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51No tocante à educação das crianças pequenas, a Constituição de 1988 inova ao integrar

a educação destas, antes da escolaridade obrigatória como dever do Estado e opção da família. Isto implica em colocar as creches e pré-escolas nos sistemas de educação retirando- as dos programas de assistência social. Em 2006, a redação do inciso IV do artigo 208 foi alterada pela Emenda Constitucional n.º 53 que deixa claro que não é apenas atendimento à criança pequena, e sim educação, o que implicaria numa política educacional de cunho universal e não residual19,

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

IV - Educação Infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. (Brasil, 1988).

Há que se destacar ainda a Emenda Constitucional n.º 59 de 2009 que altera a redação do inciso I do Artigo 208 e torna obrigatória a Educação Básica dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. Portanto, a pré-escola passa a ser obrigatória, ou seja, dever do Estado quanto à vaga de qualidade, dever da família matricular e zelar pela frequência e direito de todas as crianças brasileiras. Para Leite Filho e Nunes (2013) a partir da Constituição a creche passou a ser reconhecida como instituição educacional uma vez que o texto da lei não a distingue da pré-escola, pelo contrário, ambas são conceituadas como Educação Infantil. No entanto, o que se observa é que não há distinção no texto legal, mas na prática a creche ainda é estigmatizada como lugar de criança pobre, destinada à mãe que precisa trabalhar, onde atuam cuidadores leigos em espaços improvisados.

Quanto à organização dos sistemas de ensino, a Constituição de 1988 estabelece, em seu Artigo 211, que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. O parágrafo 2.º deste mesmo artigo prevê que os municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e na Educação Infantil e o parágrafo 3.º que os Estados e o Distrito Federal atuarão, prioritariamente, no Ensino Fundamental e Médio. Observa-se que a Educação Infantil é da competência alçada apenas do município, que o Ensino Fundamental é da alçada tanto do Município quanto do Estado e o Ensino Médio cabe à esfera estadual. Tais preceitos legais ratificam o que afirmamos no início com relação à educação das crianças em idade de creche, que estão a mercê das condições culturais, sociais, econômicas e consequente sensibilidade dos gestores municipais, uma vez que é uma faixa etária que não entra na escolaridade obrigatória.

O panorama municipal hoje é muito díspar, pois são desiguais as condições sociais e econômicas dos municípios brasileiros. Tal

disparidade se coloca no tipo de oferta de ensino – creche, pré-escola, fundamental e médio –, no número de matrículas, na categoria administrativa dos estabelecimentos e, também, na qualidade da oferta – formação docente, equipamentos físicos e pedagógicos (Nunes; Corsino, 2011, p.336)

19Esping-Andersen (1993, apud NUNES e CORSINO, 2011, p.331) considera que a política pública universal caracteriza-se

“pela integralidade e universalidade das políticas sociais, voltadas para a garantia do direito de todos os cidadãos”. Já na política pública residual “o Estado atende a uma parcela da população, os grupos marcados pelo signo da exclusão ou da pobreza, e o mercado supre os serviços para os que podem por ele pagar”.

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Em 13 de julho de 1990, ainda imbuídos do espírito de exercício pleno da cidadania tendo a criança e o adolescente como prioridade nacional, foi promulgada a Lei n. 8.069 que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) regulamentando o artigo 227 da Constituição Federal, garantindo a proteção integral à criança e ao adolescente e reconhecendo-os como pessoas em condições peculiares de desenvolvimento.

No que diz respeito à Educação Infantil, o ECA, em seu artigo 54, ratifica a

Constituição estabelecendo que é dever do Estado atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade.

O Estatuto traz, ainda, dispositivos importantes para a educação infantil: a definição e os critérios para aplicação do princípio da prioridade absoluta; os conselhos de direito da criança e do adolescente; o fundo dos direitos da criança e do adolescente; o sistema de garantia dos direitos (Leite Filho; Nunes, 2013, p. 73) É inegável o avanço com relação à concepção de criança como sujeito de direitos estabelecido pelo ECA. No entanto, a efetivação destes direitos ainda está distante de ser realidade no Brasil.

Em 20 de dezembro de 1996, foi promulgada a Lei n.º 9.394 que estabeleceu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Esta lei foi um marco importante para a Educação Infantil porque, pela primeira vez na história, a educação das crianças de tenra

idade se integra no texto da lei como primeira etapa da Educação Básica.

Os artigos 29, 30 e 31 da LDBEN tratam especificamente da Educação Infantil e foram alterados pela Lei n.º 12.796/2013 ficando com a seguinte redação:

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade

Art. 30. A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.

Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:

I - avaliação mediante acompanhamento e registro do

desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;

II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;

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