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Apesar do carácter exploratório deste estudo, julgamos que sai refor- çada a ideia de que, não sendo naturalmente exclusivo ou excludente de outras práticas de investigação, há vantagens em optar por metodologias qualitativas e participativas, em especial com jovens. Numa sociedade «adultocêntrica», há temas, espaços e lógicas relacionados com a juven- tude que estão praticamente vedados aos jovens, por estes serem, não raras vezes, vistos como adultos em construção. As entrevistas e os grupos focais constituem-se como excelentes pontos de partida para um trabalho participativo, no qual a robustez das propostas já consagradas pode ser completada com uma participação efetiva dos participantes da pesquisa. As grandes vantagens que encontrámos no processo centraram-se no facto de os jovens identificarem que estavam a ter voz em algo para o qual habitualmente não são convocados como atores e onde a sua opi- nião não é considerada – questões ligadas ao jornalismo e à participação. Este método levou a que refletissem melhor sobre os seus processos in- dividuais e também sobre a pesquisa. Além disso, sobretudo para os que estiveram envolvidos nos grupos focais participativos, estabeleceu-se a possibilidade de contactarem pessoas de fora, além do núcleo restrito da pesquisa. Isto foi especialmente relevante para os jovens que gostariam de debater, mas não encontravam a oportunidade para o fazer, aprovei-

tando, deste modo, esta ocasião para introduzir uma forma de «sociologia política» nos seus contextos do dia a dia.

As limitações que podemos identificar relacionam-se sobretudo com o carácter exploratório da pesquisa e com o facto de não ter sido dada formação particular aos participantes para realizarem as minientrevistas. A formação específica poderia ter proporcionado um avanço maior na pesquisa e também reforçado processos educativos. Em todo caso, esta ausência de formação também permitiu identificar a forma como os jo- vens foram capazes de refletir no imediato sobre os diversos processos em que foram chamados a pronunciar-se.

Poderia ter havido um progresso ainda maior se estes jovens tivessem efetivamente trabalhado nas análises, indo além do papel que tiveram enquanto quasi-investigadores. A opção de poderem analisar será inevi- tavelmente controversa, mas julgamos que em pesquisas posteriores este poderá ser um enfoque a ter em conta, desde que acauteladas questões de verificação e de validação.

Consideramos que o facto de estes jovens terem sido sempre encara- dos enquanto sujeitos e participantes, em vez de objetos de pesquisa, foi preponderante para que não tivesse havido uma quebra acentuada entre as diferentes fases de investigação. Além disso, sentiram que tanto no processo de reflexão como no de ação foram válidos para a pesquisa.

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