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Organizações Regionais: União Europeia, Organização dos Estados Americanos, Associação de Nações do Sudeste Asiático e a União Africana

1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DIREITO HUMANO AO DESENVOLVIMENTO

1.5 O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E REGIONAIS NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUA RELAÇÃO COM

1.5.2 Organizações Regionais: União Europeia, Organização dos Estados Americanos, Associação de Nações do Sudeste Asiático e a União Africana

No âmbito das organizações regionais, várias ações políticas, econômicas e jurídicas foram realizadas no sentido de se concretizar o desenvolvimento baseado nos direitos humanos. Inicialmente, o desenvolvimento era associado ao crescimento econômico.

Assim, será visto em seguida, nos atos constitutivos das organizações regionais, nomeadamente da União Europeia e várias convenções no domínio da proteção dos Direitos Humanos por ela aprovada, a Organização dos Estados Americanos (OUA) e a aprovação da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de S. José de Costa Rica).

No continente Asiático, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), criada em 08 de agosto de 1967, também aprovou no seu Ato Constitutivo disposição com vista a efetivação do direito ao desenvolvimento. Também é importante frisar que, até o momento, inexiste um sistema asiático de proteção dos direitos humanos que contenha mecanismos de proteção semelhantes e cujos objetivos sejam semelhantes aos sistemas de outros continentes. Essa temática será retomada no capítulo seguinte em que é analisado o reconhecimento jurídico do Direito ao Desenvolvimento no Direito Internacional. Nesta conformidade, daremos ênfase ao papel da União Africana (UA) no processo de efetivação do direito ao desenvolvimento.

Na África, a Organização da Unidade Africana (OUA) tinha sido essencialmente criada com o objetivo de promover e lutar pela independência dos países africanos colonizados, a lutar contra todas as formas de colonialismo e neocolonialismo, promover a paz e a solidariedade entre os povos africanos e a defender interesses políticos, econômicos e sociais dos países membros e da África em geral.

Na época, defendia-se que a independência dos países africanos, o fim do racismo e do

apartheid constituíam elementos fundamentais para se acelerar o desenvolvimento do

continente. Nesse contexto, a OUA aprovou na Nigéria, em 1980, o Plano de Ação de Lagos

para o Desenvolvimento Econômico e Social da África para o período 1980-2000, que se

propunha reestruturar a economia africana, induzida por estratégia de substituição de importações e promover a atividades nos setores da alimentação, recursos naturais, ciência e tecnologia, cooperação, energia e sobre o papel da mulher no desenvolvimento econômico da África.

Apesar de não terem sido alcançados totalmente os objetivos preconizados no Plano de Lagos, a OUA continuou a realizar ações com vistas a manter o compromisso com a proteção dos direitos humanos e com o desenvolvimento sociocultural do continente como, por exemplo, a aprovação da Carta Cultural de África, em 1976, da Carta Africana dos Direitos

Humanos e dos Povos (CADHP), em 1981. Por sua parte, a Carta Cultural prevê disposições

sobre a diversidade e desenvolvimento culturais, a cooperação intercultural, educação e sobre a valorização das línguas africanas como fator de unidade.

Como será detalhado mais adiante em capítulo próprio, a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, aprovada em 26 de junho de 1981, consagrou expressamente que o

desenvolvimento econômico, social, cultural é um direito dos povos e que os Estados devem assegurar o exercício do direito ao desenvolvimento, separadamente ou em cooperação

(Artigo 22) e que todos os povos têm direito a um meio ambiente sadio e global propício ao

seu desenvolvimento (Artigo 24). Desse modo, a referida Carta foi o primeiro e, até o

momento, único Tratado de direitos humanos a reconhecer expressamente o direito ao desenvolvimento.

Nos anos subsequentes, foram também assinados importantes documentos de reconhecimento e proteção dos direitos humanos importantes para compreensão do direito ao desenvolvimento, entre os quais a Carta sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança, em 199033, a Carta Africana de Participação Popular no Desenvolvimento e Transformação, de 1990, que recomenda a participação popular no processo de elaboração de políticas públicas desenvolvimentistas; a Declaração de 1990 sobre a situação Política e Socioeconômica de África, a Declaração do Cairo, de 1993, que institui o Mecanismo de Prevenção, Gestão e

Resolução de Conflitos, a Declaração e o Programa de Ação, de Grand Bay (Ilhas

Maurícias), de 1999, para promoção e proteção dos Direitos Humanos e, finalmente, o

Quadro de Ação da OUA para as Mudanças de Governos Anticonstitucionais, de 2000.

Mais adiante, foram aprovados outros documentos importantes que no contexto de África são relevantes para o exercício do direito ao desenvolvimento como a Declaração

sobre Democracia e Governação Política, Econômica e Social, de 2002, a Carta Africana da Democracia, Eleições e da Governação, de 2007.

Em 2000, aprovou-se a Declaração Solene da Conferência de Chefes de Estado sobre

Segurança, Estabilidade, Desenvolvimento e Cooperação em África (CSSDCA), adotada em

Lomé, na qual os Estados reafirmam que “a democracia, a boa-governação, o respeito pelos direitos humanos e dos povos e pelo Estado de Direito são pré-condições para segurança, estabilidade e desenvolvimento do continente” e salientam que o alcance da autonomia, do crescimento e desenvolvimento sustentado seriam facilitados através da promoção da cooperação e integração econômica, da diversificação efetiva da base de recursos, da participação popular, igualdade de oportunidades, transparência nas políticas públicas e a parceria entre governo e os povos como elementos necessários para se alcançar o desenvolvimento (Princípios 9 e 12).

Na generalidade, todos esses documentos reforçam a inter-relação entre direitos humanos, estabilidade política, segurança e Estado de direito democrático e declaram a sua importância para promover o desenvolvimento econômico, social, cultural do continente. Para além do seu aspecto formal, as declarações não passaram de meros compromissos e recomendações políticas, uma vez que, em muitos casos, não foram criados mecanismos de avaliação e fiscalização de sua aplicação e no plano político e econômico e a maioria dos países africanos continuou a enfrentar dificuldades no processo de desenvolvimento.

De acordo com Ali A. Mazrui (2011, p. 1117), após a conquista das independências africanas, as relações entre as modalidades de governo e as perspectivas de desenvolvimento econômico variaram em função de vários fatores, entre os quais a dimensão do setor público,

o papel do Estado, a eficácia dos poderes públicos e a representatividade e a equidade (a legitimidade) do governo.

Além do mais, lembre-se de que é necessário reconhecer que os países africanos ainda são muito novos no que concerne à vivência dos processos democráticos, à adoção da economia de mercado e à sua inserção na economia internacional.

Assim, ciente dessa realidade, num encontro na Nigéria, em 2001, as lideranças africanas aprovaram o plano da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NPDA)34 no qual se reconhece que, apesar das taxas de crescimento serem importantes, elas não são por si só suficientes para permitir aos países africanos alcançarem o objetivo da redução da pobreza. O desafio é, por conseguinte, o de desenvolver a capacidade para manter o crescimento aos níveis requeridos, como forma a alcançar o objetivo da redução da pobreza e do desenvolvimento sustentável. Isso, por sua vez, depende de outros fatores, tais como a infraestrutura, acumulação de capital, o capital humano, instituições, diversificação estrutural, concorrência, saúde e uma boa conservação do meio ambiente (§ n. 64).

Não é demais esclarecer que a NPDA constitui uma visão africana e um programa de ação em busca do desenvolvimento social, econômico e político do continente africano, dirigido por africanos e tem como objetivo à promoção do desenvolvimento sustentável a longo prazo, a erradicação da pobreza e o fortalecimento do papel da mulher na sociedade. No referido documento reconhece-se que a “paz, a segurança, a democracia, boa governação, os direitos humanos e uma boa gestão econômica são condições para o desenvolvimento sustentável” (§ 71). E, para o efeito, foram definidas medidas a longo prazo para assegurar a

34 FUNDAÇAO FRIEDRICH EBERT. Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NPDA). Disponível em: < http://library.fes.de/pdf-files/bueros/angola/hosting/nepad.pdf >. Acesso em: 15 ago. 2012.

paz e segurança, a boa governação, avanços no domínio das infraestruturas, educação, saúde, cultura, ciência, tecnologia e a meio ambiente35.

Mas o grande contributo dado pela OUA (hoje UA) para a abordagem do desenvolvimento foi o de ter consagrado, na Carta Africana, o direito dos povos ao desenvolvimento econômico, social e político e ao meio ambiente saudável.

1.5.3 Instituições Financeiras Internacionais: Banco Mundial e Fundo Monetário

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