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DIREITO ADQUIRIDO E DIREITO ACUMULADO

CAPÍTULO X – MIGRAÇÃO DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS

10.3 DIREITO ADQUIRIDO E DIREITO ACUMULADO

É fundamental abordar a questão do direito adquirido e do direito acumulado pelos participantes nesse contexto, pois se trata da aquisição e manutenção dos direitos vinculados à formação e à percepção dos compromissos assumidos pelos planos de benefícios.

311 Vide artigo 20 da Lei Complementar n.º 109/01, Resolução CGPC n.º 26, de 29/09/2008, e

Instrução SPC n.º 28, de 30/12/2008.

312 Vale lembrar que a SPC - Secretaria de Previdência Complementar foi definitivamente substituída

pela PREVIC - Superintendência Nacional de Previdência Complementar nas funções de órgão fiscalizador e de supervisão das entidades fechadas de previdência privada e de execução das políticas para o regime de previdência complementar operado por entidades fechadas, a partir da vigência da Lei n.º 12.154, de 23/12/09, conforme seu art. 55. “As competências atribuídas à Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social, por meio de ato do Conselho de Gestão da Previdência Complementar, do Conselho Monetário Nacional e de decretos, ficam automaticamente transferidas para a Previc, ressalvadas as disposições em contrário desta Lei.”

O direito adquirido e o direito acumulado constituem limitações às propostas de alteração dos planos previdenciários. Rubens Limongi França313 conceitua direito adquirido como “a consequência de uma lei, por via direta ou por intermédio de fato idôneo; consequência que, tendo passado a integrar o patrimônio material ou moral do sujeito, não se fez valer antes da vigência da lei nova sobre o mesmo objeto”. Já José Afonso da Silva314 tem o seguinte entendimento:

Para compreendermos um pouco melhor o que seja o direito adquirido, cumpre relembrar o que se disse acima sobre o direito subjetivo: é um direito exercitável segundo a vontade do titular e exigível na via jurisdicional quando seu exercício é obstado pelo sujeito obrigado à prestação correspondente. Se tal direito é exercido, foi devidamente prestado, tornou-se situação jurídica consumada (direito consumado, direito satisfeito, extinguiu-se a relação jurídica que o fundamentava). P. ex., quem tinha o direito de casar de acordo com as regras de uma lei, e casou-se, seu direito foi exercido, consumou-se. A lei nova não tem o poder de desfazer a situação jurídica consumada. A lei nova não pode descasar o casado, porque estabeleceu regras diferentes para o casamento. Se o direito subjetivo não foi exercido, vindo a lei nova, transforma-se em direito adquirido, porque era direito exercitável e exigível à vontade de seu titular. Incorporou-se no seu patrimônio, para ser exercido quando convier. A lei nova não pode prejudicá-lo, só pelo fato de o titular não o ter exercido antes.

O direito adquirido preserva a segurança jurídica e a estabilidade das relações sociais, estando garantido no artigo 5º, XXXVI315, da Constituição Federal, no artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro316317 e nos artigos 17 e 68 da Lei Complementar n.º 109/01. Sendo proposta mudança no regulamento do plano de benefícios que afete o participante, este terá garantida a aplicação da

313 FRANÇA, Rubens Limongi. A irretroatividade das leis e o direito adquirido. 3ª ed. São Paulo:

RT, 1982, p.208.

314 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª ed., 2ª tiragem. São Paulo:

Malheiros, 1993, p.379-380.

315

“Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; [...]”

316 Decreto-lei n.º 4.657, de 04/09/1942, antiga LICC - Lei de Introdução ao Código Civil, cujo objeto

foi alterado pela Lei n.º 12.376/2010.

317 Decreto-

lei n.º 4.657/42, artigo 6.º: “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.”

norma vigente no momento em que se tornou elegível ao benefício ou ao usufruto de direito garantido antes da alteração regulamentar.

Por sua vez, a figura do direito acumulado não encontra definição jurídica objetiva na legislação vigente. O parágrafo único do artigo 15 da Lei Complementar n.º 109/01 estabelece um conceito financeiro:

Artigo 15. [...]

Parágrafo único. O direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo participante ou à reserva matemática, o que lhe for mais favorável.

O direito acumulado seria identificado a partir de uma das equivalências financeiras possíveis: as reservas constituídas pelo participante ou a reserva matemática, o que lhe for mais favorável. Define Roberto Eiras Messina318:

O direito acumulado corresponde à identificação de uma situação transitória que um participante ostenta perante um plano de benefícios previdenciários em um determinado instante em que se visualiza sua condição à caminho de uma consolidação futura do direito adquirido à percepção do benefício contratado, observadas as premissas estabelecidas para a construção da base de financiamento do referido plano.

Assim, tem-se que o direito acumulado e o direito adquirido são distintos entre si (Messina319 refere-se a valores de segurança jurídica distintos). O direito acumulado se refere a uma conquista parcial obtida pelo participante em relação ao contratado no plano de benefícios, aferível até o momento da alteração do regulamento. Já o direito adquirido constitui garantia de pagamento da obrigação contratada com o plano após o preenchimento dos requisitos de elegibilidade previstos no regulamento, que somente poderiam ser alterados em situações excepcionais como déficit do plano ou descontinuidade do patrocínio.

318 MESSINA, Roberto Eiras. Direito adquirido e direito acumulado em processos de retirada de

patrocínio, fusão, cisão, incorporação e transferência de gestão de planos de benefícios da previdência complementar. In: AVENA, Lygia (Coord.) Fundamentos jurídicos da previdência complementar fechada. São Paulo: CEJUPREV - Centro de Estudos Jurídicos da Previdência Complementar, 2012, p.161.

No caso de cisão de plano de benefícios e constituição de outro plano com possibilidade de migração do plano original para o novo, deve restar preservado o direito adquirido. Já quando se trata de retirada de patrocínio, há de se analisar com cautela a figura do direito adquirido, uma vez que poderá existir redução significativa dos aportes que serão vertidos ao plano de benefícios, considerando o tempo de vinculação ao plano por cada participante. Na situação de retirada de patrocínio avoca-se o conceito de direito acumulado, já que não se discutem direitos estranhos à reserva financeira constituída até o momento em que se dá a retirada.