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57Sul Mineiro vem desde 1999, consolidando e respeitando a criança como sujeito de

direitos enquanto garantia legal expressa na Constituição Federal de 1988. É importante salientar que é um espaço de discussão sobre a Educação Infantil e seus aspectos políticos, metodológicos e práticos. Reúne, desde 1999, pessoas interessadas nas questões pertinentes à Educação Infantil e acontece atualmente de forma itinerante nos municípios do sul de Minas e soma ao todo 115 encontros no decorrer de 16 anos, conforme apresentado no capítulo 1.

Já o MIEIB, do qual o Fórum Sul Mineiro é integrante23, nasceu com o objetivo de

ser um movimento entre os fóruns para promover a articulação dos fóruns que já estavam instituídos em vários Estados, cujo objetivo firmava-se em fortalecer a educação de crianças de 0 a 6 anos e que já apresentavam grande poder de mobilização e intervenção “tanto nas políticas educacionais quanto na produção de conhecimentos na área” (Nunes; Machado; Coelho, 2002). Assim, vários encontros de articulação no decorrer de 1999 e 2000 foram realizados e definiram princípios básicos e critérios norteadores das ações do MIEIB.

Desta forma, os fóruns de Educação Infantil que integram o MEIB representam vozes de todas as partes do país, que pronunciam para que a criança tenha seus direitos reconhecidos de fato e garantidos, lutando por uma política educacional que também converta em ações concretas. O espaço do fórum é um encontro de pessoas envolvidas, que querem discutir, trocar experiências e que também querem modificar e contribuir para as políticas de Educação Infantil. É locus privilegiado para a mudança, pois forma um conjunto plural em que agrega pessoas de variados lugares que buscam dialogar e ressignificar as suas práticas e ou/contribuir para as mudanças e avanços na área da Educação Infantil.

Por este ângulo, percebemos que o MIEIB ao se articular com os diversos fóruns de Educação Infantil, potencializa e fortalece a luta por uma política de educação infantil:

O MIEIB é uma articulação entre fóruns de educação infantil, já constituídos em vários estados brasileiros, que visa o fortalecimento da educação infantil como política pública de qualidade. Foi

organizado a partir da necessidade dos integrantes desses fóruns de um diálogo com a sociedade como um todo, com os dirigentes governamentais e com os órgãos que têm uma atuação em nível nacional. (Mieib, 2002, p. 199)

O MIEIB visa por uma política pública da Educação Infantil de qualidade e, neste sentido, a abordagem do ciclo de políticas contribui para o entendimento de que o fórum enquanto movimento social, pressupõe lutas constantes, mobilização e conquistas que dão dinamicidade ao contexto da prática, onde as políticas são efetivadas e recontextualizadas pelos diversos sujeitos que implementam as leis e políticas públicas.

Desta forma, o ciclo de políticas, que é uma abordagem sociológica, é uma

contribuição importante para análise de políticas públicas na Educação Infantil. É neste ciclo que o fórum se mantém como “instrumento” de luta, ressignificação e mudança. É de suma importância situar que na análise, tendo como referência o ciclo de políticas, há uma preocupação de romper com as dimensões que analisam as políticas entre proposta e prática, prescrição e implementação, macro e micro para se pensar a política como o

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todo que incorpora sentidos da prática e vice-versa. Há, portanto, uma produção de novos sentidos. Estas são dimensões constitutivas da dinâmica social, que se inter-relacionam e são condicionadas socialmente.

Esta abordagem sociológica tem servido para a análise das políticas. Mainardes (2006) apresenta de forma clara o ciclo de políticas e busca pontuá-lo como um referencial útil para análise de políticas educacionais. Parte da observação crítica da trajetória das políticas desde o seu início até a sua implementação. Assim, aborda o ciclo de políticas divididos em cinco contextos, denominados: contexto da influência, contexto da produção do texto, contexto da prática, contexto dos resultados/efeitos e contexto da estratégia política. Destes cinco contextos apresentados detalharemos apenas os três primeiros, que são de interesse mais direto da relação que fazemos sobre a importância do fórum na implementação de políticas e como espaço de mobilização e mudança.

Esta divisão tem um caráter mais metodológico uma vez que estes contextos se inter- relacionam quando se propõe a analisar a implementação de uma política. Lopes e Macedo (2011) sinalizam que a relação entre os contextos é de suma importância para perceber que o ciclo de políticas é contínuo e não se fundamenta na hierarquia. Em estudo anterior Lopes (2005) afirma que

Esse é um dos processos que, a meu ver, estimula autores como Ball (1992, 1994, 1998, 2001) a investigar políticas educacionais

considerando as articulações e reinterpretações em múltiplos contextos, que vão das influências internacionais às práticas escolares, sem

estabelecer hierarquias entre os mesmos. Os contextos de influência internacional, o contexto de definição de textos e os contextos da prática formam um ciclo contínuo produtor de políticas sempre sujeitos aos processos de recontextualização. (Lopes, 2005, p.56)

O primeiro contexto é o da influência onde as “políticas são normalmente iniciadas e os discursos políticos são construídos” (Mainardes, 2006, p. 51). É um campo onde há disputas entre grupos políticos, entidades, esferas governamentais para garantir a hegemonia de algum discurso em detrimento de outros. Atuam neste os partidos políticos, empresários, governo, legislativo que disputam a predominância do seu discurso. Este contexto também sofre influência de políticas internacionais, porém não há uma transposição pura e simples para o âmbito nacional, há também uma recontextualização das políticas. É notório que neste jogo de poder há busca por legitimidade, que o discurso vitorioso nesta luta se transformará na política a ser empreendida.

Por conseguinte, passamos para o segundo contexto que é o da produção do texto da política pública. Este é marcado pela representação escrita das intenções dos grupos que garantiram a sua hegemonia e seus discursos. Estes discursos transformados em texto representam a política, que sofre intervenções de acordo com os interesses e disputas, carregando assim limitações e possibilidades. Nesse sentido, podemos refletir sobre as legislações, documentos oficiais sobre a Educação Infantil, considerando o que Lopes e Macedo apontam que, no contexto de produção de texto político,

Estamos tratando de documentos oficiais e de textos legais, mas também, entre outros, de materiais produzidos a partir desses

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