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Educação Infantil Elisangela Brum Cardoso Xavier

Vanderlei Barbosa

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Dentre os eixos temáticos e as questões políticas que subsidiam as discussões dos fóruns, tramitam-se ideários do que se compreende ou se defende por formação docente e por infância. Deste modo, neste capítulo apresentaremos os resultados de debates realizados, sobretudo no Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil27, que tem procurado pensar a

concepção de infância e a formação docente visando assegurar os direitos das crianças. Reunimos, aqui, algumas ideias ancoradas na legislação que assegura o marco jurídico- institucional, da educação infantil, nos teóricos que tem refletido sobre a educação e seus desafios e na experiência compartilhada regularmente no referido fórum.

As legislações educacionais tiveram grandes avanços no decorrer dos anos passando a dar várias garantias às crianças de 0 a 5 anos, dentre elas podemos citar o reconhecimento da Educação Infantil como dever do Estado com a Educação na Constituição Federal de 1988, Art. 211 (Brasil, 2007) e a inclusão dessa modalidade de ensino como primeira etapa da Educação Básica, da LDB n.º 9394/96 no Art. 29 (Brasil, 1996), sendo, portanto, um lugar formal de aprendizagem.

A concepção de criança também evoluiu muito, ela não é mais considerada um adulto em miniatura, uma criança apática e alheia ao que está ao seu redor. Pelo contrário, em muitas situações demonstra mais conhecimento sobre determinado assunto do que alguns adultos. Hoje ela é vista como sujeito histórico e de direitos, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o que significa que ela é um ser único e quando vai para a escola já tem uma história de vida e a todo o momento produz cultura em suas relações. Essa mudança de concepção afeta diretamente a prática pedagógica dessa modalidade de ensino, que deixa de ser assistencialista e passa a ter uma visão completa do educando, objetivando o seu desenvolvimento em todos os aspectos: físico, psicológico, intelectual e social, levando em consideração as suas especificidades e o compromisso de garantir uma educação de qualidade.

Os primeiros anos de vida são muito importantes na formação da criança e a

Educação Infantil é uma fase de muitas oportunidades, de desenvolvimento e aprendizagem. Ao considerar a criança como sujeito ativo na construção do conhecimento, há uma

transformação na forma de organizar o processo de ensino e aprendizagem, que deve proporcionar à criança a possibilidade de construir sua identidade, seus valores e seus conhecimentos de forma coletiva. É necessário respeitá-la como sujeito do conhecimento e dar a ela o papel de protagonista no conhecimento de si e do mundo. Para a efetivação

25Professora EBTT do Núcleo de Educação da Infância (Nedi), da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

26Doutor em Educação na área Filosofia, História e Educação pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP, Professor

de Filosofia da Educação na Universidade Federal de Lavras - UFLA. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFLA).

27Projeto de extensão realizado por docentes do Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras, sob a orientação da

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desses conceitos é preciso que os professores, que trabalham com esse segmento de ensino, possuam uma formação no mínimo em nível de graduação, algo imprescindível no trabalho docente com a educação infantil. Não é pelo fato de se lidar com crianças pequenas que não seja necessário possuir uma formação mínima necessária, pelo contrário, percebemos que não somente uma formação inicial, mas uma formação continuada torna-se determinante para compreender as especificidades dessa faixa etária e assim garantir o desenvolvimento integral das crianças.

Nesse sentido, desde 1999, o Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil tem se reunido, provocado o debate acerca da importância da formação docente e permeado as discussões, independente do tema que é proposto, para o estudo coletivo. Isso se deve ao fato da relevância que esse assunto tem em relação ao trabalho com as crianças na primeira infância. É possível formar sem formação?

De acordo com a LDB Art. 62: “a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior”, mas é “admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal”. Com essa lacuna que existe na legislação, muitos profissionais da educação têm sido admitidos com a escolaridade mínima exigida pela LDB e em várias cidades do Brasil, por falta de professores habilitados para o cargo, alguns editais publicados nas prefeituras, permitem que estudantes do curso de Pedagogia possam ingressar, em sala de aula, como professores regentes, independente do período que estiverem cursando. Ainda existem situações, principalmente em relação às creches em que a

formação exigida é o nível fundamental completo. Dessa forma, realizam-se contratações de profissionais que não tem conhecimento sobre a primeira infância.

Nesta perspectiva, buscamos analisar a importância da formação docente para a compreensão da concepção de infância na educação infantil e para seu processo de formação. Optamos por discorrer sobre esse assunto pelo fato desse tema fazer parte de constantes discussões nos encontros do Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil e de sua importância para o desenvolvimento da criança na contemporaneidade.

Pretendemos, primeiramente, falar sobre os limites legais, estruturais, econômicos, culturais a respeito da criança. Em seguida, discorremos sobre as possibilidades e horizontes da educação infantil como primeira fase da educação básica e, por fim, apresentaremos algumas considerações que visam provocar o debate sobre a concepção de infância e a formação docente para essa fase decisiva da formação humana.

Limites

A primeira infância é o nome dado aos primeiros anos de vida das crianças, especialmente, aos cinco primeiros. Esse período é marcado por um desenvolvimento intenso, com grandes modificações principalmente em relação aos aspectos físico, social, psicológico e intelectual. Nessa fase, as experiências marcam suas vidas que, dependendo de como forem expressadas e vivenciadas, podem ser positivas ou negativas. A educação infantil, primeira etapa da Educação Básica, contempla essa faixa etária, pois atende às crianças de 0 a 5 anos, sendo oferecida em dois segmentos: creche e pré-escola que podem ser ofertadas em período parcial ou integral de acordo com a LDB n.º 9394/96 (Brasil, 1996).

A educação formal das crianças tem início obrigatoriamente, a partir do ano de 2016, aos 4 anos de idade, conforme estipula a Lei n.º 12.796, de 4 de abril de 2013 (Brasil,

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