plano; 2) areia maciça (Sm): caracteriza a unidade LR – II e teria sido depositada em ambiente de planície de inundação; e 3) lama maciça, com raízes e bioturbação (Fr): ocorre nas unidades LR – III e IV e indicaria que sedimentos finos de planície de inundação foram alterados por pedogênese.

A sucessão vertical dessas três fácies define ciclo granodecrescente ao longo do perfil, provavelmente originado pelo decréscimo gradual da energia do agente deposicional. Há cerca de 19.100 anos, o canal do Rio Pardo estaria situado na área do perfil. Blocos basálticos seriam transportados por fluxos de alta energia durante as cheias e depositados em barras longitudinais. Tal suposição se fundamenta no predomínio de cascalhos com formas laminares e derivadas, cuja movimentação requer maiores velocidades do que clastos alongados ou compactos. A sedimentação de areias estratificadas e laminadas possivelmente ocorria em canais escavados na superfície das barras, no decorrer do recuo das cheias ou em eventos menores; posteriormente, este material seria parcialmente erodido e soterrado por nova deposição de cascalhos. À medida que o rio migrava lateralmente, sedimentos areno-siltosos passaram a ser depositados nesse local, que se tornou ambiente de planície de inundação. Devido à ausência de estruturas e à seleção relativamente baixa, o material teria sido depositado por fluxos de energia intermediária, próximo ao canal fluvial. A idade desses sedimentos reforça a hipótese de migração lateral do Rio Pardo. Nesse afloramento, a base da unidade LR – II foi datada anteriormente de 58.500 ± 6.900 anos (LOE) (Fig. 13, pág. 64; FETT JÚNIOR, 2005), indicando retrabalhamento de depósitos mais antigos pela erosão das margens do rio, pois esse valor é maior do que a idade da camada subjacente – 19.100 anos (LR – I). Em seguida, teria ocorrido a sedimentação de lama siltosa, associada a condições de baixa energia na planície de inundação, quando o canal estaria mais distante desse ponto. Finalmente, a deposição teria cessado, ou diminuído para taxas desprezíveis, possibilitando o desenvolvimento de perfil de solo.

As unidades LR – IV, III e II correspondem à sequência de horizontes de solo Ap, Bt e Ct, respectivamente. O horizonte superficial Ap foi perturbado por atividades agrícolas, possivelmente por aração. A análise micromorfológica apontou a presença de alguns cutãs de iluviação, que teriam sido incorporados do horizonte subjacente. O horizonte Bt se caracteriza pela translocação de argilas em seu interior,

que são acumuladas sob a forma de lamelas; trata-se de horizonte diagnóstico árgico. Esse processo também ocorre no horizonte Ct, porém é menos intenso, devido à menor quantidade de lamelas. O solo é classificado como Luvissolo Lamélico Hipereutrófico Profúndico Síltico. O primeiro qualificador indica a presença de lamelas, o segundo está associado à saturação por bases muito alta, e o terceiro revela que o teor de argila não decresce significativamente ao longo do horizonte árgico. Finalmente, o último qualificador demonstra que o material é constituído predominantemente por silte. Os Luvissolos comumente são formados em terrenos planos ou suavemente inclinados, sob climas temperados frios e em regiões quentes (mediterrâneas) com estações secas e úmidas distintas; em áreas subtropicais e tropicais, esses solos ocorrem principalmente em superfícies relativamente jovens (FAO, 2001, p. 265-266; 2007, p. 84).

O solo que se formou no topo do perfil Linha do Rio constitui descontinuidade limitante regional, pois ocorre igualmente em outras seções estratigráficas descritas no trabalho – Rebentona, Morro do Facão, Estrada Abandonada, Linha da Várzea, entre outras. Na base do perfil, os cascalhos estão depositados diretamente sobre as rochas triássicas do fundo do vale; tal contato representa outra descontinuidade limitante de caráter similar. Assim, esse perfil pode ser considerado provisoriamente como unidade aloestratigráfica Linha do Rio (Fig. 40).

Alguns quilômetros a jusante do perfil, na margem oposta do rio, existe outro afloramento semelhante (Fig. 57); no contato entre os cascalhos basais e o material fino, ocorrem restos de plantas – troncos, galhos, folhas e sementes – que foram datados de 400 anos AP. Na porção intermediária desse perfil, foram encontrados artefatos pré- históricos (Fig. 58): 1) lascas e pontas de projéteis da tradição Umbu – grupo de caçadores-coletores que habitou principalmente o sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul e áreas adjacentes ao Planalto Meridional desde 11.000 anos; 2) pequena lâmina de machado da tradição Tupi- guarani – grupo ceramista-horticultor que teria chegado ao território gaúcho há aproximadamente 2.000 anos, proveniente da Amazônia. Esses dados indicam que a evolução desse perfil foi muito rápida, pois a deposição de sedimentos e a pedogênese envolveram escala de tempo secular, simultaneamente à ocupação do vale naquele período. Em afloramento situado cerca de 3 km a jusante do perfil Rebentona, os cascalhos basais foram depositados há 9.300 anos; posteriormente, ocorreram a sedimentação de material areno-lamoso e a formação de perfil de solo com presença de lamelas. Assim, é possível concluir que esses dois locais e o perfil Linha do Rio ter-se-iam formado sob

condições ambientais análogas, provavelmente muito parecidas às atuais, mas em períodos distintos. A diferença de idades poderia ser atribuída à variabilidade da taxa de migração lateral do Rio Pardo.

Figura 57 – Afloramento situado alguns quilômetros a jusante do perfil Linha do Rio, no qual foram encontrados alguns artefatos pré-históricos pertencentes às tradições Tupi-guarani e Umbu nos níveis assinalados por asteriscos (*). O contato entre os cascalhos basais e os sedimentos areno- lamosos foi datado de 400 ± 25 anos AP (foto do autor).

Figura 58 – Acima, lascas e pontas de projéteis de arenito silicificado (cor avermelhada) e basalto (cor cinza-escura) da tradição Umbu; abaixo,