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A energia é uma infraestrutura determinante no desenvolvimento das regiões. Sua falta ou escassez restringe a produção de mercadorias, o transporte dos insumos e produtos inais,

os deslocamentos das pessoas, entre outras limitações. As máquinas e equipamentos utilizados pelas indústrias têm na energia seu principal insumo para funcionarem. O uso de diferentes formas de energia permite potencializar o trabalho humano, ao mesmo tempo em que reduz a dependência de suas limitações físicas. Muitas fontes de energia foram utilizadas pela humanidade ao longo de sua história. Serão vistas apenas as principais fontes atuais, principalmente as utilizadas no Brasil e particularmente no Paraná, visando identiicar a importância desta infraestrutura no desenvolvimento desse território e como sua disponibilização interferiu na organização do espaço regional. Dentre as mais importantes para o desenvolvimento recente se destacam a energia proveniente da hidroeletricidade e do petróleo, sendo a lenha bastante utilizada até as primeiras décadas do século XX.

Em recente estudo sobre a relação entre a produção de energia e o desenvolvimento do estado do Paraná, Torres e Ferreira concluíram “que a oferta de infra-estrutura, representada neste caso, pela produção de energia gerou de fato efeitos positivos em termos de crescimento econômico”. (TORRES; FERREIRA, 2006, p. 137). Mas os benefícios proporcionados por esse crescimento da produção de energia icou muito aquém das suas possibilidades. Esses autores defendem que há a necessidade de “buscar melhor compreensão dos determinantes da dinâmica estadual de crescimento econômico em todo o seu território para melhor adequação entre recursos escassos e reais necessidades”. (TORRES; FERREIRA, 2006, p. 138).

No Brasil a capacidade de produção de energia instalada no inal do século XIX era muito baixa, não chegando a 10.000 quilowatts, somando as duas principais fontes: a térmica e a hidráulica. No início

28. Na Mensagem do Governador à Assembleia Legislativa de 1936 (p. 104-105) encontra-se trecho com informações

do século XX a capacidade instalada foi ampliada signiicativamente. Foram quase 140 mil quilowatts (140 megawatts) de energia hidráulica e pouco mais de 20 mil quilowatts (20 megawatts) de energia térmica de capacidade instalada em 1910, conforme pode ser visto no gráico 01 a seguir:

De forma bastante simpliicada, pode-se airmar que a produção e distribuição de energia no Brasil e no Paraná até o início do século XX foram feitas por meio de concessão do direito de exploração à iniciativa privada.

De 1889 a 1930, o governo brasileiro manteve-se relativamente ausente de certos setores da esfera econômica, não intervindo nas áreas afetas ao desenvolvimento industrial, relegadas que estavam à iniciativa privada. Foi nesse período que se consolidou no Brasil a presença das grandes

empresas estrangeiras, tanto no setor de energia elétrica como em outras áreas dinâmicas da economia. (UFPR/DH, 1994, p. 25).

Como o interesse dessas empresas era o lucro, “o investimento estrangeiro dirigia-se preferencialmente para os setores estratégicos da economia” (UFPR/DH, 1994, p. 27), visando maximizar o retorno do capital, e

A produção, difusão e utilização de energia elétrica traziam consigo contradições percebidas sobretudo no mercado. De um lado, as produtoras caracterizavam-se pela multiplicidade de unidades isoladas e desarticuladas, já que o aumento de consumo havia promovido a abertura de novas frentes a partir de concessões municipais. De outro, confundiam-se com grupos de capital internacional estabelecidos, principalmente durante a República Velha, nos centros mais densos e dinâmicos da economia brasileira, como Rio de Janeiro e São Paulo. (UFPR/DH, 1994, p. 27).

As indústrias resolviam seus problemas de energia procurando se localizar próximas às fontes, notadamente a hidráulica, que foi a energia mais barata até a década de 1930. (UFPR/DH, 1994, p. 22).

A implantação de novas fontes, mais baratas para o consumidor, mas que exigiam grandes investimentos iniciais, como o caso das hidroelétricas, foi a saída encontrada para resolver o problema da escassez. A iniciativa privada não se interessava por esse investimento, pois o tempo de retorno do capital era (e ainda é) muito grande. Assim, o Estado passou a assumir a função de investir na infraestrutura de produção de energia, pois

[...] o Estado, no momento que quer potencializar e aumentar a taxa geral de acumulação, se vê obrigado, por um lado, a intervir nos setores produtivos que, pelo volume de capitais necessários e baixa rentabilidade potencial, não podem ser assumidos pelo capital privado (sendo no entanto fundamentais para o desenvolvimento) e por outro a assumir a criação das condições gerais urbanas e regionais que até aí tinham sido votadas ao abandono.t (LAMPARELLI; GEORGE; CAMARGO, 1997, p. 36).

Respondendo à necessidade de produzir energia barata, foi construída a primeira hidroelétrica do Paraná, a Usina Chaminé, que “entrou em operação em 1930, com uma potência instalada de 9.000kW, sendo a primeira usina de porte do Paraná. O seu funcionamento levou à extinção da termelétrica Capanema29 [...]”. (UFPR/DH, 1994, p. 56).

Localizada a 79 quilômetros de Curitiba, no rio São João, município de São José dos Pinhais, resolveu o problema de abastecimento de energia da Capital naquele momento.

As limitações técnicas para o emprego da energia elétrica na industrialização eram grandes, pois as tecnologias existentes apresentavam muita perda, obtendo-se baixa eiciência. As indústrias existentes no Paraná até meados do século XX tinham que resolver seus problemas de energia da mesma forma que as demais indústrias que se instalavam no País, e

Até 1930, dominava a exploração privada dos serviços de energia elétrica no Brasil. Umas poucas empresas estrangeiras monopolizavam a produção e a distribuição de energia nos grandes centros urbanos e industriais; a produção concentrava-se nas áreas mais adensadas, inexistindo qualquer interligação entre os centros consumidores. [...] (UFPR/DH, 1994, p. 63).

Os municípios paranaenses resolviam o problema da iluminação pública contratando os serviços de empresas que produziam a partir de termoelétricas movidas a lenha ou óleo diesel. Essas empresas nem sempre disponibilizavam bons serviços e havia muita reclamação da população das cidades como é relatado no livro “Um século de eletricidade no Paraná”. (UFPR/DH, 1994).

Na década de 1930 “todos os grandes centros urbanos do Paraná eram atendidos por empresas privadas. [...] [e poucas] municipalidades tinham seus serviços de energia mantidos pelas próprias prefeituras e/ou autoprodutoras”. (UFPR/Dh, 1994, p. 95).

O Estado passou a ser cobrado para resolver o problema do abastecimento de energia em função do aumento da urbanização e da necessidade de ampliar o acesso à energia a mais amplos setores, que nem sempre eram os mais rentáveis para o capital.

Em 1934, foi decretado o Código das Águas regulamentando a utilização das águas e do potencial hidráulico, em território brasileiro,

29. Usina Térmica que abastecia Curitiba desde 1901, com dois motores diesel com 200 HP de potência inicial cada e

entre outros aspectos. Regulamentou a indústria hidroelétrica com capítulos que tratam do aproveitamento da energia hidráulica, da propriedade das quedas d’água, concessões, autorizações, iscalização e competência da União e dos Estados na regulamentação e exploração das águas. Regulamentou ainda a produção, a transmissão, a transformação e a distribuição de energia hidroelétrica. (DECRETO FEDERAL nº 24.643/1934). Entretanto, a exploração desse potencial ainda levou algum tempo até ganhar a importância que passou a ter a partir de meados do século XX.

4.10 - A estruturação do setor de