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O desenvolvimento deve resultar no aumento do emprego e na atenuação dos desequilíbrios regionais Afirma-se que, a partir dessa premissa, o Banco estabeleceu

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5) O desenvolvimento deve resultar no aumento do emprego e na atenuação dos desequilíbrios regionais Afirma-se que, a partir dessa premissa, o Banco estabeleceu

condições de apoio diferenciadas favorecendo as regiões menos desenvolvidas, principalmente o Norte e o Nordeste, promoveu a interiorização do processo de industrialização e apoiou empreendimentos em regiões carentes.

Assim, os principais objetivos para 1985-1987 eram a retomada do desenvolvimento econômico, a redução da pobreza e a ampliação da base de recursos próprios do Sistema BNDES. Para alcançá-los, o BNDES delimitou algumas estratégias de atuação. A primeira referia-se ao incentivo à implantação e desenvolvimento de setores tecnológicos de ponta, tais como informática, microeletrônica e química fina. Priorizavam- se esses setores, pois eles eram vistos como capazes de provocar uma profunda mudança na indústria em geral. Afirmava-se que o país deveria ser capaz de realizar essas

26 transformações com recursos internos e manter seu parque industrial permanentemente atualizado. Neste sentido, defendia-se o apoio do setor público ao desenvolvimento desses setores, incentivando a implantação de novas indústrias e buscando viabilizar a autonomia nacional por meio da absorção e desenvolvimento de tecnologia de ponta.

O país já tem hoje maturidade industrial suficiente para lhe permitir ingressar nessas áreas de avançada tecnologia, representando esta etapa um novo salto na qualidade de nosso parque industrial. Ela permitirá não só reduzir o gap com os países desenvolvidos como também garantir, através da incorporação das novas tecnologias, uma contínua modernização do parque industrial e mesmo da agricultura brasileira. Criam-se assim as condições de sustentação do dinamismo e de atualização tecnológica necessárias à manutenção da capacidade de concorrência interna e ao rápido desenvolvimento do país (PLANO ESTRATÉGICO 1985-1987, 1984, p. 28).

A segunda estratégia relacionava-se com a primeira e dizia respeito à modernização e expansão da capacidade produtiva. Considerava-se esta estratégia bastante importante, embora se reconhecesse que seriam poucos os investimentos para a implantação de empreendimentos industriais fora dos setores de ponta. Reafirmava-se a importância da difusão da tecnologia de ponta, assim como a importância do BNDES neste processo. “(...) a consolidação do desenvolvimento tecnológico pela implantação de unidades em escala industrial e a sua difusão a todo o parque industrial são atividades próprias da missão do Sistema BNDES” (PLANO ESTRATÉGICO 1985-1987, 1984, p. 29).

A terceira estratégia delimitada no plano estratégico era a expansão e modernização da infraestrutura econômica, considerada uma das mais importantes frentes de investimento para a retomada. Acreditava-se que os investimentos em infraestrutura deveriam estar atrelados ao objetivo de melhorar as condições de vida da população.

A quarta estratégia referia-se à ocupação da fronteira agrícola, também vista como essencial para a retomada do crescimento. O diagnóstico era o de que a nossa produção estava estagnada, sendo necessário viabilizar o aumento da oferta a preços mais baixos, a fim de melhorar o padrão alimentar da população. Para alcançar esse objetivo, defendia-se a implantação de empreendimentos integrados e tecnologicamente atualizados, tornando a agricultura menos vulnerável aos fatores climáticos. Além disso, afirmava-se a necessidade de investimentos não só na implantação dos empreendimentos, mas também na infraestrutura de transportes, armazenagem e energética.

27 Por fim, a quinta e última estratégia dizia respeito à ampliação e modernização dos serviços sociais. A ampliação quantitativa e qualitativa da oferta de serviços e da assistência à população mais carente era vista como uma prioridade. Mas considerava-se que, para que esse objetivo fosse alcançado, era necessário que o BNDES, órgão gestor do Finsocial, tivesse mais autonomia de decisão na aplicação de recursos. Até 1986, o BNDES apenas administrava os recursos, não tendo influência nas suas aplicações.

O ponto central desse plano estratégico consiste em “apostar” na retomada do crescimento econômico (contava-se com uma taxa média de crescimento do Produto de 7,7% a.a., entre 1985 e 1990) e no desenvolvimento econômico em bases nacionais. A necessidade de retomada do crescimento é tão crucial que a inflação, considerada na época um dos grandes problemas da economia e um mal a ser banido, não tinha proeminência, sendo seu extermínio visto como uma consequência da retomada do desenvolvimento.

Acreditava-se que o aumento das exportações, a recuperação dos salários reais, acompanhando o aumento da produtividade, e o crescimento dos investimentos, considerados bastante importantes no aumento da demanda interna, sustentariam a retomada do crescimento. O aumento dos investimentos e dos gastos sociais também era considerado essencial para a retomada. Isto é, o diagnóstico baseava-se na ideia de que o aumento do consumo interno seria uma variável fundamental na recuperação da economia.

Com efeito, esse plano, de modo algum, rompe com a substituição de importações e com o nacional-desenvolvimentismo. Ao contrário, ele só poderia ser viabilizado em um contexto no qual predominasse um enfoque heterodoxo da economia. Mais do que isso, pode-se dizer que tanto o tratamento que o Plano Cruzado deu à economia como as propostas de política industrial do governo da Nova República (o Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República da Seplan e a Política Industrial da Nova República do Ministério da Indústria e Comércio – MIC) estavam em consonância com o Plano Estratégico 1985-1987.

Tanto o Plano Estratégico do BNDES como os planos governamentais defendiam a conciliação entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, primavam pelo desenvolvimento da tecnologia de ponta, atribuíam à empresa privada

28 nacional a função de liderar o processo de desenvolvimento e à empresa estrangeira um papel complementar e, principalmente, baseavam seus objetivos e perspectivas em uma solução heterodoxa para os problemas econômicos. Isto é, recusavam medidas de combate à inflação, tais como corte de gastos públicos, arrocho salarial, elevação da taxa de juros etc., que implicassem recessão econômica. Muito pelo contrário, esses planos propugnavam medidas que não podiam ser desvinculadas do aquecimento da economia e da reativação do mercado interno48.

Embora esse Plano Estratégico não tenha representado uma mudança no ideário do BNDES, nem um rompimento com o modelo de desenvolvimento consolidado na instituição, ele foi extremamente importante (principalmente no âmbito interno ao Banco), porque difundiu um novo método de planejamento na instituição e desencadeou um processo de maior integração da burocracia do BNDES entre si e também com a diretoria.