• Nenhum resultado encontrado

TEORIA PSICOSSOCIAL DO DESENVOLVIMENTO

CHBONOLO Idc&tity

4. Indústria vs Inferioridade

A criança neste período desenvolve as suas capa- cidades fundamentalmente no contexto da instituição escolar, o que requer uma avaliação de si como pessoa trabalhadora. Depois de um período de imaginação e de jogo, quer agora fazer coisas que antecipem papéis futuros. A entrada na escola possi- bilita-lhe a diversificação de contactos e relações não só com outras crianças, mas também com os seus pais e com o(a) professor(a), alargando assim cada vez mais o seu leque de possibilidades de observação e de constatação de outros papéis sociais.

Quando confrontada com a aprendizagem, a criança sente que é competente, que é capaz de fazer e de fazer bem.

Sem iniciativa, autonomia e confiança no meio, ela não é capaz de produzir coisas com perseverança e auto-reconhecimento das suas capacidades e de se fazer reconhecer pelos outros.

O grande perigo neste estádio é o desenvolvimento de um sentimento de inferioridade que pode estar relacionado com o insucesso na resolução das tarefas anteriores. O pânico de perder a mãe... o medo de crescer, porque isso implica sair de casa... a família pode não ter preparado a criança para o mundo exterior e este pode não ser compensador para ela; estes são alguns dos prováveis factores que contribuem para o sentimento de incapacidade. O (a) professor(a) e os pais têm que ser sentidos como alvo da confiança da criança de forma a permitir uma identificação positiva a figuras que fazem e sabem outras coisas que ela ainda não sabe.

No reconhecimento progressivo das suas capacidades e potencialidades, a criança descobre que faz coisas já não apenas pela fantasia e pelo jogo mas pela utilidade e lógica que dão um sentido simbólico de participar no mundo real dos adultos (Erikson 1968). Esta é a base para o desenvolvimento de uma identidade profissional, em que um sentimento de incapacidade não permite criar objectivos de vida que, a priori, surgem como impossíveis. No entanto, um sentimento de que podemos fazer tudo o que queremos sem consciência das limitações, quer individuais quer externas, pode também levar a um outro tipo de incapacidade de realização, isto é, quando há uma grande discrepância entre o possível e o imaginado, a realização é também impossível.

III—IDENTIDADE vs. CONFUSÃO DE IDENTIDADE

Neste processo cumulativo de aquisição de compe- tências, estas são como peças que contribuem progres- sivamente para a aquisição da identidade. Na adolescência, o indivíduo necessita agora de uma moratória que lhe possibilite a integração dos elementos da identidade já adquiridos. E a recapitulação e a redefinição desses elementos que caracteriza a crise da adolescência. Se a procura de confiança em si e nos outros for ainda importante, o adolescente terá necessidade de procurar elementos que proporcionem essa confiança; mas se já existir a necessidade de uma definição de si pelo que pode ser e querer livremente, então procurará condições e oportu- nidades para tomar decisões que vão no sentido dessa definição. Por outro lado, os vários agentes (pais, professores e a sociedade) pressionam o indivíduo para essas tomadas de decisão, particularmente no que respeita às áreas escolar e profissional.

É pois a convergência das mudanças internas e dos pedidos externos que definem a tarefa psicossocial: a aquisição da identidade. O indivíduo adquire um sentido subjectivo de si caracterizado pela unidade e continuidade que permite reco- nhecer-se no presente, no passado e no futuro. A identidade é também um fenómeno interpessoal, na medida em que se baseia na forma como os outros percebem o indivíduo e se manifesta através de comportamentos que são avaliados pelos outros.

Erikson concebe a identidade do eu como um processo multidimensional, na medida em que o eu não interage apenas consigo próprio e com outras estruturas psíquicas (id e super- ego), mas também com o contexto social e as suas expectativas.

Há assim três características dominantes na definição do conceito de identidade (1) um sentido de continuidade espacio-temporal do eu; (2) a configuração de elementos positivos e negativos da identidade (auto-conceitos) que dão unidade às experiências de si próprio na interacção com o mundo social; (3) a mutualidade ou sentido da independência entre o conceito de si próprio e a realidade. Quando não adquire a sua identidade, o adolescente permanece num estado de confusão de identidade.

Para Erikson a fidelidade é a essência da identidade, é o produto da resolução bem sucedida da crise da identidade. A fidelidade surge na interacção do indivíduo com a sociedade, consoante esta oferece condições e oportunidades para o indivíduo fazer investimentos. O indivíduo à procura de um sentido de identidade tem uma grande capacidade de devoção a tudo o que seja prometedor, genuíno, perfeito, puro, duradouro (o herói, o modelo, o ídolo). Ser fiel é pois investir e envolver-se numa ideologia, numa profissão, o que é a tarefa por excelência neste estádio. Logan (1980) refere que a procura desta fidelidade pode ser verificada na juventude actual, na sua forma de vestir, nos movimentos ecológicos, na procura do natural, no purismo moral, político e cultural.

Juhasz (1982), por sua vez, sistematiza a fidelidade como a capacidade do indivíduo para ser verdadeiro em relação a:

(1) a si próprio—o que é a essência da estima e do respeito por si próprio de que também fazem parte os seus valores e ideais; (2) a ideais e valores da sua história passada (universais), de um passado mais recente (étnicos, culturais, religiosos, políticos), do presente (nacionais, estaduais, de cidade, comunidade-escola, igreja, pares e outros grupos), de família (de origem, actual, reconstituída, alargada); (3) à ordem social: sistema que inclui e sintetiza aspectos ideais e valores quer num sentido amplo quer mais específicos do grupo a que o indivíduo pertence (valores de vida, liberdade humana, guerra, o uso da ciência e da tecnologia, fontes naturais...); (4) a uma tarefa no sentido do que vale a pena tendo em conta a ordem social, os valores e as ideias, (como me vou sentir, do que sou capaz); (5) ou a qualquer outra coisa que proporcione a sobrevivência e enriquecimento do indivíduo.

Ao sumariar estes elementos da fidelidade, Juhasz considera que é obrigação do adulto criar condições para que o adolescente desenvolva o sentido de fidelidade, oferecendo-lhe princípios, ideiais e valores, tarefas e modelos que ele possa adoptar ou contestar.

1. Factores que contribuem para o desenvolvimento da