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Descrição e Relação Funcional: Mach

A distinção entre descrição e explicação é um produto de duas caracterís­ ticas do argumento de Mach:

1) a definição de descrição, que está relacionada à visão de Mach sobre a causalidade; e

2) a oposição de Mach-.a_cettO-S tipos de teorias, especialmente,,aqu£las baseadas numa visão mecanicista da natureza ej^ue-J^CQ^-à-t-écjçnça de inter- pretaçãoque apela a entidades hipotéticas para atravessar lacunas temporais e espaciais e n treis eventos funcionalmente dependentes (causas e efeitos).

AsHêscriçõesTTTQs leimus de MáchTsaóaqplicações no sentido de que esclarecem os fenômenos. A distinção um tanto equivocada entre descri­ ção e explicação deriva do influente debate do século XIX sobre técnicas de interpretação apropriadas na física e da controvérsia sobre as tentativas de descrever os fenômenos naturais em termos análogos aos trabalhos de uma máquina gigantesca.

-— Mach afirmou que as descrições completas dos fenômenos são suficien­ tes como explicações. Ele assim escreveu sobre a descrição: “[ela] é possível

somente para acontecimentos que se repetem constãntêmèntér

'ou

aconteci-

méntõFquFsao~feites-d€-paitercõmponentes~què''se~repeterm constantemente. Somente estes~põdem ser~dêscrftõs e conceimalmgnfê"Tepresentados, isto e^ sãcT unilormes e de acordo Cõin uma. lel'í”ã descnção pressupõe o emprego de nomes pelos quais designar seus elementos; e os nomes podem adquirir sig­ nificados somente quando aplicados aos elementos que reaparecem constan­ temente” (Mach, 1893/1960, p. 6). Nesta passagem, Mach faz a observação que mais tarde foi feita por Hanson (1955), conforme capítulo anterior, de que as palavras usadas para descrever os fenômenos são muito niveladas em sua generalidade e poder explicativo. Quando um físico descreve a refração da luz na água, as palavras luz, refração e água já compactam várias propriedades conceituais que, se for necessário, podem ser descritas mais além por outras palavras que compactam propriedades conceituais. A observação de Mach (e Hanson) foi que os termos descritivos na ciência insinuam propriedades e relações. Os fenômenos inexplicáveis são aqueles em que os cíênfistas-não descobriram-aiiTda os elementos recorrentes, os "elementos Uque nomeio' da mul típlíadade eTtao semprFpresêntès” (MacK, 1893/1960, p. 6). Mach'acres­ centou: Uma vez qüê~se atingmjrpon to- q u a lq u e r q u e seja, em que somos capazes de detectar os mesmos poucos elementos simples, combinados na ma­ neira corriqueira-, entao eles se mostram como coisas que nos sao familiares; não ficamos mais surpreendidos, não há nada novo ou estranho a nÕTiféssés

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência Capítulo 6

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Capítulo 6 BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência

fenômenos, nos sentimos à vontade com eleSjjaãíMios deixam mais perplexos,

eles esjáoj^.p].Í£ad&s” (TvTãch, p. 7).

Os termos^descjã£Ív©s-r)^_ciencia,XQnio^m^utras disciplinas, estáojnse- ridos dentro cie estruturas teóricas, teias de conceitos e constructos relaciona­ dos que lhes dão significado. Uma explicação da refração da luz na água está contida em outra descrição, uma descrição do comportamento de um tipo geral de fenômeno ondulatório (sendo a luz uma instância única desse tipo ge­ ral), que se ajusta à lei da refração quando atravessa um meio ótico mais denso do que o ar (do qual a água é uma instância). Ao descrever a relação entre as propriedades conceituais (luz e água) na. forma de.uma lei geral (refraçãoX, o fenômeno estaTexplícado.

“A luz se refrata na água” é uma descrição da relação entre propriedades conceituais que não são em si mesmas explicativas. Ela não satisfaz a questão “Por que a luz se refrata na água?” Esta questão é satisfeita (o fenômeno é ex­ plicado) por uma outra descrição da relação entre as propriedades da luz, da água e da lei da refração. Em outro contexto de descrição, a luz se refrata na " - ' água, funciona como uma explicação, ao responder a questão “Por que essa

vareta reta parece dobrar quando a coloco no lago?” Nesse contexto, “porque

a luz se refrata na água” (a mesma descrição relações) é uma explicação do

fenômeno observado.

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A afirmação “O comportamento reforçado intemiitentemente^alt l'or

Itamen-

* * \

te resistente à extinção” éumãTdèscriçáo de uma regularicTadé^comportãmèntal qüêrcõmo está apresentadãrnãu c explicativa. Essa règuíãTí3acfe~^ ü x p lk a- da por uma descrição adicional das relações entre as^propriedades dinâmicas dos operantes (classes de comportamentò^sua relação com as conseqüências reforçadoras (uma classe de acontecimentos) e as regularidàdes produzidas pelos padrões temporais. A descrição original funciona como explicação para ío fato do comportamento continuar ocorrendo em algumas circunstâncias, íesmo depois que a liberação de reforço foi interrompida. Em cada nível de [uestionamento, as explicações são dadas por descrições de relações. Assim, ima descrição das relações dadas numa linguagem muito nivelada conceitual- mente explica os fenômenos descritos. O que se descreve são as relações entre K propriedades conceituais, as relações funcionais de Mach. Com freqüência, v as propriedades conceituais são tão compactadas, tão familiares, parecendo 0 até que esvaneceram. Apesar disso, toda descrição de fenômenos naturais, em qualquer nível de questionamento, conta como uma descrição de relações. As explicações são descrições.

Mas, se as explicações são descrições, qual é a necessidade da distinção entre as duas? Se explicação é descrição, por que no século XIX Mach se po-

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sicionou a favor de uma e contra a outra? E por que Skinner mantém essa distinção no século XX? Estas questões levantam a segunda característica do argumento de Mach e requerem uma breve incursão em um dos principais debates sobre a física do século XIX. A relevância desse debate para a visão de Skinner sobre explicação e teoria na psicologia experimental contemporânea tornar-se-á clara nas seções subseqüentes.