• Nenhum resultado encontrado

O MODELO DOS ESTATUTOS DE IDENTIDADE

II—ESTATUTOS DE IDENTIDADE NO QUADRO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO

2. Desenvolvimento psicossexual e estatutos de

identidade

A maioria dos estudos realizados segundo o modelo dos estatutos de identidade tem valorizado essencialmente variáveis não psicodinâmicas, o que, de certo modo, negligencia as origens da teoria que tem como substracto.

como referido por Erikson, têm o seu paralelo no desenvol- vimento psicossexual. Assim, por exemplo, no estádio da confiança básica/desconfiança são os aspectos do ego caracte- rísticos do estádio oral que são desenvolvidos e, portanto, a aquisição da identidade na adolescência, não tem só a ver com a resolução do estádio da confiança básica mas também com as formas como as necessidades libidinais orais foram satisfeitas.

Para estudar o desenvolvimento da identidade é necessário debruçarmo-nos sobre as componentes relevantes da mesma no desenvolvimento psicossexual (Mareia, 1985).

A fase oral (confiança básica/desconfiança), caracte- rizada pela separação eu/outro, irá ser um importante alicerce da identidade, assim como a anal (autonomia/vergonha, dúvida) em virtude do reconhecimento dos seus próprios desejos e sentimentos independentes dos outros. Durante a fase edipiana (iniciativa/culpa), a flexibilidade de identificações sexuais e a exploração são importantes precursores da identidade, assim como a capacidade de se concentrar e desenvolver esforços numa tarefa específica, o que são características do período de latência (indústria/inferioridade).

A introjecção das figuras superegoicas e a aprendizagem da tipificação sexual ocorre por volta do período edipiano. No seguimento desta afirmação, Mareia (1985) coloca como hipótese uma relação entre a exploração (liberdade- culpabilidade) das opções de papéis sexuais permitidas à criança num período edipiano e a subjacente culpabilidade e ansiedade/liberdade na exploração que permite ao adolescente trabalhar as mesmas questões relativas à sexualidade, testando

sexual que está em causa mas se a exploração em si é ou não aceitável pessoalmente, isto é, a permissão de exploração parece ser um importante factor edipiano.

3. Desenvolvimento das relações de objecto e estatutos da identidade

Um importante pré-requesito para o desenvolvimento da identidade é um sentido seguro do eu. Para a melhor compreensão do processo de desenvolvimento do eu temos de nos referir às teorias das relações de objecto (Mahler et ai, 1975; Bowlby, 1969 e Ainsworth et ai, 1978). O padrão de desenvolvimento descrito por estes autores processa-se desde os períodos em que a criança não se diferencia da mãe até à sua percepção como ser separado, autónomo e independente. Esta separação é a base necessária para o desenvolvimento posterior da identidade em que a relação com a família é o mediador temporal e psicológico entre a sequência vinculação-separação- individuação da infância e a sequência exploração-investi- mento da identidade na juventude. O primeiro momento de separação processa-se em relação à mãe, o que permite à criança explorar o mundo; o segundo momento de separação processa-se em relação à família para que o adolescente possa definir o seu lugar no mundo. Só uma ligação segura permite estas separações e, portanto, a individuação e a identidade (eg. Grotevant & Cooper, 1985; Cooper et al, 1983).

Tem sido assumido que o sentido inicial de um eu autónomo e integrado se estabelece entre o primeiro e o quarto

progressivamente pela criança não como uma extensão de si própria mas como pessoas diferentes. Mas esta separação ainda não é total, a criança necessita das figuras de ligação como apoios, garantias do seu eu em construção (objectos do eu).

Quando indicadores de autonomia começam a surgir (locomoção, negação) a criança não só se afasta como regressa para as suas figuras de ligação; este jogo recíproco de afastamento-reaproximação com a segurança da presença das figuras de ligação, é como que o primeiro treino para a sepa- ração. Um outro elemento importante para o desenvolvimento do eu é o uso de objectos transitivos que funcionam como ponte entre a ausência dos pais e a segurança de que vão voltar. E a interiorização integrada destas interacções que formam o eu.

Assim, o desenvolvimento do eu depende inicial- mente de ligações seguras, de um sentido de separação criado por momentos de ausência, de uma exploração activa, de objectos transitivos que fazem a ligação entre o reconhecimento presente e a memória evocativa e, finalmente, a interiorização de interações com as figuras de ligação (objectos do eu).

Este processo de desenvolvimento do eu na infância é similar ao do desenvolvimento da identidade na adolescência. Uma criança em idade escolar e com uma ligação segura aos pais, adopta os valores familiares e adere a princípios apresentados pela escola e família. Contudo, o adolescente com a sua destruturação, corta estas ligações e inicia um processo de separação e exploração sentindo a segurança de uma base (a família). Contrariamente, uma ligação ansiosa e ambivalente que resulta num apego forte à criança tem a sua continuidade

Foreclosure, o que não lhe permite sentir segurança para uma

exploração que pode por em risco o amor das figuras de ligação. Numa situação mais extremista encontramos os Diffusion com sentimentos de rejeição e de distanciamento dos pais, que se sentem alienados das figuras significativas e em quem persiste uma dúvida profunda em relação a si próprios e aos outros; não existe, portanto, qualquer estrutura base que possibilite o desenvolvimento de uma identidade.

O desenvolvimento do eu como estrutura e o desenvolvimento da identidade também como estrutura estão condicionados por um processo de uma ligação segura, precedida de separação e exploração e afectando uma eventual integração (Mareia, no prelo b).

Quer o eu, quer a identidade têm momentos óptimos de iniciação do seu desenvolvimento e ambos decorrem ao longo do ciclo vital. O eu torna-se progressivamente mais forte através de ligações, perdas e interiorização da interacção eu- objectos do eu. A identidade torna-se mais complexa através de investimentos e acções, de desiquilíbrio e subsequente refor- mulação e reinvestimento para alterar valores e direcções (acomodação).