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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2 OPTIMISMO DISPOSICIONAL NA TRANSIÇÃO PARA O ENSINO SUPERIOR

5. Optimismo e suporte social

O suporte social tem sido recentemente apontado como um possível mediador da relação entre o optimismo e um melhor ajustamento (Aspinwall & Taylor, 1992; Brissette et al., 2002; Dougall, Hyman, Hauward, McFeeley, & Baum, 2001; Mosher et al., 2006; Sherman & Walls, 1995; Srivastava, McGonigal, Richards, Butler, & Gross, 2006; Trunzo & Pinto, 2003).

A investigação realizada sobre o suporte social tem sugerido de forma consistente que, quer a percepção que uma pessoa tem dos outros indivíduos como recursos disponíveis (suporte social percebido), quer o suporte social efectivamente recebido (suporte social recebido) contribuem para a auto-regulação do stress e bem-estar do indivíduo (Berkman & Glass, 2000; Priel & Besser, 2002; Sherman, de Vries, & Lansford, 2000; Vandervoort, 2000). No entanto, é a percepção da disponibilidade do suporte social (e não o suporte social realmente recebido) que tem sido apontada mais recentemente como desempenhando um papel importante na predição de um coping efectivo, de bem- estar e de saúde física e psicológica (Cohen, Sherrod, & Clark, 1986; Cohen & Wills, 1985; Dubow, Tisak, Causey, Hryshko, & Reid, 1991; Hobfoll, Nadler & Leiberman, 1986; Priel & Besser, 2002).

Dada a vasta evidência respeitante aos benefícios do suporte social, é possível sugerir que estar na posse de determinados atributos pessoais que promovam um maior suporte social percebido poderá contribuir para a promoção do bem-estar psicológico. Estudos vários indicam que atributos como a atracção física (Sarason, Sarason, Hacker, & Basham, 1985) e aptidões sociais como a capacidade de auto-revelação (Cohen et al., 1986) e a competência social (Lakey, 1989) são instrumentais no desenvolvimento do suporte social e na promoção do ajustamento psicológico (Cohen et al., 1986; Lakey, 1989).

No mesmo sentido, diversos estudos sugerem que o optimismo parece ser um atributo atractivo para os outros e pode, dessa forma, fomentar o desenvolvimento de novas relações de suporte social. Quando comparados com os pessimistas, os indivíduos optimistas são mais gostados (Carver, Kus, & Scheier, 1994), referem amizades mais longas (Geers, Reilly, & Dember, 1998), têm menos interacções negativas (Lepore & Ituarte, 1999) e possuem níveis mais elevados de suporte social (Park & Folkman, 1997). No âmbito das relações amorosas, o optimismo acerca de uma relação específica prediz

uma maior satisfação na relação e uma menor probabilidade de dissolução da mesma (Helgeson, 1994; Murray & Holmes, 1997). Para além disso, o suporte social percebido está associado a um enviesamento positivo na avaliação e recordação de comportamentos de suporte em interacções e relações específicas (Lakey & Cassady, 1990; Lakey, McCabe, Fisicaro, & Drew, 1996; Pierce, Sarason, & Sarason, 1992).

Adicionalmente e apesar de escassos, existem estudos que evidenciam o papel mediador do suporte social na relação entre o optimismo e o posterior ajustamento em sobreviventes de cancro da mama (Trunzo & Pinto, 2003), sobreviventes de acontecimentos traumáticos (Dougall et al., 2001; Sherman & Walls, 1995), em parceiros românticos (Srivastava, 2006) e em estudantes universitários (Aspinwall & Taylor, 1992; Brissette et al., 2002; Mosher et al., 2006).

Aspinwall e Taylor (1992) verificaram que o optimismo se associava ao não uso de um coping evitante, o que por sua vez se associava a uma melhor adaptação ao ensino superior (avaliada através de indicadores de performance e de adaptação psicológica e física). No estudo que Brissette et al. (2002) conduziram com 89 estudantes universitários do primeiro ano, verificou-se que o optimismo se associou ao suporte social percebido e ao número de amigos na rede no início do ano lectivo e ao aumento do suporte social percebido ao longo do semestre. Este aumento do suporte social percebido funcionou como mediador da relação entre o optimismo e a depressão (embora não tenha mediado a relação entre o optimismo e o stress). Mosher et al. (2006) conduziram um estudo com 133 estudantes universitários negros, em que procuraram analisar o papel mediador do coping e do suporte social na relação entre o optimismo e os sintomas depressivos. Os resultados obtidos apontam o suporte social percebido como mediador da relação entre o optimismo e a sintomatologia depressiva.

A literatura tem destacado o papel do suporte social como amortecedor das reacções negativas associadas, quer a acontecimentos normativos, quer a acontecimentos não-normativos e às crises de desenvolvimento com as quais o indivíduo se depara (Cohen & Wills, 1985; Dunst, Vance & Cooper, 1986). Pode acontecer que a percepção de disponibilidade de suporte social influencie indirectamente os esforços dos estudantes para lidarem, quer com os obstáculos que lhes são colocados durante o primeiro semestre do ensino superior, quer com as respostas emocionais a esses mesmos obstáculos, facilitando assim uma melhor adaptação a esta fase de transição de vida.

Nos estudos referidos anteriormente, o suporte social foi estudado enquanto uma variável mediadora da relação entre o optimismo e o posterior ajustamento. No entanto, um padrão diferente de relacionamento entre estas variáveis foi também apresentado como possível: um elevado suporte social percebido pode conduzir ao aumento das expectativas optimistas e, por conseguinte, conduzir a uma melhor adaptação (Karademas, 2006; Chong, Huan, Yeo, & Ang, 2006). Recentemente, Cervone (2004) publicou The architecture of personality na Psychological Review, em que apresenta uma nova “arquitectura” cognitiva da personalidade. De acordo com o seu modelo, o comportamento baseia-se em estruturas de conhecimento e processos de avaliação que estão em contacto. Tendo como base este modelo, é possível sugerir que o suporte social percebido represente conhecimento acerca de nós (sermos capazes) e do mundo (como amigável), o que, por sua vez, resulta numa avaliação do futuro como possivelmente agradável e vantajoso (optimismo) e em melhores funcionamento e estado de saúde. Karademas (2006) realizou um estudo em que procurou analisar o papel do optimismo como possível mediador da relação entre a auto-eficácia e o suporte social e o bem-estar. Os sintomas depressivos e a satisfação com a vida foram utilizados como indicadores de bem-estar. Os resultados revelaram um modelo de mediação parcial do optimismo, de acordo com o qual a auto- eficácia e o suporte social percebido prediziam os sintomas depressivos e a satisfação com a vida de duas formas: directa e indirectamente através do optimismo. No mesmo sentido, Chong et al. (2006), no estudo que realizaram, obtiveram evidência empírica para a mediação parcial do optimismo da relação entre o suporte social percebido dos pais, pares e escola e o ajustamento psicológico.

Em suma, não obstante a existência dos dois padrões de relacionamento entre o optimismo, o suporte social e a adaptação (avaliada através de diferentes indicadores), a conceptualização inerente ao presente estudo assenta no primeiro padrão de relacionamento apresentado, isto é, na ideia de que o suporte social medeia a relação entre o optimismo e a adaptação posterior.