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6.1 Categorias de enquadramento do BNDES nos governos FHC e Lula

6.1.1 Folha de S Paulo

A coleta dos dados do jornal Folha de São Paulo resultou num material de 698 matérias no total. Dessas, 230 foram referentes ao período do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) – anos 1996, 1997 e 1998 – e 468 foram do período de governo do presidente Lula. Faz necessário destacar que a coleta do período FHC pode ter retornado um número bem inferior de matérias do governo FHC em relação ao Lula pode ser explicado pelo fato de que algumas páginas das edições desse período estarem ilegíveis. No entanto, a análise se dá, em relação aos

enquadramentos e utilizando como indicador a proporção dos enquadramentos das matérias analisadas.

Abaixo, a tabela de enquadramentos do período do jornal Folha de São Paulo.

Tabela 7 - Enquadramentos do BNDES no Jornal Folha de São Paulo

Enquadramentos Nº de matérias Porcentagem

Agente do Governo (AG) 70 7,62%

Agente do mercado financeiro (AMF) 61 6,64%

Atuante Internacionalmente (AI) 25 2,72%

Banco Lucrativo (BL) 14 1,52%

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) 82 8,92%

Captador de Recursos (CR) 46 5,01%

Envolvido em Setor Irregular (ESI) 44 4,79%

Financiador de Investimentos (FI) 159 17,30%

Financiador Social (e MPM) (FS) 7 0,76%

Fomentador da Privatização (FP) 75 8,16%

Formulador/executor de política econômica (FEPE) 118 12,84%

Instituição que Necessita de Melhorias (INM) 19 2,07%

Locus de Conhecimento (LC) 66 7,18%

Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA) 18 1,96%

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) 34 3,70%

Órgão de Poder (OP) 17 1,85%

Participante de Empresa (PE) 11 1,20%

Termômetro da Atividade Econômica (TAE) 25 2,72%

Outros 28 3,05%

Total 919 100,00%

Fonte: Elaborado pela autora

Esta tabela demonstra como o BNDES foi enquadrado em todo o período analisado, de forma a fornecer uma visão geral de como o jornalismo econômico tratou o Banco na história recente. O enquadramento Financiador de Investimentos (FI) foi o que mais se destacou considerando os seis anos analisados, seguido por Formulador/executor de Política Econômica (FEPE), Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) e Fomentador da Privatização (FP). Estes somados aos framings Locus de Conhecimento (LC), Agente do Governo (AG), Agente do Mercado Financeiro (AMF) e Captador de Recursos (CR) somam praticamente 75% de incidência.

Como pode ser percebido, o número de matérias contadas é bem superior ao número total de matérias colhidas. Isso se dá porque a análise considerou que uma mesma unidade de registro foi capaz de fornecer mais de um enquadramento por diversas vezes. Por exemplo, uma matéria trata o Banco pelo viés de sua utilização como instrumento do governo, (enquadramento Agente do Governo) mas também como Atuante Internacionalmente (AI), pois essa utilização

se dava por meio de garantia de financiamentos pelo Banco a outros países. Ex.: “Contra os EUA, Lula oferece "pacote" ao Uruguai” (FSP, 24.02.2007).

Por vezes, o Banco foi enquadrado como Captador de Recursos (CR) e como Agente do Mercado Financeiro (AMF), pois a captação se dava por meio de atuação em mercados das bolsas de valores de forma a ter repercussão nas negociações e nos índices do mercado financeiro brasileiro. Ex.: “País paga 11,9% em dólar para adiantar US$ 3,9 bilhões” (FSP, 02.10.1998).

A escolha de se contar todos os enquadramentos predominantes e não se fazer a opção por apenas um se deu para que a pesquisa revelasse de forma mais completa o tratamento da mídia econômica impressa dispensado ao BNDES, visto que se considera que assim como o próprio Banco, o trabalho jornalístico é capaz de fornecer certa complexidade ao papel da Instituição. Este tratamento é feito através da utilização de mais de um enquadramento. Certo é que esses framings tem relação com as formas de se pensar a economia e atuação de uma instituição de desenvolvimento. E é essa relação que também será discutida neste estudo.

Quanto ao período do governo FHC, os enquadramentos se apresentaram da forma descrita na tabela a seguir.

Tabela 8 - Enquadramentos do Jornal Folha de São Paulo: Período FHC

Enquadramentos Nº de matérias Porcentagem

Agente do Governo (AG) 26 9,92%

Agente do mercado financeiro (AMF) 4 1,53%

Atuante Internacionalmente (AI) 2 0,76%

Banco Lucrativo (BL) 4 1,53%

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) 7 2,67%

Captador de Recursos (CR) 17 6,49%

Envolvido em Setor Irregular (ESI) 6 2,29%

Financiador de Investimentos (FI) 47 17,94%

Financiador social (e MPM) 3 1,15%

Fomentador da Privatização (FP) 66 25,19%

Formulador/executor de política econômica (FEPE) 31 11,83%

Instituição que Necessita de Melhorias (INM) 1 0,38%

Locus de Conhecimento (LC) 16 6,11%

Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA) 8 3,05%

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) 4 1,53%

Órgão de Poder (OP) 2 0,76%

Participante de empresa 4 1,53%

Termômetro 4 1,53%

Outros 10 3,82%

Total 262 100,00%

Como se percebe, o enquadramento que mais foi apresentado proporcionalmente, foi o de Fomentador da Privatização (FP), que correspondeu à mais de 25% de todos os framings verificados no período. Como poderá ser denotado mais abaixo, este enquadramento se deu, em sua grande maioria, no período FHC, o que demonstra a importância significativa do Banco no processo. As privatizações foram os principais assuntos da economia durante o período analisado e o BNDES sempre teve lugar de fala nesse processo.

Para uma visualização mais apurada sobre como o enquadramento de FP teve peso no tratamento do jornal ao BNDES, traz-se o gráfico a seguir:

Gráfico 3 - Enquadramentos Folha de São Paulo: período FHC

Fonte: Elaborado pela autora

O segundo enquadramento mais utilizado em todo o período analisado foi o de Financiador de Investimento (FI), seguido por Agente de Governo (AG), Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE) e Captador de Recursos (CR). Estes 5 enquadramentos correspondem a quase 80% dos framings do período. Dessa forma, é possível dizer que o jornalismo econômico da Folha de São Paulo tratou o BNDES de forma a enquadrá-lo nestas cinco categorias durante o governo FHC.

Estes números mudam quando nos detemos sobre o período de governo Lula. A seguir, a tabela com os enquadramentos identificados nos anos de 2007, 2008 e 2009 no jornal Folha de São Paulo.

Tabela 9 - Enquadramentos do BNDES: período Lula

Enquadramentos Nº de matérias Porcentagem

Agente do Governo (AG) 44 6,92%

Agente do mercado financeiro (AMF) 36 5,66%

Atuante Internacionalmente (AI) 23 3,62%

Banco Lucrativo (BL) 10 1,57%

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC) 75 11,79%

Captador de Recursos (CR) 29 4,56%

Envolvido em Setor Irregular (ESI) 38 5,97%

Financiador de Investimentos (FI) 112 17,61%

Financiador Social (e MPM) (FS) 4 0,63%

Fomentador da Privatização (FP) 9 1,42%

Formulador/executor de política econômica (FEPE) 87 13,68%

Instituição que Necessita de Melhorias (INM) 18 2,83%

Locus de Conhecimento (LC) 50 7,86%

Mitigador de Efeitos do Câmbio/Abertura (MECA) 10 1,57%

Não Lucrativo Financeiramente (NLF) 30 4,72%

Órgão de Poder (OP) 15 2,36%

Participante de empresa (PE) 7 1,10%

Termômetro da Atividade Econômica (TAE) 21 3,30%

Outros 18 2,83%

Total 636 100,00%

Fonte: Elaborado pela autora

Como se vê, o framing FP praticamente desaparece no período Lula e, assim os outros enquadramentos são mais valorizados. FI agora assume o maior peso no jornalismo econômico do diário, o que revela que esse enquadramento continuou como sendo um dos mais importantes. Isso pode ser explicado pela função de banco de desenvolvimento que tanto as visões liberal quanto (neo)desenvolvimentista fornecem ao BNDES ao longo do tempo, como demonstrado na literatura e que será discutido adiante.

Ademais, os enquadramentos parecem estar bem mais distribuídos nesse período, o que pode indicar um aumento de formas de atuação e interpretações para a atividade do Banco no período. Abaixo, a representação gráfica dos enquadramentos da Folha de São Paulo no período Lula.

Gráfico 4 - Enquadramentos Folha de São Paulo: período Lula

Fonte: Elaborado pela autora

Por meio dessa representação, é possível denotar que, além de FI, os enquadramentos Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC), Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE), Locus de Conhecimento (LC), Agente do Governo (AG), Envolvido em Setor Irregular (ESI), Agente do Mercado Financeiro (AMF) e Não Lucrativo Financeiramente (NLF) lideram a lista e, juntos, representam praticamente 75% dos framings verificados. É interessante destacar também o salto na proporção do enquadramento BPFC no período Lula em relação ao governo FHC, que quintuplicou a presença.

Partindo para um comparativo entre o tratamento dispensado ao BNDES nos dois governos pelo jornal, temos o seguinte quadro.

Quadro 10 - Enquadramentos mais frequentes na Folha de São Paulo por governo

Período FHC Período Lula

Fomentador da Privatização (FP) Financiador de Investimento (FI) Agente de Governo (AG)

Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE)

Captador de Recursos (CR).

Financiador de Investimento (FI)

Banco Público no Fornecimento de Crédito (BPFC)

Formulador/Executor de Política Econômica (FEPE)

Locus de Conhecimento (LC) Agente do Governo (AG)

Envolvido em Setor Irregular (ESI) Agente do Mercado Financeiro (AMF) Não Lucrativo Financeiramente (NLF) Fonte: Elaborado pela autora

Os cinco framings mais presentes no período FHC correspondem a 80% de todos os enquadramentos verificados. Quanto ao período Lula, são oito enquadramentos que, somados, representam 75% do total do período. Os enquadramentos FI, AG e FEPE são comuns aos dois períodos como estando entre os mais frequentes. A diferença é que eles aumentam o peso no governo Lula. Além disso, no governo Lula, o framing FP praticamente não é mais verificado e enquadramentos como ESI e NLF também aparecem na liderança, apesar de ser em bem menor proporção do que os dois primeiros (FI e FEPE).