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1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DIREITO HUMANO AO DESENVOLVIMENTO

1.6 DIREITO AO DESENVOLVIMENTO, DIREITO DO DESENVOLVIMENTO E DIREITO INTERNACIONAL DO DESENVOLVIMENTO

A relação entre desenvolvimento e direito nem sempre foi entendida com a devida nitidez. Para além da sua dimensão econômica, o desenvolvimento sustentável como direito humano requer estrutura jurídico-institucional que se coadune com os princípios e as normas do Estado de Direito Democrático e de sustentabilidade ambiental.

Dito de outro modo, nos dias de hoje, é inegável a existência de uma relação de interdependência entre Estado de Direito, direitos humanos, proteção do meio ambiente e desenvolvimento.

Fábio Nusdeo (2013, p.261 et seq.) defende que uma das vertentes da política de desenvolvimento é a adaptação institucional que significa mudar a estrutura jurídico- institucional antiga impeditiva do desenvolvimento para outra que se coaduna com a nova dinâmica do processo de desenvolvimento, como, por exemplo, a criação de novas leis sobre sociedades anônimas, mercado de capitais, sistema financeiro. É o direito que dá forma jurídica a todas as mudanças que o processo de desenvolvimento exige.

Nesse âmbito, acrescentam-se ainda os direitos do consumidor, as normas de direito penal, sobretudo as normas ligadas aos crimes econômicos e patrimoniais, de direito administrativo, de registros e notariados, direitos e liberdade de expressão, acesso à informação e direito de participação, protetoras do meio ambiente entre outras.

Também se torna importante fazer a distinção entre Direito ao Desenvolvimento, Direito Internacional do Desenvolvimento (DID) e Direito do Desenvolvimento.

De acordo com a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento de 1986, o Direito

ao Desenvolvimento é um direito humano que integra o gozo dos direitos econômicos, sociais

e culturais, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais num meio ambiente sadio e sustentável. Já a conceptualização do Direito Internacional do Desenvolvimento emerge do direito internacional público36.

Para Keba M’Baye (1979, p. 73) o Direito do Desenvolvimento é uma disciplina nova constituída por um conjunto de técnicas jurídicas ou métodos legislativos próprios para garantir ou sustentar o desenvolvimento econômico e social. E o direito ao desenvolvimento é um direito humano que integra, sobretudo, os direitos e liberdades públicas.

36 Vide: FERREIRA, Lier Pires. Direito Internacional, Petróleo e desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2011, p.43- 105; FILHO, Rogério Nunes dos Anjos. Direito ao Desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 73-146.

De acordo com Cançado Trindade (1993a, p. 176), o Direito Internacional do Desenvolvimento (international Law of development /droit international du développement) emerge como um sistema normativo internacional com o objetivo de regular as relações entre Estados juridicamente iguais, mas economicamente desiguais, visando a transformação destas relações com base na cooperação internacional prevista nos artigos 55 e 56 da Carta das Nações Unidas, e em consideração de equidade, de modo a remediar os desequilíbrios econômicos entre os Estados e a proporcionar a todos os Estados, especialmente os países em desenvolvimento, oportunidades iguais (grifos nossos).

Fazem parte do Direito Internacional do Desenvolvimento temas como direito à autodeterminação econômica, soberania permanente sobre a riqueza e os recursos naturais, princípios do tratamento não recíproco e preferencial para os países em desenvolvimento e da igualdade participatória dos países em desenvolvimento nas relações econômicas internacionais e nos benefícios da ciência e tecnologia, a cooperação internacional para o desenvolvimento (TRINDADE, 1993a).

Assim, o DID procura, sobretudo, atender as reivindicações dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, dotando-lhes de melhores condições de desenvolvimento.

Nessa conformidade, o DID é interestatal porque procura regular as relações entre Estados para melhor redistribuir, de forma equânime e justa, os recursos da economia no âmbito internacional; é finalista porque procura superar a situação de desigualdade em relação ao nível de desenvolvimento econômico entre os Estados e prioriza o crescimento econômico. Já o direito ao desenvolvimento é construído dentro das teorias dos direitos humanos, o crescimento econômico é apenas um instrumento para alcançar o desenvolvimento humano. Mas, ambos são interdependentes (FILHO, R., 2013, p. 84 et seq.).

Por sua vez, Maria Luiza Alencar Mayer Feitosa (2012b) deu o seu contributo sobre essa matéria apresentando a diferença entre Direito ao Desenvolvimento e Direito do

Desenvolvimento (grifo da autora).

Segundo a autora (2012b), o direito do desenvolvimento se situa mais confortavelmente no âmbito do direito econômico constitucional, nas relações entre o Estado e os agentes de mercado, ainda que conjugados em prol do interesse social. Já no âmbito dos DESC, o direito do desenvolvimento se manifesta nas relações entre direitos econômicos e sociais, com base nos processos econômicos e também no tratamento jurídico de fenômenos socioeconômicos, de natureza promocional do que protetiva, podendo ser encontrado no

de governo e/ou políticas públicas que abrangem setor produtivo e relações de produção, na exploração de bens e serviços, no investimento em atividades econômicas.

Por outro lado, para Maria Luiza Feitosa (2012b), o direito ao desenvolvimento se

situa no universo maior dos direitos humanos, caracterizado como direito dos povos e

coletividades, em privilégio da dimensão individual e social, nas relações que priorizam a dignidade humana. No âmbito dos DESC, o direito ao desenvolvimento surge mais confortavelmente da relação entre os direitos sociais e culturais, que une pelos extremos o individual/grupal e o global, ao respeitar os direitos sociais e culturais de coletividades atingidas pelos impactos negativos das externalidades econômicas, luta pela proteção ambiental em prol da dignidade dos seres humanos e pela identidade cultural dos povos ou das minorias. (grifo da autora)

Assim, continua afirmando a autora, o direito ao desenvolvimento pode ser encontrado no direito ao trabalho, à saúde, à paz internacional, à autodeterminação dos povos, ao meio

ambiente sadio e efetivamente equilibrado, incluindo a livre expressão democrática dos

sujeitos e coletividades, direta ou indiretamente envolvidos. (grifo nosso)

Desse modo, fica claro que o direito do desenvolvimento e o direito ao desenvolvimento não são excludentes um do outro, são interdependentes. O direito ao desenvolvimento reforça a promoção e a proteção do objeto do desenvolvimento como direito humano e este constitui um indicador positivo do direito do desenvolvimento.

2 O RECONHECIMENTO JURÍDICO DO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO NO

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