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CAPÍTULO 2 O MAGISTRADO

2.2 O Exercício da Atividade Jurisdicional – da Magistratura

2.2.2. Deveres e Ética do Juiz

O juiz, conforme indicado, em face a especial função que desempenha, tem a ele vinculado deveres e condutas éticas decorridas de seu exercício.

Dentre os deveres que podem ser indicados estão o de residir na sua própria comarca; o dever de publicidade das decisões e fundamentação, sob pena de nulidade; e o dever de motivação das decisões administrativas.

Destes, os que mais merecem destaques, é sem dúvida, os preconizados na Magna Carta, artigo 93: o dever legal de fundamentação das decisões judiciais, que, além de dever, trata-se de garantia dos jurisdicionados que, conhecendo a racionalidade e coerência da argumentação do juiz, permite às partes que recorram às instâncias superiores cientes do que levou à decisão. Conforme NOJIRI (2000, p. 65-66):

[...] existe uma inabalável conexão entre o princípio da publicidade e o que prescreve o dever de fundamentar as decisões judiciais. Apesar de este último possibilitar ao cidadão a efetiva participação no controle da juridicidade dos atos emanados do poder público, é a publicidade do ato decisório que torna efetiva a aplicação do enunciado no artigo 93, IX da CF, servindo como um instrumento de eficácia da regra que obriga a fundação das decisões [...] Num Estado Democrático de Direito não se concebe a figura de um exercente de função pública sem responsabilidade. Se nas comunidades contemporâneas o Estado torna-se cada vez mais presente junto à sociedade civil, indispensável a necessidade de controle de seus atos, que devem se pautar pelo princípio da responsabilidade estatal. Isso significa que o exercente da função pública – no nosso caso, o juiz, deve responder pelos seus atos motivando e dando publicidade e suas decisões. O princípio da responsabilidade estatal é, pois, verdadeiro corolário de um Estado Democrático de Direito.

Além destes, há tantos outros deveres, sendo que passaremos a traçar apenas os de maior relevância para o presente estudo42.

É ainda mais vasta a legislação que reza sobre o assunto em nosso ordenamento, destaque para Constituição Federal, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, o Código de Processo Civil e as Leis de Organização Judiciária.

Os deveres constitucionais já foram mencionados. Em relação aos previstos na LOMAN, basicamente estão descritos nos artigos 35 e 36, sendo que o primeiro traz como deveres: I – o de cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão as

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disposições legais e os atos de ofício; II – não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar; III – determinar as providências necessárias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais; IV – tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça; e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quando se trate de providências que reclame e possibilite solução de urgência; V – residir na sede da comarca, salvo autorização do órgão disciplinar a que estiver subordinado; VI – comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término; VII – exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das partes; VIII – manter conduta irrepreensível na vida pública e particular; e o segundo indica as vedações aos magistrados de I – exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou cotista; II – exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e sem remuneração; III – manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério.

Já com relação ao diploma processual civil, que prevê os poderes e deveres nos artigos 125 a 132 em relação ao processo, destaque para o preceituado no artigo 125 que indica que a finalidade precípua do juiz é a prestação jurisdicional, devendo este dirigir o processo nesta direção, assegurando a igualdade de tratamento às partes, a rápida solução do litígio, prevenindo e reprimindo qualquer ato contrário à dignidade da justiça, sem recusa de decidir a obscuridade da lei, tendo portanto, o dever legal de decidir. No mesmo diploma legal há indicação do dever de obediência dos prazos impostos (artigo 189) sob pena de sanção disciplinar (artigo 198) e responsabilidade civil (artigo 133).

NANNI (1999, p. 162), indica que:

[...] a lei elenca os deveres básicos do juiz, de atuar ou de comportamento, sem entretanto esgota-los, por si só. A relevância da função jurisdicional cada vez mais destaca o novo papel que cabe ao juiz moderno no exercício de suas atividades, pautando por um modo de conduzir atrelado aos mais precípuos princípios de relacionamentos social e profissional, não exigido em outras áreas de atuação do Poder Público. As mazelas, o preciosismo, a vaidade, a prepotência, a arrogância são atribuições que não imperam, ou

pelo menos não devem imperar, no relacionamento do juiz com os demais sujeitos integrantes do processo, sejam as partes, os advogados, membros do Ministério Público, funcionários [...].

Em relação a questão ética, NALINI (1997, p. 9), “[...] se a postura ética deve ser preocupação permanente de cada profissional, a responsabilidade ética do Juiz é potencializada.” Para Afonso SILVA, 2001, p 243 “[...] isenção, imparcialidade, independência, probidade, espírito público, espírito de justiça, responsabilidade, fortaleza, crença nos valores absolutos da pessoa humana, respeito aos direito humanos, respeito aos direitos humanos e do cidadão.” representam o comportamento ético esperado dos juízes.

NALINI (1994, p. 8), em outro trabalho sobre ética dos juízes, preconiza que “[...] a ao integrar-se a uma carreira, o juiz assume o compromisso de se portar de acordo com inúmeras posturas disseminadas nos códigos, nos regimentos e nos comandos correcionais, adotando um estatuto ético não inteiramente codificado, mas não menos cogente.”