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INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PLANOS DE BENEFÍCIO

CAPÍTULO VIII – PATRIMÔNIO DOS PLANOS DE BENEFÍCIOS

8.2 INDIVIDUALIZAÇÃO DOS PLANOS DE BENEFÍCIO

Não é atual a exigência de maior proteção aos participantes e aos ativos do plano de benefícios de natureza previdenciária. Almejando garantir maior segurança aos planos e aos participantes e assistidos, a legislação impôs a necessidade de independência e segregação patrimonial entre os planos259, que são contabilizados individualmente.

257 Wagner Balera, no estudo retro citado, trata desse quinhão

como “cota”, ao referir-se adequadamente à semelhança do plano com um condomínio social.

258 Ressalta-se, uma vez mais, a Resolução MPS/CGPC n.º 14, de 01/10/04, que criou o CNPB

(Cadastro Nacional de Planos de Benefícios das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), ou seja, impôs um código que identifica e individualizada cada plano de benefícios perante a entidade que o administra, seus participantes e terceiros, e a Instrução Normativa SPC n.º 04, de 05/11/04, que complementou a citada Resolução, definindo que o CNPB será um número identificador único e intransferível que acompanhará o plano de benefícios desde sua autorização pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) até a sua extinção.

259 Vide, entre outros, os arts. 34, inciso I, alínea “b”, 22, 23, parágrafo único, e 31, inciso II, parágrafo

A referida proteção tem o escopo de prevenir a oneração de um plano de benefícios em decorrência de obrigações assumidas por plano vinculado a outra massa de participantes, com realidades fáticas e econômicas distintas, mas administrado pela mesma entidade de previdência privada. Trata-se da imposição de segurança jurídica a todos os sujeitos da relação jurídica.

Baseado nesse princípio, o CGPC - Conselho de Gestão da Previdência Complementar (atualmente substituído pelo CNPC - Conselho Nacional de Previdência Complementar), órgão normativo das entidades fechadas, expediu a Resolução n.º 14, de 01/10/2004, criando o CNPB - Cadastro Nacional de Plano de Benefícios das Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Por sua vez, a Instrução Normativa SPC n.º 4, de 5/11/2004, impôs a obrigatoriedade de as entidades fechadas inscreverem seus planos no Cadastro Nacional de Plano de Benefícios, e a Portaria SPC n.º 177, de 15/02/2005, promoveu a identificação de cada plano por meio de um código atribuído pelo órgão fiscalizador (número de inscrição no Cadastro Nacional de Plano de Benefícios - CNPB). Tais medidas permitiram a necessária publicidade relacionada aos planos de benefícios, uma vez individualizados (bem como aos seus respectivos patrimônios), além da garantia de transparência e da possibilidade de acesso e controle das informações de cada entidade fechada de previdência privada.

É imprescindível que haja amparo normativo estabelecendo a distinção do patrimônio das entidades de previdência privada, abertas ou fechadas, e dos recursos dos planos de benefícios.

Como já visto, existem normas estipulando a contabilização individual e segregada dos planos geridos por entidades fechadas260. A Resolução CGPC nº. 14, de 01/10/2004, prevê expressamente, em seu artigo 3º, que:

Artigo 3º. Cada plano de benefícios possui independência patrimonial em relação aos demais planos de benefícios, bem como identidade própria quanto aos aspectos regulamentares, cadastrais, atuariais, contábeis e de investimentos.

260 Especialmente dirigidas pelo artigo 18 da Lei Complementar n.º 109/01, pela Resolução

§ 1º. Os recursos de um plano de benefícios não respondem por obrigações de outro plano de benefícios operado pela mesma EFPC. (grifo nosso)

É possível verificar que a legislação permite a individualização do plano, diferenciando-o dos demais e evitando confusão patrimonial entre eles.

Os planos de benefícios administrados por entidades abertas de previdência privada, por serem mais maleáveis e fundados em regime financeiro de capitalização, não possuem exigências técnicas análogas àquelas previstas para o segmento fechado. Entretanto, a segregação de patrimônio também se impõe, conforme dispõe a Lei n.º 11.196, de 21/11/05:

Artigo 76. As entidades abertas de previdência complementar e as sociedades seguradoras poderão, a partir de 1º de janeiro de 2006, constituir fundos de investimento, com patrimônio segregado, vinculados exclusivamente a planos de previdência complementar ou a seguros de vida com cláusula de cobertura por sobrevivência, estruturados na modalidade de contribuição variável, por elas comercializados e administrados.

[...]

Artigo 78. O patrimônio dos fundos de investimento de que trata o artigo 76 desta Lei não se comunica com o das entidades abertas de previdência complementar ou das sociedades seguradoras que os constituírem, não respondendo, nem mesmo subsidiariamente, por dívidas destas.

§ 1º. No caso de falência ou liquidação extrajudicial da entidade aberta de previdência complementar ou da sociedade seguradora, o patrimônio dos fundos não integrará a respectiva massa falida ou liquidanda.

§ 2º. Os bens e direitos integrantes do patrimônio dos fundos não poderão ser penhorados, sequestrados, arrestados ou objeto de qualquer outra forma de constrição judicial em decorrência de dívidas da entidade aberta de previdência complementar ou da sociedade seguradora. (grifo nosso)

Verifica-se que a segregação do patrimônio implica a proteção dos recursos engendrados em face dos riscos que não sejam inerentes ao plano de benefícios.

Cada plano de benefícios vigente gera a acumulação de recursos que constituem sua reserva matemática, sendo regulado por critérios específicos de custeio (que virão a determinar o valor futuro dos benefícios contratados), que

constituirão um patrimônio autônomo e independente daqueles que suportam os demais planos de benefícios geridos pela mesma entidade fechada de previdência privada261.

As entidades de previdência privada estão expostas aos riscos próprios de suas atividades. Busca-se, no entanto, afastar o risco de contaminação oriundo de obrigações de planos de benefícios distintos, relacionados a diversas massas de participantes e patrimônios garantidores.

Assim, o patrimônio da entidade de previdência privada estará atrelado ao seu CNPJ262263, conforme os registros contábeis da pessoa jurídica, estranho ao(s) patrimônio(s) do(s) plano(s) de benefícios por ela conduzidos. E, nesse contexto, não há de se alegar prejuízo em razão da despersonificação do plano de benefícios, conforme ensina Roberto Eiras Messina264:

Não há prejuízo na despersonificação do plano de benefícios. A regra do artigo 988 do vigente Código Civil Brasileiro aplica- se por analogia e considerando-se a existência do grupo fechado de participantes solucionada está a questão ao dispor, para uma sociedade não personificada: “Artigo 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.”

Apesar de se tratar de ente abstrato, o plano de benefícios é identificável por meio do Cadastro Nacional de Plano de Benefícios (CNPB) e do arcabouço de regras formais que definem seus direitos e obrigações.

261

Ivy Cassa cita ensinamento de Rafael la Casa Garcia: “Asimismo, há de darse por supuesto, em

consonância com lo antes señalado, que, aunque la LPFP no lo formule nitidamente y com independencia de la existencia de deudas comunes a todos los Planes, los elementos patrimoniales de cada Plan de Pensiones tienen una separación no puramente contable, sino también de responsabilidade.” CASSA, Ivy. Contrato de previdência privada. São Paulo: MP Ed., 2009, p.162. 262 Lei n.º 6.404/76, artigo 177 -

“A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência.”

263 Lei n.º 11.406/02 (Novo Código Civil), artigo 1.179 -

“O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.”

264 MESSINA, Roberto Eiras. Independência Patrimonial dos planos de benefícios das entidades

fechadas de previdência complementar: uma realidade! In: REIS, Adacir (Org.). Fundos de pensão – Aspectos jurídicos fundamentais. São Paulo: ABRAPP/ICSS/SINDAPP, 2009, p.153, nota 26.

A definição dos ativos do plano de benefícios como montante destinado ao pagamento futuro dos benefícios assumidos vai ao encontro da norma constitucional disposta no caput do seu artigo 202: “O regime de previdência privada [...] será [...] baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado [...].” É direta, portanto, a relação estabelecida entre o benefício contratado e as reservas constituídas no plano de benefícios para o seu cumprimento.

As reservas técnicas de hoje equivalem às prestações futuras dos benefícios de previdência privada265, configurando direito adquirido dos participantes.

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n.º 4.657/42) dispõe, em seu artigo 6º e §2º, que:

Artigo 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)

[...]

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré- estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

Embora o direito do participante dependa da verificação do risco protegido, ele existe desde o momento em que se instaurou a relação jurídica por meio da formalização do contrato previdenciário privado.

A finalidade dessa segregação de patrimônio é tornar viável a averiguação do equilíbrio econômico financeiro e atuarial de cada plano de benefícios, permitindo sua adequada gestão pela entidade de previdência privada, que terá condições de dimensionar seus eventuais déficits e superávits atuariais com base em dados

265

“O primeiro aspecto decorre do fato de a operação de planos previdenciários corresponder, conceitual e juridicamente, à contínua administração das projeções e realidades atuariais e econômico-financeiras dos planos, com vistas à permanente obtenção de equilíbrio entre os recursos que lhe são afetados e as suas responsabilidades presentes e projetadas, calculadas a partir de premissas e hipóteses de evolução econômico-financeira dos respectivos ativos e do comportamento sócio-demográfico da massa de participantes de cada plano.” CAZETTA, Luís Carlos. Previdência privada: o regime jurídico das entidades fechadas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2006, p.98- 99.

concretos ou potenciais, atribuindo aos respectivos sujeitos de direitos e obrigações seus correspondentes bônus e encargos.

Pelo exposto, resta constatado que o patrimônio de determinado plano de benefícios não se confunde com o patrimônio de outros planos de benefícios, ou com o patrimônio da entidade de previdência privada, gozando de independência e individualidade asseguradas pela legislação em vigor. A entidade é responsável pela administração e execução de planos de benefícios de natureza previdenciária, sendo esse seu objeto social.