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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

DESLIGADO COM MEDO EVITANTE

Negativo M od el o so br e si p pr io Negativo

Figura 4. Modelo com quatro padrões de vinculação no adulto (de acordo com Bartholomew, 1990).

O padrão de vinculação seguro combina o modelo sobre si próprio e o modelo sobre os outros positivos. Isto é, refere-se à percepção de si mesmo como merecedor e digno dos cuidados dos outros e, simultaneamente, à percepção dos outros como acessíveis, disponíveis e respondendo de forma adequada às suas necessidades. O padrão de vinculação preocupado combina o modelo sobre si próprio negativo e o modelo sobre os outros positivo. Neste caso, os indivíduos percepcionam-se a si próprios como não merecedores dos cuidados dos outros, ao mesmo tempo que fazem uma avaliação positiva dos outros. O padrão de vinculação evitante desligado combina o modelo sobre si próprio positivo e o modelo sobre os outros negativo. Ou seja, existe a percepção de si próprio como merecedor de cuidados e a percepção dos outros como não respondendo às suas necessidades. Finalmente, o padrão de vinculação evitante com medo combina o modelo sobre si próprio e o modelo sobre os outros negativos. Neste caso, os indivíduos percepcionam-se como não merecedores de cuidados por parte dos outros, ao mesmo tempo que percepcionam os outros como pessoas em quem não se pode confiar.

Três destes padrões de vinculação identificados – seguro, preocupado e evitante desligado – são conceptualmente similares às categorias da Adult Attachment Interview (AAI) (seguro-autónomo, inseguro-preocupado e inseguro-desligado); e três destes

mesmos padrões – seguro, preocupado e evitante com medo – são similares às categorias de Hazan e Shaver (1987) (seguro, ansioso/ambivalente e evitante).

Os quatro padrões de vinculação referidos por Bartholomew (1990) podem ser avaliados através do instrumento desenvolvido por Bartholomew e Horowitz (1991), o Relationship Questionnaire (RQ). Este questionário é composto por quatro itens, correspondentes às descrições dos tipos de vinculação mencionados. Os respondentes devem eleger, numa escala de 7 pontos, de tipo likert, o grau em que sentem que cada uma das descrições feitas corresponde à maneira própria de ser.

Apresentamos de seguida a descrição dos quatro tipos de vinculação, tal como surgem no instrumento de Bartholomew e Horowitz (1991).

1. (Vinculação Segura) É relativamente fácil para mim estar emocionalmente próximo das pessoas. Sinto-me confortável dependendo dos outros e sabendo que estes dependem de mim. Não me preocupo com as eventualidades de ficar sozinho ou dos outros não me aceitarem.

2. (Vinculação Preocupada) Queria ser emocionalmente íntimo de outras pessoas mas muitas vezes sinto os outros relutantes em aproximar-se de mim tanto quanto eu gostaria. Não me sinto confortável sem ter relações próximas com os outros mas às vezes preocupo-me por não ser tão importante para os outros como eles são para mim.

3. (Vinculação Evitante com Medo) Sinto-me desconfortável ao aproximar-me emocionalmente das outras pessoas. Gostava de estabelecer relações mais próximas mas tenho receio de confiar completamente nos outros ou de depender deles. Preocupo-me com a possibilidade de ser magoado, se deixar que os outros se aproximem mais de mim.

4. (Vinculação Evitante Desligada) Sinto-me confortável sem estabelecer relações próximas. É importante para mim sentir-me independente e auto-suficiente e prefiro não depender dos outros, nem que estes dependam de mim.

Revisões dos resultados que reforçam a ideia que as diferenças individuais existentes nos modelos internos dinâmicos sobre si próprio e sobre os outros podem determinar os diferentes tipos de vinculação incluem as apresentadas por Bartholomew (1990, 1993, 1997), Bartholomew e Shaver (1998) e Shaver e Clark (1994).

Mais recentemente, Griffin e Bartholomew (1994a) desenvolveram o Relationship Style Questionnaire (RSQ), um inventário de 30 itens com conteúdo proveniente das descrições de Hazan e Shaver (1987) e do RQ. O RSQ permite obter um valor para cada pessoa em cada um dos quatro padrões de vinculação e, simultaneamente, permite obter um valor para cada pessoa nas duas dimensões subjacentes aos padrões de vinculação: modelo sobre si próprio e modelo sobre os outros.

De acordo com Fraley e Shaver (2000), a ideia do poder explicativo dos conceitos de modelo sobre si próprio e modelo sobre os outros, na determinação dos tipos de vinculação, apresenta pelo menos três limitações. Em primeiro lugar, o conteúdo dos itens tipicamente utilizados na avaliação dessas duas dimensões é mais concordante com a conceptualização que se foca na sensibilidade à rejeição e no conforto em depender dos outros. Em segundo lugar, a consideração do modelo sobre si próprio e do modelo sobre os outros requer que os indivíduos classificados como preocupados apresentem um modelo sobre os outros positivo, isto é, que percepcionem os outros como disponíveis, responsivos e atentos. Este dado não é concordante com alguma evidência empírica que sugere os indivíduos com elevados níveis de preocupação estão predispostos a sentir que os companheiros não são sensíveis às suas necessidades (Collins, 1996; Simpson, Rholes, & Phillips, 1996). Finalmente, o comportamento de vinculação está presente em diversas espécies que não terão modelos representacionais sobre si próprios particularmente sofisticados (Robins, Norem, & Cheek, 1999). De facto, há estudos que demonstram que as crianças não têm capacidade para reflectir sobre si próprias e sobre os outros, de forma complexa, nos primeiros anos de vida (para uma revisão, cf. Fraley & Shaver, 2000). Sendo assim, encarar as diferenças individuais na vinculação do adulto em termos de modelos sobre si próprio e sobre os outros implicaria uma conceptualização das diferenças individuais baseada em pressupostos diferentes, consoante se tratasse de adultos ou de crianças.

4.4. Modelos categoriais versus modelos dimensionais

Apesar dos avanços conceptuais e metodológicos notórios no campo da vinculação na idade adulta, as medidas de vinculação do adulto, até muito recentemente, apresentavam diversas limitações psicométricas (cf. Brennan et al., 1998; Fraley & Waller, 1998; Griffin & Bartholomew, 1994a, para discussões). Cita-se o exemplo dos primeiros instrumentos de

avaliação do adulto, em que os indivíduos eram classificados em categorias estanques (Bartholomew & Horowitz, 1991; Hazan & Shaver, 1987; Main & Goldwyn, 1994), utilizando por vezes itens únicos nessa mesma classificação (Hazan & Shaver, 1987).

A controvérsia em torno do debate “modelos categoriais versus modelos dimensionais” mantém-se actualmente (cf. Cassidy, 2003; Fraley & Spieker, 2003b; Fraley & Waller, 1998; Fraley, Waller, & Brennan, 2000, para discussões), havendo investigadores que argumentam a favor da abordagem tipológica (Brennan & Shaver, 1995; Brennan, Shaver, & Tobey, 1991) e outros que defendem a abordagem dimensional, seja por motivos psicométricos (Fraley & Waller, 1998; Simpson, 1990) ou conceptuais (Griffin & Bartholomew, 1994b).

Fraley e Waller (1998) referem que as tentativas de impor modelos categoriais à variabilidade da vinculação pode conduzir a problemas sérios na análise conceptual, no poder estatístico e na precisão da medida, defendendo que a utilização de modelos dimensionais assume uma maior variabilidade entre sujeitos e requer uma maior clareza conceptual no que se refere à operacionalização das dimensões subjacentes à vinculação. Os autores referem ainda que a utilização de determinados procedimentos estatísticos, como a análise de clusters, que tem vindo a ser muito utilizada no sentido de enquadrar os sujeitos avaliados através de escalas dimensionais, em grupos (Canavarro, Dias, & Lima, 2006; Collins & Read, 1990; Collins, 1996; Collins & Feeney, 2000; Feeney et al., 1994; Moreira et al., 2003), não se adequa aos objectivos.

Um esforço notório na tentativa de identificar as dimensões subjacentes às diferenças individuais na vinculação foi levado a cabo por Brennan et al. (1998). Os autores elaboraram uma extensa revisão da literatura sobre a temática dos modelos e medidas de vinculação. Em seguida, administraram 323 itens de diversos instrumentos de avaliação existentes a uma amostra de 1086 estudantes (com idades compreendidas entre os 16 e os 50 anos), no sentido de identificar semelhanças e diferenças entre as medidas. Os resultados obtidos sugerem que as diferenças individuais na vinculação podem ser organizadas num espaço bidimensional, em que uma das dimensões corresponde à ansiedade – que corresponde à ansiedade e vigilância acerca da rejeição e abandono – e outra ao evitamento – que corresponde ao desconforto com a proximidade e dependência e relutância na intimidade com os outros (cf. Figura 5).

Figura 5. Modelo bidimensional de vinculação no adulto (de acordo com Brennan et al., 1998). Seguidamente, Brennan et al. (1998) conduziram uma análise de clusters a partir das duas dimensões mencionadas, através da qual identificaram quatro grupos distintos cujos padrões de valores nas dimensões ansiedade e evitamento, relembram as descrições de Bartholomew (1990) dos quatro padrões de vinculação: seguro, preocupado, evitante desligado e evitante com medo.

Os respondentes incluídos no cluster “seguro” apresentavam valores reduzidos nas dimensões ansiedade e evitamento; os respondentes incluídos no cluster “evitante com medo” pontuavam alto nas dimensões ansiedade e evitamento; aqueles que foram incluídos no cluster “preocupado”, apresentavam pontuações elevadas na dimensão ansiedade e pontuações reduzidas na dimensão evitamento; e, finalmente, os sujeitos identificados no cluster “evitante desligado”, pontuavam alto na dimensão evitamento e baixo na dimensão ansiedade.

Quando os autores realizaram uma análise de clusters com a definição prévia de três grupos, os dois grupos anteriormente identificados como pertencendo aos clusters “evitante com medo” e “evitante desligado” fundiram-se num só, assemelhando-se, desta

EVITAMENTO