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4.9 Impactos do trilho pedestre

7. Desenvolver parcerias

O desenvolvimento de parcerias entre agentes públicos e privados é a base essencial para o sucesso dos trilhos. A nível público actuam várias entidades, quer a nível local como nacional. E, se se deseja um benefício económico dos investimentos aplicados nos trilhos torna-se necessário desenvolver parcerias com os privados porque são eles que irão permitir efeitos multiplicadores na base económica local. Do lado dos privados, estas parcerias são benéficas para que os trilhos mantenham interesse comercial. Fonte: Economics Research Associates (2000)

De salientar que o desenvolvimento dos trilhos deve ser direccionado para os interesses das comunidades locais, de forma a beneficiá-las, mas tendo em atenção as próprias características do pedestrianista. Assim, torna-se imprescindível que se desenvolvam estudos de mercado que permitam fornecer dados sobre os utilizadores dos trilhos aos diversos intervenientes no processo de implementação destas infra-estruturas. Por outro lado, torna-se bastante pertinente a criação de parcerias que permitam que as diversas entidades envolvidas no processo articulem os seus interesses, visando a manutenção e rentabilidade dos trilhos.

Para Andrade (2003) os trilhos constituem um novo impacto do homem na natureza e mais uma oportunidade para se admitir esse impacte omnipresente. Os trilhos e a sua utilização podem provocar tanto impactes físicos como visuais, sonoros e de cheiro e podem ameaçar habitats muito frágeis. Ao mesmo tempo constituem um meio de canalizar o impacte do homem e circunscrevê-lo a um itinerário restrito.

Estes problemas têm vindo continuamente a ser uma preocupação dos gestores de espaços naturais, principalmente onde existe uma forte frequência de pedestrianistas (Leung e Marion, 1999). Neste contexto, importa distinguir os seguintes factores ambientais que sofrem um impacto directo resultante da utilização dos trilhos (Andrade, 2003):

• Solo: compactação e erosão; • Vegetação: destruição; • Fauna: perturbação;

• Problemas atrópicos: lixo, fogo.

O problema que tem suscitado mais atenção é a compactação e erosão do solo (Newsome

et al, 2002). A erosão é um processo natural que causa graves problemas em áreas onde

existem trilhos, principalmente em regiões montanhosas. A erosão depende geralmente do tipo de solo e do padrão de drenagem da área em questão. Algumas causas podem ser citadas como facilitadoras do processo de erosão: a alteração e morte da vegetação (o que impede que as raízes auxiliem na implementação da estrutura do solo) e o pisoteamento

(que provoca agitação da superfície, possibilitando o deslocamento de pequenas quantidades de solo, principalmente em declives (Garland, 1990; Andrade, 2003).

Goeft e Alder (2001) efectuaram um estudo na Austrália sobre os impactes causados em trilhos utilizados pelos ciclistas de BTT. Para além de terem verificado que os impactes variam com as características do solo, declive e clima e com o tipo de utilizadores, verificaram também que os pedestrianistas causavam impactes mais severos que os ciclistas.

Garland (1990) realizou um estudo interessante relacionado com a implementação de trilhos e com a prevenção dos seus impactes. Com base na análise dos trilhos implementados nas montanhas Drakensberg (África do Sul), este autor verificou que muitos destes caminhos estavam degradados pela erosão do solo. Tendo como pressuposto que a manutenção dos trilhos sepode tornar uma actividade bastante dispendiosa, este autor desenvolveu uma metodologia com o intuito de diminuir a problemática da erosão do solo, antes de se implementarem novos trilhos naquela área.

Outros autores têm vindo a desenvolver metodologias para gerir esta problemática, como é o caso de Leung e Marion (1999) que sugeriram uma metodologia designada TPAM (trail-

problem-assessment method). Esta metodologia utiliza um conjunto de indicadores pré-

definidos, ligados aos impactes dos trilhos, e permite obter informação quantitativa que pode auxiliar nas medidas de planeamento, gestão e manutenção dos trilhos. Os trilhos pedestres podem ser desenvolvidos em espaços naturais com características bastante distintas, o que leva à existência de técnicas distintas de manutenção.

Mas além dos problemas físicos verificam-se também problemas de ordem social, principalmente nos trilhos que são multifuncionais, isto é, que são utilizados simultaneamente por pedestrianistas, cavaleiros, ciclistas e até por veículos motorizados. Por outro lado, a má preparação ou degradação dos trilhos diminui a qualidade da experiência do turista e pode dificultar a experiência ou até causar problemas de segurança (Leung e Marion, 1999). Como já foi referenciado anteriormente (no capítulo 1), uma das características das pessoas que procuram desenvolver actividades na natureza é o facto de

não gostarem de ficar em locais com muitas pessoas (Valentine, 1994). Contudo, os trilhos multifuncionais podem juntar pessoas que desenvolvem actividades diferentes. Num estudo realizado na Sierra Nevada, Califórnia/ USA verificou-se que 4% dos cavaleiros não gostavam de se encontrar com pedestrianistas e cerca de 36% dos pedestrianistas não gostavam de se encontrar com cavaleiros (Watson et al, 1994 citado por Newsome et al, 2002). Existem alguns estudos que reportam conflitos entre pedestrianistas e ciclistas de BTT (Noore, 1994; Cessford, 1995; Horn et al, 1994; Bjorkman, 1996 citados por Goeft e Alder, 2001). Também no caso da comparação entre estas duas modalidades, os conflitos são mais percebidos pelos pedestrianistas do que pelos ciclistas. No entanto, segundo Goeft e Alder (2001) existem poucas referências a acidentes entre ciclistas e pedestrianistas. Na generalidade, as preocupações centram-se na segurança, destruição do trilho, falta de preocupação ambiental e o uso inapropriado de tecnologia no meio natural.

Conclusão

Caminhar significou durante muitos anos apenas um acto de deslocação. Mas a partir do século XIX com o fenómeno da industrialização e com o surgimento do movimento romântico, as caminhadas na natureza começaram a ser vistas por outro prisma e começou- se a caminhar por lazer. Estes movimentos tiveram uma grande repercussão em alguns países da Europa que já têm uma longa tradição na prática de caminhadas, como é o caso da Inglaterra e da França, no entanto o âmbito da actividade desenvolveu-se de forma bastante distinta. No Reino Unido a actividade tem-se desenvolvido de uma forma menos estruturada, comparado com a França que possui um organismo central (FFRP) que regula todos os assuntos ligados ao trilho pedestre.

Actualmente, existem muitas actividades de lazer e turismo que têm como base caminhar, sendo a actividade de caminhar na natureza por trilhos devidamente sinalizados designado de pedestrianismo. Os percursos sinalizados para a prática de pedestrianismo são designados em Portugal de “trilhos pedestres”.

O trilho pedestre pode ser utilizado como uma infra-estrutura de lazer e recreio pelas populações locais, mas pode também ser um elemento central e complementar de um produto turístico, cuja implementação é pouco dispendiosa e que vai de encontro às novas tendências turísticas. O trilho pedestre permite ao turista o desenvolvimento de uma actividade de contacto bastante directo com a natureza, enquadrando-se nas formas de turismo baseadas na natureza, como o ecoturismo. Pode representar um desafio, enquadrando-se no turismo de aventura. Pode permitir ainda o contacto directo com as comunidades locais e com o património construído ao longo do percurso, apresentando assim numa óptica de turismo cultural. Esta actividade pode também trazer benefícios económicos para as populações locais e fomentar a preservação do meio natural e cultural, indo de encontro aos princípios da sustentabilidade. O trilho pedestre pode também contribuir para complementar outras actividades como é o caso do alojamento turístico, estabelecimentos de restauração e empresas de animação.

O número de pedestrianistas na Europa é bastante elevado. Por exemplo, cerca de 30% dos suecos caminha nas florestas e em caminhos rurais e cerca de 50% dos Ingleses também têm o hábito de caminhar em espaços naturais. Num estudo desenvolvido pela MINTEL (2003) verificou-se que o mercado Europeu do turismo de aventura está a crescer e que o principal produto desenvolvido na Europa para este segmento inclui o trilho pedestre. Em Portugal o pedestrianismo começou associado ao movimento campista e nunca tomou as proporções de países como a França e o Reino Unido. A actividade tem vindo a ser desenvolvida em inúmeros trilhos pedestres, mas o primeiro trilho homologado surgiu apenas em 1997. Ao nível do turismo, Portugal é um país com uma forte incidência no produto “sol e praia”. Contudo o país possui um elevado conjunto de recursos para a prática de pedestrianismo, podendo este vir a constituir um elemento de atracção e fixação de turistas e assim uma fonte de receitas alternativa para as regiões do interior, permitindo, entre outros, a fixação da população jovem. Por um lado, pode fomentar o comércio, o desenvolvimento de empresas de animação, a restauração e o alojamento. Mas também pode ser uma fonte directa de emprego, por exemplo, através da formação de técnicos de trilhos pedestres que teriam a competência de fazer a marcação dos trilhos, de acordo com as normas internacionais, desenvolver o trabalho de campo, desde o levantamento de

recursos, a pesquisa de mercado até à implementação do trilho, e posteriormente, a divulgação e animação das infra-estruturas implementadas.

O trilho pedestre es tá actualmente, a ser gerido pela Federação Portuguesa de Campismo (FPC), a única entidade nacional que pode intervir a nível da homologação dos trilhos, no entanto, recentemente surgiu outra entidade com ambições de intervir neste domínio, a Federação de Montanhismo e Escalada (FME). Assim, assiste-se actualmente a “uma guerra de competências”. Contudo, a FME tem vindo a propor a construção de parcerias para que o desenvolvimento do trilho pedestre se desenrole de uma forma sustentada e ordenada. Como o desenvolvimento de uma rede de trilhos pedestres homologados a nível nacional ainda se encontra numa fase embrionária, torna-se pertinente introduzir medidas que permitam zelar pelo ordenamento e controlo dos trilhos pedestres de uma forma sustentada.

O trilho pedestre, como base de um produto turístico, é complexo e heterogéneo, uma vez que agrega elementos de natureza diferente. Por um lado, integram-se as componentes de âmbito comercial, e por outro lado, os bens livres que geralmente constituem a parte fundamental do produto. São elementos difíceis de quantificar e que pertencem tanto a privados como ao sector público. Assim, o desenvolvimento deste produto turístico depende muitas vezes da interacção entre diversas entidades que variam entre autarquias, associações e agentes privados, onde as parcerias se tornam fundamentais. Por outro lado, o trilho pedestre é uma infra-estrutura que pode causar impactos, tanto económicos como ambientais. Para permitir uma maximização dos benefícios estudos de mercado e relativos à capacidade de carga dos trilhos são essenciais.

Por outro lado, não se verifica um grande esforço de promoção existe a nível nacional para a frequência de trilhos pedestres. O pedestrianismo foi considerado uma actividade saudável a nível governamental, tendo sido criada uma parceria entre a FPC e o Instituto do Desporto, no âmbito do programa “Portugal saudável”. Também foi publicado um pequeno manual com dados bastante úteis para quem pretende praticar esta actividade. Bem como brochuras informativas, embora frequentemente, difíceis de adquirir. Uma das formas de minorar este problema seria através da venda destas brochuras em

estabelecimentos próximos do trilho e até através da entidade que homologa os trilhos, o que poderá reverter para a manutenção do trilho.

Outro problema associado aos trilhos reside na falta de estudos sobre a procura e sobre o que poderia levar os portugueses a desfrutar mais desta actividade. Por isso consideramos pertinente realizar um estudo a esse nível. A próxima parte do relatório centra-se no desenvolvimento da parte empírica, onde se pretende identificar o perfil do segmento que frequenta os trilhos pedestres, a nível das suas características demográficas, estilo de vida, sensibilidade ambiental e percepção afectiva face à natureza. Outro objectivo será identificar as diferenças e similaridades entre os turistas que frequentam trilhos pedestres e os que não desenvolvem actividades nesse âmbito.

PARTE II – COMPONENTE EMPÍRICA