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2 O RECONHECIMENTO JURÍDICO DO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL

2.3 VIA CONSUETUDINÁRIA

Quanto ao reconhecimento do direito ao desenvolvimento como direito humano por via do costume internacional, Felipe Gómez Isa (1999, p. 76; 92 et seq.) sustenta que o direito ao desenvolvimento também pode ser deduzido das resoluções e declarações aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas e, fundamentalmente, através da análise do valor jurídico de tais resoluções e declarações e a prática dos Estados no âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Nesse contexto, o costume internacional é fonte de reconhecimento do direito humano ao desenvolvimento.

Para André de Carvalho Ramos (2013, p. 65), o costume internacional é verdadeira fonte do Direito Internacional dos Direitos Humanos e “muitos desses costumes originam-se das resoluções da Assembleia Geral da ONU, bem como das deliberações do Conselho Econômico e Social”. Desse modo, existe um rol de resoluções e declarações de direitos humanos aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas que integram o conteúdo do direito ao desenvolvimento. Pela sua importância, citam-se, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Universal dos Direitos Humanos de 1945, a Declaração das Nações Unidas sobre Direito ao Desenvolvimento de 1986 e a Declaração sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio 92.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas depois da aprovação com 48 votos a favor e oito abstenções, através Resolução n. 217-A (III) de 10 de dezembro de 194847 e significou um avanço para reconhecimento e afirmação internacional dos direitos humanos.

No Preâmbulo, baseando-se na Carta das Nações Unidas, os Estados subscritores da Declaração reafirmaram “a fé na dignidade da pessoa humana e nos direitos fundamentais, na igualdade de direitos do homem e da mulher e decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla”.

47 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução n. 217-A (III) aprova a Declaração Universal dos

Direitos Humanos. Disponível em:

<http://daccess-dds-ny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/046/82/IMG/NR004682.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2013.

No artigo 22 da DUDH estipula-se que toda a pessoa tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos seus direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade e reconhece, igualmente, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade e à liberdade de reunião e associação (artigos 3.º a 21), o direito ao trabalho e à justa remuneração, à educação, à saúde, ao lazer e a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família, incluindo saúde e bem- estar, alimentação e habitação (artigos 22 a 27).

O artigo 28 sintetiza uma das dimensões do direito ao desenvolvimento ao estipular que “todo o homem tem direito a uma ordem social e internacional, em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados”.

No âmbito da doutrina debate-se sobre o caráter vinculante ou não da Declaração, uma vez que ela não é um Tratado no sentido estrito do termo. Sobre essa temática, André de Carvalho Ramos (2013, p. 57) identifica três posições possíveis: a) DUDH possui força vinculante por se constituir em interpretação autêntica do termo “direitos humanos”, previsto na Carta das NU; b) a DUDH possui força vinculante por representar o costume internacional sobre a matéria; c) a DUDH representa tão somente a soft law sobre direitos humanos, que consiste em um conjunto de normas ainda não vinculantes, mas que buscam orientar a ação dos Estados. Para ele, parte da Declaração é entendida como costume internacional de proteção de direitos humanos.

Segundo Flávia Piovesan (2012, p. 210), “o propósito da Declaração, como proclama seu Preâmbulo, é promover o reconhecimento universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais a que faz menção a Carta da ONU, particularmente nos arts. 1º (3) e 55”. Por isso, sobre a força jurídica vinculante da Declaração, Piovesan (2012, p. 214) sustenta:

Com efeito, a Declaração se impõe com um código de atuação e de conduta para os Estados integrantes da comunidade internacional. Seu principal significado é consagrar o reconhecimento universal dos direitos humanos pelos Estados, consolidando um parâmetro internacional para proteção desses direitos. A Declaração ainda exerce impacto nas ordens jurídicas nacionais, na medida em que os direitos nela previstos têm sido incorporados por Constituições nacionais e, por vezes, servem como fontes para decisões judiciais. Internacionalmente, a Declaração tem estimulado a elaboração de instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos e tem sido referência para a adoção de resoluções no âmbito das Nações Unidas. [E é a partir da interpretação e aperfeiçoamento do entendimento da DUDH que se tem reconhecido outros direitos inerentes à dignidade da pessoa humana].

Por sua vez, Comparato (2007, p. 226-227) sustenta que, apesar de não ser um documento juridicamente vinculante, mas sim recomendatório, os direitos reconhecidos na DUDH “correspondem, integralmente, ao que o costume e os princípios jurídicos internacionais reconhecem, hoje, como normas imperativas de direito internacional geral (jus

cogens)”.

Por tal razão sustenta-se que a Declaração faz parte do direito costumeiro internacional e constitui princípio geral do direito, uma vez que “a vigência dos direitos humanos independe de sua declaração em constituições, leis e tratados internacionais, exatamente porque se está diante de exigência de respeito à dignidade humana, exercidas contra todos os poderes estabelecidos, oficiais ou não” (COMPARATO, 2007, p. 227).

Nesse sentido, a DUDH não deixa de ser um documento importante como fonte valorativa das relações entre as pessoas e entre os Estados e na promoção do desenvolvimento. Apesar de não reconhecer expressamente o direito ao desenvolvimento, a Declaração reafirma os fundamentos do que poderia conter qualquer programa ou política pública que vise promover e concretizar o direito humano ao desenvolvimento.

Durante a 97.ª Sessão Plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas foi aprovada com maioria esmagadora de 146 votos a favor, um contra (dos Estados Unidos da América) e oito abstenções48 a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento através da Resolução n. A/RES/41/128, de 04 de dezembro de 198649. Desta feita, a referida Declaração tornou-se o documento internacional mais completo ao abordar o conceito de desenvolvimento como direito humano.

A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento contém um Preâmbulo e dez artigos, é sustentada e inspirada nos princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas relativos à cooperação internacional para promoção dos direitos humanos e para o desenvolvimento, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos dois Pactos de 1966 (PIDCP e PIDESC).

Também é importante frisar que a Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento não é um Tratado em sentido estrito do termo, dito de outro modo, a não tem força jurídica que vincula os Estados. E, como tal, também não vincula o Estado angolano. No entanto, a declaração contém princípios, recomendações e normas que podem servir de elementos

48 Abstiveram-se a Dinamarca, a Alemanha, Reino Unido, Finlândia, Islândia, Suécia, Japão e Israel. Para mais detalhes, vide: Cançado Trindade, Op. cit., 1993a, p.173; Felipe Gómez Isa, 1999.

49 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolução n. A/RES/41/128 aprova a Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.un.org/spanish/documents/ga/res/41/list41.htm>. Acesso em: 17 mar. 2013. Versão da Declaração utilizada na dissertação. Disponivel em:<

relevantes para melhor interpretação, integração, compreensão, promoção e proteção do direito humano ao desenvolvimento. Por exemplo, para uma melhor compreensão do conteúdo do artigo 22 da Carta Africana também se pode recorrer aos conteúdos da referida Declaração de 1986.

Atualmente, a Declaração de 1986 constitui normas de soft law relativos ao direito ao desenvolvimento (PIOVESAN, 2010, p. 107; FILHO, R., 2013, p. 210).

Quais são as principais propostas apresentadas pela Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento?

Primeiro: Reconhece que o desenvolvimento “é um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa a melhoria constante de toda a população e todos os indivíduos com base na sua participação ativa, livre e significativa no processo de desenvolvimento e na justa distribuição dos benefícios dele derivados” (Preâmbulo).

Segundo: Reconhece que “a pessoa humana é o sujeito central do processo de desenvolvimento e que a política de desenvolvimento deve assim fazer com que o ser humano seja o principal ator e beneficiário do desenvolvimento” (Artigo 2.º).

Terceiro: Confirma que o desenvolvimento é “um direito humano inalienável e que a igualdade de oportunidades para o desenvolvimento constitui uma prerrogativa tanto das nações como dos indivíduos que as compõem” (Preâmbulo).

Quarto: Declara que o desenvolvimento é “um direito humano inalienável em virtude do qual todos os seres humanos e todos os povos têm o direito de participar, de contribuir e de gozar o desenvolvimento [...] no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais se possam realizar plenamente” (artigo 1.º, n. 1). Reconhece ainda que o direito ao desenvolvimento “implica também a plena realização do direito dos povos à autodeterminação” e o “exercício do direito inalienável à plena soberania sobre todas as suas riquezas e recursos naturais” (n. 2 do artigo 1.º).

Quinto: Declara que é responsabilidade dos Estados “formular políticas nacionais de desenvolvimento adequadas que visem uma constante melhoria do bem-estar de toda a população e de todos os indivíduos com base na sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento” (n. 3 do artigo 2.º); criar “condições nacionais e internacionais favoráveis à realização do direito ao desenvolvimento” (n. 1 do artigo 3.º) e distribuir equitativamente os benefícios daí decorrente.

A responsabilidade do Estado implica a adoção de medidas políticas, legislativas, administrativas, a formulação e implementação de políticas públicas que visam assegurar o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, entre os quais “a igualdade de

oportunidade para todos, no acesso aos recursos básicos, à educação, aos serviços de saúde, à alimentação, à habitação, ao emprego e a uma equitativa distribuição dos rendimentos [...], garantir a participação das mulheres [...], erradicar as injustiças sociais” e encorajar a participação dos cidadãos no processo de desenvolvimento (artigo 8.º).

Sexto: Reafirma, finalmente, “todos os aspectos do direito ao desenvolvimento enunciados na presente Declaração são indivisíveis e interdependentes, e cada um deles deve ser considerado no contexto do conjunto de todos eles” e o seu conteúdo deverá ser interpretado no âmbito dos objetivos e princípios das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e os dois Pactos de Direitos Humanos (artigo 9.º). Desse modo, não há dúvidas de que a Declaração coloca inequivocamente a pessoa humana no centro de qualquer política e processo econômico.

Apesar das divergências no momento da sua elaboração e aprovação, a Declaração procura clarificar os sujeitos, o conteúdo e os fundamentos do direito ao desenvolvimento, reafirmou a indivisibilidades dos direitos humanos e a interdependência entre direitos civis e políticos e econômicos, sociais e culturais como garantia do desenvolvimento, clarificou o papel do Estado e dos cidadãos, quer a nível individual ou coletivo, no processo de desenvolvimento, e a necessidade de o Estado adotar medidas nacionais e estabelecer a cooperação internacional para garantir a efetivação do direito ao desenvolvimento.

De sua parte, Antônio Augusto Cançado Trindade (1993a, p. 173) comenta:

A Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento das Nações Unidas de 1986, afirma com toda clareza que “a pessoa humana é sujeito central do desenvolvimento e deveria ser participante ativo e beneficiário do direito ao desenvolvimento” (artigo 2(1), e Preâmbulo). Qualifica o direito ao desenvolvimento como “um direito humanos inalienável” de “toda pessoa humana e todos os povos” (artigo 1), em virtude do qual estão ‘habilitado a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam plenamente realizados (artigo 1(1)).

Como proposto na Declaração de 1986, “o direito ao desenvolvimento, [...] vem, a seu turno, no contexto de iniciativas desenvolvimentistas, reforçar os direitos existentes e a interdependência e indivisibilidade dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais” (TRINDADE, 1993a, p.190).

De sua parte, Felipe Gómez Isa (1999, p. 111) sustenta que a Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento de 1986 constitui uma etapa para codificação e desenvolvimento progressivo do direito humano ao desenvolvimento.

Já Arjun Sengupta (2002a, p. 69) explicita que a Declaração sobre o direito ao desenvolvimento sugere quatro propostas principais:

(A) O direito ao desenvolvimento é um direito humano. (B) O direito humano ao desenvolvimento é um direito a um processo particular de desenvolvimento no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais podem ser totalmente realizados – o que quer dizer que combina todos os direitos apresentados em ambos acordos e cada um dos direitos deve ser exercido com liberdade. (C) O significado do exercício desses direitos em paralelo com a liberdade implica em livre, efetiva e total participação de todos os indivíduos implicados no processo decisório e na implementação do processo. Portanto, o processo deve ser transparente e passível de avaliação, os indivíduos devem ter oportunidades iguais de acesso aos recursos para o desenvolvimento e receber distribuição justa dos benefícios do desenvolvimento (e renda). (D) Finalmente, o direito ao desenvolvimento confere inequívoca obrigação aos participantes: indivíduos na comunidade, Estados a nível nacional e Estados a nível internacional. Estados nacionais têm a responsabilidade de ajudar a realização do processo de desenvolvimento através de políticas de desenvolvimento apropriadas. Outros Estados e agências internacionais têm a obrigação de cooperar com os estados nacionais para facilitar a realização do processo de desenvolvimento.

Por outro lado, sobre o impacto da Declaração no processo de reconceitualização do direito humano ao desenvolvimento, Robério Nunes dos A. Filho (2013, p. 46) observa: “A adoção da noção de desenvolvimento humano no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, é reflexo direto, ainda, da Declaração das Nações Unidas sobre

Direito ao Desenvolvimento, de 04 de dezembro de 1986” (Grifos do autor).

Com a adoção da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento pelas Nações Unidas deu-se um importante avanço no plano internacional, sobretudo no que concerne aos direitos humanos e às relações econômico-comerciais entre os Estados, para reafirmação do desenvolvimento como direito humano, tal como também já tinha estipulado a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Nesse sentido, como bem observa Flávia Piovesan (2010, p. 116), a Declaração de 1986 deve ser compreendida como um instrumento vivo e dinâmico capaz de responder aos desafios contemporâneos, como sejam, a urgência da implementação do direito ao desenvolvimento e a realização de outros direitos a fim de proteger a dignidade da pessoa humana.

Além do mais, existem outras resoluções aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas que são relevantes para reconhecimento do direito ao desenvolvimento que, de acordo com Salem Hikmat Nasser (2005, p. 212), fazem parte do costume internacional, como por

exemplo: 1) Declaração sobre a concessão da Independência dos Países e Povos Colonizados aprovada através da Resolução n. 1514 (XV) de 14 de dezembro de 1960; 2) Estratégia para a Primeira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Programa de Cooperação Econômica Internacional, aprovada pelas Resoluções n. 1710 (XVI) e 1715 (XVI) de 19 de dezembro de 1961; 3) A Declaração sobre a soberania permanente sobre os recursos naturais aprovadas pela Resolução n. 1803 (XVI) de 1962; 4) Declaração do Cairo de 1972, aprovada pela Resolução n. 1.820 (XVII) de 18 de dezembro de 1962, que inspirou a realização da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento realizada em Genebra em 1964; 5) Estratégia da Segunda Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento através da Resolução n. 2626 (XXV) de 24 de outubro de 1970; 6) Programa de Ação sobre a instauração de uma Nova Ordem Econômica Internacional, aprovado pela Resolução n. 3.201 de 1974; 7) A Carta dos Direitos Econômicos e Deveres dos Estados, aprovada pela Resolução n. 3.281 (XXIX) de 12 de dezembro de 1974; 8) Estratégia Internacional de Desenvolvimento para a Terceira Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento aprovada pela Resolução n. A/RES/35/56 de 5 de dezembro de 1980.

Além disso, são ainda exemplos, a Declaração de Progresso Social e Desenvolvimento [aprovada pela Resolução n. 2542o (XXIV) de 11 de dezembro de 1969] e a Declaração do Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Mundial [aprovada pela Resolução 3201 (S-VI) de 01 de maio de 1974].

De certa forma, como já viu acima, pode-se dizer com André de Carvalho Ramos (2013, p. 66) que:

[...] as resoluções da Assembleia Geral da ONU são consideradas hoje uma importante etapa na consolidação de costumes de Direito Internacional de Direitos Humanos existentes, tendo contribuído também na formação de novas regras internacionais, como demonstram as diversas convenções internacionais de direitos humanos, originariamente resoluções da Assembleia Geral.

Por outro lado, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992, resultou a aprovação da Declaração

do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 2150, dando maior alusão ao

50 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a

Agenda 21 (A/CONF.151/26, v. I, de 1992) Texto Disponível em:

<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/declaracao-sobre-meio-ambiente-e-desenvolvimento.htmm>. Acesso em: 19 maio 2013.

“desenvolvimento sustentável”. Esta declaração também constitui fonte do direito ao desenvolvimento.

A Declaração consagrou a noção de desenvolvimento sustentável e reafirmou que o ser humano é o centro do desenvolvimento, que é também um direito humano. A Declaração do Rio afirmou o direito humano a uma vida sadia e produtiva em harmonia com a natureza (Princípio 1); que o direito ao desenvolvimento deverá ser exercido de modo a possibilitar que sejam satisfeitas equitativamente as necessidades das gerações presentes e futuras (Princípio 3); para se chegar a um desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve ser parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser visto isoladamente (Princípio 4); reforçou que o combate e a erradicação da pobreza devem constituir tarefa fundamental para os Estados promovam o desenvolvimento sustentável e a melhoria dos padrões de vida da população do mundo (Princípio 5); reafirmou que para se chegar a um desenvolvimento sustentável e a uma melhor qualidade de vida para todos os povos, os Estados deverão reduzir e eliminar os modos de produção e de consumo não viáveis e promover políticas demográficas apropriadas (Princípio 8); reafirmou a importância do direito à informação, do direito de participação pública no processo decisório na gestão e avaliação do impacto e gestão ambiental, sobretudo, o papel dos jovens, da mulher e das comunidades na realização de um desenvolvimento sustentável (Princípios 10, 20, 21 e 22) e apelou a importância do papel da educação e consciencialização pública para se atingir o desenvolvimento sustentável (Princípio 36).

De acordo com os pressupostos teóricos expostos, algumas declarações adotadas nas Conferências de Direitos Humanos, promovidas pelas Nações Unidas também podem ser consideradas costume internacional porque, de uma maneira geral, demonstram a necessidade de se concretizar o direito humano ao desenvolvimento. A título de exemplo, citam-se: 1) A Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993, aprovada na II Conferência Mundial sobre Direitos Humanos51; 2) O Programa de Ação do Cairo aprovado na Conferência Internacional sobre a População e Desenvolvimento realizada no Cairo-Egito, em 199452; 3) O Programa de Ação de Copenhague aprovada na Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social realizada

51 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração e Programa de Ação de Viena (A/CONF.157/23/Rev.1). Disponível em: <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/decl-prog-accao- viena.html.>. Acesso em: 18 mar. 2013.

52 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Programa de Acão do Cairo (A/CONF. 171/13/Rev.1) de 18 de outubro de 1994.

em Copenhague, de 6-12 de março de 199553; 4) Declaração de Pequim adotada na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Pequim, em Setembro de 199554; 5) Declaração de Istambul e Agenda Habitat aprovada II Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos (Habitat II), em Istambul (A/CONF.165/14, 07 de agosto de 1996); 6) A Declaração das Metas ou Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas pela Resolução n. A/RES/55/2 de 13 de setembro de 200055; 7) A Declaração e Plano de Ação Durban aprovada na Conferência Mundial contra o Racismo, Descriminação Racial, a Xenofobia e formas conexas de Intolerância (A/CONF. 189/12 de setembro de 2001); 8) Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012, (A/CONF.216/L.1 Rio+20).

Todas as declarações elencadas fazem parte do costume internacional e constituem fontes para reconhecimento e exercício do direito humano ao desenvolvimento.

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