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7. O Cinema como porta de entrada dos Movimentos Colaborativos na Escola: O que juntos podem provocar lá? O que a Escola

7.3 Dinâmicas coletivas e uma Comunidade de Cinema

Partindo da computação gráfica, além de pensar no acaso e na descentralidade por parte do autor, me intriga observar como surgiria daí algo que não seja nem representativo, nem ilustrativo, nem narrativo. Como possibilitar que o "impensado" aconteça? Como sensações podem ganhar visualidade? Deleuze diz que os traços de sensação são, sobretudo manuais, como se:

a mão tomasse independência e passasse a servir outras forças, traçando marcas que não dependem mais de nossa vontade nem de nossa visão. Essas marcas manuais, quase cegas, testemunham assim a intrusão de um outro mundo no mundo visual da figuração. Elas retiram, de um lado, o quadro da organização óptica que já reinava nele e que o tornava figurativo de antemão. A mão do pintor é interposta, para socorrer sua própria dependência e para quebrar a organização óptica soberana: não vemos mais nada, como em uma catástrofe, um caos. (DELEUZE, 2007, p. 103).

O que seria “manual” nas composições feitas por/com/no computador e em rede? Aqui, estou pensando a cibercultura como “realidade” e/ou “natureza” também, algo que a um só tempo afeta e escapa o humano. Me parece que, no nosso caso, não foram propriamente as mãos, mas os ouvidos (relacionando-se com os áudios- carta) que agenciaram as criações a partir das sensações.

Eu me considerava aventureira, corajosa, simpática aos desafios. Mas, principalmente após essas experiências na escola, me dei conta de que algo em mim ainda achava que a criação precisava de certo conforto para acontecer. Como se, só após ter todas as "condições favoráveis possíveis" - um ambiente que disponibilizasse várias opções de materiais, por exemplo - eu pudesse "ir ‘brisando’ na minha obra". Com esta pesquisa, aprendi que nem sempre é assim, pois criar

pode ser uma necessidade, uma estratégia de sobrevivência. Reparei que algo dentro de mim ainda achava (mesmo que eu defendesse o contrário, pois estava escondido mesmo) que a criação afloraria do acesso a uma rica paleta de cores, de se conseguir bons pincéis e, com eles, "fazer umas coisas loucas". Mas meu olhar estava acomodado, era ainda apegado ao controle, resistia a improvisos, a situações não planejadas. Ao passo que as coisas foram acontecendo, senti esse impulso de criação por emergência, por parte dos estudantes. Uma espécie de desejo de fazer coisas vibrarem, de intervir brincando, mesmo que sem objetivo. Certa “fome de afetar o outro”, que, às vezes, talvez tenha até escapado o pensar. Algo mais próximo da sensação, segundo Deleuze:

A sensação é o que é pintado. O que está pintado no quadro é o corpo, não enquanto representado como objeto, mas enquanto vivido como experimentando determinada sensação. […] E, a esse respeito, pode-se fazer a mesma crítica, tanto à pintura figurativa quanto à abstrata: elas passam pelo cérebro, não agem diretamente sobre o sistema nervoso, não têm acesso à sensação, não produzem a Figura, pois permanecem num

mesmo nível. Elas podem operar transformações da forma, mas não

atingem as deformações do corpo. (DELEUZE, 2007, p. 43).

Quando um dos áudios gravados nas oficinas acabou sendo incorporado por um meme e “viralizou” entre

os participantes, vários deles pareciam absolutamente motivados pela possibilidade de afetar diretamente os corpos uns dos outros (não só do autor do áudio) pelo sacolejar que o riso

envolvido nas

recombinações poderia trazer. Um agir que se deu e que se justificaria em si mesmo – um “chacoalhar pelo chacoalhar” - disparado pelas circunstâncias que ali estavam operando. Como se colocassem imagens, sons e corpos dos colegas num mesmo caldeirão, para ver no que daria (vai que explode!). Pois eles tinham uma boa noção das ondas (como as piadas internas, por exemplo) que estariam acionando/balançando enquanto os corpos dos colegas vibravam atravessados por tantos memes, embora o resultado disso continuasse imprevisível (talvez esta fosse

justamente a graça). Mas um movimento que não necessariamente precisasse representar algo ou expressar uma mensagem específica que estivesse dentro de cada um (do sujeito para fora dele), e sim, uma alquimia de múltiplos elementos pulsando. Isso aconteceu muito entre os participantes do Grupo 3. Parecia que cada um contribuía espontaneamente em todos os projetos - alternando em momentos diferentes - pois eles conversavam e competiam muito entre si, se juntando e se separando o tempo inteiro.

Após a gravação dos áudios-carta (entre abril e maio), os quatro grupos foram se movimentando de forma bem distinta entre si. O Grupo 2 ficou com somente três pessoas, cada um se dedicando a seu próprio projeto. Mas um deles optou por tentar aplicar texturas às superfícies (dos participantes dos quatro grupos, foi o único que tentou se aprofundar por aí), então, um outro colega – seu apelido é Pequeno - viu e quis também. Pequeno queria brincar com um outro colega (de apelido

Esperto) de turma (2o A) que não estava no Grupo 2 e sim no 4. Então, usou o áudio-

carta gravado por Esperto (“audio9”138), bem como tentou aplicar uma foto dele em

seu personagem:

Bom, a partir disso, os outros colegas do Grupo 2 foram gostando do projeto de Pequeno e sugerindo que ele incorporasse, numa mesma cena, elementos de seus trabalhos individuais, para que fossem trabalhando num só, coletivamente.

138 É possível escutá-lo em: <https://www.dropbox.com/sh/xnvibmejr6mk577/AAC- vZsTo77_Qu8AGsWc6oG1a ?> ou através de contato enviado ao endereço anima3dlivre@gmail.com.

No lado esquerdo da tela, podemos ver a foto de Esperto sendo mapeada para servir como textura do rosto do personagem de Pequeno

Assim, uma caixa de som de outro projeto (aquele primeiro, “pioneiro” no uso das texturas) foi para lá, bem como a modelagem poligonal de um sofá (de um terceiro projeto), que foi sendo aprimorada por todos os participantes. A cena começa com o som do áudio-carta sendo reproduzido, enquanto vê-se somente o sofá. Um personagem entra em quadro e caminha até o sofá. Mas foi tão difícil animar este personagem sentando no sofá - de maneira tal que todos os criadores da cena (os estudantes do Grupo 2) gostassem - que as oficinas acabaram sem a finalização do projeto.

A transcrição do áudio-carta é a seguinte:

“Leonilson, eu escutei um áudio seu. De um trecho de seu filme. Eh... o primeiro falava sobre o presidente Collor, que eu achei muito bom que eles andaram um pouquinho, hehe. No segundo trecho, tava falando sobre você e uma mulher, que falava ‘no’, ‘yes’, ‘perdão’ ou alguma coisa assim… Eu achei que era por causa de estupro, eu não entendi muito bem o motivo disso. E no terceiro eu não… e daí eu perdi o rumo porque cê falou que cê era gay. E daí, caraca! No primeiro áudio você queria ficar com mulheres mas no segundo você era gay? E demais cê tinha vergonha de falar isso pra sua mãe, pra não dar o desgosto pra ela. Mas aí começou a chover… cê queria ir no cinema com a sua mãe mas cê... começou a chover. Daí não deu muito certo, mas daí eu não entendo. E daí eu acho que sua mãe morreu, acho que sua mãe tá viva. Eu não consegui entender muito bem o sentido do terceiro trecho do filme. Mas, cara, você é você, não precisa de mais ninguém, a opinião sua é a que importa pra todos e pra todas. O negócio é que, se você gosta de si mesmo é melhor que qualquer pessoa gostar de você, cara, é isso. Que eu queria passar essa mensagem bem legal pra você. Que nada de mal ocorresse e que tudo dê certo na sua vida. Valeu”

O Grupo 4 tinha só uma pessoa: Esperto, pois as outras foram desistindo, conforme contei no capítulo 6. Em seu projeto, usou o áudio gravado por uma pessoa do Grupo 3, e suas dúvidas se desdobraram em muitos assuntos, pois, com ele, eu e os estagiários tivemos a oportunidade de conversar mais profundamente sobre vários aspectos do universo das simulações digitais. Ele se interessava por tudo, nos enchia de perguntas, embora se sentisse também um tanto pressionado por ter a atenção de três adultos em seu trabalho. Vale comentar que três pessoas que haviam deixado de frequentar as oficinas, voltaram, tanto para ajudar no projeto de Esperto quanto no trabalho coletivo do Grupo 2.

Diferentemente dos outros três, várias pessoas do Grupo 1, não eram amigas fora das oficinas. Eles pareciam muito interessados em conhecer os assuntos de animação 3D, mas era como se o mergulho neste universo fosse tão novo e desafiador quanto a convivência entre eles mesmos. No começo, eram um tanto isolados entre si, procurando ter muito cuidado ao se dirigir ao colega. Eram de turmas e idades muito diferentes, e o grupo que tinha mais meninas. A maneira com que lidavam com o espaço do outro era completamente distinta da que existia no Grupo 3, por exemplo, em que as pessoas se chutavam e se provocavam o tempo todo: como se estivessem jogando bola (que era, de fato, o que eles faziam após as oficinas, antes das aulas da tarde). Parecia que as pessoas do Grupo 3 iam às oficinas para encontrar seus melhores amigos e fortalecer esses afetos, experienciando que animações poderiam surgir daí. Já no Grupo 1, o que mais os engajava era a aventura de conhecer, então eles se ajudavam muito para vencer as distâncias (mesmo que não fossem amigos), para aprender com as diferenças e para ir construindo intimidade aos poucos. Ao assistir os fragmentos do filme “Das Criança Ikpeng para o Mundo” estiveram absolutamente atentos, e na criação coletiva do curta “Marekito Morreu”, se respeitaram bastante para conseguir agregar todas as contribuições. Quanto aos 4 grupos, a maioria dos àudios-carta foram gravados individualmente, mas alguns feitos em dupla. Às vezes, eu questionava algo dito, como se fosse o Leonilson querendo entender um pouco mais sobre a fala. Vários discursos começaram intolerantes a Leonilson e foram se amenizando, seja por terem sido interpelados, seja pelo fato de quem disse estar em companhia de mais alguém. Ou seja, nessas situações, a mensagem ia perdendo a força, para se adaptar a uma espécie de “fala autorizada”, ou “politicamente correta”, etc, em relação ao outro, à diferença. Ou, a intolerância já existia dentro dessa “fala autorizada” e foi se transformando a partir de alguma reflexão advinda da conversa.

Lhes apresento trechos de três transcrições em que isso aconteceu. “audio1”:

“– O negócio é o seguinte, mano: Cê não fica falando aí que os bagui lá, que os corruptos aí, tem que ir pra prisão? Então cê tem que ir junto no baguio. Se não, nós já te leva aí, mano, cê morre. Nós pega, faz uma máquina do tempo aí, Parça, e cê vai, já vai junto. Quê que eu vou falar para ele, Cara? Que ele tem que morrer, que ele já devia estar enterrado? Bom, praticamente ele já morreu, né? No ano do mil e alguma coisa… até a época que teve, o que mesmo, aquelas moeda antiga lá de mil e alguma coisa que praticamente agora não vale nem um real. Mais ou menos isso, né? Você fala

que é gay, você assume que chamam ele de bonito e que convidam ele para ir ao cinema. Na primeira, eu não entendi muito bem. Só que depois eu consegui entender mais ou menos. Entendeu? Ah, eu não gosto muito de gay não, Dona, porque eu sou homem, oxe.

– Você está falando para ele [Leonilson], imagina ó, você está falando para ele que você não gosta dele…

– Eu não gosto de você, vamos se dizer assim… que você é gay, gosta de homem, sabe? E… eu sou homem, po, eu não quero nenhum gay aí vindo para cima de mim, então eu vou ficar de boa aqui, longe, muito longe desse cara aí. Praticamente eu não queria falar para ele nada, porque ele não merece nem que ninguém gaste saliva com você. Não merece mesmo. Nem vídeo…

– Se eu fosse ele e eu tivesse aqui na sua frente, você falaria isso para mim?

– Falaria. Falaria e pior, nossa! Aí eu não sei nem do que eu seria capaz com esse cara na minha frente. Já ‘assassinado por um aluno’ já…

– Você me assassinaria porque eu sou gay? – Não, assassinaria porque é corrupto. – Você acha que eu sou corrupto?

– Ah, não sei, Dona, eu não gosto de gay… eu matava de todo jeito. Qualquer jeito eu matava. – Você me mataria porque eu sou gay…

– Mais ou menos. Não sou tãaao assim, né?! Mas se desse em cima de mim, eu falasse que não e fosse muito insistente… e começasse a ser praticamente um doente atrás de mim… que hoje em dia existe, assim, as pessoas ficam doentes, cara. Elas começam a matar outras pessoas porque gosta dessa pessoa, entendeu? Lésbica, mulheres, homens problemáticos, sabe? Aí mata as outras pessoas, se fosse tipo um doente, aparecia na minha casa, durante a noite, enquanto eu tivesse dormindo… Nossa! Eu já juntava um grupo aí, chamava os cara das quebrada aí e quebrava esse cara, já ia pro céu mais cedo, batia as bosta. As bosta, olha! Batia as botas, já. E é isso, Dona.”

“audio2”:

“– Eu acho que você deveria ser um cara bem perturbado, até. Porque você mesmo falou que deixou… você amava uma pessoa, que ela deixou de amar você. Daí, eu poderia levar a algum trauma pessoal e você poderia estar acumulando até raiva e num tinha um jeito de soltar ela. Daí o que eu vi é que você poderia ter achado um jeito de se expressar diferente. Que era através dos desenhos. Dos desenhos que eram mais interpretativos. Que eu entendi que era isso, uma forma de se expressar e de soltar algum sentimento como a raiva, o medo, esse tipo de coisa. Daí, era isso, e eu acho que cê também foi juntando muito trauma, é o que eu entendo. Você foi juntando muito trauma e esse foi um jeito de você conseguir soltar. Acho que deveria, desenhar é uma forma de se expressar, de soltar um pouco, descansar. É um jeito de se expressar e de relaxar até um pouco, é um bom jeito, só achei um pouquinho estranho.

– Cê desenha também?

– Desenho! Um monte de desenho!

– Cê acha que se eu visse o que você desenha eu ia achar que você tem trauma também? – Depende do ponto de vista, alguém pode achar que eu sou doido, outro pode achar que não.

– Quê que cê acha quando alguém diz que cê é doido, ou quando alguém acha que você é doido? – Ué, cada um pensa o que cada um pensar…

– Você não fica triste?

– Não, sou meio doido também.

– Tem mais alguma coisa que cê diria para mim? – Não.

– Não? – U-hum.

– Cê não tem trauma? – U-hum.

– Mas cê acha que eu tenho trauma… – Acho que sim.

– Que conselho cê me daria para eu resolver meus traumas? – Continuar os desenhos.”

Página do caderno de estágio de Rafael sobre o audio5, em que se problematiza o fato de Leonilson expor o que sente

“audio3”:

“– Bom, primeiramente, eu queria dizer que você para mim não é exatamente uma ameaça. Mas… eu, se eu fosse uma mandante, ou uma coisa assim, eu te colocaria na cadeia, primeiramente. Porque você falou que outras pessoas, ou seja, políticos, teriam que ser presos por corrupção. Só que se você tá falando, você também deve ser preso, porque você também é meio que um corrupto. E… você ser gay, para mim não é uma humilhação ou qualquer outra coisa assim porque se você é gay ou não isso não é problema meu, né? É só seu mas eu não tenho nada contra, eu principalmente tenho amigos gays e tals, mas isso não interfere em nada na nossa conversa, né? Bom, é…. outra: eu acho que você gravar uma fita falando de outra pessoa, isso é meio constrangedor para a outra pessoa. E outra: isso significa mau-caráter seu porque você deveria falar as coisas na cara da pessoa em vez de gravar alguma coisa pra ela.

– Por que que eu sou corrupto?

– Por que? Porque você é um corrupto sim, porque… primeiramente você é um político. E porque você… sim, você está meio que fazendo coisas erradas porque gravar uma fita para outra pessoa é um meio de corrupção, porque você meio que tem que chegar nela e falar “Tá, você tem que ser preso” ou alguma coisa desse tipo. Mas isso isso não interfere em nada, como eu já disse.

– Por que você acha que eu sou político?

– Por causa do jeito que você falou… por causa que… sei lá, por causa do seu jeito, do seu modo de ser, sabe? Da sua voz, do seu jeito.

– Mas o Gutoise falou que eu sou artista.

– Bom, cada um tem sua opinião, eu acho que você é um político sim.”

Segundo César Guimarães (2015, p.46), se a arte pode repartir de outro modo o comum de uma comunidade, isso ocorre na medida em que ela desestabiliza a distribuição dos lugares e das identidades, dos espaços e dos tempos, do visível e do invisível, da palavra e do barulho. Nos cabe perguntar de quais procedimentos expressivos – e contra quais forças e por meio de quais alianças – o cinema poderia se valer para dar forma ao comum. Uma comunidade de cinema seria um ambiente em que ver e criar em conjunto seria uma aprendizagem das vizinhanças, uma experiência que acolhe ao mesmo tempo que não tem a intenção de fundir: onde se construiria frágeis aproximações do heterogêneo.

Quando o “áudio5” começou a ser usado entre vários colegas (inclusive de grupos diferentes), surgiu muita negociação, foi um tanto polêmico. Pois, além do participante que gravou o áudio ficar com medo de ser repreendido pelos pais e pelos professores por dizer algo que poderia ser considerado proibido, ele temeu o “descontrole” que envolve criar algo que necessariamente vai para um acervo de

áudio que poderá compor obras de outras pessoas e virar algo que não se faz ideia do que possa vir a ser. Uma obra que tem a ver com o autor, mas que, talvez, nunca tenha sido “dele”, porque já é uma recorte a partir das matérias de expressão que atravessam a humanidade. E que, uma vez criada, a obra poderá inspirar outras, configurando uma vida própria (memes podem colar nela, como uma espécie de imã, só dela nascer, por exemplo), descolada do autor. Ou seja, no contexto que estabelecemos para o compartilhamento de arquivos entre os 4 grupos de oficina, o autor estava “nas mãos dos colegas” e poderia sofrer bullying.

Talvez ele não tivesse a dimensão do alcance de espalhamento e recombinação que esse arquivo de áudio poderia ter por toda a escola quando o gravou; e isso o assustou. Uma espécie de sensação de “vertigem” - de hesitação diante da possibilidade de se cair no “abismo das obras derivadas da recombinação” - que poderia ser considerada um “preço a se pagar” pela nossa aposta em criar reeditando a partir de obras licenciadas em Creative Commons, e de, portanto, tentar compartilhar nossas próprias produções desta maneira também.

A mencionada vertigem, também está tensionando/lidando com políticas defendidas por princípios da Ética Hacker (pelo menos o 1o e o 2o dos mencionados

no capítulo 4) que influenciavam nossas oficinas: de que tudo que se cria deve ser compartilhado, para que se garanta a possibilidade de acessar e reaproveitar seus elementos em outras criações, para que o fluxo de informações não estanque. E que, além de disponibilizada a obra, seu projeto deve ser livre, garantindo que coisas possam ser estudadas “por dentro” e, eventualmente, consertadas por qualquer um além de seu autor. Essa vertigem assustou não só o autor do áudio, mas seus colegas (de várias turmas da escola) também; que não necessariamente o conheciam, mas que se perguntavam se estariam desrespeitando e chateando o autor - mesmo que sem essa intenção - somente por manipular um conjunto de sons dentro de um arquivo.

A situação ficou tensa ao ponto deste autor dizer que não queria que um colega de grupo usasse o tal “áudio do transante” em seu trabalho final (que seria apresentado aos pais no encerramento das oficinas). Aí, precisei parar tudo! E juntar todos numa roda (como que numa assembleia), para perguntar se o autor queria que tirássemos o áudio do acervo, pois, se um dos participantes não fosse