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5.2 Início da política de industrialização

O Plano da SAGMACS

Para realizar as mudanças, o novo Governo contratou em 1961 um estudo cientíico visando deinir as iniciativas que pudessem reorientar o desenvolvimento do Estado, que detectou os principais problemas socioeconômicos e estruturais do Estado. Conforme analisado por Lourenço (2003):

a partir de algumas premissas levantadas em estudos realizados pelo padre Lebret e em teses defendidas pela Democracia Cristã, foi montado uma espécie de modelo de desenvolvimento, materializado na criação da Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar) em 1962. (LOURENçO, 2003, p. 119).

Coube à Comissão de Planejamento Econômico do Paraná (PLADEP) e Companhia de Desenvolvimento do Estado do Paraná (CODEPAR) encomendar à Sociedade de Análises Gráicas e Mecanográicas Aplicadas aos Complexos Sociais (SAGMACS) um “Plano de Desenvolvimento do Paraná” que foi inalizado em 1963. O trabalho entregue apresentou o diagnóstico do Estado e propôs algumas diretrizes, entre as quais a implantação de sistemas de comunicação entre as principais regiões visando sua integração, pois identiicou que

o Paraná se apresenta atualmente com território fundamentalmente desintegrado, comportando áreas, que do ponto de vista das funções econômicas ou sociais são freqüentemente isoladas ou tributárias de sistemas extra-estaduais. Em consequência, enfraquece-se a própria unidade administrativa. (SAGMACS, 1963, p. 48).

As implicações dessa “divisão” do Estado se reletiam tanto em aspectos econômicos como políticos. Nos econômicos com a perda de

parte signiicativa das receitas da produção das regiões norte, oeste e sudoeste, que tinham seus principais laços econômicos com São Paulo ou Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No aspecto político, pela perda progressiva da representatividade dos grupos dominantes que comandavam o Estado, até então predominantemente situados em Curitiba, conforme visto.

Entre as diretrizes que foram absorvidas pela administração, transformadas no lema “integrar e desenvolver”, estão a criação de regiões administrativas (igura 32)e o investimento em infraestrutura básica que possibilitasse industrializar o Paraná e, ao mesmo tempo, superar a dependência do setor primário. (SAGMACS, 1963; PADIS, 1981; AUGUSTO, 1978). A integração seria conseguida com a construção de uma rodovia interligando as duas regiões e a infraestrutura básica era dotar o Estado de energia que possibilitasse atrair indústrias.

No âmbito nacional, em 1962 foi elaborado o Plano Trienal, para o período de 1963 a 1965, que abordou, entre outros, o aspecto especíico da questão agrícola, airmando que

Todos os estudos e investigações sobre as causas do atraso relativo da agricultura brasileira, da sua baixa produtividade e da pobreza das populações rurais conduzem, unânime e inevitavelmente, à identiicação das suas origens na deiciente estrutura agrária do País, a qual se constitui no mais sério obstáculo à exploração racional da terra, em bases capitalistas e de permanente aprimoramento tecnológico da atividade agrícola, que viriam a emprestar à produção a lexibilidade reclamada pelo processo de desenvolvimento da economia nacional e pelo rápido crescimento da população. (BRASIL, 1962, p. 140).

A distorção da estrutura fundiária brasileira também se repetia no Paraná, com suas particularidades. Baseado em dados de Cancian (1977), Tomazi (1989, p. 190-193) mostra que a estrutura agrária implementada na região já possuía certo grau de concentração desde

Fonte: SAGMACS, 1963.

seu início, desmistii cando ser o projeto um processo de “distribuição de terras” como a CTNP/CMNP tanto ai rma em seus documentos. Ainda conforme Tomazi (1989), enquanto 2,17% detinham 24,07%, a outros 72,81% só cabiam 32,06% das áreas compradas, ou seja, “a maioria dos proprietários, já no ato de venda/compra tinham (sic)

pouca terra e uma minoria expressiva dos proprietários tinham (sic) um volume muito grande de terras”. (TOMAZI, 1989, p. 191). Demonstra ainda que, embora o tamanho médio das propriedades fosse de apenas 14 alqueires, analisando essas médias por estrato, são possíveis outras conclusões.

Número de % % Total da Área % % Proprietários acumulado em alqueires acumulado

Até 10 alqueires 25.560 72,81 72,81 151.085,30 32,06 32,06 De 10,1 a 30 alqueires 7.282 20,74 93,55 136.865,20 29,04 61,10 De 30,1 a 60 alqueires 1.501 4,28 97,83 69.899,50 14,83 75,93 Acima de 60 alqueires 760 2,17 100,00 113.410,39 24,07 100,00

Fonte: Arquivo da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). Org. por Tomazi,1989, p. 191, baseada em Cancian, 1977 e adaptações de Bergoc, G.J., 2012.

Até 10 alqueires 25.560 72,81 72,81 151.085,30 32,06 32,06

De 30,1 a 60 alqueires 1.501 4,28 97,83 69.899,50 14,83 75,93

Fonte: Arquivo da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). Org. por Tomazi,1989, p. 192, baseada em Cancian, 1977 e adaptações de Bergoc, G.J., 2012.

TABELA 04 ÁREA MéDIA DAS PROPRIEDADES POR ESTRATO. - 1930-1974 - (1ALQUEIRE: 24.200M2)

% sobre o total da área % acumulado área média em alqueires

Até 10 alqueires 32,06 32,06 5,91 De 10,1 a 30 alqueires 29,04 61,10 18,79 De 30,1 a 60 alqueires 14,83 75,93 46,57 Acima de 60 alqueires 24,07 100,00 149,22 Até 10 alqueires 32,06 32,06 5,91 De 30,1 a 60 alqueires 14,83 75,93 46,57

Os dados referentes ao período de 1930 a 1974 evidenciam certa concentração da propriedade desde sua origem, constante originalmente das tabelas 9-A, 9-B e 9-C de Cancian (1977, p. 492- 497). Observando as duas tabelas juntas, pode-se ainda inferir que os proprietários dos estratos menores, que eram 93,55% dos proprietários até 30 alqueires, possuíam apenas 61,10% da área vendida, que correspondia a propriedades que, em média, não ultrapassavam 19 alqueires.

Para a década de 1960, segundo Razente (1983),

A pequena propriedade predomina apenas em número de unidades e não em área ocupada. Em 1960, a área ocupada pelas propriedades rurais abaixo de 20 hectares representava apenas 17,9%, 20% entre 20 e 50 hectares; enquanto isso, as propriedades rurais acima de 100 hectares ocupavam 51,3% das terras agricultáveis. (RAZENTE, 1983, p.151).

As questões agrárias adquiriram predominância no Plano Trienal, que fazia parte das “reformas de base”, às quais tiveram de ser redirecionadas na aplicação do Plano depois de sofrer forte pressão contrária dos assalariados contra a proposta inicial de atacar a alta inlacionária com a compressão salarial. Foi assumido também “uma política externa independente, nacionalista”. (SCHIFFER, 1989, p. 48).

Entretanto, a reação da elite culminou no Golpe de Estado de 1964, abortando esse Plano.

A alteração da estrutura agrária para atender aos interesses de aumento de produtividade no campo, para ins capitalistas, como o próprio plano explicitava, era apenas o aspecto aparente do problema. O Congresso Nacional tinha uma grande bancada ligada aos interesses do setor primário, enquanto o Executivo tinha a visão voltada para a remoção dos entraves ao pleno desenvolvimento das forças produtivas

no país, que sugere uma diferença ainda mais profunda. “A disputa colocada, entre a elite dominante representada principalmente pelo Congresso e a “nacionalista-progressista” representada pelo executivo, então o pres. Goulart, era pela primazia do modelo econômico”. (SCHIFFER, 1989, p. 49).

A elite reforça sua associação às empresas estrangeiras, retomando as diretrizes político-econômicas do Plano de Metas de JK, “reinstalando-se o modelo expatriador como meio de impedir a ascensão da burguesia nacional. E novamente para tal entregava-se o controle dos setores dinâmicos às empresas estrangeiras”. (SCHIFFER, 1989, p. 50).

Há diferenças em cada momento histórico como airma Deák (1989), citado por Schiffer (1989), para o qual esta “reimposição se deu através de um enrijecimento político, atestando a perda de hegemonia da elite brasileira”. (SCHIFFER, 1989, p. 50).

A partir de 1964, após o golpe militar que destituiu o governo eleito democraticamente, várias políticas foram implantadas para superar a crise econômica que perdurava desde 1962. Foram realizadas reformas políticas, alijando do poder decisório os grupos não ainados aos interesses da elite dominante. Cita-se entre elas os Atos Institucionais e as cassações de partidos e mandatos de parlamentares, a extinção dos partidos com a criação de apenas dois, submetidos ao controle do Executivo, as alterações no sistema sindical com o cerceamento do direito de greve e a criação do Serviço Nacional de Informação (SNI). A centralização das decisões na esfera federal permitiu ditar os rumos econômicos do País, chegando a instaurar “no país uma política econômica planiicada onde o planejamento central

desempenhou papel determinante” (SCHIFFER, 1989, p. 53), procurando, o governo, envolver a maior parte possível dos setores econômicos visando retomar o processo de acumulação e reprodução capitalista, que levou até 1967. Dentre outros exemplos, Dreifuss (1981, p. 444) airmou que “quase 3% do PNB – Produto Nacional Bruto – foi aplicado, em 1965, em ambicioso programa de expansão da rede rodoviária”.

5.3 - Programa de Ação Econômica