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SUMÁRIO

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2. ESTRUTURA SUPERFICIAL DA PAISAGEM

4.2.6. Designação de horizontes e classificação de paleossolos e solos

Os horizontes de paleossolos e solos foram designados conforme o padrão tradicional de nomenclatura (SOIL SURVEY STAFF, 1993, p. 46-55; BIRKELAND, 1999, p. 3-8; SCHOENEBERGER et al., 2002, p. 167-170; SANTOS et al., 2005, p. 40-51; FAO, 2006, p. 67-77). Os horizontes principais são identificados por meio de letras maiúsculas: O, A, E, B, C e R. O horizonte ou camada O é caracterizado pela acumulação de material orgânico não decomposto ou parcialmente decomposto – folhas, sementes, galhos, musgos e liquens – na superfície do solo, e pode estar saturado com água durante períodos de tempo curtos ou prolongados. Situado na superfície, ou abaixo de horizonte/camada O, o horizonte A apresenta concentração de matéria orgânica decomposta (húmus) misturada a fração mineral. O horizonte E também tem constituição mineral, e é definido pela perda de argila, ferro, alumínio e/ou matéria orgânica; assim, há a concentração residual de areia e silte, geralmente de composição quartzosa, associada à cor clara típica do material. O horizonte B é formado abaixo de horizonte E, A ou O, e se distingue por um ou mais dos seguintes processos: 1) acumulação iluvial de argila, ferro, alumínio, húmus, carbonatos, gipso e/ou sílica; 2) remoção de carbonatos; 3) concentração residual de sesquióxidos; 4) formação de estrutura granular, em blocos ou prismática. Pouco influenciado pelos processos pedogenéticos, o horizonte C abrange sedimentos, saprolito e substrato rochoso inconsolidado. Finalmente, o horizonte R se refere a rocha dura, contínua ou praticamente contínua, devido à presença de fendas. Os

horizontes de transição são dominados pelas propriedades de determinado horizonte principal, mas também apresentam características subordinadas de outro; são denominados por duas letras maiúsculas, e a primeira indica o horizonte predominante – AB, BA, entre outros. Os horizontes intermediários são constituídos por partes distintas, que têm propriedades reconhecíveis de dois horizontes principais; a lógica de designação é semelhante à anterior, porém as letras são separadas por barra – A/B, B/A, entre outros.

As características específicas de horizontes principais são representadas por sufixos em letras minúsculas – Ap, Bt, entre outros; o significado de cada sufixo é resumido no Quadro 3 (SOIL SURVEY STAFF, 1993, p. 50-53; SCHOENEBERGER et al., 2002, p. 169-170; FAO, 2006, p. 71-74). A maioria dos horizontes principais tem um ou dois sufixos, cuja utilização segue algumas convenções. Se dois sufixos são necessários, as letras a, e, h, i, r, s, t, w devem ser escritas primeiro; exceto em horizontes Bhs e Crt, esses símbolos não são usados juntos. Se o horizonte não está enterrado, as letras c, d, g, m, v, x são escritas por último; em horizontes enterrados, o sufixo b deve ser o último. Caso seja encontrada argila iluvial em horizonte B que também apresente hidromorfia, ou acumulação de carbonatos, sódio, sílica, gipso, sais mais solúveis do que gipso, ou concentração residual de sesquióxidos, a letra t precede os demais símbolos – g, k, n, q, y, z, o, respectivamente; além disso, esses sete sufixos geralmente não são utilizados em combinação com as letras h, s, w. A subdivisão vertical de determinado horizonte – baseada na cor, estrutura, textura ou outra feição morfológica – é identificada por numerais arábicos colocados depois de todas as letras; a numeração é reiniciada sempre que houver mudança na designação de horizontes – Bt1, Bt2, Btk1, Btk2, entre outros. Numerais arábicos são usados igualmente como prefixos para indicar a presença de descontinuidades litológicas – modificações significativas no tamanho de grão ou na mineralogia, que caracterizam materiais de origem distintos e/ou de idades diferentes; por convenção, o número 1 é omitido – Ap, E, Bt1, 2Bt2, 2Bt3, 2BC, 3C1, 3C2, entre outros. Em alguns perfis, podem ocorrer horizontes com denominações idênticas, separados por um ou mais horizontes de tipos diversos, caso em que o símbolo plica (’) é posposto à letra maiúscula que designa o segundo horizonte repetido na sequência – A, E, Bt, E’, Btx, C, entre outros.

Quadro 3 – Sufixos utilizados na caracterização de horizontes principais.

Sufixos Características Horizontes

a Material orgânico altamente decomposto (fibras < 17% do volume). O

b Horizonte enterrado, cujas principais feições foram formadas antes do

soterramento. A, E, B

c Acumulação significativa de nódulos ou concreções (Fe, Al, Mn, Ti). A, E, B, C

d Limitação física ao crescimento de raízes por horizonte de alta densidade. A, E, B, C

e Material orgânico moderadamente decomposto (fibras: 17-40% do volume). O

g

Forte gleização, com cores neutras (croma ≤ 2); pode exibir feições de redox – mosqueamento, nódulos de Fe/Mn. Indica que o Fe2+ foi removido durante

a formação do solo, ou preservado pela saturação com água estagnada.

A, E, B, C

h

Acumulação iluvial de complexos amorfos e dispersáveis de matéria orgânica e sesquióxidos; se a quantidade de sesquióxidos for significativa, mas a cor úmida tiver croma e valor ≤ 3, a letra “s” é adicionada (Bhs).

B

i Material orgânico levemente decomposto (fibras > 40% do volume). O

j Acumulação de jarosita; solos ricos em sulfatos (tiomorfismo). O, A, B, C

k Acumulação de carbonatos – geralmente, carbonato de cálcio (CaCO3). A, B, C

m

Forte cimentação, contínua ou praticamente contínua (> 90% do horizonte), que representa restrição física para raízes; o tipo de cimento é indicado pela combinação de letras (km: carbonatos; qm: sílica; kqm: carbonatos e sílica; sm: ferro; ym: gipso; zm: sais mais solúveis do que gipso).

B, C

n Acumulação de sódio trocável (saturação por sódio ≥ 6%). O, A, B, C

o Acumulação residual de sesquióxidos. A, E, B, C

p Perturbação de horizonte ou camada superficial por atividades de cultivo,

pastoreio e outras. O, A

q Acumulação de sílica secundária. B, C

r Rocha alterada ou saprolito, que limita o crescimento de raízes (rocha ígnea

intemperizada, arenito friável parcialmente consolidado, siltito e folhelho). C

s Acumulação iluvial de complexos amorfos e dispersáveis de sesquióxidos e matéria orgânica; a cor úmida apresenta croma e valor > 3. B

ss Presença de slickensides: superfícies de cisalhamento oblíquas (20-60° em

relação à horizontal), originadas pela expansão e contração da argila. B, C

t

Acumulação de argilas silicatadas formadas e translocadas dentro do próprio horizonte, e/ou de origem iluvial; é evidenciada por: películas na superfície de grãos ou agregados, ou no interior de poros; pontes entre grãos; ou lamelas.

B, C

v

Presença de plintita: material rico em Fe e pobre em matéria orgânica, de cores avermelhadas; é firme ou muito firme quando úmido e endurece irreversivelmente se exposto ao ar, ou a umedecimento e secagem repetidos.

A, B, C

w Desenvolvimento incipiente de cor e/ou estrutura pedogenética, com pouca

ou nenhuma acumulação aparente de material iluvial. B

x

Características de fragipã: material firme e quebradiço, de densidade maior do que os horizontes adjacentes (cimentação aparente, reversível em água); tem estrutura prismática muito grande, com faces verticais esbranquiçadas.

B, C

y Acumulação de gipso (CaSO4.2H2O). B, C

z Acumulação de sais mais solúveis do que gipso, tais como halita (NaCl). O, A, B, C Fonte: Soil Survey Staff (1993); Schoeneberger et al. (2002); FAO (2006).

Além de fundamentar a denominação de horizontes, os dados das descrições macro e micromorfológica, bem como das análises granulométrica e química, foram utilizados para classificar paleossolos e solos. Devido à necessidade de dois sistemas taxonômicos específicos, estes foram selecionados conforme os seguintes critérios: a correspondência entre as classes definidas por ambos e a adequação de cada sistema às informações obtidas neste trabalho. Assim, paleossolos reliquiares e exumados e solos modernos foram classificados por meio da Base de Referência Mundial para Recursos do Solo (FAO, 2007). A justificativa para tal procedimento é que a classe de qualquer solo superficial deve ser identificada independentemente de especulações sobre sua história evolutiva (KRASILNIKOV & CALDERÓN, 2006, p. 177). Os tipos de paleossolos enterrados foram determinados de acordo com o sistema de Krasilnikov & Calderón (2006). A classificação proposta por esses autores foi desenvolvida a partir da Base de Referência Mundial; logo, há estreita correlação entre ambas. Além disso, os dados levantados no presente trabalho estão entre os mais importantes para caracterizar paleossolos e solos pelos dois sistemas taxonômicos.

A Base de Referência Mundial abrange dois níveis hierárquicos distintos: 1) 32 Grupos de Referência de Solos; e 2) qualificadores, cuja combinação possibilita o detalhamento de características das classes de solos (FAO, 2007, p. 4). Os Grupos de Referência de Solos são diferenciados em termos de horizontes, propriedades e materiais diagnósticos. Essa estrutura é mantida no sistema taxonômico elaborado por Krasilnikov & Calderón (2006), porém com algumas diferenças. Primeiramente, apenas propriedades relativamente estáveis foram utilizadas para classificar paleossolos enterrados – textura, estrutura, composição mineralógica e capacidade de troca catiônica (CTC). Diante disso, muitos horizontes, propriedades e materiais diagnósticos foram excluídos do sistema, enquanto outros foram modificados e designados com o prefixo infra (KRASILNIKOV & CALDERÓN, 2006, p. 178- 179). Assim, o número de grupos de paleossolos enterrados também é menor: 25, em vez de 32. A seguir, é apresentada a lógica de ordenamento dos Grupos de Referência de Solos na chave de classificação da Base de Referência Mundial (Quadro 4); as classes são alocadas em conjuntos, que representam fatores ou processos de formação de solo específicos (FAO, 2007, p. 4). Além da definição de cada grupo, é estabelecida a correlação com o sistema taxonômico proposto por Krasilnikov & Calderón (2006). Os detalhes referentes a horizontes, propriedades e materiais diagnósticos, assim como as chaves

de classificação, não incluídos neste trabalho, podem ser encontrados nos sites http://www.fao.org/ e http://www.interscience.wiley.com. Quadro 4 – Ordenamento e definição sintética dos Grupos de Referência de Solos (FAO, 2007) e as classes de paleossolos enterrados correspondentes (KRASILNIKOV & CALDERÓN, 2006).

Definição FAO (2007) Krasilnikov &

Calderón (2006)

1. Solos com níveis orgânicos espessos Histossolos Infra-Histossolos