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Procedimentos de avaliação e tipologias das relações de vinculação do adolescente e adulto

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 3 VINCULAÇÃO NA TRANSIÇÃO PARA O ENSINO SUPERIOR

4. Procedimentos de avaliação e tipologias das relações de vinculação do adolescente e adulto

Desde que Hazan e Shaver (1987) demonstraram que é possível utilizar um instrumento de auto-resposta para avaliar as orientações de vinculação romântica na adolescência e na idade adulta, uma enorme mostra de variantes e extensões do seu questionário foram propostas. A diversidade resultante “arouses frustration and confusion in newcomers to the field who wonder which of the many measures to use” (Brennan, Clark, & Shaver, 1998).

4.1. Modelos com três categorias

O primeiro instrumento de avaliação da vinculação na idade adulta foi construído por Hazan e Shaver (1987), com o objectivo de prolongar a tipologia de vinculação durante

a infância até fases posteriores do ciclo de vida. Assim, os autores basearam a construção do instrumento nos padrões de vinculação, tal como foram caracterizados por Ainsworth (1972). O instrumento de avaliação é constituído por três itens que correspondem às descrições dos tipos de vinculação referidos, sendo pedido aos respondentes que escolham aquela que melhor o descreve.

Lyddon, Bradford e Nelson (1993) reproduziram o instrumento original de Hazan e Shaver (1987), que se transcreve de seguida:

1. (Vinculação Segura) Considero relativamente fácil aproximar-me dos outros, e depender deles. Geralmente não me preocupo com a possibilidade de ser abandonado nem, por outro lado, com a possibilidade dos outros se aproximarem demasiado de mim.

2. (Vinculação Insegura Evitante) Sinto-me desconfortável quando me encontro próximo dos outros. Tenho dificuldade em confiar completamente nas outras pessoas ou em depender delas. Fico nervoso quando alguém se aproxima muito de mim e frequentemente os meus parceiros desejam ter comigo maior intimidade do que aquela com a qual me sinto confortável.

3. (Vinculação Insegura Ansiosa/Ambivalente) Acho que os outros se mostram relutantes em estar tão próximos de mim como eu gostaria. Preocupo-me frequentemente com a possibilidade dos meus parceiros poderem não gostar de mim ou preferirem estar sem mim. Gostava de estar mais próximo dos meus parceiros, o que faz com que muitas vezes as pessoas se afastem (Lyddon et al., 1993, p. 391).

Hazan e Shaver (1987, 1990) conduziram estudos empíricos em duas amostras independentes, tendo sido revelado que os adultos se classificavam como seguros, evitantes e ansiosos/ambivalentes, numa proporção, respectivamente de 56%, 24% e 20%, na amostra 1 e 56%, 23% e 20%, na amostra 2. Nas duas amostras, verificou-se que o tipo de vinculação é independente do sexo do inquirido.

Nos estudos iniciais com o instrumento, Hazan e Shaver (1987) verificaram que pessoas com diferentes estilos de vinculação se distinguem nos seguintes aspectos: descrições que fazem das relações românticas, crenças que possuem sobre si próprias e sobre relações sociais e, ainda, memórias que têm do relacionamento com os pais durante a infância.

4.2. Dos modelos de escolha forçada para as medidas multi-itens

A medida categorial de Hazan e Shaver (1987) foi diversas vezes adoptada, em virtude da sua brevidade e facilidade de administração. No entanto, algumas das limitações deste instrumento de avaliação foram rapidamente reconhecidas por vários investigadores (Collins & Read, 1990; Levy & Davis, 1988; Simpson, 1990). Por exemplo, o modelo de medida categorial assume que a variação entre os indivíduos dentro de uma categoria específica não é importante ou não existe e também que os indivíduos podem ser caracterizados por uma determinada categoria na medida em que a variação não existe (Crowell et al., 1999). Adicionalmente, Baldwin e Fehr (1995) chamaram a atenção para o facto da estabilidade teste-reteste da medida ser de apenas 70% (equivalente a um r de Pearson de .40) e de não diminuir em função da magnitude do intervalo teste-reteste, o que sugere que a instabilidade não se deve a uma mudança efectiva na segurança da vinculação (Fraley & Waller, 1998; Baldwin & Fehr, 1995).

No sentido de ultrapassar as limitações referidas, muitos investigadores começaram a utilizar escalas contínuas para avaliar a vinculação. A primeira alteração à medida de Hazan e Shaver (1987) envolveu uma pequena revisão: as três descrições dos tipos de vinculação mantiveram-se intactas, mas em vez de uma escolha forçada de uma delas, os respondentes deveriam indicar em que medida cada descrição se aplicava a eles (Levy & Davis, 1988). Esta abordagem implicou o reconhecimento que nem todos os sujeitos que escolhem um determinado estilo de vinculação consideram a descrição associada igualmente aplicável, e por outro lado, permitiu ainda considerar diferentes padrões sobre os estilos de vinculação.

Subsequentemente, Collins e Read (1990) e Simpson (1990), decompuseram as afirmações dos parágrafos do instrumento de Hazan e Shaver (1987) obtendo itens separados, avaliados em escalas de tipo likert. De forma geral, estas escalas apresentam alphas de Cronbach e estabibilidade temporal (com intervalos entre o teste e o reteste que variam entre 1 semana e 2 anos) de .70 (para uma revisão, cf. Crowell et al., 1999).

Mais recentemente, novas medidas de padrões de vinculação na idade adulta têm sido propostas (Brennan & Shaver, 1995; Feeney, Noller, & Hanrahan, 1994; Griffin & Bartholomew, 1994a). Entre estes esforços, Bartholomew e colaboradores (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991; Griffin & Bartholomew, 1994b) salientaram-se pela conceptualização teórica que propuseram a propósito do que viria a ser chamado de

orientações de vinculação, padrões de vinculação ou estilos de vinculação. As diversas tentativas para criar escalas multi-itens revelaram que duas dimensões fundamentais subjazem às diferentes medidas: a ansiedade (acerca do abandono e amor insuficiente) e o evitamento (da intimidade e da expressão emocional).

4.3. Modelos com quatro categorias

Bartholomew (1990) interpretou as dimensões ansiedade e evitamento nos termos dos modelos internos dinâmicos sobre si próprio e sobre os outros referidos por Bowlby. A este propósito, Bowlby (1973) escreveu:

In the working model of the world that anyone builds, a key feature is his notion of who his attachment figures are, where there may be found, and how they may be expected to respond. Similarly, in the working model of the self that anyone builds a key feature is his notion of how acceptable or unacceptable he himself is in the eyes of his attachment figures… Confidence that an attachment figure is… likely to be responsive can be seen to turn on two variables: (a) whether or not the attachment figure is judged to be the sort of person who in general responds to calls for support and protection; (b) whether or not the self is judged to be the sort of person towards whom… the attachment figure is likely to respond in a helpful way. Logically these variables are independent. In practice, they ar apt to be confounded. As a result, the model of the attachment figure and the model of the self are likely to develop so as to be complementary and mutually confirming. (pp. 203-204)

Bartholomew (1990) criou assim um modelo, segundo a dicotomização (em positivo e negativo) de duas variáveis: modelo sobre si próprio e modelo sobre os outros. Quando os modelos sobre si próprio de cruzam com os modelos sobre os outros, emergem quatro padrões de vinculação: Seguro, Preocupado, Evitante-Desligado e Evitante com Medo (cf. Figura 4).

Depois de ter percebido que o perfil de vinculação evitante de Hazan e Shaver (1987, 1990) e o definido por Main et al. (1985) diferiam em grau no que exibiam

qualidades ansiosas ou evitantes, Bartholomew (1990) considerou que uma única categoria de vinculação evitante poderia mascarar tipos diferentes de vinculação, pelo que no seu modelo, encontramos os padrões de vinculação Evitante Desligado e Evitante com Medo.

Modelo sobre os outros

Positivo

SEGURO PREOCUPADO

Positivo

EVITANTE