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4.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

4.4.4. A entrevista em grupo (focus group)

Desde a sua reintrodução na pesquisa qualitativa, sobretudo a partir dos anos 80, o focus group tornou-se num método de recolha de dados cada vez mais utilizado em trabalhos de investigação devido a conseguir adequar-se a uma grande variedade de fins, nomeadamente ao campo das pesquisas em educação (Stewart, Shamdasani & Rook, 2007; Morgan, 2008).

O focus group pode ser entendido como uma forma particular de entrevista em grupo que procura reunir a comunicação entre os sujeitos, que se constituem como objeto de investigação, de modo a poder proceder-se à recolha de dados (Morgan, 2008). A ideia por detrás do método de focus group é a de que os processos grupais ajudam a melhor explorar e clarificar as visões de cada um dos elementos do grupo, que seriam muito menos atingíveis em entrevistas individuais (Kitzinger, 1995). De facto, a dinâmica que se poderá estabelecer dentro do grupo de discussão constitui-se como uma vantagem, pois permitirá um acréscimo de informação de grande utilidade para o investigador. Como refere Morgan

(1997) “focus group provide access to forms of data that are not obtained easily with either of the other two methods [entrevistas individuais e observação participante]“ (p. 8).

Segundo Morgan (1997; 2008), o focus group pode ser considerado como uma técnica de recolha de dados através da interação do grupo a partir de um tema apresentado pelo investigador, permitindo três elementos essenciais: (i) os focus group surgem como um método de investigação dirigido à recolha de dados; (ii) localiza a interação na discussão do grupo como a fonte dos dados e (iii) reconhece o papel ativo do investigador na dinamização e moderação da discussão do grupo.

Kamberelis e Dimitriadis (2005) consideram o focus group como conversações coletivas que se podem desenvolver em pequena ou em grande escala e que podem ser diretivas ou não diretivas. Para Wilkinson (2004), o focus group é apresentado como uma discussão informal que ocorre entre um conjunto de indivíduos previamente selecionados, discussão esta que obedece a um tema, sendo o seu principal objetivo descrever e compreender os significados e interpretações que esse grupo tem acerca do assunto em estudo. Neste sentido, Stewart, Shamdasani e Rook (2007) e Amado (2014) consideram que o focus group envolve um grupo de pessoas que discutem um tópico concreto sob a supervisão de um moderador que deve promover a interação e assegurar-se que a discussão se mantém no âmbito do assunto em questão. Patton (2002) refere que os participantes de um focus group interagem uns com os outros mais do que com o entrevistador, para, deste modo, as suas ideias poderem emergir, pois é a partir desta interação que os dados surgem.

Assim, o focus group procura o controle da discussão de um grupo de pessoas, privilegiando-se a observação e o registo de experiências e reações dos indivíduos participantes do grupo, que não seriam possíveis de captar através de outras técnicas de recolha de dados. Aliás, segundo Stewart, Shamdasani e Rook (2007), um dos objetivos da realização de um focus group será a obtenção de um melhor entendimento das dinâmicas do grupo que afetam as perceções individuais, o processamento de informação e a tomada de decisões. Ao estimular as interações entre o grupo de participantes, geram-se mais informações que não seriam possíveis de alcançar através de uma entrevista individual (Id., ibid.). Também para Morgan (2008) esta interação do grupo apresenta-se como fulcral na recolha de dados, não havendo uma preocupação em obter consensos ou chegar a uma determinada conclusão, pois o interesse reside na conversação levada a cabo pelos participantes. Ou seja, e ainda de acordo com esta autora “by bringing together people who

share a similar background, focus groups create the opportunity for participants to engage in meaningful conversations about the topics that researchers wish to understand” (p. 352).

Kitzinger (1995) realça que esta técnica de recolha de dados pode ser muito útil quando se procura explorar e estudar o que as pessoas pensam, como pensam e por que razões pensam desse modo acerca de determinado assunto. Ainda de acordo com esta autora:

this means that instead of the researcher asking each person to respond to a question in turn, people are encouraged to talk to one another: asking questions, exchanging anecdotes and commenting on each other’s experiences and points of view.' The method is particularly useful for exploring people's knowledge and experiences and can be used to examine not only what people think but how they think and why they think that way (p. 299).

Galego e Gomes (2005) defendem que é o delineamento teórico do estudo, que se pretende realizar, que determinará a utilização do focus group como um método de investigação ou como um conhecimento detalhado e profundo sobre um determinado tópico, obtendo informações provenientes de diferentes pessoas ao mesmo tempo. Perante tal situação, permite-nos também, a nós investigadores, observar a construção do conhecimento numa situação real de dinâmica de grupo, onde são analisadas as relações que vão acontecendo, tendo por base as opções de cada elemento do grupo.

Tendo esta investigação como objetivo proceder a uma recolha de dados sobre a opinião de um conjunto de pessoas (professores do agrupamento em estudo) em relação a um tema específico (supervisão pedagógica e práticas de supervisão implementadas), o recurso ao focus group surgiu como uma direção a seguir. Sem esquecermos que este conjunto de pessoas deveria reunir os atributos necessários à constituição de um focus group, devendo, por isso, partilhar entre si características comuns e poderem ser relevantes para o estudo em causa, o que não foi difícil de alcançar, pois todos eles eram docentes no agrupamento em questão e, por isso a sua opinião foi considerada fundamental. Silva, Veloso e Keating (2014) consideram, precisamente, que uma das questões que se levanta na constituição do grupo é saber “quem possui o tipo de informação que precisa de ser recolhida sendo que tipicamente os participantes têm algo em comum entre si de uma maneira que é relevante para o projecto” (p. 181). Aliás, selecionar participantes que partilham perspetivas semelhantes sobre um determinado tópico, criando assim grupos

homogéneos, surge como a estratégia mais comum na organização de um focus group de forma a que o intercâmbio de ideias seja proveitoso e ativo (Morgan, 1997, 2008).

Para a concretização da entrevista do focus group foi elaborado um guião (vd. Anexo IV) que serviu de orientação ao longo desse processo e que teve como base os objetivos do estudo já anteriormente referidos, bem como o guião elaborado aquando da entrevista realizada aos coordenadores de departamento. Como nos interessava conhecer a perceção dos professores sobre a temática em questão, impunha-se que as questões orientadoras do focus group fossem muito semelhantes às colocadas aos coordenadores até para ser possível o confronto de ideias e opiniões.