• Nenhum resultado encontrado

Enfrentando a Crise Global

Existe uma semelhança essencial nos argumentos de Skinner e Capra (1983), concernente à urgência dos problemas globais modernos e à ne­ cessidade de um novo modo de pensamento para superá-los. Skinner argu­ mentou que “A maioria das pessoas atentas concorda que o mundo está em sério perigo. Uma guerra nuclear pode significar um inverno nuclear que destruiria todas as coisas vivas; os combustíveis fósseis não vão durar para sempre, e muitos outros recursos críticos estão se aproximando da exaustão; a Terra se torna regularmente menos habitável; e tudo isto é exacerbado por um crescimento populacional que resiste ao controle. O calendário pode não ser claro, mas a ameaça é real” (Skinner, 1987a, p. 1). Capra começa o seu livro TheTurning Point: Science, Society, and the Rising Culture (1983 - O Ponto de Mutação: A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente) pela justaposição do programa de armas nucleares dos Estados Unidos com um colapso estatístico da desnutrição, fome e pobre acesso aos cuidados de saúde, que são características da vida em muitas das nações mais pobres do mundo. A ameaça de catástrofe nuclear, poluição industrial, superpopu­ lação e rompimento do equilíbrio ecológico do planeta são todas citadas como uma crise global moderna: “uma crise de uma escala e urgência sem precedentes na história humana registrada” (Capra, 1983, p. 1).

Skinner e Capra concordam que o mundo está ameaçado, em grande par­ te, pelos aspectos do comportamento humano. Ambos consideram que estão identificando as fontes dessa crise global e oferecendo uma solução ampla. Neste ponto seus raciocínios divergem, mas suas conclusões podem estar mais próximas do que o argumento que uma-nova-visão-de-mundo antecipou.

Capra traça uma busca da causa básica e a aponta como a equivocada ênfase na ciência: “Nossa cultura se orgulha em ser científica; nosso tempo é denominado como a Era Científica. E dominado pelo pensamento racio-

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência Capítulo 9

nal e o conhecimento científico é, freqüentemente, considerado o único tipo de conhecimento aceitável. Geralmente não se aceita que pode existir uma compreensão ou conhecimento intuitivo, igualmente válido e confiável. Esta atitude, conhecida como cientificismo, é amplamente divulgada, penetrando nosso sistema educacional e todas as outras instituições sociais e políticas” (Capra, 1983, pp. 22-23). E ainda argumenta que nossa compreensão e con­ trole da natureza foram profundamente melhorados pela ciência, mas a nossa compreensão e controle dos assuntos sociais não melhoraram de maneira pro­ porcional: “O conhecimento científico e tecnológico cresceu vigorosamente, desde que os clássicos gregos embarcaram na aventura científica no século VI a.C. Mas, durante esses vinte e cinco séculos, não houve virtualmente ne­ nhum progresso na condução dos assuntos sociais” (Capra, 1983, pp. 25-26). Desde o século XVII, ele argumenta, a física vem liderando as outras ciências - biologia, ciências médicas, psicologia, economia, e assim por diante - e estas vêm se moldando de acordo com a estrutura conceituai e com a metodologia da física clássica. Capra define essa estrutura como uma “visão mecanicista do mundo” e argumenta que uma concepção mecanicista da realidade dominou os séculos XVII, XVIII e XIX, quando “se pensava que a matéria era a base de toda existência, e o mundo material era visto como uma profusão de ob­ jetos separados, montado numa máquina gigantesca. Tal como as máquinas construídas pelos seres humanos, pensava-se que a máquina cósmica também consistia em peças elementares. Por conseguinte, acreditava-se que os fenôme­ nos complexos podiam ser sempre entendidos desde que fossem reduzidos aos seus componentes básicos e se investigasse os mecanismos através dos quais esses componentes interagem” (Capra, 1983, pp. 31-32). Esta visão mecani­ cista do fenômeno natural, ele argumenta, está tão profundamente enraizada em nossa cultura e orienta a metodologia e interpretação teorética dos ramos da ciência que adotaram como modelo para suas próprias teorias, a visão de mundo newtoniana: “Os psicólogos, sociólogos ou economistas, ao tentarem ser científicos sempre se voltaram naturalmente para os conceitos básicos da física newtoniana” (Capra, 1983, p. 32).

A física moderna, Capra argumenta, derrubou a visão do fenômeno na­ tural como mecânico e do universo como uma máquina gigantesca, e é tempo de outras disciplinas científicas tomarem sua direção para a nova visão do uni­ verso - a concepção orgânica ou relacional da natureza. Os fenômenos naturais na física moderna não são feitos de partes discretas e separadas, mas de inter- relações: “No século XX... a física vem atravessando várias revoluções concei­ tuais que revelam claramente as limitações da visão mecanicista de mundo e conduzem a uma visão ecológica orgânica do mundo... O universo deixou de

193 Mecca C h ie sa

M ecca C h ie sa

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciência

Referências

American Psychological Association (1983). P u b lica tion m a n u a l o f th e

A m erican P sych ologica l association (3a. ed.). Washington, DC: Author.

Atkinson, R. C., & Shiffrin, R. M. (1968). Human memory: A proposed system and its control processes. Em K. W. Spence & J. T. Spence (Eds.), The p sych o lo gy o f lea rn in g a n d m otiva tion : A dvances in research

a n d th eory (Vol. 2). New York: Academic Press.

Atkinson, R. L., Atkinson, R.C., Smith, E. E., & Bem, D. J. (1993).

In trod u ction to p sych o lo gy ( I I a. ed.). Orlando, FL: Harcourt Brace

Jovanovich.

Ayllon, T., & Azrin, N. (1968). The token eco n o m y: A m o tiv a cio n a l system

f o r therapy a n d reha bilitation. New York: Appleton-Century-Crofts.

Baddeley, A. D. (1981). The concept of working memory: a view of its current state and probable future development. C ognition, 10, 17-23. Baddeley, A. D. (1982). Reading and working memory. B ulletin o f th e

B ritish P sych ologica l Society, 35, 414-417.

Baddeley, A. D., & Hitch, G. J. (1974). W orking memory. Em G. H. Bower (Ed.), R ecen t a d va n ces in lea rn in g a n d m otiva tio n (pp. 47-89). London: Academic Press.

Bakan, D. (1967). On m eth od : T oward a recon stru ction o f p sych o lo gica l

investigation . San Francisco: Jossey-Bass.

Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying thory of behavioral change. P sych ologica l R eview, 84, 191-215.

Bandura, A. (1989). Human agency in social cognitive thory. A m erican

Psychologist, 44, 1175-1184.

Baum, W. M ., & Heath, J.L. (1992). Behavioral explanations and intentional explanation in psycholgy. A m erican P sychologist, 47, 1312-

1317.

Bem, D. J. (1972). Self-perception theory. Em L. Berkowitz (Ed.), Advances in

experimental socialpsychology (Vol. 6, pp. 1-62). New York: Academic Press.

Bernstein, D. J. (1990). O f carrots and sticks: A review of Deci and Ryan’s Intrinsic Motivation and Self-Determination in Human Behavior.

fo u r n a l o f th e E x perim ental Analysis o f B ehavior, 54, 323-332.

Binyon, M. (1977). Rats! It’s prophet crying ‘destiny-control this w ay. The

Times H igh er E ducation S upplem ent, 4, 3, 77, pp. 7 e 9. London: Times

Newspapers Limited.

Blackman, D. E. (1991). B. F. Skinner and G. H. Mead: On biological

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciencia

science and social science. J o u r n a l o f th e E xperim ental Analysis o f

B ehavior, 55, 251-265.

Blackmore, J. T. (1972). E rnstM ach: His work, life, a n d in flu en ce. Berkeley: Univesrsity of California Press.

Boden, M. A. (1978). P u rp osive ex planation in p sych o lo gy. Sussex: Harvester Press Ltd.

Bolles, R. C. (1975). Theory o f m otiva tion (2a. ed.). New York: Harper & Row.

Bower, G. H., & Hilgard, E. R. (1981). Theories o f lea rn in g (5a. ed.). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.

Bradley, J. (1971). M a ch ’s p h ilosop h y o f scien ce. London: The Athlone Press of the University of London.

Brownstein, A. J., & Shyll, R. L. (1985). A rule for the use of the term, ‘Rule-Governed Behavior’. The B eh a v ior Analyst, 8, 265-267.

Brush, S. G. (1968). Mach and atomism. Synthese, 18, 192-215.

Capra, F. (1975). The tao of physics: An exploration o f th e p a ra llels b etw een

m od ern p h ysics a n d Eastern m ysticism . London: W ildwood House.

Capra, F. (1983). The tu rn in g p o in t: S cience, society a n d th e risin g cu lture. London: Fontana.

Catania, A. C. (1992). L earn in g (3a. ed.). Englewood Cliffs, NJ: Prentice- Hall.

Chomsky, N. (1959). Verbal behavior, by B. F. Skinner. L anguage,

35

,

26-58.

Clegg, F. (1982). S im ple statistics: A course book f o r th e so cia l sciences. Cambridge, England: Cambridge University Press.

Cohen, M. R., & Nagel, E. (1934). An in tro d u ctio n to lo g ic a n d scien tific

m ethod. London: Routledge & Kegan Paul.

Cohen, R. S., & Seeger, R. J. (Eds). (1970). Ernst M ach: P hysicist a n d

philosopher. B oston Studies in th e P h ilosophy o f S cien ce (Vol VI).

Dordrecht, Holland: D. Reidel.

Cooke, N. L. (1984). Misrepresentation of the behavioral model in preservice teacher education textbooks. Em W. L. Heward, T. E. Heron, D. S. Hill, & J. Trap-Porter (Eds), Focus on b eh a vior analysis in ed u ca tion (pp. 197-217). Columbus, Ohio: Merrill.

Czubaroff, J. (1988). Criticism and response in the Skinner controversies.

J o u r n a l o f th e E xperim ental o f B ehavior, 49, 321-329.

Davies, P. (1987). The cosm ic blueprint. London: W illiam Heinemann Ltd. de Giustino, D. (1975). The con q est o f m in d : P h ren ology a n d V ictorian so cia l

1 9 7 M ecca C h ie sa

Mec ca C h ie sa

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciencia

thought. London: Croom Helm.

Deci, E. L. (1975). In trin sic m otiva tion . New York: Plenum Press.

Deci, E. L., & Ryan, R. M . (1980). The empirical exploration of intrinsic motivational processes. Em L. Berkowitz

(Ed.),

A dvances in ex p erim en ta l so cia l p sych o lo gy (Vol. 13, pp. 39-80). New York: Academic Press.

Deci, E. L., & Ryan, R. M. (1985). In trin sec m otiva tion a n d s e l f d eterm in a tion

in h u m a n beha vior. New York: Plenum.

Deese, J. (1972). P sych ology as scien ce a n d art. New York: Harcourt Brace Jovanovich.

Deitz, S. M ., & Malone, L. W. (1985). Stimulus control terminology. The

B eh a vior Analyst, 8, 259-264.

Dickinson, A. M. (1989). The detrimental effects of extrinsic reinforcement o n ‘intrinsic motivation . The B eh a vior Analyst, 12, 1-15.

Efron, R. (1990). The d e clin e a n d fa ll o f h em isp h eric specialization. Hillsdale, Nj: Lawrence Erlbaum.

Estes, W. K., Newell, A., Anderson, J. R., Brown, J. S., Feigenbaum, E. A., Greeno, J., Hayes, P. J., Hunt, E., Kosslyn, S. M ., Marcus, M ., & Ullman, S. (1983). Report of the Research Briefing Panel on Cognitive Science and Artificial Intelligence. R esearch briefin gs, 1983. Washington, DC: National Academy Press.

Evans, P. (1975). M otivation. London: Methuen.

Eysenck, H. (1980). The bio-social model of man. Em A. J. Chapman & D. Jones (Eds.), M odels o f m an (pp. 49-60). Leicester: The British Psychological Society.

Eysenck, M. (1984). A hadboock o f co g n itiv e p sych ology. London: Lawrence Erlbaum.

Fashing, J., &Goertzel,T. (1981). The myth of the normal curve. H um anity

a n d Society, 5, 14-31.

Ferster, C. B., & Skinner, B. F. (1957). S chedules o f rein forcem en t. New York: Appleton-Century-Crofts.

Feyerabend, P. K. (1970). Philosophy of science: A subject with a great past. Em R. H. Stuwer (Ed.), H istorical and. p h ilo sop h ica l p ersp ectives

o f scien ce. Minnesota Studies in the Philosophy of Science (Vol. V, pp.

172-183). Minneapolis: University of Minnesota Press.

Fisher, R. A. (1947). The design o f experiments. Edinbkurgh: Oliver and Boyd. Glanzer, M ., & Cunitz, A. R. (1966). Two storage mechanisms in free

recall. J o u r n a l o f Verbal L earn in g a n d Verbal B ehavior, 5, 351-360. Gleeson, S., & Lattal, K. A. (1987). Misdescribing the Carneau: A

BEHAVIORISMO RADICAL: A Filosofia e a Ciencia

perplexing plurality.

The Behavior Analyst, 10,

111-112.

Gleick, J. (1988).

Chaos: Making a new science.

London: W illiam

Heinemann Ldt.

Green, J., & D’Oliveira, M . (1982).

Learning to use statistical tests in

psychology: A student's guide.

M ilton Keynes: Open University Press. Grimbaum, A. (1953). Causality and the science of human behavior. Em

H. Fiegl & M. Brodbeck (Eds.),

Readings in the philosophy o f science

(pp. 766-778). New York: Appleton-Century-Crofts.

Guilford, J. P. (1950).

Fundamental statistics in psychology and education

(2nd ed.). New York: McGraw-Hill.

Hacking, I. (1990).

Tloe taming o f chance.

Cambridge, England: Cambridge

University Press.

Hanson, N. R. (1955). Causal chains.

Mind, 64,

289-311.

Hanson, N. R. (1958).

Patterns o f discovery: An inquiry into the conceptual