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Como se viu, os jornais lançaram mão de diversos enquadramentos para tratar o BNDES durante os governos FHC e Lula, marcado, conforme denotado na literatura, por diferenças marcantes em sua forma de atuação. Uma primeira inferência a ser feita é que os três jornais tiveram poucas diferenças entre os enquadramentos mais frequentes para informar sobre o Banco em cada um dos períodos.

A fim de ilustrar essas similaridades e algumas diferenças, os quadros abaixo trazem os enquadramentos mais frequentes de cada jornal referente aos dois períodos (1996 a 1998 e 2007 a 2009).

Quadro 13 - Enquadramentos mais frequentes do governo FHC

FSP OESP OG

Fomentador da Privatização (FP) (25%)

Financiador de Investimentos (FI) (17%)

Agente de Governo (AG) (9%) Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE) (11%)

Captador de Recursos (CR) (6%)

Fomentador da Privatização (FP) (36%)

Financiador de Investimentos (FI) (16%)

Locus de Conhecimento (LC) (10%)

Formulador/executor de política econômica (FEPE) (5%)

Agente do Mercado Financeiro (AMF) (5%)

Fomentador da Privatização (FP) (39%)

Financiador de Investimentos (FI) (13%)

Agente do Governo (AG) (12%)

Locus de Conhecimento (LC) (7%)

Agente do Mercado Financeiro (AMF) (5%)

Fonte: Elaborado pela autora

A respeito desse período do governo FHC poucas diferenças são encontradas entre os enquadramentos presentes nos três jornais. O framing FP é sempre o mais verificado em todos os jornais, mudando apenas a proporção da participação do enquadramento em relação ao todo o corpus do período, sendo de 25% na Folha de São Paulo, 36% no O Estado de São Paulo e 39%, no O Globo. Em todos os casos, o enquadramento FI é o segundo colocado. Já os

enquadramentos AG, LC, AMF e FEPE estão na lista dos mais frequentes em pelo menos dois veículos. A exceção se dá no caso do enquadramento CR, que só encabeça a lista da Folha.

Dessa maneira, de forma geral, seis são os enquadramentos mais presentes sobre o BNDES nos principais jornais impressos brasileiros genéricos durante o governo FHC: Fomentador da Privatização (FP), Financiador de Investimentos (FI), Agente de Governo (AG), Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE), Locus de Conhecimento (LC) e Agente do Mercado Financeiro (AMF). Essa informação é confirmada pela tabela a seguir, que traz os enquadramentos sobre o BNDES no período FHC detalhados em números de matérias e porcentagem.

Tabela 16 - Enquadramentos do BNDES no período FHC

Enquadramentos Nº de matérias Porcentagem

Fomentador da Privatização (FP) 529 35,50%

Financiador de Investimentos (FI) 235 15,77%

Agente do Governo (AG) 128 8,59%

Locus de Conhecimento (LC) 126 8,46%

Formulador/executor de política econômica (FEPE) 97 6,51%

Agente do mercado financeiro (AMF) 71 4,77%

Captador de Recursos (CR) 41 2,75%

Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA) 40 2,68%

Participante de Empresa (PE) 35 2,35%

Financiador Social e MPM (FS) 34 2,28%

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) 23 1,54%

Envolvido em Setor Irregular (ESI) 17 1,14%

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) 16 1,07%

Termômetro da Atividade Econômica (TAE) 14 0,94%

Órgão de Poder (OP) 13 0,87%

Banco Lucrativo (BL) 13 0,87%

Instituição que Necessita de Melhorias (INM) 13 0,87%

Atuante Internacionalmente (AI) 5 0,34%

Outros 40 2,68%

Total 1490 100,00%

Fonte: Elaborado pela autora

Os enquadramentos assinalados correspondem a quase 80% dos framings utilizados para tratar o BNDES nos anos 1996, 1997 e 1998 do governo FHC. Pode-se considerar, neste sentido, que o Banco foi fundamentalmente noticiado através destes quadros simbólicos nos principais jornais impressos diários generalistas do Brasil.

Quanto ao período Lula, como foi visto, a distribuição dos enquadramentos mais frequentes se deu de forma menos concentrada. O enquadramento FP praticamente desapareceu e, os outros que estavam imediatamente abaixo, tomaram lugar. Isso pode ser explicado porque as privatizações realmente diminuíram de ritmo a partir de 1999, apesar de não terem deixado

de ocorrer completamente no período Lula, mas em número e grau de importância das empresas bem menor.

Abaixo, tem-se o quadro com os enquadramentos mais verificados no período de 2007 a 2009, referentes ao BNDES durante o governo Lula.

Quadro 14 - Enquadramentos mais frequentes governo Lula

FSP OESP OG

Financiador de Investimentos (FI) (17%)

Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE) (13%)

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) (11%)

Locus de Conhecimento (LC) (7%)

Agente do Governo (AG) (6%)

Envolvido em Setor Irregular (ESI) (6%)

Agente do Mercado Financeiro (AMF) (5%)

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) (4%)

Financiador de Investimentos (FI) (19%)

Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE) (16%)

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) (12%)

Locus de Conhecimento (LC) (11%)

Agente de Governo (AG) (8%)

Termômetro da Atividade

Econômica (TAE) (4%)

Financiador de Investimentos (FI) (23%)

Agente do Governo (AG) (13%)

Mitigador de Efeitos do

Câmbio/Abertura (MECA) (10%) Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE) (8%)

Locus de Conhecimento (LC) (7%)

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) (6%)

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) (5%)

Fonte: Elaborado pela autora

O número de enquadramentos mais frequentes muda de um período para outro para corresponder a uma representação média de 75% em relação ao total do corpus do período do governo Lula. Aqui, cinco são os framings que estão presentes entre os mais constantes nos três jornais analisados: Financiador de Investimentos (FI), Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC), Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE), Locus de Conhecimento (LC) e Agente do Governo (AG). É interessante destacar que, apesar destes enquadramentos serem presentes em todos os jornais, essa frequência se deu de maneira diferente de um para outro.

Outro enquadramento que chama a atenção por estar na lista de dois jornais é o Não Lucrativo Financeiramente (NLF). Já outros aparecem nas listas de mais frequentes de forma mais esporádica: Agente do Mercado Financeiro (AMF), Termômetro da Atividade Econômica (TAE), Envolvido em Setor Irregular (ESI) e Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA). Este último tem um aspecto que se destaca, por ser o segundo mais frequente no jornal O Globo, mas não aparecer em nenhuma das outras listas. Essa diferença específica pode ser explicada pela diferença na interpretação sobre determinadas ações do Banco, que se denotam tanto entre jornais, quanto entre períodos. Este desdobramento será discutido mais adiante.

Neste sentido, a tabela a seguir mostra os enquadramentos mais frequentes no período do governo Lula em tela considerando os dados dos três impressos.

Tabela 17 - Enquadramentos do BNDES no período Lula

Enquadramentos Nº de matérias Porcentagem

Financiador de Investimentos (FI) 307 20,00%

Formulador/executor de política econômica (FEPE) 200 13,03% Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) 162 10,55%

Agente do Governo (AG) 141 9,19%

Locus de Conhecimento (LC) 136 8,86%

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) 70 4,56%

Agente do Mercado Financeiro (AMF) 63 4,10%

Envolvido em Setor Irregular (ESI) 60 3,91%

Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA) 59 3,84%

Captador de Recursos (CR) 57 3,71%

Instituição que Necessita de Melhorias (INM) 49 3,19%

Termômetro da Atividade Econômica (TAE) 47 3,06%

Atuante Internacionalmente (AI) 45 2,93%

Órgão de Poder (OP) 37 2,41%

Banco Lucrativo (BL) 18 1,17%

Participante de Empresa (PE) 17 1,11%

Financiador Social e MPM (FS) 15 0,98%

Fomentador da Privatização (FP) 12 0,78%

Outros 40 2,61%

Total 1535 100,00%

Fonte: Elaborado pela autora

Os enquadramentos em destaque, com sua proporção de aparecimento somadas, são correspondentes a quase 80% dos quadros simbólicos pelos quais o BNDES é visto nos três jornais nos anos de 2007, 2008 e 2009 do governo Lula. Os enquadramentos mais constantes são: Financiador de Investimentos (FI), Formulador/executor de política econômica (FEPE), Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC), Agente do Governo (AG), Locus de Conhecimento (LC), Não Lucrativo Financeiramente (NLF), Agente do mercado financeiro (AMF), Envolvido em Setor Irregular (ESI) e Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA). É possível dizer, dessa maneira, que eles são os principais enquadramentos acionados no tratamento da mídia impressa econômica brasileira à Instituição durante o período Lula estudado neste trabalho.

A partir destas informações sobre como cada período foi tratado de maneira geral pelo jornalismo econômico brasileiro, é possível verificar que, no período Lula, o framing FI assume como o sendo o mais apontado nos jornais quando se trata de BNDES. Este ficava em segundo lugar no caso do período FHC. Outros enquadramentos que se repetem de maneira significativa são AG, FEPE e LC. Estas semelhanças revelam que, apesar de diferenças na atuação do Banco,

boa parte da mídia brasileira continuou a acionar os mesmos quadros simbólicos para tratar sobre o BNDES.

A diferença maior se dá por conta da perda de força do enquadramento de Fomentador da Privatização (FP), que marca de forma a cobertura dispensada ao BNDES durante o governo FHC. Além disso, outros enquadramentos surgem para compor o que seria uma gama fundamental de framings do BNDES no governo Lula. O enquadramento Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) alça aos mais importantes do período Lula representando 10,5% dos framings verificados, enquanto representava apenas 1,5% no período FHC.

De forma minoritária, mas importantes para formar a configuração de enquadramentos principais do governo Lula, outros framings ganham espaço. São eles: Não Lucrativo Financeiramente (NSL), Envolvido em Setor Irregular (ESI) e Mitigador dos Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA).

Para denotar as diferenças e semelhanças em relação aos quadros simbólicos acionados para retratar o BNDES durante os dois governos, algumas ilustrações são bons instrumentos. Sobre os enquadramentos comuns aos mais frequentes dos dois períodos, o gráfico a seguir dispõe como estes framings se deram nos dois períodos analisados, a fim de se demonstrar em qual governo o enquadramento teve mais importância.

Gráfico 9 - Enquadramentos mais frequentes comuns aos governos

Fonte: Elaborado pela autora

O gráfico demonstra a grande semelhança de utilização dos enquadramentos que são comuns aos dois períodos nos jornais analisados. A maior diferença se dá principalmente pelo framing Formulador/Executor de Políticas Econômicas (FEPE), que é muito mais presente no período Lula do que no FHC. Na próxima seção, será discutido se esses enquadramentos têm

respaldo na literatura acadêmica sobre o BNDES e, mais adiante, o que se pode inferir sobre os quadros simbólicos utilizados de forma semelhante e as relações intercampos entre jornalistas e economistas.

Quanto aos quadros simbólicos que não são comuns aos mais acionados entre os dois governos, o gráfico 10 traz a visualização dos dados obtidos através da análise aplicada neste estudo.

Gráfico 10 - Enquadramentos mais frequentes diferentes entre os dois governos

Fonte: Elaborado pela autora.

Como se depreende, quando se trata dos enquadramentos que não contam nas duas listas dos mais frequentes, as diferenças são grandes, principalmente em relação ao framing Fomentador da Privatização (FP), que praticamente não é acionado no período Lula. A diferença de utilização do enquadramento MECA é em torna de 20%, mostrando que o acionamento do quadro simbólico não é tão diferente entre os dois governos. Já os framings ESI, NLF e BPFC tiveram bem mais participação proporcional no período Lula do que no Período FHC.

Outros enquadramentos identificados na análise, mas que obtiveram participação bem inferior a ponto de não figurarem entre os mais usuais em nenhum dos dois períodos podem ser importantes para identificarmos a forma como o BNDES foi tratado pelos jornais nos dois períodos, de maneira a encontrar mais semelhanças ou diferenças. Dessa forma, deve se considerar em qual período estes enquadramentos foram mais ou menos utilizado. Essa relação pode ser importante para evidenciar como as lutas simbólicas intercampos exerce influência sobre o produto jornalístico.

A seguir, o gráfico 9 traz os outros enquadramentos e a comparação que informa em qual período ele foi mais acionado e em que medida essa diferença se deu.

Gráfico 11 - Enquadramentos menos frequentes por período

Fonte: Elaborado pela autora

O gráfico acima demonstra que os enquadramentos Participante de Empresa (PE) e Financiador Social e de MPM (FS) tiveram maior usabilidade no governo FHC do que no período do governo Lula. Já os enquadramentos Órgão de Poder (OP), Banco Lucrativo (BL) Captador de Recursos (CR), Instituição que Necessita de Melhorias (INM), Termômetro da Atividade Econômica (TAE) e Atuante Internacionalmente (AI) foram bem mais acionados no segundo do que no primeiro período de análise.

A seguir, os dados apresentados até aqui sobre os enquadramentos midiáticos com que o BNDES foi tratado pela imprensa brasileira serão confrontados com as inferências da revisão de literatura realizada na primeira fase deste estudo. Se buscará fazer um contraponto cognitivo a respeito da atuação do Banco nos períodos analisados a fim de se obter inferências que possibilite a evidenciação do contexto de lutas simbólicas a que o campo jornalístico, especialmente o do jornalismo econômico, está sujeito.

6.3 Considerações sobre enquadramentos midiáticos e literatura acadêmica respectivos