• Nenhum resultado encontrado

Atentemos agora para os setores contemplados pelo Banco, observando as aprovações e os desembolsos. Em 1993, o BNDES contou com recursos da ordem de US$ 31,4 bilhões. Houve queda de 33% nas aprovações e 11% nos desembolsos em relação a 1992207. No que se refere à distribuição setorial das aprovações, 52% beneficiaram

projetos industriais (14% para papel e celulose; 13% para produtos alimentares; 12% para

metalurgia; 11% para têxtil; 6% para química, mecânica e transformação de produtos minerais não metálicos; 5% para material de transporte e produtos de matérias plásticas; 4% para madeira e bebidas; e 3% para material elétrico e de comunicação), 26%

destinaram-se ao setor de serviços (55% para transportes; 15% para serviços industriais

de utilidade pública; 11% para alojamento e alimentação; 5% para construção e comércio varejista; e 2% para comércio atacadista e comunicações), 21% foram para agropecuária e 2% para extração de minerais. Quanto ao objetivo do projeto, 96% das aprovações destinaram-se a investimento fixo/misto e 1% ao fortalecimento e saneamento financeiro.

206

Em entrevista à revista Rumos do Desenvolvimento, Márcio Fortes (presidente do BNDES no período 1987-1989) afirma que Mário Henrique Simonsen declarou, em 1979, que Política Industrial é saber o que o BNDES financia. (FORTES, 1994, p. 8).

207

Ao contrário dos outros relatórios, não há o dado agregado das consultas e enquadramentos. Constam as consultas e enquadramentos por ramos de atividade, região e objetivo do projeto, mas não o dado geral. Isto é, não é possível saber se houve aumento ou decréscimo nas consultas e enquadramentos.

122 Os desembolsos foram distribuídos da seguinte forma: 49% para indústria (20% para papel e celulose; 14% para metalurgia; 11% para produtos alimentares; 8% para mecânica; 7% para bebidas; 6% para química, transformação de produtos minerais não metálicos e têxtil; 5% para material de transporte; 4% para material elétrico e de comunicação e materiais plásticos), 23% para serviços (51% para transportes; 24% para serviços industriais de utilidade pública; 11% para construção; 4% para alojamento e alimentação; 2% para comércio varejista e serviços profissionais; e 1% para comércio atacadista e instituições de crédito, seguro e capitalização), 18% para agropecuária e 2%

para extração de minerais208. Quanto ao objetivo do projeto, 92% dos desembolsos foram direcionadas para investimento fixo/misto e 4% para fortalecimento e saneamento financeiro.

Não houve nenhuma inversão ou mudança significativa nos setores contemplados pelo Banco, mas há diminuição do número de operações em quase todos os subsetores. Por outro lado, é importante destacar que, embora o governo Itamar não tenha lançado nenhum programa de Política Industrial direcionado à inovação tecnológica, os desembolsos do Contec209, criado em 1990 e regulamentado em 1991, tiveram aumento considerável (157%), mas ainda assim corresponderam a uma parcela muito pequena do total de recursos do Banco. Cresceram de US$ 400 mil em 1991 para US$ 2,1 milhões no ano seguinte e US$ 5,4 milhões em 1993 (Relatório do BNDES, 1993, p. 13). No contexto de retração das aprovações e desembolsos do BNDES, houve aumento nos desembolsos do Finamex210.

208 Diferentemente dos relatórios anteriores, não há, nos anos de 1993 e 1994, a porcentagem destinada a cada

subsetor. O percentual foi calculado a partir do número total de operações em cada setor (indústria de transformação e serviços) e do número de operações em cada subsetor.

209 Outro incentivo à tecnologia de ponta são as CCRs (Companhias Regionais de Capital de Risco). Buscam

apoiar pequenas e médias empresas de capital privado, localizadas nas regiões de influência de suas respectivas sedes. Privilegiam-se participações em empresas inovadoras, com ênfase naquelas intensivas em tecnologia. As CCRs passam a operar em 1993, mas não há informações sobre os recursos investidos (Relatório do BNDES, 1993, p. 48).

210 Em agosto de 1993, são introduzidas mudanças na modalidade pós-embarque do Finamex. Nesta

modalidade, financia-se a comercialização e máquinas e equipamentos no exterior, por meio do desconto de títulos ou outros documentos representativos da exportação (letras e câmbio, notas promissórias ou cartas de crédito). No relatório de 1993, consta a informação de que as operações foram simplificadas, os custos financeiros reduzidos e a possibilidade de apoio financeiro estendida a todos os exportadores de bens de capital – fabricantes, empresas de exportação, tradings etc. Outra mudança foi o “direito de regresso” sobre empresa exportadora e sobre o banco agente da operação. Isto é, os exportadores e agentes deixaram de ter responsabilidade pelo risco da operação de exportação, quando as cambiais ou a carta de crédito forem descontadas pela Finame (Relatório do BNDES, 1993, p. 15).

123 Em 1993, eles alcançaram US$ 125 milhões211. É importante destacar que cerca de 80% das operações do Finamex destinaram-se a países da América Latina, em especial a área do Mercosul e o México (Relatório do BNDES, 1993, p. 15).

No ano de 1994, houve aumento de 60% nas aprovações e 71% nos desembolsos. Não há dúvida de que a estabilização da economia foi o fator decisivo para um crescimento tão substantivo. No entanto, a indústria sofreu queda nas aprovações (de 52% em 1993 para 46% em 1994) e nos desembolsos (de 49% para 41%). Já o setor de serviços contou com crescimento das aprovações (de 26% para 32%) e dos desembolsos (de 23% para 39%). Agropecuária e extração de minerais não sofreram alterações significativas. O primeiro obteve 21% das aprovações e 20% dos desembolsos. O segundo recebeu 1% das aprovações e dos desembolsos (Relatório do BNDES, 1993, pp. 33-39). Em relação aos subsetores, as aprovações para papel e celulose caíram de 14% para 4% e os desembolsos de 20% para 4%. Houve aumento nas aprovações (de 13% para 17%) e nos desembolsos (de 11% para 16%) para produtos alimentares e também para material de transporte (de 5% para 11% nas aprovações e de 4% para 11% nos desembolsos). Nos outros subsetores, não houve mudanças substantivas (química contou com 6% das aprovações e 5% dos desembolsos; metalurgia com 12% das aprovações e 12% dos desembolsos; têxtil obteve 5% das aprovações e 6% dos desembolsos; mecânica recebeu 10% das aprovações e dos desembolsos e material elétrico e de comunicação 4% das aprovações e dos desembolsos)212.

No setor de serviços, houve queda drástica das aprovações para serviços industriais de utilidade pública (de 15% em 1993 para 1%) e redução dos desembolsos de 24% para 16%. As aprovações para construção mantiveram-se no mesmo patamar (5% em 1993 e 4% em 1994), mas os desembolsos caíram de 11% para 5%. O subsetor de Transportes permaneceu concentrando grande parte das aprovações (56%) e desembolsos (47%) para o setor de serviços. Alojamento e Alimentação obtiveram 5% das aprovações e 4% dos desembolsos, comércio varejista 4% das aprovações e dos desembolsos e comércio

211 Em 1992, foram de US$ 71 milhões.

212 Embora Produtos de Matérias Plásticas e Bebidas não constem da tabela por não terem sido, nos anos

anteriores, subsetores representativos, em 1994 ampliaram sua participação no setor indústria de transformação. O primeiro contou com 8% das aprovações e 6% dos desembolsos e o segundo com 10% das aprovações e 7% dos desembolsos (Relatório do BNDES, 1994, pp. 33 e 38).

124 atacadista 3% das aprovações e 1% dos desembolsos. No que se refere ao objetivo do projeto, manteve-se a tendência dos anos anteriores: 96% das aprovações e 95% dos desembolsos para ampliação e adequação da capacidade instalada, racionalização/modernização, comercialização de equipamentos nacionais e desenvolvimento tecnológico. Saneamento financeiro recebeu 1% dos desembolsos e não contou com nenhuma aprovação, em 1994 (Relatório do BNDES, 1994, pp. 33-39). Os investimentos em setores com alto potencial tecnológico caíram apesar do crescimento dos recursos da BNDESPAR. No período 1990-93, o volume médio anual de aplicações foi de US$ 145 milhões. Em 1994, alcançou US$ 508 milhões. No entanto, o Contec obteve apenas US$ 3 milhões, isto é, metade do total alcançado em 1993.

As tabelas abaixo sistematizam as informações e permitem sua melhor apreensão:

Tabela 4 - Total de desembolsos, Percentual de aprovações e desembolsos por setor no período 1993-1994.

Total de desembolsos Aprovações Desembolsos

1993 R$ 4,4 bilhões Indústria 52% Indústria 49%

Serviços 26% Serviços 23% Agropecuária 21% Agropecuária 18% Extração Mineral 2% Extração Mineral 2%

1994 R$ 6,6 bilhões Indústria 46% Indústria 41%

Serviços 32% Serviços 39% Agropecuária 21% Agropecuária 20% Extração Mineral 1% Extração Mineral 1% Fonte: Relatórios do BNDES (1993 e 1994) – elaboração própria.

ALÉM, Ana Claudia. O desempenho do BNDES no período recente e as metas da política econômica. Texto para Discussão, n.º 65, julho de 1998, p. 9.

125

Objetivos 1993 1994

Aprovações Desembolsos Aprovações Desembolsos

Ampliação e adequação da capacidade instalada, racionalização/ modernização, comercialização de equipamentos nacionais e desenvolvimento tecnológico 96% 92% 96% 95% Saneamento financeiro 1% 4% 0% 1% Outros 3% 4% 4% 4%

Fonte: Relatórios do BNDES (1993-1994) – elaboração própria

Tabela 6: Aprovações e desembolsos nos anos de 1993 e 1994 por gênero de atividade.

1993

1994

Setor Gênero de

Atividade

Aprov. Desemb. Aprov. Desemb.

Indústria Papel e celulose 14% 20% 4% 9%

Química 6% 6% 6% 5% Produtos Alimentares 13% 11% 17% 16% Metalurgia 12% 14% 12% 12% Têxtil 11% 6% 5% 6% Mecânica 6% 8% 10% 10%

126 Material elétrico e de comunicação 3% 4% 4% 4% Material de transporte 5% 4% 11% 9% Serviços Transporte 55% 51% 56% 47% Serviços industriais de utilidade pública 15% 24% 1% 16% Construção 5% 11% 4% 5% Alojamento e alimentação 11% 4% 5% 4% Comércio Varejista 5% 2% 4% 4% Comércio atacadista 2% 1% 3% 1%

Fonte: Relatórios do BNDES (1993-1994) – elaboração própria.

Quando analisamos os setores e subsetores contemplados nos anos Itamar, percebemos que a indústria de transformação permaneceu como o principal alvo dos recursos do Banco, embora tenha sofrido retração nas aprovações e nos desembolsos. Merece atenção o crescimento das aprovações e dos desembolsos para o setor de serviços, por ser esta uma tendência que se iniciou em 1994 e se consolidou nos anos seguintes. Em relação aos subsetores, a alteração mais significativa foi a queda das aprovações e dos desembolsos para papel e celulose e para os serviços de utilidade pública. No caso deste último, a redução vertiginosa se explica pelo contexto de ajuste fiscal rigoroso que caracterizou o Plano Real.

Por fim, é importante destacar que houve uma mudança importante no BNDES. A lucratividade saltou de R$ 70 milhões, em 1993, para R$ 600 milhões, no ano seguinte.

127 Segundo Arida, o fator determinante deste crescimento foi a implementação de uma gestão profissional, com cobrança dos débitos e o estabelecimento de uma boa análise de crédito, além da já mencionada implementação do comitê de crédito. “Cobramos todo e qualquer crédito inadimplente e demos os passos cruciais para a sedimentação de uma cultura do crédito” (Relatório do BNDES, 1994, p. 4). Este resultado condiz com o propósito, estabelecido pelo corpo técnico e direção, de melhorar a eficácia da aplicação dos recursos do Banco.

No entanto, as alterações no gerenciamento do Banco e a melhora dos resultados operacionais não foram acompanhadas das outras mudanças indicadas nos documentos produzidos pelo corpo técnico. Se a direção reuniu esforços para promover alterações na estrutura organizacional do Banco e garantir melhores resultados, o mesmo empenho não ocorreu com outros pontos sugeridos nos estudos e análises do corpo técnico, especialmente o investimento em inovação e modernização tecnológica. Ao contrário, como vimos, o único programa do Banco voltado para inovação tecnológica teve os desembolsos reduzidos pela metade.