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PLANOS DE BENEFÍCIO DEFINIDO (BD)

CAPÍTULO VII – PLANOS DE BENEFÍCIOS

7.1 PLANOS DE BENEFÍCIO DEFINIDO (BD)

Historicamente, essa espécie de plano de benefícios é a adotada na maior parte dos regimes previdenciários oficiais básicos. Em suma, são planos coletivos e mutualistas que almejam oferecer aos seus participantes segurança e tranquilidade no futuro.

Os planos estruturados na modalidade de benefício definido (BD) se caracterizam por previamente determinar os valores dos benefícios a que potencialmente terão direito os participantes.

No momento da contratação do plano é fixado o valor do benefício, que poderá ser traduzido em um percentual a ser aplicado ao último salário de contribuição do participante antes do recebimento do benefício, ou por meio de uma fórmula matemática ou atuarial descrita no regulamento do plano.

É comum que os valores dos benefícios nesses planos dependam do nível salarial dos participantes ativos. Alguns planos ainda podem utilizar o valor do benefício concedido pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)210 como uma das variáveis utilizadas na fórmula de cálculo.

Oportuno ressaltar que a utilização do valor do benefício público oficial no cálculo do benefício oriundo da previdência privada era legítimo sob a égide da Lei n.º 6.435/77, uma vez que o regime de previdência privada era complementar ao

210 O regime de previdência complementar é autônomo em relação ao regime geral de previdência

social, de forma que a concessão de benefícios decorrentes daquele regime independe da concessão de benefícios pelo regime oficial. Entretanto, ainda existem planos que utilizam o valor do benefício público oficial na fórmula de cálculo do benefício de previdência privada (vale lembrar que estamos tratando de participantes vinculados a entidades fechadas, de forma que, se não a totalidade, a grande maioria dos participantes são segurados obrigatórios do regime geral). Se no momento da obtenção do benefício no plano de previdência privada o participante ainda não preencheu os requisitos de elegibilidade do benefício público, utilizar-se-á um valor aproximado como parâmetro (calculado conforme previsto na Lei nº. 8.213/91), que será adequado no momento da concessão efetiva do benefício público.

regime geral de previdência social211. Atualmente212, a concessão dos benefícios dos planos BD está desvinculada da concessão do benefício pelo regime geral de previdência social, assumindo a forma de benefício previdenciário adicional, que pode ser concedido a partir do momento em que o participante preenche todos os requisitos de elegibilidade previstos no regulamento do plano de benefícios.

No âmbito doutrinário, Maria da Glória Chagas Arruda213 preleciona:

[...] A desvinculação do valor do benefício pago pela EFPC em relação ao benefício concedido no âmbito do RGPS não descaracteriza o plano como sendo de benefício definido. A maioria dos planos operados por EFPC excluiu a vinculação do benefício pago pela EFPC ao valor do benefício recebido em razão da inscrição do assistido ao RGPS. Porém, vincula o limite do valor do benefício a ser pago pela EFPC a determinado valor inserto no Regulamento do plano, geralmente, na forma de variável denominada de unidade previdenciária. Tal unidade corresponde a determinado valor que será corrigido com base em índice de preço fixado no Regulamento do plano previdenciário. Desse modo, o valor do benefício previdenciário a ser pago pela EFPC poderá corresponder à seguinte fórmula: média aritmética do valor recebido pelo assistido do patrocinador nos últimos 12 meses subtraído dez vezes o valor da unidade previdenciária.

É notória a complexidade desse modelo quanto à individualização do direito previdenciário de cada participante em relação ao plano. Tal dificuldade se dá pois a estrutura dos planos de benefício definido está normalmente associada ao regime financeiro de repartição simples ou de simples partição, em que o volume das quantias arrecadadas no período é utilizado para o pagamento das prestações devidas aos assistidos no mesmo período.

O patrimônio acumulado com as contribuições dos patrocinadores e/ou dos participantes não é alocado em contas individuais, mas compõe um plano mutualista em que o valor do benefício é uma variável independente, previamente estabelecido pelo regulamento do plano, e a contribuição, uma variável dependente, que fica em

211Artigo 34 da Lei n.º 6.435/77: “As entidades fechadas consideram-se complementares do sistema

oficial de previdência e assistência social, enquadrando-se suas atividades na área de competência do Ministério da Previdência e Assistência Social.”

212 Após a publicação da Lei Complementar n.º 109/01.

213 ARRUDA, Maria da Glória Chagas. A inaplicabilidade do código do consumidor em face da

aberto, sendo determinada anualmente pelo plano de custeio, de forma que seja suficiente para financiar os benefícios futuros214.

A estrutura do plano é definida por meio de cálculos atuariais que combinam variáveis probabilísticas e financeiras, devendo o patrocinador do plano oferecer à entidade de previdência privada dados biométricos e sociais precisos dos participantes para que seja possível o correto cálculo do valor a ser arrecadado para o custeio do benefício contratado.

Gushiken215 explica:

Os planos coletivos, solidários e mutualistas, os da modelagem Benefício Definido, introduzem complexidade monumental na determinação do direito previdenciário individual.

[...] o Custo dos Benefícios de um plano previdenciário é calculado segurado por segurado e beneficio por beneficio e gera uma alíquota de contribuição mensal única para todos os seus participantes que, obviamente, podem possuir custos individuais diferenciados.

Sendo assim, os participantes acabam por gerar mais recursos ao plano do que seriam necessários individualmente, e outros menos, porém, justamente em razão da adoção de solidariedade entre eles, no total os valores se fecham, isto é, os recursos gerados por todos os participantes equivalem ao custo total de todos participantes, mesmo que individualmente essa correspondência não exista.

Já o valor das contribuições a serem vertidas ao plano no decorrer do período de acumulação será definido atuarialmente, utilizando-se variáveis probabilísticas e financeiras, observadas as bases técnicas estabelecidas pelo órgão regulador216.

214 PINHEIRO, Ricardo Pena. A demografia dos fundos de pensão. Brasília: Ministério da

Previdência Social, Secretaria de Políticas de Previdência Social, 2007, p.84.

215 GUSHIKEN, Luiz; FERRARI, Augusto Tadeu; FREITAS, Wanderley de. Previdência

complementar e regime próprio: complexidade e desafios. Indaiatuba, SP: Instituto Integrar Integração, 2002, p.141.

216 O atuário do plano conjugará os dados biométricos e sociais fornecidos pelo patrocinador com as

bases técnicas do plano e a descrição dos benefícios previstos no regulamento para calcular o valor da contribuição devida ao plano pelo participante e/ou pelo patrocinador para garantir o equilíbrio atuarial do plano de benefícios.

O custeio do plano em relação a cada participante oscilará conforme a idade de ingresso no plano, a expressão monetária do benefício futuro contratado e o tempo que decorrerá até a aposentadoria.

As contribuições são determinadas de forma a propiciar que o patrimônio constituído assegure o benefício definido quando da adesão do participante ao plano de benefícios.

Nessa modalidade de plano podem ocorrer desequilíbrios entre os valores acumulados de contribuições (ativo patrimonial) e os benefícios a serem pagos (provisões matemáticas ou passivo), caracterizados como déficit ou superávit217.

Adacir Reis218 ensina:

O plano na modalidade benefício definido é aquele no qual o participante sabe de antemão o quanto receberá de benefício, embora não saiba exatamente o quanto vai pagar, já que esse valor poderá variar de acordo com o plano anual de custeio, podendo diminuir ou aumentar a contribuição a partir da constatação e superávit (artigo 20) ou déficit (artigo 21). Em outras palavras, no plano de benefício definido a contribuição é indefinida, mas o valor do benefício é previamente definido na data de vinculação do participante ao plano, calculado com base em regras estipuladas em regulamento e geralmente vinculadas ao salário da ativa ou à média extraída de um período de contribuição que antecede a aposentadoria.

O plano de benefício definido assegura ao participante um valor final para o benefício, independentemente das oscilações nos elementos que compõem sua base atuarial.

A definição do valor futuro do benefício pressupõe a simulação de cenários futuros, ao longo do tempo e por toda a existência do plano, considerando a ocorrência de vários fenômenos, num esforço matemático e atuarial de previsão de

217 O segurado nunca responde individualmente por qualquer resultado negativo do plano nem se

apropria individualmente dos resultados positivos. Tudo é absorvido pelo próprio plano, que depois efetua a respectiva diluição entre todos os seus integrantes, de acordo com os critérios previamente estabelecidos (caráter solidário e mutualista). GUSHIKEN, Luiz; FERRARI, Augusto Tadeu; FREITAS, Wanderley de. Previdência complementar e regime próprio: complexidade e desafios. Indaiatuba, SP: Instituto Integrar Integração, 2002, p.37

acontecimentos incertos, por meio de diversas hipóteses específicas. Tais hipóteses são formuladas conjuntamente pelos atuários e pelos gestores das entidades de previdência privada e são baseadas em experiências estatísticas (longevidade, mortalidade, invalidez etc.), nas políticas de recursos humanos das empresas patrocinadoras (que consideram taxas de rotatividade, políticas de cargos e salários, planos de carreira etc.) e nas expectativas econômico-financeiras.

Os valores das contribuições e dos benefícios pagos durante a vigência do contrato previdenciário serão ajustados monetariamente nos períodos e pelos índices de correção fixados no regulamento do plano de benefícios. Por ser baseado em regime de repartição simples, é imprescindível a pontualidade dos aportes vertidos ao plano, sem os quais a entidade de previdência não poderá continuar com a responsabilidade assumida219.

Os riscos decorrentes das oscilações (demográfica e econômica escolhidas previamente) são do plano, ou seja, o participante jamais responde pelos riscos individualmente, dividindo-o com os demais participantes220, de acordo com as regras preestabelecidas no regulamento.

As principais características dos planos de benefício definido são a solidariedade e o mutualismo, haja vista que os cálculos são efetuados considerando sempre o total da massa de participantes221.

Sob o ponto de vista atuarial, doutrina Marília Vieira Machado da Cunha Castro222:

219 No caso de inadimplência, a entidade de previdência privada não teria condições de pagar os

benefícios contratados.

220 A divisão dos riscos com os demais participantes implica alteração dos valores das contribuições

vertidas ao plano de benefícios, que podem ser majoradas em situação de déficit atuarial ou reduzidas, no caso de superávit.

221

Permite o surgimento de “mutualismos perversos”, mediante os quais os segurados de menor renda subsidiam indiretamente os segurados que têm maiores salários e, ainda, os segurados que têm uma carreira menos privilegiada, igualmente, custeiam os benefícios daqueles bem-sucedidos. GUSHIKEN, Luiz; FERRARI, Augusto Tadeu; FREITAS, Wanderley de. Previdência complementar e regime próprio: complexidade e desafios. Indaiatuba, SP: Instituto Integrar Integração, 2002, p 37.

222 CASTRO, Marília Vieira Machado da Cunha. Alguns conceitos atuariais. In: REIS, Adacir (Org.).

Os benefícios concebidos no regime de benefício definido têm o equilíbrio atuarial calcado no coletivo, havendo total solidariedade entre os participantes, ficando privilegiado o conceito de previdência, do direito ao benefício respaldado por um patrimônio coletivo que deve ter como destinação o pagamento dos benefícios oferecidos, desde que observadas as condições inicialmente previstas.

Por esse motivo, não ocorrendo as condições previstas no regulamento do plano, mesmo que o participante tenha efetuado contribuições por um longo período, nenhum valor será devido ao participante ou ao beneficiário.

Podemos exemplificar essa situação como o participante que contribui durante 30 anos, não preenche todas as condições para a aposentadoria e falece. Não tendo havido a inscrição de nenhum dependente, nada deveria ser devido aos seus herdeiros ou beneficiários não inscritos, porque dessa forma estava sendo previsto nos cálculos atuariais.

As contribuições vertidas por esse participante devem continuar vinculadas ao plano, para garantia dos benefícios a conceder aos demais participantes ou beneficiários.

Nessa modalidade de plano de benefícios, normalmente os participantes e os patrocinadores efetuam aportes para a formação da reserva que sustentará o pagamento de benefícios programáveis e de riscos. Os benefícios programáveis são aqueles que permitem prever, no regulamento do plano, os seus requisitos de elegibilidade, de forma que conduzam a uma data certa para início do pagamento. São exemplos de benefícios programáveis as aposentadorias por tempo de serviço, especial, por idade (velhice) e proporcional ou antecipada.

Já os benefícios de risco (ou não programáveis) são aqueles em que o início da prestação está vinculado à concretização de uma contingência social (evento futuro e aleatório), que pode ocorrer a qualquer momento (ou nunca ocorrer), expondo os participantes e/ou seus beneficiários a situações de necessidade, uma vez desprovidos de capacidade laborativa suficiente para manter o próprio sustento e o da família. São exemplos de benefícios de risco a aposentadoria por invalidez, o pecúlio por morte e a pensão.

A estrutura de custeio desses planos é extremamente complexa e exige constantes alterações decorrentes das modificações das projeções atuariais. Os custos são muito elevados nos planos de benefício definido, pois, além dos riscos decorrentes da gestão e dos investimentos financeiros, os assistidos podem ser

titulares de benefícios por um período de tempo muito superior àquele estimado no desenho inicial do plano, levando ao desequilíbrio atuarial (déficit).

Importante lembrar que os contratos de previdência privada são contratos de longo prazo223, na medida em que têm determinada a data de início da relação jurídica, mas não os seus parâmetros finais, já que a expectativa de vida dos assistidos não é igual. Trata-se de contrato previdenciário firmado entre a entidade de previdência e o patrocinador por tempo indefinido.

Os riscos contratuais serão suportados pelos patrocinadores, pelos participantes e pelos assistidos, na forma discriminada no regulamento do plano.

Arthur Bragança de Vasconcellos Weintraub224 leciona:

No plano de Benefício Definido já se sabem de antemão os valores dos futuros benefícios de aposentadoria no momento da contribuição. Nele são estabelecidos os valores de contribuição de participantes e de patrocinadoras que são capitalizados, via ativos do mercado de capitais, em taxas definidas, para a formação de poupança ou reserva global, capaz de atender aos compromissos de benefícios acertados a toda massa de participantes.

Os riscos de déficit do plano, decorrente de inabilitação precoce, ficam por conta da patrocinadora, entretanto os demais déficits são partilhados e na mesma proporção das contribuições de participantes e patrocinadoras. O benefício proporcionado normalmente é vitalício para o trabalhador (ou seus dependentes, em caso de morte), conforme estabelecido em contrato.

Nos planos de benefício definido o participante, ao ingressar no plano, sabe o valor programado a ser pago quando fizer jus ao benefício. Entretanto, o benefício somente será pago ao participante se este cumprir os requisitos de elegibilidade e se forem confirmadas as premissas atuariais programadas durante a fase de acumulação de reservas.

223 Os planos de benefícios engendram pactos longos e, em regra, decorrem muitas décadas entre os

primeiros aportes contributivos e as últimas prestações previdenciárias.

224 WEINTRAUB, Arthur Bragança de Vasconcellos. Previdência Privada. São Paulo: Juarez de

Sendo cumpridas todas as premissas atuariais do plano BD, esse é o único modelo que pode, de forma absoluta, ser verdadeiramente apresentado como plano previdenciário, uma vez que permite assegurar o pagamento de benefícios vitalícios por meio de uma estrutura mutualista e de um valor predeterminado, garantindo a segurança e o bem-estar futuro dos assistidos.