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O MODELO DOS ESTATUTOS DE IDENTIDADE

DIFFUSION*— MORATORIUM* ACHIEVEMENT

DIFFUSION*— MORATORIUM* ACHIEVEMENT

*DIFFU SI ON f—MOR ATORIUM DIFFUSION \ DIFFUSION

Um indivíduo no estatuto de Foreclosure pode pôr em causa os seus investimentos e iniciar, portanto, um processo de exploração, passando assim a Moratorium. Maclach (1972) refere que o indivíduo só trabalha para a sua individualização quando um acontecimento positivo está para acontecer, mas opta pela não individualização quando estão em perspectiva acontecimentos negativos. Neste sentido, para os indivíduos em

Foreclosure a identificação com os desejos parentais parece ser

a solução com maior segurança evitando, assim, todo o confronto com estímulos que possam eventualmente pôr em causa as suas regras bem definidas. A necessidade de segu- rança é valorizada em detrimento dos seus interesses, perma- necendo, assim, em Foreclosure.

Perante novas perspectivas este último entra num período de exploração e, portanto, de Moratorium. Por exemplo,

desta mudança. Muitos jovens quando iniciam os seus estudos universitários encontram-se em Foreclosure e vivem subse- quentemente uma crise. Isto não quer dizer que a Universidade seja um estímulo para todos: alguns parecem capazes de uma rápida exclusão de alternativas, após uma exploração super- ficial (Hauser, 1971; Constantinople, 1969, 1970; Whithbourne

et ai, 1982) o que parece característico dos Foreclosure

psicológicos.

Contudo, é importante não esquecer que o Foreclosure também pode passar para o estatuto de Diffusion, quando os investimentos perdem cada vez mais o seu significado sem possibilidades de reavaliação, exploração ou substituição. Esta regressão a Diffusion pode ser apenas o caminho possível, menos ameaçador, de se desligar dos investimentos existentes, redobrar forças e entrar em Moratorium e em Achiever posteriormente.

Os caminhos possíveis do estatuto de Moratorium parecem claros. Os indivíduos neste estatuto podem fazer escolhas firmes e investir na sua implementação, passando assim, para o estatuto de Identity Achievement ou, então, não considerarem qualquer alternativa significativa e regredirem ao estatuto de Diffusion. Permanecer em Moratorium é altamente improvável, ainda que teoricamente possível.

Um indivíduo no estatuto de Identity Achievement pode pôr os seus investimentos em causa, procurar outras alternativas e entrar temporariamente num período de

Contudo, quando os seus investimentos perdem significado e vitalidade sem capacidade para procurar alternativas, regride ao estatuto de Diffusion.

É importante salientar que os indivíduos em

Moratorium ou em Achiever não podem, teoricamente, passar

a Foreclosure na medida em que já vivenciaram um período de crise, mesmo que os objectivos e valores permaneçam iguais, na medida em que isto seria contraditório com a própria definição de Foreclosure (Waterman, 1982).

Como conclusão, podemos dizer que os estatutos de

Identity Achievement e de Foreclosure podem ser interpre-

tados como resultado de um processo de desenvolvimento, enquanto o estatuto de Moratorium como um ponto de transição nesse processo. Neste contexto, o estatuto de Diffusion tanto pode ser considerado resultado como ponto de transição.

Muitos autores se têm debruçado sobre o processo em termos de movimento de um estatuto para outro. Esta linha de raciocínio está ligada à ideia de que os estatutos podem ser ordenados num continuum desde Diffusion até Identity

Achievement passando por Foreclosure e por Moratorium. Este continuum representa diferenças ao nível do desenvolvimento

do ego e, portanto, a passagem de níveis baixos {Diffusion e

Foreclosure) para níveis elevados {Moratorium e Achiever)

pode ser interpretada como um progressivo desenvolvimento. Waterman & Jeffrey (1976) consideram mesmo este continuum como representando estádios cronológicos do desenvolvimento da identidade.

Waterman (1984) ao definir o processo de formação da identidade considera que pode ser percepcionado como um processo de descoberta ou de criação.

Para ele há três elementos fundamentais no processo de formação da identidade:

(a) As fontes dos elementos da identidade. Uma das fontes de elementos possíveis da identidade é a constituição física bem como os factores genéticos que fornecem parâmetros para o que um indivíduo está potencialmente preparado; mas estes factores são apenas o início, potenciais a modificar pela experiência desde a infância. É, portanto, necessário identificar os potenciais do indivíduo e desenvolvê-los. Este reconheci- mento surge da discriminação entre competências realizadas com prazer e sucesso e aquelas cuja aquisição se torna difícil e/ou sem envolvimento emocional. Uma outra fonte de informação sobre os potenciais é fornecida pelo feed-back de outros significativos particularmente os pais, os professores e os amigos. Podem surgir ainda elementos da identidade a partir da exposição a diferentes modelos. Os modelos mais importantes para o adolescente são os pais na medida em que passam mais tempo na sua companhia e, portanto, têm um conhecimento mais próximo dos seus fracassos e sucessos e são uma fonte contínua de recompensa e punição. No entanto, outros modelos existem como os professores ou figuras fornecidas pelos mass media. Uma outra fonte, também possível, para elementos da identidade são as sugestões feitas por outros acerca de diferentes oportunidades. Estas sugestões

relação ao adolescente e podem ser feitas de uma forma mais ou menos directa; o adolescente incorpora-as ou não na sua identidade, com ou sem avaliação.

(b) Os métodos de avaliação dos elementos potenciais de identidade que são quer a procura de informações (leitura, observação, falar com outros) quer a experimentação de diferentes alternativas;

c) O nível de resolução da tarefa de identidade, que pode ocorrer a dois níveis, o racional e o intuitivo; o primeiro implica um pesar objectivo das diferentes alternativas até chegar a uma decisão, e o segundo é mais um sentimento de que "está bem". O facto de serem apresentados dois níveis de tomada de decisão não quer dizer que sejam mutuamente exclusivos; é mesmo provável que as melhores decisões aconteçam a ambos os níveis.

Ao analisar o processo de identidade como uma

descoberta, as fontes dos elementos de identidade são essen-

cialmente as suas capacidades e os métodos de avaliação são a procura de informação e a experimentação que só acontece em relação ao já existente, aos seus interesses. No que diz respeito ao nível de tomada de decisão, esta processa-se fundamen- talmente ao nível intuitivo, embora o nível racional possa ser utilizado, o que não acontece quando a avaliação intuitiva é favorável.

Ao analisar a identidade como um processo de criação, temos de dar ênfase à aprendizagem e não apenas aos potenciais, toda a informação e experimentação são importantes

que intuitivas.

Estes dois processos fazem pensar numa relação possível com os diferentes estatutos de identidade: o estatuto de Identity Achievement e de Moratorium teriam necessaria- mente que dar prioridade ao modelo de criação, enquanto o

Foreclosure, ao longo do ciclo vital, talvez mais ao modelo de

descoberta.

Grotevant (1987) apresenta um modelo do processo de desenvolvimento da identidade com quatro componentes essenciais: (a) as características do indivíduo que incluem as suas capacidades e orientações; (b) o processo de formação da identidade num domínio específico; (c) os contextos de desen- volvimento, ou seja, os meios em que o indivíduo desenvolve a sua identidade (a família, a sociedade, os pares, a escola e o trabalho); (d) a interdependência entre os desenvolvimentos nos diferentes domínios.

a) Características individuais

Neste grupo são apresentados quatros variáveis de personalidade e cognitivas. As da personalidade são: estima de si próprio, auto-monitorização, elasticidade do eu e abertura à experiência. A maioria da investigação existente relaciona-as com os estatutos considerados já como produtos; Grotevant conceptualiza-as como orientações que os indivíduos trazem para o processo de identidade.

exploração da identidade motivando para uma relação com o mundo, enquanto uma baixa estima inibe a exploração e o risco. Por sua vez, a estima de si próprio como produto de exploração, influencia comportamentos exploratórios subsequentes. A estima de si próprio pode também ser vista como o produto de outros processos que têm lugar nos contextos de socialização (família, dos pais) e que interferem no processo de formação da identidade.

A auto-monitorização tem sido definida como a capacidade que um indivíduo tem em adaptar o seu comporta- mento em função do contexto. Um indivíduo com uma grande capacidade de auto-monitorização tende a controlar a sua imagem projectada nas interacções sociais, enquanto indivíduos com níveis baixos de auto-monitorização tendem a comportar- se consistentemente nas diferentes situações. Na medida em que os indivíduos com níveis elevados de auto-monitorização são muito sensíveis e responsivos aos estímulos sociais, é esperado que estes indivíduos captem e usem diferentemente a informação proveniente do meio, que sejam capazes de uma exploração mais activa, de comparar diferentes pontos de vista e de estar atentos às reacções dos outros; enquanto que os indivíduos com baixos níveis de auto-monitorização são mais capazes de uma exploração intra-psíquica, e menos abertos ao feed-back dos outros.

O grau de flexibilidade manifestada numa situação nova define a "elasticidade do eu". Assim, um indivíduo com níveis baixos nesta dimensão é inflexível e, portanto, menos capaz de responder adaptadamente às situações novas;

capacidade de adaptação com sucesso a situações novas.

Alguns estudos foram já realizados examinando estilos de interacção social e identidade, no entanto, não há investi- gação sobre as diferenças individuais na abertura a novas

experiências e informação no processo de construção da

identidade.

No entanto, como Berzonsky & Barclay (1981) e Berzonsky (1986) referem, a identidade deveria ser concep- tualizada em termos de estilos de receptividade e abertura à informação: aberto, fechado e difuso. O primeiro estará orientado para a procura de informação; no segundo a preocupação primária é estar de acordo com as expectativas dos outros e, finalmente, no último estilo, as decisões são evitadas ou simplesmente adiadas. Estudos preliminares usando uma nova medida dos estilos de identidade foram realizados comparativamente com os estatutos de identidade. Os resultados indicam que o estilo fechado está positivamente relacionado com os estatutos com investimento e negativa- mente com o estatuto de Moratorium. Não era de esperar que o estatuto de Identity Achievement estivesse associado a um estilo fechado.

Nas características individuais Grotevant refere ainda as capacidades cognitivas. Para que um indivíduo possa tirar benefícios da sua exploração tem de ser capaz de avaliar a informação recolhida, para daí tirar inferências acerca de si e do meio que por sua vez são integradas num sentido de identidade em desenvolvimento e coordenadas com a realidade social. A capacidade de múltiplas perspectivas parece ser um

contributo importante para a formação da identidade, o que foi já evidenciado por estudos empíricos (Cooper et ai, 1983). No entanto, a relação operações formais e identidade não tem sido confirmada pela maioria dos estudos já realizados (eg. Cauble

1976; Rowe & Mareia, 1980).

b) Processo de formação da identidade num domínio específico

Grotevant conceptualiza a exploração da identidade em termos de cinco processos que interagem sempre que o indivíduo tenha de considerar diferentes possibilidades e fazer uma escolha: (1) As suas expectativas e crenças em relação a um determinado domínio que vão interferir nas percepções, nas cognições e na avaliação acerca das escolhas; (2) A explo-

ração: o comportamento actual de procura de informação ou

testagem de hipóteses, sendo importante a profundidade e a extensão do mesmo; (3) Investimento, isto é o tempo, a energia e o envolvimento afectivo dispendidos num curso de acção específico; (4) As forças em competição, isto é, a existência de alternativas simultaneamente importantes, por exemplo, podem desencorajar a exploração; (5) A avaliação contínua, quer ao nível cognitivo quer afectivo, que o sujeito vai fazendo da exploração feita até ao momento, é o que lhe permite continuar no mesmo caminho ou ter a necessidade de explorar outros.

O envolver-se activamente num processo de explo- ração tem consequências ao nível afectivo e cognitivo. As

consequências afectivas da exploração têm sido pouco

Moratorium por excelência está num período de exploração, e a

investigação mostra-o frequentemente com níveis elevados de ansiedade o que hipoteticamente colocará o sujeito perante duas alternativas possíveis: ou desiste ou tenta uma conclusão o mais realisticamente possível para diminuir o desconforto exis- tente. O Foreclosure, por sua vez, explora menos porque tem receio de perder a sua estima de si próprio e a dos outros signi- ficativos. Parece, portanto, que de acordo com as experiências afectivas resultantes da exploração haverá um estímulo para a continuidade da exploração noutros domínios, noutros momentos, ou não.

As consequências ao nível cognitivo verificam-se na

forma como o indivíduo incorpora a informação na estrutura da identidade já existente (assimilação) e nas transformações ao nível desta provocada pela confrontação com as discrepâncias existentes (acomodação).

Estas consequências cognitivas e afectivas são inte- gradas num novo sentido de identidade, quer ao nível da estru- tura do eu quer ao nível do conceito ou teoria que cada um tem acerca de si próprio. Grotevant conclui que a formação da iden- tidade talvez seja melhor conceptualizada como um processo em espiral do que como um processo linear; pois é constituido por sucessivos movimentos de exploração e investimento.

c) As variáveis de contexto

São também valorizados pelo autor, as variáveis de contexto o que não tem acontecido ao nível da investigação

contextos de desenvolvimento afectam a formação da identi- dade e como o progressivo sentido de identidade influencia aqueles. Esta lacuna deve-se ao facto de grande parte dos estudos terem sido realizados em contextos universitários relativamente homogéneos e por os contextos serem difíceis de operacionalizar e de estudar.

Grotevant considera a cultura, a sociedade, a família, o grupo de pares, a escola e o trabalho como sendo os contextos sociais mais importantes com repercussões ao nível do processo de identidade.

Neste grupo a família pode ser considerada uma excepção, na medida em que alguns estudos foram já realizados com o objectivo de analisar a influência dos estilos de comunicação e interacção familiar no desenvolvimento da identidade, como se verá no sexto capítulo.

É reconhecida a influência da cultura e da sociedade na delineação de normas, expectativas, valores, alternativas que limitam a acção do indivíduo assim como a importância do grupo dos pares como modelos, imagens que ajudam o indivíduo a aceitar ou a recusar elementos da sua identidade. A escola e o trabalho não só modelam expectativas e valores como também são os contextos em que o indivíduo se confronta mais com o fazer e o seu significado.

Embora estas perspectivas sejam evidentes é neces- sário investigação que delimite as variáveis de contexto que interferem diferentemente no processo de desenvolvimento de identidade e, por sua vez, como este interfere no meio.

d) Interdependência dos diferentes domínios da identidade.

Um outro aspecto referido pelo autor é a interde- pendência entre os diferentes domínios. Embora os diferentes domínios tendam a constituir o foco do desenvolvimento da identidade em momentos diferentes, a experiência num domínio pode afectar o modo como cada um aborda os outros. A interdependência entre os domínios tem sido pouco estudada. Para uns autores, entre os quais se situa Mareia, os diferentes domínios apenas são indicadores do nível de profundidade da estrutura da identidade e por isso pouco se preocupam com a diferenciação entre domínios. Outros autores, como Grotevant & Waterman observaram diferentes trajectórias desenvolvi- mentais nos diversos domínios e sugerem que estes sejam calculados separadamente. O autor conclui que é preciso o estudo separado bem como o da integração estrutural que ocorreu entre os domínios.