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O MODELO DOS ESTATUTOS DE IDENTIDADE

II—ESTATUTOS DE IDENTIDADE NO QUADRO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO

1. Desenvolvimento psicossocial e estatutos da

identidade

Segundo Erikson (1989), a natureza e a resolução de cada estádio do desenvolvimento psicossocial, inclusive o da

estádios anteriores e contribui para o estilo de resolução dos estádios seguintes.

Assim, o estilo da identidade (os estatutos de identidade), embora não necessariamente o seu conteúdo, é previsível através da qualidade da resolução de estádios psicosociais anteriores e pode predizer a forma de resolução de estádios subsequentes. Isto é, todos os estádios são precursores e consequência de outras crises. A questão que se coloca então é a de saber qual é a relevância de cada um dos estádios para uma crise particular. Assim, por exemplo, poderíamos dizer que a "intimidade" de estádio da indústria/inferioridade estará implicada nas relações escolares.

Se a teoria está correcta, então a resolução de elementos da identidade de estádios anteriores à juventude deveria ser melhor predictora do estilo de resolução da identidade do que propriamente a resolução das crises desses estádios. Deveríamos então dizer que se a autonomia (estádio da infância) está relacionada com a identidade na adolescência, os elementos da identidade existentes no estádio da autonomia estarão ainda mais relacionados com a resolução da identidade. Em conformidade com isto, a identidade está relacionada com a intimidade mas, ainda mais, com os elementos da identidade característicos do estádio de intimidade do que com a intimidade propriamente dita.

Esta perspectiva, apresentada por Mareia (1986 b), parece ter implicações importantes para a investigação sobre o desenvolvimento da identidade e para a intervenção psico- lógica.

todo o indivíduo será um Identity Diffusion, na medida em que não há qualquer delinear de objectivos, valores ou crenças em algum domínio significativo para a auto-definição. Gradual- mente, os conhecimentos vão aumentando no que concerne diferentes alternativas e uma selecção começa a desenvolver- se. Por exemplo, uma criança é capaz de ter conhecimento de diferentes papéis profissionais, ainda que limitados, e de antecipar uma ideia de um papel futuro. Na área religiosa, por exemplo, em que a informação corrente é inferior, a criança começa desde muito cedo a incorporar as crenças religiosas dos pais, que dificilmente consegue pôr em causa. E com este tipo de investimentos Foreclosure que a criança entra na adolescência.

Apesar da importância que a sociedade e a família têm na prescrição de escolhas profissionais e ideológicas, o desenvolvimento da identidade é mais baseado num processo de síntese do eu do que na soma das influências da infância. Pode existir uma identidade, e no entanto, não ter sido construída. O indivíduo torna-se progressivamente mais consciente da sua posição no mundo, percebe-se inicialmente como separado da mãe, como o filho de determinados pais, possuidor de certas competências e necessidades, aluno de uma escola, membro de uma religião...

Todos estes elementos descrevem apenas uma identidade vicariante da qual o indivíduo se vai tornando cada vez mais consciente. Mas a construção da identidade só tem início quando o indivíduo é capaz de tomar decisões acerca do que quer ser, em que grupo está inserido, em que acredita, que

a maioria dos indivíduos tem uma identidade, mas não tem uma identidade auto-construída.

Embora os percursores da identidade existam nos estádios de desenvolvimento anteriores, a adolescência é o ponto fulcral e talvez o período crítico para a formação plena da primeira (não a última) configuração da identidade.

Frequentemente, o período da adolescência é dividido em três partes: início, meio e juventude:

O início da adolescência (12-16 anos) é caracterizado por uma destruturação provocada por mudanças em diferentes domínios: fisiológico, sexual, cognitivo, moral e social. Para uns, este período é vivenciado com excitação, confusão, intensidade e dificuldade; para outros, é um processo mais calmo. A intensidade desta vivência está provavelmente relacionada com as características das múltiplas mudanças que ocorrem em simultâneo com o desenvolvimento anterior e com o apoio que o adolescente tem do exterior. E neste período de destruturação que surge a oportunidade de reconsiderar os valores e as identificações da infância. Alguns adolescentes, neste período, são já capazes de exploração e experimentação; pressões parentais ou "rituais de passagem", contudo, impedem essa exploração e experimentação e outorgam-lhe uma identidade

(Foreclosure) ou não lhe oferecem nada, perdendo o

adolescente completamente uma direcção (Diffusion).

O período médio da adolescência (15-19 anos) é um período de reestruturação e de reintegração dos aspectos da personalidade desintegradas no período anterior, em que surge

domínio de identidade, o adolescente possui agora um conhe- cimento maior e mais realista. Embora o acesso a alternativas, assim como a sua implementação, seja ainda limitado por restrições familiares e comunitárias, alguns adolescentes fazem já investimentos firmes e auto-determinados (Identity Achie-

vement). Aquelas restrições são regras pré-estabelecidas do

que é ou não apropriado à idade, são as expectativas e os pedidos implícitos e explícitos que levam muitos adolescentes a um seguidismo acrítico por medo de perder a estima dos outros

(Foreclosure). Outros adoles-centes permanecem destruturados

e sem direcção não sentindo necessidade de auto-definição

(Diffusion).

A juventude (18-22 anos) é considerada o período por excelência de consolidação da identidade inicial. O jovem, particularmente o que frequenta a universidade, encontra um contexto facilitador de exploração e experimentação, é confrontado com uma informação mais diversificada, sofre menos pressões sociais porque, mas não só, na maioria das vezes está longe dos pais e, portanto, da sua influência directa. Neste contexto há indivíduos capazes de explorar (Mora-

torium) e de tomar decisões em domínios significativos da

identidade (Identity Achievement), enquanto outros perma- necem vinculados às expectativas-parentais (Foreclosure) ou sem direcção (Diffusion).

O tipo de resposta encontrada que permita abertura à exploração vai dar início a períodos subsequentes de desequilíbrio, crises de identidade e de resolução. Por outras palavras, o Identity Achievement da juventude deverá garantir

(MAMA) ao longo da idade adulta, semelhante ao processo apresentado por Levinson et ai (1978). Por outro lado, a resolução não bem sucedida da identidade na juventude não quer dizer necessariamente que ela não será construída; mesmo que durante este período não se tenha saído do estatuto de

Foreclosure, há inúmeros acontecimentos ao longo do ciclo vital

que podem produzir uma crise de identidade. Contudo, quanto mais avançado na idade mais difícil é sair da posição de

Foreclosure, na medida em que não há muito apoio social para

uma crise de identidade aos 40 anos, em que o indivíduo tem de ter em conta as condições internas (estima de si próprio) e as condições externas (expectativas sociais de como o indivíduo se deverá comportar e ser).

A possibilidade de construção da identidade também existe para um Diffusion, especialmente se encontra uma relação que lhe forneça os apoios de auto-afirmação que estiveram ausentes na sua relação com os pais. No entanto, será mais uma identidade outorgada do que uma identidade construída, isto é um Diffusion na juventude poderá ser um

Foreclosure tardio.