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3 O USO ESTRATÉGICO DAS INSERÇÕES NEGATIVAS NAS ELEIÇÕES

4.4 A realidade eleitoral brasileira: cenários de competição

4.4.2 Eleições majoritárias com três candidatos

O traço marcante das eleições majoritárias com três ou mais candidaturas é a alta probabilidade de a eleição ser decidida no segundo turno. Nos cenários com a participação de somente dois partidos (ou duas coalizões) esta expectativa está simplesmente vedada, pelo simples fato de que a ausência de uma terceira força eleitoral transforma a competição num modelo de maioria simples – até porque, no Brasil, a contagem dos votos válidos exclui os votos dados em branco e anulados.

Nos sistemas com três candidatos, o fato que determina a extensão da competição é a sua própria dinâmica. A realidade política brasileira é rica em exemplos de disputas eleitorais que pareciam destinadas a um desfecho previsível e uma terceira força, desprezada no início do ano eleitoral, acaba se firmando como o novo governo estabelecido. Neste sentido, os cenários expostos a seguir devem ser vistos como marco inicial das disputas políticas e nunca como uma situação predeterminada.

4.4.2.1 Cenário dominante

O cenário dominante é, entre todos os cenários pluralistas, o que proporciona a possibilidade mais remota de segundo turno. Como visto anteriormente, o cenário dominante tem como traço marcante uma distribuição de recursos na qual a maioria absoluta dos votos se apresenta, ao menos inicialmente, sob o alcance de apenas um candidato. A diferença entre os dois modelos dominantes é a gama de alternativas eleitorais disponíveis quando consideramos uma eleição com mais de dois candidatos, cenário mais frequente no fragmentado sistema político brasileiro.

Gráfico 6 a seguir mostra que o candidato localizado na mediana do eleitorado possui incentivos para permanecer na posição que ocupa. Seu discurso aqui será, mais uma vez, estrategicamente conservador, apresentando-se como o garantidor de um futuro ainda melhor. Assim, sob a ótica estratégica da campanha negativa, o candidato dominante empreenderá uma campanha “limpa”, com a postura acima da briga, com mensagens majoritariamente positivas. Ele poderá lançar mão da tática do terrorismo e, dependendo da evolução do cenário, centrar fogo sobre um pequeno candidato que porventura vier a ganhar fôlego durante a disputa, mas nunca partirá dele a iniciativa do jogo. No cômputo geral, no entanto, a incidência de ataques será próxima de zero, pois não há motivos para empreender uma estratégia que pode causar impacto indesejável.

As possibilidades de estratégias eleitorais também são mais amplas para os partidos desafiantes. Uma estratégia possível é a formação de uma aliança entre eles com o objetivo de reunir forças contra o partido dominante. Esta estratégia é frequente na realidade política brasileira. Outra estratégia possível é um pacto extraoficial, no qual os pequenos partidos se unem, mas não se coligam, apenas reúnem forças contra o partido dominante. Não há ataques entre eles e todos os candidatos se voltam contra o partido dominante. Nessas duas ocasiões, a tentativa dos partidos retardatários é estender a competição até o segundo turno, quando poderão acabar com a hegemonia do partido dominante.

Gráfico 6 – Cenário Unimodal Dominante com Três Candidatos 0 10 20 30 40 50 60 70

Extrema Esquerda Esquerda Centro Direita Extrema Direita

Indeciso Candidato 1 Candidato 2 Candidato 3 Indeciso

Fonte: Elaboração do autor.

Em suma, o modelo dominante – tanto em sistemas bipartidários quanto em sistemas pluralistas – tem como hipótese central o incentivo de o partido dominante manter um discurso conservador por natureza. As hipóteses para os partidos menores também são parecidas. Eles terão que, necessariamente, atacar o partido dominante. Em sistemas pluralistas, os partidos pequenos podem ainda se unir em torno de alianças, formais ou informais, e com isso disputar a mediana do eleitorado contra o partido dominante ou tentar modificar a mediana, cenário menos provável, já que uma coligação de perfil heterogêneo dificilmente convencerá o eleitorado sobre novas questões, já que discordam de várias delas.

4.4.2.2 Cenário subdominante

O cenário subdominante é uma variante do modelo dominante. Consiste no contexto eleitoral em que o partido favorito não tem força política suficiente para vencer a disputa no primeiro turno. Tecnicamente, denota o panorama no qual o partido que lidera as pesquisas soma algo perto de 50% da preferência eleitoral, mas a maioria absoluta de votos está diluída entre os demais partidos concorrentes. Nos termos da competição espacial, o partido favorito está localizado muito próximo da mediana do eleitorado e, por esse motivo, a disputa principal recai sobre qual partido desafiante irá para o segundo turno.

O Gráfico 7 a seguir ajuda a compreender o cenário subdominante. Neste cenário, o partido subdominante possui duas estratégias alternativas. Como já está com a vaga

assegurada no segundo turno, sua movimentação no eixo político será de caráter mínimo, quase residual, de forma a obter a maioria de votos ainda no primeiro turno. Sua estratégia política será a emissão de mensagens majoritariamente positivas, pois não precisa inverter tendências que já se mostram favoráveis. Por outro lado, sua ação eleitoral não se restringe a construir uma coalizão majoritária de eleitores. O partido subdominante tem estímulos para intervir na disputa entre os segundos colocados, de modo a ter como rival o partido que considera mais fácil de vencer – ou pode, se necessário, antecipar alguns ataques ao candidato que ele calcula que enfrentará na etapa seguinte.

Gráfico 7 – Cenário Unimodal Subdominante com Três Candidatos

0 10 20 30 40 50

Extrema Esquerda Esquerda Centro Direita Extrema Direita

Indeciso Candidato 1 Candidato 2 Candidato 3 Indeciso

Fonte: Elaboração do autor.

Em relação às táticas de campanha dos partidos menores, precisamos excluir da análise o somatório das preferências dado ao partido subdominante e observar a distribuição de poder que sobra entre os demais. Com base neste exercício, teríamos dois possíveis cenários de competição. O primeiro significa o formato de disputa em que dois candidatos competem para saber quem avança para o segundo turno. Este modelo de disputa é, por excelência, idêntico ao modelo bipartidário. Significa que os dois partidos travarão entre eles a disputa de quem irá para o segundo turno. Do ponto de vista da campanha negativa, o candidato situado em terceiro tem duas estratégias ao seu alcance: tentar polarizar com o candidato subdominante para passar a imagem de que ele é o verdadeiro opositor ou entrar num embate direto com o candidato em segundo objetivando a troca de posições. O candidato em segundo, por sua vez, tentará ignorar o candidato que está em terceiro e somente o atacará

caso sinta que sua posição está ameaçada. Em todo caso, o primeiro movimento será iniciado pelo candidato em terceiro.

É neste ponto que a ideologia assume papel central na formulação das estratégias eleitorais. Quando a disputa pela segunda colocação for entre partidos conectados ideologicamente, existe a chance de ocorrer o dilema debatido na seção anterior. Atacar ou não? A hipótese é a de que o conflito entre partidos “companheiros” existirá, contudo em níveis inferiores ao estimado em caso de disputa entre candidatos ideologicamente rivais. O Gráfico 8 ilustra a situação. É possível observar que a soma dos candidatos de esquerda supera o percentual do candidato subdominante. A decisão, portanto, de atacar um partido conectado pode provocar no futuro uma cisão entre os candidatos e as suas bases eleitorais. Neste sentido, o incentivo é para a cooperação, com vistas a troca de benefícios futuros, seja a troca de apoio do segundo turno ou a participação numa possível coalizão de governo.

Gráfico 8 – Cenário Unimodal Subdominante com Três Candidatos

0 10 20 30 40 50

Extrema Esquerda Esquerda Centro Direita Extrema Direita

Candidato 1 Candidato 2 Indeciso Candidato 3 Candidato 4

Fonte: Elaboração do autor.

O segundo cenário possível trata do modelo de competição no qual mais de dois candidatos possuem chances matemáticas de enfrentar o candidato favorito no segundo turno. Sob a lógica da competição eleitoral, este cenário é idêntico ao cenário fragmentado, que será tratado adiante.