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RELAÇÃO DOS ESTATUTOS DA IDENTIDADE COM OUTRAS VARIÁVEIS PSICOLÓGICAS

II— ESTATUTOS DE IDENTIDADE NO CONJUNTO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO

2. Identidade e outras dimensões estruturais do desen-

volvimento

Ao nível das estruturas cognitivas, os trabalhos de investigação têm abordado o estudo da relação entre as operações formais, o desenvolvimento moral, o ego e os estatutos de identidade.

Mareia (1980) formula a hipótese de que as operações formais são uma condição necessária para a formação da identidade. O indivíduo no processo de desenvolvimento da identidade necessita de procurar e trabalhar a informação no sentido de tomar decisões e elaborar um projecto de vida, o que só parece viável quando o seu desenvolvimento cognitivo atingiu as operações formais. Embora utilizando uma amostra relativamente pequena, Rowe & Mareia (1980) apoiam a possibilidade dessa relação. Leadbetter & Dionne (1981) e Protinsky & Wilkerson (1986) confirmaram uma relação positiva entre pensamento formal e desenvolvimento da identidade. Indivíduos no estatuto de Identity Achievement e de Moratorium demonstram melhor realização ao nível das operações formais quando confrontados com problemas relacio- nados com a identidade. Esta relação, contudo, não foi confirmada por Cauble (1976) e Leiper (1981). Berzonsky, Weiner & Raphael (1975) realizaram um estudo com a hipótese de encontrarem uma relação unidireccional entre identidade e operações formais. Nesse sentido administraram duas medidas de raciocínio formal (teste de lógica silogistica e o Concept-

Attainment Task). Os resultados não confirmam a hipótese

inicial, isto é, se por um lado há indivíduos que atingiram as operações formais e não tiveram uma crise de identidade, também há sujeitos que tiveram uma crise de identidade e não têm ainda competências de raciocínio formal. Fraser (1988) encontrou sujeitos no estatuto de Diffusion que funcionavam a níveis de raciocínio dialéctico (pós-formal).

Wagner (1987) verificou uma relação positiva entre o desenvolvimento da identidade e a capacidade combinatória, para todos os sujeitos. Os indivíduos do sexo masculino apre- sentam melhores resultados nas tarefas da balança, o que coloca a hipótese de que estejam mais motivados para proble- mas mecânicos do que as mulheres. De qualquer forma, os resultados não apoiam a ideia de que o pensamento formal seja condição necessária para a formação da identidade na adolescência.

Os resultados são efectivamente pouco concludentes. Se por um lado a relação estatutos de identidade e operações formais parece teoricamente lógica, por outro, alguns dos estudos não apoiam essa relação. Slugosky et ai (1984) e Mareia (no prelo a) fazem uma análise crítica destes estudos referindo que, ou os testes de avaliação não são suficientes, podendo as operações formais manifestar-se de formas diferentes das avaliadas e, portanto, seria necessário uma outra medida mais eficaz, ou as operações formais estão relacionadas com os estatutos, mas não são uma condição necessária para aquisição da identidade.

Berzonsky & Barclay (1981), por sua vez,, referem que a entrevista de Mareia (1966) não distingue entre indivíduos que adquirem a sua identidade através de competências de raciocínio concreto ou formal, isto é, poderíamos encontrar

Achievers com estratégias de raciocínio formal e Achievers com

estratégias de raciocínio concreto, formas diferentes de resolver a crise e/ou tomar decisões.

Os estudos recentes sobre a relação entre o desenvolvimento moral e os estatutos de identidade são, na sua maior parte, concordantes. Esta relação é previsível na medida em que ambos estão relacionados com o desenvolvimento cognitivo e envolvem um processo de desiquilíbrio (exploração) e acomodação (investimento) (Mareia no prelo a).

Podd (1972) classificou em três níveis de desenvolvimento moral, de acordo com o modelo de Kholberg, um grupo de estudantes universitários do sexo masculino (pré- convencional: estádio 1 e 2; convencional: estádio 3 e 4 e post- convencional, estádio 5 e 6) e confirmou a hipótese de uma relação positiva entre as duas estruturas. Verificou, de facto, que os indivíduos em Identity Achievement apresentavam níveis de desenvolvimento moral superiores aos que pertenciam a estatutos de Foreclosure e de Diffusion, predo- minando o número de sujeitos em Diffusion no nível pré- convencional. Estes resultados não foram, contudo, confirmados por Cauble (1976) que não encontrou diferenças significativas entre os vários estatutos de identidade.

Investigações posteriores, realizadas com populações femininas (Poppen, 1974 e Huit, 1979), ou femininas e masculinas (Rowe & Mareia 1980), verificaram que a níveis superiores de identidade correspondiam níveis de desenvol- vimento moral também superiores.

Skoe (1986) relacionou o desenvolvimento moral segundo a perspectiva de Gilligan (1982) — Care orientation — e Kohlberg (1969) — Justice orientation — com o desenvolvimento

da identidade numa amostra feminina. A análise segundo o modelo de Kohlberg revela diferenças significativas entre os diferentes estatutos, isto é, os níveis superiores (Identity

Achievement e Moratorium) estão em estádios de desenvol-

vimento moral superiores aos níveis inferiores (Foreclosure e

Diffussion), não se verificando, contudo, diferenças quer entre

os superiores quer entre os inferiores. Segundo o modelo de Gilligan, a níveis superiores de identidade estão também associados níveis superiores de desenvolvimento moral, verifi- cando-se uma diferença significativa entre todos os estatutos. Estes resultados indicam que o modelo de Gilligan é mais discriminativo na sua relação com os estatutos de identidade.

Hogan (1973) usando outra medida de desenvol- vimento moral, verificou que níveis superiores de identidade eram mais empáticos, socializados e com sentido ético do que os níveis inferiores.

Em conclusão, podemos dizer que há uma relação entre o desenvolvimento da identidade e o desenvolvimento moral.

c. Estatutos de identidade e desenvolvimento do ego

O desenvolvimento do ego, como um processo em formação desde a infância, tem sido caracterizaado por Loevinger (1983 a) numa sequência de estádios, definidos independentemente da idade, em que cada um difere dos outros em dimensões intra-psíquicas e interpessoais. Este processo sequencial de estádios tem sido avaliado pelo inquérito de frases a completar Sentence Completion Test

(Loevinger & Wessler, 1970). Este inquérito caracteriza o indivíduo de acordo com três níveis de organização do ego: pré- conformista (impulsivo-auto-protecção), conformista (confor- mismo-consciência) e post-conformista (autonomia-integri- dade).

Os trabalhos de investigação nesta área têm dado particular atenção à identidade e ao ego como dois constructos psicológicos que dão significado, estrutura e direcção ao comportamento. Contudo, far-se-à referência apenas à sua interrelação. A questão levantada vai, pois, no sentido de confirmar se um determinado nível de desenvolvimento do ego é condição necessária para a resolução da identidade ou se a resolução da identidade contribui para o desenvolvimento do ego.

Adams & Shea (1979) verificaram a existência de uma relação positiva entre identidade e desenvolvimento do ego. Isto é, ao estatuto de Identity Achievement estariam associados níveis superiores de desenvolvimento do ego; é o único estatuto de identidade no nível superior do ego (integridade) e nunca se situa a um nível inferior à autonomia. Contudo, os dados não são esclarecedores para determinar se um é necessariamente condição do outro. No entanto, sugerem a hipótese de que níveis superiores de desenvolvimento do ego podem ser importantes, mas não uma condição necessária, para o desenvolvimento da identidade. Estes resultados foram posteriormente confirmados por Adams & Fitch (1981, 1982), Hopkins (1982) e Newman (1981). Estes autores verificaram que aos estatutos de Identity Achievement e de Moratorium correspondem níveis de desenvolvimento do ego nunca

inferiores ao pós-conformista, enquanto aos estatutos Fore- closure e Diffusion, níveis de conformismo e pré-conformismo. Os mesmos resultados foram verificados por Ginsburg & Orlofsky (1981) numa amostra feminina. No entanto, é de salientar que os sujeitos em Moratorium funcionavam a níveis superiores em comparação com os Identity Achievers. Este resultado é compreensível na medida em que a avaliação do ego reflecte a capacidade do indivíduo para lidar com problemas cada vez mais complexos (Loevinger, 1970). Neste sentido os Moratória teriam necessidade de funcionar a um nível superior de complexidade para lidar com as diferentes alternativas e tomar decisões.