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Apesar de se verificar que ao longo da história tem havido sempre viagens com o objectivo de visitar meios naturais, verificamos que o homem começou a procurar a natureza para desenvolver actividades de lazer e turismo após a primeira revolução industrial (Fennel, 2002). No entanto, essa procura intensificou-se bastante nas últimas décadas, o que levou ao aparecimento de vários produtos turísticos que têm como base o meio natural. Na Europa a paisagem natural tem sofrido grandes modificações devido à intensa intervenção humana. Assim, o turismo na natureza aparece muitas vezes ligado a espaços rurais, o que leva a uma grande aproximação entre o turismo rural e o ecoturismo, havendo em quase todos os espaços naturais sempre uma componente humana integrada (Hillel, 2001). As terminologias usadas para descrever os produtos turísticos na natureza são bastante variadas e por vezes encontramos nomes distintos para definir o mesmo tipo de produto. Por exemplo, o termo “ecoturismo” é muito usado nos EUA e na Europa é frequente usar- se o termo “turismo sustentável” para definir o mesmo produto (Blangy e Vautier, 2001).

Na generalidade, o turismo baseado na natureza opõe-se ao turismo de massas (ver Figura 10) caracterizado por uma procura em larga escala (Newsome et al, 2002). O turismo com base na natureza é muitas vezes associado ao designado “turismo de interesse especial” ou “turismo alternativo” que se caracteriza por ser um turismo que se desenvolve em pequena escala, e em que existe uma interacção entre os visitantes e a comunidade receptora, em que os princípios de sustentabilidade são respeitados. Segundo Weaver (2001) o “turismo alternativo” é um termo genérico que abarca vários tipos de turismo onde podemos também encontrar o turismo baseado na natureza.

Figura 10: Uma visão geral do turismo

Tendo como base o trabalho de Dowling (1977, 1979, citado por Newsome et al, 2002) podem distinguir-se o turismo baseado na natureza pelos seguintes tipos:

• Turismo no ambiente: turismo de aventura

• Turismo acerca do ambiente: turismo de natureza • Turismo para o ambiente: Ecoturismo

Turismo de aventura

Para Hall (1992) o turismo de aventura é um produto ligado ao designado “turismo de interesse especial”. Desde a década de 70, 80 do século XX tem-se verificado uma elevada procura de revistas, equipamentos e empresas de animação que estão associadas ao turismo de aventura (Hall, 1992).

MacArthur (citado por Fluker e Turner, 2000) define uma aventura como sendo uma actividade que requer os seguintes três elementos:

• Liberdade de escolha; • Recompensas intrínsecas;

• Um elemento de incerteza (por exemplo, quando uma experiência é inesperada ou os seus riscos são impresíveis).

Ainda Fluker e Turner (2000) definem o turismo de aventura como sendo uma viagem que contém um elemento de excitação e de desafio pessoal, através de um risco controlado, geralmente ocorrendo num ambiente natural.

O turismo de aventura junta viagem, desporto e recreio ao ar livre (Beedie e Hudson, 2003). Para Hall (1992) a definição de turismo de aventura sofre as mesmas dificuldades que a definição de turismo. No entanto, nas duas últimas definições podemos verificar um denominador comum – o factor risco. Existe uma grande variedade de actividades que podem ser incluídas no turismo de aventura e que apresentam níveis de dificuldade e risco bastante diferentes.

Para Loverseed (1997) o termo turismo de aventura é usado como um termo umbrella que inclui três segmentos de mercado:

• Aventura “hard” que compreende actividades de outdoor que são consideradas únicas e excitantes. Estas actividades podem envolver um certo grau de risco e requerem algumas habilidades dos participantes. Na generalidade, os participantes destas actividades acampam ou pernoitam em meios de alojamento com poucas comodidades, como em cabanas ou abrigos de montanha. Nesta categoria encontramos actividades como montanhismo e alpinismo.

• Aventura “soft” que compreende actividades menos extenuantes em que os participantes não precisam de ter certas habilidades e o próprio alojamento é mais confortável. Os passeios de balão, os trilhos pedestres e o ciclismo são dois exemplos de actividades que podemos colocar nesta categoria.

• Ecoturismo pode incluir as mesmas componentes dos segmentos anteriores mas apresenta uma componente mais “pura”, isto é, tem como principal objectivo a aprendizagem e a interpretação do ambiente natural local, sendo uma preocupação a não danificação do meio ambiente. Uma actividade que se pode incluir neste âmbito é, por exemplo, a prática de canoagem numa localidade do Equador em que o alojamento é uma cabana de um povo indígena. E mesmo a prática do pedestrianismo pode incluir-se nesta categoria, na medida em que o interesse pela natureza se sobrepõe ao interesse na actividade física.

Para Weaver (2001) o turismo aventura não se desenvolve exclusivamente no meio natural, existindo actividades que envolvem risco e que se podem desenvolver em meios urbanos como, por exemplo, fazer um Rappel num edifício no meio de uma cidade. Por outro lado, existem actividades de ecoturismo em que os turistas fazem uma actividade que envolve riscos como, por exemplo, fazer uma caminhada mais longa por locais difíceis para ver uma cascata, ou observar uma espécie de um animal ou planta. De qualquer modo é de realçar que nem todo o turismo de aventura é amigo do ambiente.

Turismo baseado na natureza

Neste âmbito podem-se identificar muitas actividades. Para Newsome et al (2002) o turismo de natureza é mais que uma marca turística ou um produto, constituindo uma abordagem em que o turismo pode fornecer benefícios aos turistas, às populações receptoras e aos governos.

Segundo Ceballos-Lascuráin (1996 citado por Deng et al, 2000) o termo turismo de

natureza é geralmente aplicado a actividades turísticas que dependem do uso de recursos

naturais, que se encontram num estado relativamente inexplorado pelo homem e que podem incluir paisagem, topografia, vegetação, vida selvagem e património cultural.

Em Portugal o turismo de natureza é definido como a “prática integrada de actividades diversificadas, que vão desde o usufruto da natureza através de um passeio à prática de caminhadas, escalada, espeleologia, orientação, passeios de bicicleta ou a cavalo, actividades subaquáticas, entre outras, ao contacto com o ambiente rural e culturas locais, através da sua gastronomia e manifestações etnográficas, rotas temáticas, nomeadamente históricas, arqueológicas e ou gastronómicas, e a estada em casas tradicionais” (Conselho de Ministros, 1998).

Verifica-se que a definição de turismo de natureza em Portugal é muito lata, abarcando actividades que podem ser incluídas na classificação de turismo aventura, turismo cultural, turismo rural e ecoturismo. O factor comum é que são desenvolvidas na rede nacional de áreas protegidas.

Ecoturismo

Existe uma vasta literatura sobre o ecoturismo mas não existe uma definição consensual quer a nível conceptual quer a nível das actividades que podem ser desenvolvidas no âmbito deste produto (Orams, 2001; Blamey, 2001). No entanto, cada vez mais os agentes do turismo dão mais atenção a este produto e essa importância foi evidenciada no ano de 2002 que foi consagrado o “Ano Internacional do Ecoturismo” pela Organização Mundial de Turismo.

Fennel e Dowling (2003) analisaram mais de 80 definições de ecoturismo e chegaram à conclusão que nenhuma apresenta uma definição clara do que é ecoturismo, todas se reportam a algo especifico sem, no entanto, poderem ser generalizadas. Segundo a WTO (2002) o ecoturismo pode resumir-se às seguintes características:

• Toda a forma de turismo baseada na natureza, em que a principal motivação dos turistas seja a observação e apreciação da natureza ou das culturas tradicionais dominantes nas zonas naturais;

• Inclui elementos educacionais e interpretativos;

• Na generalidade, se bem que não seja exclusivo, encontra-se organizado para pequenos grupos por empresas especializadas de pequena dimensão e pertencentes a proprietários locais. No entanto, operadores estrangeiros de dimensões diversas também organizam, gerem e comercializam passeios ecoturísticos, para grupos de pequena dimensão;

• Procura reduzir ao máximo os impactes negativos a nível ambiental e sócio- cultural;

• Contribui para a protecção das zonas naturais:

o Gerando benefícios económicos para as comunidades e entidades que gerem os espaços e que têm como objectivo a conservação desses espaços;

o Oferece oportunidades alternativas de rentabilidade e emprego para as comunidades locais;

o Aumenta a consciencialização para a necessidade da conservação do património natural e cultural, tanto a nível da população local como a nível dos turistas.

Esta definição de ecoturismo é bastante vasta, abrangendo outros domínios do "turismo sustentável", que será discutido em pormenor no capítulo 3. Uma das actividades que se pode desenvolver no âmbito do ecoturismo é o trilho pedestre. Esta actividade e a sua ligação com as diversas formas de turismo de natureza e turismo sustentável serão abordadas em maior pormenor no Capítulo 5.