• Nenhum resultado encontrado

41diárias, mínimo de frequência obrigatória ( ) Não é prudente

identificar direito à educação com matrícula ou presença num estabelecimento educacional. (Didonet, 2013, p. 6)

Mais uma vez, a preocupação com a articulação entre as noções de cuidado (alimentação, higiene, sono, aconchego, carinho, atenção, saúde) e de educação

(desenvolvimento da imaginação, da curiosidade, da capacidade de expressão), defendida no documento Critérios para atendimento em creches e pré-escolas que respeitem os direitos fundamentais da criança (Brasil,1995), já mencionado neste texto, fica subsumida nas orientações administrativas e burocráticas.

Outras dimensões, tais como a avaliação, que já teve lugar nas discussões do FSMEI, foram alvo de críticas por especialistas da Educação Infantil, mas iremos nos deter em um tema central nas discussões do FSMEI: a formação profissional. Quem são as e os

profissionais que atuam nesse segmento? Qual a formação necessária para atuar na Educação Infantil? Como nomear essas pessoas? Monitoras/monitores, auxiliares, educadoras/

educadores, professoras/professores? Qual o perfil dessa/desse profissional? O que LDB nos diz sobre isso?

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far- se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal (Brasil, 1996, grifo nosso).

Sendo a Educação Infantil a primeira etapa da Educação Básica, o artigo acima citado faz referência a profissionais para atuarem também nesse segmento da educação. Ou seja, em nível superior. Entretanto, o referido artigo, em suas linhas finais, admite-se formação em nível médio na modalidade normal. Ora, a lei se contradiz. E nessa contradição, na prática, o que acontece é que as e os docentes sem formação superior, na maioria das vezes, ficam designadas/os para atuarem na Educação Infantil, como tem sido debatido nos encontros dos fóruns ao longo desses anos.

Em nota, a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação –

Anfope (Anfope, 2001) também denuncia que a LDB, ao admitir a formação em nível médio para profissionais da Educação Infantil e Ensino Fundamental, não indica

a responsabilidade do poder público na superação da condição atual de formação de nossos professores[as]. Tampouco deixa explícito o direito dos[as] profissionais em exercício, à formação superior, particularmente os monitores e agentes de educação

infantil que, em inúmeros municípios não pertencem aos quadros do magistério da educação básica e não têm tido possibilidade de acesso aos cursos oferecidos pelo Plano Nacional de Formação, PARFOR. Conforme explicitado no quadro, o tema da formação tem lugar novamente no FSMEI em setembro de 2016. Nas avaliações dos encontros do ano ocorridas em Nepomuceno,

42

conforme lista descrita no início deste tópico, uma das questões recorrentes nos últimos anos é a demanda para que a UFLA ofereça um curso de formação específico para a Educação Infantil.

Com a criação da “Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica”, passou a ser oferecido o curso de Especialização em Educação Infantil. Em 2010, inicia-se a especialização, com a adesão de 13 universidades e um total de 2.955 professoras/es matriculadas/os (Faced, 2016). Este curso está sendo ofertado, em 2016, por algumas instituições de Ensino Superior, mas não se sabe se terá continuidade em decorrência da situação atual em que o Brasil vive.

Outra articulação que envolve os municípios do sul de Minas Gerais é a mobilização no “Dia D”, Dia Nacional da Educação Infantil, instituído por meio da Lei 12.602/12. Todos os anos, a partir da promulgação da lei, os municípios se mobilizam em favor da Educação Infantil. Neste ano de 2016, para marcar essa data, em vez de realizar o encontro mensal, todos os municípios que integram o FSMEI planejaram e realizaram ações voltadas ao reconhecimento dessa etapa da Educação Básica, bem como promoveram discussões e reflexões sobre esse período singular da vida da criança. Na UFLA, foi realizado um Cine Debate com apresentação e discussão do documentário Território do Brincar.

As muitas infâncias apresentadas no documentário nos remetem a uma discussão que, apesar de não recorrente, entrou na pauta do FSMEI. Em 2013, aconteceu, na UFLA, o 90.º encontro do FSMEI, com o tema da Educação do Campo. Na “Carta Compromisso” destinada a candidatos e candidatas às Prefeituras e Câmaras de Vereadores/as, veiculada

pelo FMEI e construída no encontro ampliado, de junho de 2016, a educação do campo tem visibilidade. Para garantir a meta do Plano Nacional de Educação referente ao atendimento de 50% da população de zero a três anos, é necessária a implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, conforme Decreto n. 6040, de 2007, uma vez que, dentre outros problemas, ainda há maior defasagem na oferta de vagas no campo.

Por fim, sem, no entanto, esgotar as temáticas que perpassam as políticas públicas de Educação Infantil, destacamos o corte etário. Apesar também de não estar explicitamente representada nas temáticas de cada encontro do FSMEI, com exceção do 117.º Encontro, realizado na UFLA, o debate sobre o corte etário sempre teve espaço nas discussões, quando as representantes do FSMEI no FMEI comunicavam às e aos profissionais presentes sobre essa pauta do movimento estadual. Mônica Baptista e Rosalba Lima (2013) organizaram um dossiê sobre o tema e, após detalhado histórico sobre o tema, denunciam o processo de judicialização pelo qual passa o debate, no qual especialistas em educação, mais

especificamente da Educação Infantil, são meras expectadoras e expectadores. Reforçam que esta questão é pauta prioritária do FMEI e defendem que a data estabelecida pelo Conselho Nacional de Educação, qual seja, 31 de março, se efetive no estado de Minas Gerais, que em um movimento de retrocesso, determinou 30 de junho.

Nesse sentido, falar de Educação Infantil de qualidade implica pensarmos em políticas públicas que respeitem a infância em suas especificidades, como sujeito de direitos, produtora da cultura, sujeito de participação social. Significa não só compreender que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, assim como necessita de financiamento público, tanto quanto o Ensino Fundamental e Médio. Significa compreender que a luta por uma Educação Infantil de qualidade é também a luta de outros movimentos sociais. É uma luta por uma sociedade mais justa e democrática. É uma luta que precisa de visibilidade.

43