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Mafuá: estagiários, acasos e cultura dos participantes inundando as oficinas

7. O Cinema como porta de entrada dos Movimentos Colaborativos na Escola: O que juntos podem provocar lá? O que a Escola

7.4 Mafuá: estagiários, acasos e cultura dos participantes inundando as oficinas

O estudante emancipado traz um mundo consigo – pleno de códigos – mas é capaz de forjar novos começos para si, suas pesquisas e criações. Trata-se menos da execução de um projeto de conhecimento, do que uma multiplicação de entradas no cinema e na criação. É nessa multiplicação de entradas que o estudante tem a possibilidade de escorregar entre os códigos. (MIGLIORIN, 2014, p. 6).

Os episódios a seguir – descritos como momentos e/ou pequenos diálogos - são de algumas das situações vivenciadas nas oficinas que não faziam parte do planejamento descrito no apêndice 10.1, como as atividades de acompanhamento e de intervenção por parte dos estagiários. Surgiram coisas inusitadas a partir da cultura dos estudantes também. Por exemplo, observei que sempre que terminávamos as atividades da manhã, às 12h40, vários dos estudantes pediam para ficar mais 5 minutos usando os computadores para que jogassem Gartic139. Eu

dizia que não era possível, pois precisava preparar a sala para o encontro com o grupo da tarde, às 13h. Mas, uma vez perguntei o que era Gartic e porque eles achavam tão essencial que o jogassem ali, presencialmente, na escola. Além de um jogo online Gartic é uma rede social para desenhistas, cujo grande barato é a necessidade de se relacionar com outras pessoas em tempo real enquanto se desenha digitalmente (fazendo traços com o mouse) para que elas descubram a

palavra-chave que o autor associou ao desenho. Isso ocorre literalmente numa sala de bate-papo virtual (existem muitas!), onde cada pessoa que estiver lá tem sua vez de desenhar e sua vez de adivinhar. Acabamos incorporando as dinâmicas de interação super intensas que o Gartic opera para desafiar os primeiros contatos dos oficinandos com o Blender, para que fossem inventando possibilidades expressar-se combinando e alterando polígonos sem ter contato com técnicas e/ou indicações prévias. Assim, fizemos as adaptações:

Como no ambiente do Gartic, todos os participantes das oficinas também estavam juntos em tempo real. No entanto, em vez de cada um olhar para a sua própria tela, estando num espaço físico diferente de seus colegas mesmo que compartilhando um mesmo espaço virtual, dispúnhamos de um mesmo espaço físico (a sala de informática) em que todos olhávamos para uma mesma tela, onde o desenho estava sendo feito. A pessoa da vez me dizia a palavra sobre a qual iria desenhar, depois começava o desenho, ao passo que seus colegas já podiam tentar adivinhar o que era, tudo ao mesmo tempo. Quem acertasse primeiro ganhava um ponto, e aí seguíamos para próxima pessoa. Alguns pediram para tentar desenhar não só com polígonos, mas com a ferramenta de escultura digital do Blender. Vários propuseram que desenhassem em dupla, para se ajudar, pois acharam muito difícil esse primeiro contato com o programa. Isso foi só no começo, para irmos nos familiarizando com o softtware,

depois, a ideia de elaborar algo para que outras pessoas

descobrissem o que

representava - e da maneira

mais rápida possível - não era uma prioridade para nós.

Também descobrimos o sistema DOSVOX da UFRJ140 -

destinado a atender deficientes visuais - atuando nos computadores da sala de informática porque dois dos estudantes costumavam testar, aleatoriamente, o acionamento de várias teclas diferentes do teclado ao mesmo tempo. Após

140 Mais informações em: <http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/>.

sucessivas tentativas, o “ctrol + alt + d” os levou a uma interface completamente diferente da que eles estavam usando.

O Mafuá não precisa ser entendido como apenas bagunça ou desordem, mas como um rico panorama dos arranjos criados pelos próprios objetos e atores (isto é, não impostos de fora), possibilitando que se dedique a atenção ao que está em processo. Ele é necessário para que algo que não conhecemos possa surgir como forma de viver em outros mundos possíveis, a partir de diálogos intensos e acentrados com as desordens que o contato com a diferença possam provocar.

Segundo Luiz Orlandi, para se pensar com radicalidade crescente a experiência do aprendizado, um educador deveria consultar assiduamente pelo menos duas porções do caos:

aquela porção com a qual ele não pára de se emaranhar, simplesmente por estar vivo e ser portador de um cérebro, esta coisa estranha que nele pensa por estar cheia de dobras envolvendo interioridades e exterioridades; e aquela grande porção do caos que ele encontra a cada passo, justamente por envolver-se com o aprendizado dos outros, seja daqueles que outrora eram denominados discípulos, educandos, alunos, etc., seja daqueles que já se livraram de certos bancos escolares. (ORLANDI, 2011, p.145). Estagiários

Os quatro grupos de oficina tiveram pelo menos um encontro acompanhado por um dos dois estagiários. Rafael Ghiraldelli e Ursula Chrinian ouviram falar sobre este projeto logo que começaram a disciplina de estágio supervisionado EL774 e já em março conversaram comigo sobre participarem das atividades. Realizaram duas intervenções em abril e uma em maio. As de abril foram sobre Pixilation, uma técnica de animação do tipo stop motion, ou seja, em que fotos das cenas são captadas quadro a quadro – mesmo que em momentos muito distantes entre si - e depois reproduzidas em sequência temporal, para sugerir a ilusão de movimento. A particularidade de uma Pixilation, é que seus personagens são geralmente compostos por atores vivos, em vez de objetos. Eles posam para uma câmera que captura sua imagem, depois se movimentam e outro instante é capturado. Geralmente, participam atores e locações reais, de modo a simular movimentos “impossíveis” de serem filmados através do fazer cinematográfico convencional. Assim, pessoas parecem deslizar sobre o solo, flutuar ou interagir com elementos do cenário que “têm vida”, por exemplo. O termo vem da palavra inglesa “pixilate”, que quer dizer “enfeitiçar”, “eletrizar”. Cada foto a seguir é um frame dos três exercícios

de animação realizados. Eles aparecem completos na abertura do “Experimentações e Experiências” e serão retomados na sessão “Mannequin Challenge”.

Já a intervenção de maio, foi inspirada numa conversa que tivemos sobre dispositivos de criação de imagens, em que os estagiários se sentiram motivados em propor desafios que submetessem a criação de cada uma das cenas de uma história a algumas condições que cruzassem circunstâncias dos momentos de gravação. A atividade será retomada no relato sobre “Marekito Morreu”. Rafael elaborou um “Videocaderno de campo de estágio”141, a

partir das impressões que desenhou em seu caderno de campo.

141 O vídeo está publicado como “não listado”, no portal YouTube: <https://www.youtube.com/watch? v=Z0gE5BecCf4&feature=youtu.be>. Acesso: 22/01/2018.

A seguir, apresento um quadro elaborado por Ursula, para seu caderno de campo (em junho de 2017):

Mannequin Challenge

A partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce. Assim, ter esta ou aquela “ocupação” define competências ou incompetências para o comum. Define o fato de ser ou não visível num espaço comum, dotado de uma palavra comum etc. […]. Essa estética não deve ser entendida no sentido de uma captura perversa da política por uma vontade de arte, pelo pensamento do povo como obra de arte. […]. É um recorte dos tempos e dos espaços, do visível e do invisível, da palavra e do ruído que define ao mesmo tempo o lugar e o que está em jogo na política como forma de experiência. A política ocupa-se do que se vê e do que se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do tempo.

(RANCIÈRE, 2005, p. 16).

Em vários dias de oficina, a escola precisou que saíssemos da Sala de Informática para que outra atividade fosse realizada lá, éramos avisados meia hora antes de termos de desocupar. Não acho que era descaso para conosco, é que outros projetos começaram a atuar na instituição - tinha muita coisa acontecendo - e a gestão estava com pouca gente, além de sobrecarregada para operar a comunicação entre todos os envolvidos. Numa dessas vezes, foi dia de intervenção dos estagiários, com Grupo 4. Então improvisamos como exibir filmes e verificar as sequências de fotos que supostamente iríamos criar naquele dia, sem ter equipamentos para isso. Existia certa tensão entre eu e os estagiários porque não queríamos que a “atividade desse errado”, estávamos com receio de desestimular os estudantes. Então, acabei tomando uma postura que parecia com “está acontecendo um incêndio mas temos tudo sobre controle”. Já nas expressões dos estudantes existia algo de pena da gente, e que, ao mesmo tempo, parecia dizer: “Por que vocês estão tentando resolver esse imprevisto sozinhos? Quer dizer que na Sala de Informática a gente é autônomo e colaborativo mas aqui no pátio - na frente do resto da escola - a gente não seria capaz de contribuir com vocês diante qualquer acidente? A gente tem que esperar vocês prepararem a parafernália do espetáculo da aula de vocês para gente ‘assistir’ depois?”. Mas nada disso foi dito por eles, eu que imaginei mesmo, dada a minha tensão.

Mas o interessante é que, caso eles tivessem pensado, eles teriam certa razão. Minha demonstração de força, ali, estava frágil, quebradiça como vidro, quando eu precisava, na verdade, resistir com flexibilidade, como borracha, como água. Parei de reclamar da situação na minha cabeça e perguntei o que eles achavam que era “pixilation” e como a gente faria, junto, para aprender a fazer isso naquela tarde.

A partir daí, surgiu um mutirão de várias mãos, cabos, gambiarras e palpites: de repente estávamos assistindo aos filmes “Neighbours”142 (1952) e “Two

Bagatelles”143 (1951) dirigido por Norman Mc Laren e “Luminaris”144 (2011), dirigido

por Juan Pablo Zaramella, enquanto Rafael e Ursula discutiam possíveis relações entre aquele meio específico de se animar pessoas e objetos reais - com múltiplas fotos montadas em sequência - e a forma como as animações 3D eram renderizadas. Um dos alunos disse que o filme “Luminaris”, que é argentino, parecia francês - por conta de vários de seus elementos estéticos - e isso rendeu uma boa conversa. Os estagiários propuseram que fizéssemos algumas sequências curtas de

pixilation, ali mesmo: um dos estudantes proporia um tema, outro dirigiria a cena,

outro seria o “ator”, outro serviria de “tripé” para que a câmera fosse apoiada em sua cabeça, outro precisaria criar um apoio para a câmera do tablet (ele construiu um com clipe de papel e uma garrafa de refrigerante, em 15 minutos), etc.

Houve muito estranhamento, porque parecia que eles esperavam que nós (eu e estagiários) disséssemos quem ira fazer o quê, quem assumiria as funções. Mas não era esse o nosso propósito, estávamos ali somente para lembrar que o desafio estava dado: uma sequência de imagens precisava surgir daquele coletivo e daquele lugar. Eles tiveram muito mais dificuldade em definir quem seriam os responsáveis por cada tarefa, do que em lidar com as respectivas demandas em si. Parecia que ninguém queria “mandar” em ninguém, parecia que era delicado determinar quem tomaria parte naquela composição em grupo e como.

Mas foi um incômodo mobilizador, as coisas foram se articulando. E, não deixaram de sair do controle, pois, meio que “pegaram fogo” (não literalmente):

142 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K1q8f-I6YsI>. Acesso: 23/01/2018. 143 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IcBOuA9GbxE>. Acesso: 23/01/2018. 144 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=l7Z1VBQkdIM>. Acesso: 23/01/2018.

Uma das faíscas foi uma funcionária que, naquele dia, precisou substituir a diretora e a coordenadora pedagógica, ambas ausentes. Ela estava transtornada, lacrimejando... por não saber nem como desligar as luzes do pátio para que eu usasse um projetor. Aí, no meio da correria no pátio, algo na nossa atividade chamou a atenção dela, que parou tudo que fazia e disse, absolutamente tímida:

– Olha, o sonho da minha vida é fazer algo parecido com isso das pessoas fazerem cinema com foto de gente parada, um monte de foto, uma depois da outra, né? Mas o que eu queria fazer é diferente, queria pessoas paradas mesmo, mas a câmera que se mexe…

Uma das alunas gritou:

– Isso é “Mannequin Challlenge”, Fêssora! – Não faço ideia do que seja isso… - eu disse.

– Só você que não sabe, kkk – um estudante me interrompeu para dizer, e vários outros riram. Continuei:

- … mas temos 25 minutos para realizar sonhos, dentro do meu cronograma. Então, se quiserem fazer, não vamos marcar para outro dia, terá que ser hoje. SE VIREM, já tô contando.

Bom, a partir daí, testemunhei muita coisa acontecendo, eu só conseguia acompanhar observando mesmo. Essa "super produção" ocupou todo o pátio interno e boa parte do externo da escola, pois a tal funcionária chamou muita gente que nem participava da oficina, uns 30 estudantes travestidos (que estavam em período de aula normal, não no contraturno, diferentemente do pessoal da oficina), porque eis que aquele era o dia do "trote-de-troca-de-roupa-para-arrecadar-grana-para- formatura": os meninos estavam todos maquiados, com roupas "de menina" e as meninas vestidas de "mano" e de "machos-alfa" (segundo elas...).

Umas 40 pessoas foram mobilizadas, subitamente, e foram se dirigindo umas às outras, criando juntas, um barulho ensurdecedor. Uma das alunas queria posar como se estivesse “enrabando” um dos meninos vestidos de menina, e a funcionária fez um grande estardalhaço sobre aquilo ser de uma “profunda violência” [sic] porque "sacanage não pode! sem sacanage!" [sic]. Tudo isso seguido de pessoas paradas - numa posição cuidadosamente escolhida - em absoluto silêncio, enquanto a câmera percorria o espaço.

Mannequin Challenge é uma moda de internet que surgiu entre estudantes de high school, estadunidenses, em 2016. É um vídeo em que todos os personagens se

encontram como que paralisados, imobilizados em posições consideradas “naturais”, cotidianas. Enquanto isso, alguém de câmara na mão passeia entre eles, como se aquela realidade fosse, afinal, uma encenação criada por um museu de cera.

A experiência feita na escola resultou no vídeo “Mannequin Challenge na

Francisco Álvares”145, cuja concepção e direção são dos estudantes junto com a gestora. Já sua edição foi feita por Rafael Ghiraldelli, a partir de gravações minhas, dele e de Ursula.

Curta colaborativo surge de um dia para o outro

Em outro dia de intervenção dos estagiários, dessa vez com o Grupo 1 (terça de manhã), eles propuseram aos participantes a criação de um vídeo sob as seguintes condições:

• É sobre a ida do objeto/personagem "Marekito" de um lugar a outro • A estória deve se desenvolver em 5 cenas

• Em cada cena, o personagem deve estar em um lugar diferente

A definição do que seria o ponto de partida do personagem (lugar da primeira cena) se dará a partir de algo relacionado à primeira postagem na

145 O vídeo está publicado como “não listado”, no portal YouTube: <https://www.youtube.com/watch? v=l96Dwd_F5WA&feature=youtu.be>. Acesso: 22/01/2017.

timeline do perfil de uma rede social de um dos alunos (voluntário ou

escolhido por sorteio)

A definição do que seria o ponto de chegada do personagem (lugar da quinta cena) se dará a partir de algo relacionado à primeira postagem na timeline de Facebook de outro dos alunos (voluntário ou escolhido por sorteio)Todas as cenas serão gravadas na escola. Se na primeira cena o

personagem precisar estar nas "Montanhas do Himalaia", teremos que fazer algum espaço da escola funcionar como se fosse esse lugar

• Pessoas não poderão aparecer em cena, a não ser que funcionando como outra coisa ou através de partes do corpo inusitadas, como cotovelos

A ideia era fazer com que alguns espaços da escola funcionassem como se fossem outros, como numa maquinação:

Já o conceito de maquinação é fazer de um lugar um outro, dentro do próprio lugar, que é o mesmo. Maquinar é lidar com matéria não formada e com funções não formais para atualizar o que já está no lugar, mas ainda não está formado e não tem função – fazer e ver cinema na escola. (MIRANDA, 2016, p. 146).

Três participantes se voluntariaram para definir os lugares das cenas a partir de seus perfis de Facebook (escolheram essa rede por ser a que tinha mais gente do grupo), então a terceira cena também surgiu a partir de uma timeline. Já os locais da segunda e da quarta cena, além do desenvolvimento de todo o roteiro, foram feitos a partir de uma grande conversa, em que todos foram dando ideias e se provocando. Essa parte foi toda observada pelo Prof. Dr. Wencesláo Machado de Oliveira Jr., supervisor dos estagiários, durante 1 hora. Nas outras 2 horas fomos criando as cenas, experimentando soluções, vasculhando materiais da escola, explorando seus lugares, assistindo o que foi feito, editando, etc. Uns queriam fazer só com vídeo, outros com animação stop motion (sequência de fotos), optamos por gravar as cenas através das duas formas. Já quanto ao áudio, parte foi som direto (imagem e áudio gravados ao mesmo tempo), parte foi gravada depois, parte foi buscada e extraída da internet, tudo isso feito por cada um dos participantes, cada um contribuindo para um aspecto diferente do trabalho.

Cada cena teve um participante diferente para atuar como câmera, diretor, fotógrafo, continuísta, roteirista, produtor, etc. Tudo isso feito coletivamente: às vezes se separando em minigrupos (para solucionar algum aspecto estético específico) e se juntando de novo, como se fosse uma gincana, já que tínhamos pouco tempo. Queríamos que os estudantes mesmo montassem e finalizassem o video no Blender, mas não deu tempo durante a manhã. Então, naquela mesma tarde, o estagiário Rafael fez uma edição do material146 a partir das escolhas e 146 O vídeo “Marekito Morreu” aparece ao final do “Experimentações e Experiências”, que pode ser assistido aqui: <https://youtu.be/KxNyZ6JSKy A>.

indicações dos alunos, e, no dia seguinte, o curta estava pronto! Alguns estudantes, por exemplo, insistiram para que a música “Shooting Stars” e um “Jumpscare” fossem incorporados à composição. A música foi lançada em 2008 (depois em 2009, como um single), de uns anos para cá tem aparecido em vídeos remixados e compartilhados na internet em contexto de meme147 - inspirados na estética

Synthwave (conhecida também como Retrowave) - particularmente de pessoas

caindo. Synthwave é um estilo musical que surgiu em meados dos anos 2000, fortemente inspirado pelo new wave e trilhas sonoras de filmes, videogames e séries de televisão dos anos 80. Já Jump scare é uma técnica usada por filmes, jogos e músicas para assustar sua audiência durante o enredo de alguma obra. Na WEB, o termo têm sido ressignificado e conhecido também como Internet Screamer148, através de memes cuja piada é assustar com imagens e sons desconcertantes que aparecem abruptamente, bastante usadas para trollar em fóruns virtuais. Os estagiários escolheram o boneco “Marekito” por ele não ser conhecido pelos estudantes, pois foi criado para ser mascote de uma campanha de vacinação de aves. Apostaram na inserção repentina de um elemento totalmente novo dentro do ambiente escolar (que lhes era bem familiar).

Observamos que boa parte das novas perspectivas que os alunos construíram em torno desses espaços (fazendo – os “funcionar” de outra maneira) se deram justamente pela necessidade de contemplar aquela novidade dentro de

147 Mais informações podem ser acessadas neste artigo do “Know Your Meme”: <http://knowyourmeme.com/memes/shooting-stars>. Acesso: 23/01/2018.

148 Mais informações podem ser acessadas neste outro artigo do “Know Your Meme”: <http://knowyourmeme.com/memes/internet-screamers>. Acesso: 23/01/2018.

uma narrativa que só podia ser filmada dentro da escola. Contudo, não deixaram de aproveitar a oportunidade de inserir suas respectivas preferências culturais e outras particularidades de vida, na produção do curta.

Uma hierarquia na escola e a outra com cinemática inversa da animação digital

Como disse no capítulo 6, através das ferramentas de rigging e modelagem poligonal, podemos criar um conjunto de ossos (bones) para deformar a malha de vértices/polígonos (mesh) de um personagem. Como se fizéssemos uma espécie de esqueleto que, ao rotacionar e reposicionar suas articulações, a “pele” (mesh)