• Nenhum resultado encontrado

Ensino Superior

Capítulo 3 – Factores Explicativos do Sucesso Académico

3. Teorias e Modelos do Desenvolvimento Cognitivo

3.4. O Modelo de Desenvolvimento Intelectual e Ético de William Perry

3.4.3. O desempenho das tarefas académicas

De acordo com o nível de desenvolvimento em que se encontra, o estudante vai percepcionar de forma diferente o mundo da aprendizagem, a figura e a função do professor, bem como as próprias estratégias de estudo. Referimo-nos às componentes do modelo de Perry (1981) relativas à percepção das vivências académicas, especificamente no que diz respeito à aprendizagem, ao professor, ao aluno, ao estudo e à situação de sala de aula propriamente dita.

Sobre este assunto, Baxter-Magolda (1992) afirma que “a compreensão do desenvolvimento intelectual dos estudantes deve estar na base de qualquer prática educativa. Os estudantes interpretam ou atribuem significados às suas experiências educativas com base na análise que realizam à natureza, limites e certezas relativamente ao conhecimento” (p. 3).

Apresentamos de seguida um quadro resumo destas especificidades do modelo de Perry.

vivências académicas

Aprendizagem Factos (verdadeiros ou falsos) As respostas são apenas correctas ou incorrectas

Processo de acumulação de dados

Envolve a consideração dos factos e teorias (reflexão acerca da teoria que melhor explica os fenómenos) Os conceitos substituem os factos, o que permite a generalização

O processo não é composto apenas por uma teorização abstracta; o aluno chega a uma conclusão e a um

julgamento moral

Processo intelectual que dota os indivíduos de uma boa capacidade de resolução de problemas e de

investigação

Professor Figura de autoridade Transmite o conhecimento Não é questionado

Tudo o que diz é considerado relevante

Deixa de ser a figura de autoridade É apenas uma pessoa educada numa determinada escola de pensamento (mas não a única)

É uma pessoa a quem se pode recorrer É bastante bem informado, mas não infalível

Aluno Deve memorizar as unidades de informação e repeti-las

Caracterizado por um pensamento absolutista e concreto

Submisso diante do professor

Encara o conhecimento como um conjunto de abstracções e

conceitos

Pondera e compara pontos de vista alternativos

Pensamento elaborado por conceitos e abstracções

Pensa em termos abstractos, mas assume o seu ponto de vista

Assume um estado de compromisso que lhe permite fazer julgamentos informados

Permanece aberto a informações, teorias e ideias novas

Tem consciência dos limites do conhecimento

Estudo Processo de memorização de natureza mecânica

Não considera teorias alternativas Reproduz as opiniões do professor

As teorias ocupam o lugar das unidades de conhecimento não organizado

Verifica-se a hierarquização dos tópicos de estudo

O estudo é passível de uma análise e de síntese nos seus elementos essenciais

Aula Situação onde o aluno escreve o que o professor diz, sem qualquer selecção, e recebe a informação passivamente

Separação do importante do trivial, na redacção dos apontamentos

Na aula o aluno participa, questionando, e dá a sua opinião baseada num trabalho e reflexão anteriores

Receptividade a novas ideias, numa perspectiva crítica

No que diz respeito ao período dualista, vimos já que o estudante concebe a aprendizagem em termos de factos (verdadeiros ou falsos) e de respostas correctas ou incorrectas. Aprende por intermédio de um processo de acumulação de dados e o estudo funciona como um sistema de memorização mecânica. O professor é percepcionado como uma figura de autoridade que transmite o conhecimento, não é questionado e tudo o que diz é considerado relevante. O aluno é submisso perante o professor, reproduz as suas opiniões, memoriza a informação recebida e repete-a – é detentor de um pensamento absolutista concreto. Em termos de funcionamento da aula, o aluno escreve o que o professor diz, sem qualquer selecção, o que é revelador da forma passiva com que recebe a informação.

De acordo com Perry (1970), à medida que se vai concretizando a transição para o relativismo, observam-se algumas diferenças significativas. No processo de aprendizagem o aluno passa a considerar factos e teorias, reflectindo acerca da perspectiva teórica que melhor explica os fenómenos em estudo. Os conceitos substituem os factos, o que promove a capacidade de generalização. O conhecimento é concebido como um conjunto de abstracções e de conceitos, com base nos quais o aluno pondera e compara pontos de vista alternativos, o que lhe permite elaborar o seu próprio pensamento. Em termos de estratégias de estudo, as teorias ocupam o lugar do conhecimento fragmentado, não organizado, sendo os tópicos de estudo hierarquizados. O professor deixa de ser visto como a figura de autoridade, surgindo como alguém com uma determinada formação em termos de uma de muitas escolas de pensamento. Na aula, o aluno separa o fundamental do acessório quando redige os seus apontamentos.

Quando o sujeito atinge o compromisso no relativismo, passa a pensar em termos abstractos, mas assume o seu ponto de vista, uma vez que o seu estado de compromisso lhe permite efectuar julgamentos. Não obstante, permanece aberto a

informações, teorias e ideias novas e tem consciência dos limites do conhecimento. Em termos de aprendizagem, o processo não inclui apenas uma teorização abstracta e o aluno é capaz de chegar a uma conclusão e de efectuar um julgamento moral. Por outras palavras, a aprendizagem funciona como um processo intelectual que dota os indivíduos de uma boa capacidade de resolução de problemas e de investigação (Bastos, 1998). No estudo, os alunos demonstram capacidade de análise e de síntese, daí que, em situação de sala de aula, participem, questionando, e construam as suas opiniões com base no trabalho de reflexão que já empreenderam. A posição do aluno é a de alguém receptivo a novas ideias, sempre numa perspectiva crítica, enquanto que o professor se assume como uma pessoa a quem se pode recorrer, sendo muito bem informado, mas não infalível (Perry 1970).

Perry (1981), examinando as crenças epistemológicas dos estudantes, concluiu que a aprendizagem apresentava dificuldades acrescidas para alguns, porque as suas concepções do próprio conhecimento eram marcadamente diferentes das dos seus professores.

4. Avaliação do desenvolvimento cognitivo – alguns instrumentos de