• Nenhum resultado encontrado

4.6 O trilho pedestre em Portugal 4.6.1 Organização do trilho pedestre

A prática de pedestrianismo em Portugal surge associada ao movimento campista. Durante os anos 30 “ o campismo vai-se apartando das suas origens escutistas e juvenis, formando uma corrente própria, civil e adulta. Pernas rijas, botas cardadas, estrada fora é porventura, a frase emblemática que melhor exprime o espírito do campismo da primeira metade do século, quando era tido na conta de modalidade desportiva ar-livrista, propiciadora de um convívio salutar entre homens e natureza” (Pina, 1988). Durante muito tempo o pedestrianismo foi realizado por grupos de amigos que se juntavam e desenvolviam esta actividade por percursos que eles conheciam mas que não estavam sinalizados. Na década de oitenta do século XX surgem algumas sinalizações, mas têm apenas o intuito de serem utilizadas por clubes ou empresas que efectuavam actividades organizadas sem regras oficiais. Só em 1993 são atribuídas a uma federação - a Federação

Quadro 6: Designação e extensão dos National Trails

National Trail Distância

em Km

1 Cleveland Way 177

2 Hadrians Wall Path 140

3 North Downs Way 246

4 Offa’s Dyke 285

5 Peddar´s Way & Norfolk Coast Path 150

6 The Penine Way 429

7 The Ridge Way 136

8 South Downs Way 161

9 South West Coast Path 1014

10 The Thames path 294

11 The Wolds way 127

12 The costwold Way 163

13 The Pennine Bridleway 560

Total dos Km existentes em National Trails 3234

Portuguesa de Campismo (FCP) - competências ligadas ao pedestrianismo30, de onde se destacam as seguintes:

• Regulamentar, disciplinar, promover e divulgar a sua prática;

• Promover e regulamentar a implementação de infra-estruturas a ela destinadas; • Promover a continuação dos percursos pedestres trans-europeus que terminam em

ou passam por Portugal, definir-lhe o itinerário e estabelecer pontos de ligação de entrada em território nacional;

• Acordar com as Federações vizinhas o estabelecimento de percursos pedestres trans-fronteiriços;

• Fazer o registo de todos os percursos pedestres, atribuir-lhe uma numeração e homologá-los de acordo com os requisitos pré-estabelecidos;

• Representar o pedestrianismo e os percursos pedestres nos fóruns internacionais, pelo que é federada na Fédération Européenne de La Randonnée Pedestre.

Assim a FPC (Federação Portuguesa de Campismo) desenvolveu o trabalho de criar regras para a uniformização dos trilhos a nível nacional. Em 1994 a federação apresentou um manual de marcação, que foi amplamente divulgado e que criou “uma ideia de conjunto e conhecimento uniforme, já enraizado nos praticantes” (Gonçalves, 2002). Resultou também na publicação de desdobráveis de divulgação dos trilhos com um design uniforme, um manual designado de “Percursos pedestres - Normas de implementação e marcação”, reeditado em 2000. A FPC criou o Registo Nacional de Trilhos Pedestres que apresenta as seguintes finalidades:

• Registar os percursos pedestres de todas as entidades que a ele recorram; • Atribuir-lhe numeração;

• Fazer a sua homologação de acordo com os pré-requisitos estabelecidos; • Fazer a sua divulgação a nível nacional e internacional.

O primeiro trilho homologado surge em 1997, nomeadamente um percurso de Pequena Rota (PR) circular com 17 Km de distância designado de “Rota da Serra” e situado no

30 Decorrente da Lei de Bases do Sistema Desportivo (Lei 1/90) e do Regime das Federações Desportivas (Decreto-Lei 144/ 93) o Estado, através do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva – despacho 28/ 96 do Gabinete do Primeiro-ministro de 6/3/96 – atribuiu à FPC poderes regulamentares, disciplinares e de outra natureza pública no âmbito do pedestrianismo.

concelho de Grândola. Desde então muitas entidades têm vindo a desenvolver esforços para implementar trilhos, muitos deles financiados pelo programa LEADER.

Segundo a FPC o número de praticantes tem vindo a aumentar assim como as actividades pedestrianistas, das quais se destacam o EURO RANDO 2001 (uma mega marcha entre a cidade do Porto e Estrasburgo), a IX Marcha de Primavera e a Marcha Nacional de Veteranos. Em 2002 no âmbito do programa “Portugal Activo e Saudável”, fomentado pelo Instituto Nacional do Desporto, foi consagrada importância especial ao trilho pedestre. Neste contexoto, desenvolveram-se algumas actividades e foi publicado o guia “Passo-a-Passo – Percursos Pedestres de Portugal” que reúne informação pertinente ligada aos vários aspectos da modalidade e relactiva a reúne todos os trilhos homologados até à data da publicação (FPC, 2002).

Para além do pedestrianismo, esta federação tem também competências a nível de montanhismo e escalada de competição. Em 1996 é atribuída à FPC o Estatuto de

Utilidade Pública Desportiva que contempla, entre outros direitos e deveres, a

representação nacional e internacional das modalidades que lhe foram atribuídas.

Em 2002 a FPC tinha 670 associações federadas, grande parte das quais ligadas ao montanhismo e 95 representativas de práticas de pedestrianismo. Quase metade dos clubes encontram-se sedeados na Região Norte (47%), o que pode denotar uma maior tradição para a prática desta modalidade nesta zona do país (FPC, 2002).

Fonte: FPC (2002)

Actualmente qualquer entidade, desde uma pessoa individual, a uma associação de desenvolvimento, empresa, Câmara Municipal, Região de Turismo, pode promover um trilho. No entanto, a única entidade que o pode homologar um trilho, segundo os critérios definidos a nível nacional, é a FPC. Contudo, a Figura 18 demonstra que grande parte dos trilhos homologados partiu de iniciativas de Clubes de Montanhismo (35%) e de Associações de Desenvolvimento (31%). 0 2 4 6 8 10 12 14 Asso ciaçõ es d e Des envo lvime nto Club es d e M onta nhism o Câm aras Mun icipa is Inatel Área s Pro tegida s Regiõ es d e Tu rism o Entidades

Figura 18: Entidades que promoveram Trilhos Pedestres até 2002 (número de trilhos homologados até 2002)

Fonte: FPC (2002) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 N º

Norte Sul Centro Açores Madeira

R egiões

Figura 17: Distribuição dos clubes com prática de pedestrianism o em 2002

No entanto, a actividade desta federação criou alguns atritos a nível do montanhismo e em 2002 surgiu uma outra Federação – a Federação de Montanhismo e Escalada (FME). Esta entidade conseguiu reunir o apoio de um grande número de clubes que se tornaram membros. Para além das competências ligadas ao montanhismo, esta federação pretende também ficar com a alçada do pedestrianismo. Em Junho de 2003 desenvolveu um encontro em Paredes de Coura, onde apresentou uma proposta designada de “Plano de Desenvolvimento Integrado dos Percursos Pedestres”. Segundo esta federação a proliferação de trilhos a nível nacional tem vindo a ser desenvolvida de uma forma pouco ordenada, muitas vezes causando distúrbios no meio natural e conflitos com as populações rurais (Oliveira, 2003).

Outra problemática centra-se na falta de formação das pessoas responsáveis pelo desenvolvimento e pela implementação dos trilhos. Para esta federação a resolução dos problemas inerentes ao pedestrianismo, que é um movimento que ainda se encontra numa fase inicial em Portugal, tem que passar pela construção de parcerias. “Torna-se necessário o devido apoio institucional e uma estreita colaboração com as entidades promotoras; é imprescindível e urgente o estabelecimento e a aplicação de medidas de controlo e de ordenamento, baseadas numa política de “partenariado”, procurando envolver os mais diversos interesses” (Oliveira, 2003). Na altura da apresentação deste projecto-lei já estava a ser desenvolvido um projecto-piloto na região norte. Visto que até ao momento apenas existe legislação ligada aos trilhos pedestres na Ilha da Madeira (Decreto Legislativo Regional nº 7-B/ 00). Este projecto que pretende regular apenas o trilho pedestre e não a actividade em si apresenta vários pontos distintos. Começa por definir o que é um trilho pedestre, a classificação, propõe a criação de um organismo designado “Comissão Nacional de Percursos Pedestres”, que por sua vez será subdividida em “Comissões Regionais de Percursos Pedestres”, o processo de homologação, os usos compatíveis e complementares, alterações do traçado, manutenção e vigilância. Paralelamente esta federação sugeriu um programa para a formação de técnicos de trilho pedestre. No entanto, estas medidas propostas ainda não foram implementadas. A Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada foi aceite como membro da Federação Europeia do Trilho Pedestre (ERA) em 2003 (FME, 2003).

Actualmente ambas as associações estão a desenvolver esforços para formar “técnicos de trilho pedestre”. Mas até ao momento ainda nenhuma federação avançou com um curso deste âmbito. A nível nacional têm vindo a surgir algumas iniciativas locais com cursos que fornecem algumas competências que podem ser aplicadas ao nível do pedestrianismo, como é o caso dos “guias rurais”. Os cursos de formação de guias rurais, realizados em 1997 e 1998, tiveram uma carga horária de 250 horas, sendo últimas 70 horas destinadas à marcação de percursos pedestres. Dos 16 guias formados em 1997, em 2000 cinco ainda exerciam a actividade, efectuando cerca de «três a quatro percursos por semana, mesmo no Inverno» (Cuiça, 2000).

Também no âmbito do “Turismo de Natureza”, instituído pelo Decreto Regulamentar nº 18/99 de 27 de Agosto para a Rede de Áreas Protegidas Nacionais, foi criada a figura de “guia de natureza”. No entanto até hoje não foram desenvolvidas acções de formação neste âmbito.