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Desde o princípio dos tempos que a figura de um líder forte, carismático e com características muito distintas e inatas, surgiu como fundamental para a sobrevivência, a evolução e a supremacia de povos e civilizações. Esta importância atribuída a um indivíduo justifica que os estudos sobre liderança e líderes sejam inúmeras vezes direcionados para as características pessoais de um sujeito, já que historicamente a perceção que se tinha era que os líderes já nasciam líderes. Além disso, os estudos, inicialmente realizados sobre liderança, centravam-se em figuras que haviam deixado a sua marca em determinados acontecimentos (O’Brien, Draper & Murphy, 2008). Daí que, e tal como referem Harris e Lambert (2003), “most of us probably think of a particular person and associated set of behaviors when we think of ‘leadership’” (p. 16), e “leadership is generally considered to be synonymous with a person in a position of formal authority” (Lambert, 2002, p. 1). Contudo, e justamente como defende Yukl (1999), “vague definitions of leader “types” have long been popular in the literature, but they are often simplistic stereotypes with limited utility for increasing our understanding of effective leadership” (p. 302).

Então será lícito afirmar que a liderança vai muito além de um único indivíduo e poderá ser definida de tantas e diferentes formas e perspetivas que se torna muito difícil apresentar um único significado. Salientamos Smith e Piele (2006) ao considerarem que “literally hundreds of definitions of leadership have been offered. Behind each definition, in turn, is a different theory about the source, process, and outcome of leadership” (p. 3) e Stogdill (1974), que numa das obras com maior tradição de entre os estudos sobre liderança, referia que “there have been myriad attempts to define leadership” (p. 7), sem que tal fosse exequível dada a imensidão de aspetos e teorias a considerar. Destacamos, igualmente, a que nos é facultada por Kouzes e

Posner (2009) por nos parecer muito adequada ao contexto em que nos inserimos – o educativo – em que os líderes formais não foram alvo de uma qualquer preparação específica5, e introduz a possibilidade de todos os professores se constituírem como líderes em diferentes e variadas situações:

o que descobrimos, e voltámos a descobrir, foi que a liderança não se reduz a uns quantos homens e mulheres carismáticos. É um processo que as pessoas normais usam quando querem usar e trazer ao de cima o melhor que têm, assim como o dos outros. Quando o líder em todos nós é libertado, surgem efeitos extraordinários (p. 14).

Richmon e Allison (2003) consideram, a propósito de uma tentativa de definição, que liderança pode ser vista como um processo de exercício de influência, uma forma de induzir a adesão, uma medida de personalidade, uma forma de persuasão, um efeito de interação, um instrumento de realização de metas, uma negociação de relações de poder ou um modo de se comportar. Segundo Louis, Leithwood, Wahlstrom e Anderson (2010), liderança pode ser descrita tendo como referência duas funções principais: “one function is providing direction; the other is exercising influence. Whatever else leaders do, they provide direction and exercise influence (p. 9). Silva (2010) considera que existe uma separação entre líder e liderança, entendendo esta última como a “acção que assegura a condução do grupo na direcção prevista”, por sua vez, o líder seria “aquele que corporiza a liderança, que aponta o caminho, que cimenta o espírito de grupo, que salvaguarda a motivação e a unidade na acção de todos os elementos” (p. 53).

Apesar das definições apresentadas apontarem maioritariamente para um sujeito, julgamos que, tal como já o afirmámos, a liderança não pode ser sinónimo de um único indivíduo ou mesmo de um grupo de pessoas numa posição de comando e compreender a noção de liderança passa, e muito, pela compreensão das interações dinâmicas que se estabelecem entre os que lideram e ‘os seguidores’6. Interações sociais em que as partes envolvidas tentam influenciar os outros com vista a atingir os respetivos objetivos (Smith & Piele, 2006; Bass & Bass, 2008). Aliás, e tal como referem Kouzes e Posner (2009), “a liderança é um diálogo, não um monólogo” (p. 39), e esta asserção implica um relacionamento que obrigatoriamente deverá existir entre as partes envolvidas em todo o processo de liderança. Recorremos, mais uma vez, a

5 Veja-se o que se passa em Portugal no caso das direções das escolas. Ao diretor, ou candidato a diretor, exige-se unicamente uma formação especializada na área da administração educacional, contudo aos restantes membros da equipa da direção não é feita qualquer exigência relativa a uma formação específica. 6 Colocámos aspas, pois o termo seguidores nem sempre é o mais adequado, segundo a nossa perspetiva, ao nível das escolas, onde se demanda uma maior colegialidade ao invés do seguidismo a um individuo.

Kouzes e Posner (ibid.) para quem: “A liderança é uma relação entre aqueles que querem liderar e aqueles que escolhem seguir” (p. 46). Ou seja, e tal como defendem Bass e Bass (2008) a liderança pode ser encarada como uma relação entre líder e liderados.

A liderança surge, então, como um processo, contínuo, no qual um líder tenta influenciar, através da motivação7 ou do estabelecimento de recompensas ou castigos8, os seus seguidores na criação e na concretização de objetivos. É neste sentido que Bass e Bass (ibid.) consideram que liderança é inúmeras vezes definida como uma persuasão bem-sucedida sem coação. Os seguidores são convencidos pelos méritos dos argumentos e não pelo poder coercivo do argumentador. E, daí que a persuasão possa ser considerada como uma forma de liderança e muito do que foi aprendido nos estudos sobre persuasão possa ser incorporado na compreensão daquilo que se entende como liderança.

Em jeito de síntese, julgamos que, a partir do que referimos, a liderança pode ser definida em termos de (i) processo de influência que ocorre entre um líder e seguidores, (ii) como esse processo de influência pode ser explicado pelas características e comportamentos, perceções e atribuições de quem lidera e (iii) o contexto no qual o processo de influência ocorre.

Reconhecemos que esta é uma definição multifacetada, porém fortemente ‘centrada no líder’ ao descrever principalmente os efeitos unidirecionais associados às características pessoais de um líder, no entanto, também inclui aspetos fundamentais da interação entre líder e seguidores. Contudo, e como constataremos de seguida, apesar de todas estas teorias poderem ser aplicadas ao campo educativo, a problemática da liderança nas escolas vai muito mais além do que acabámos de referir, pois a realidade escolar com muitas faces e a muitas vozes demanda uma, ou várias, liderança(s) muito específica(s) e que se afaste dos conceitos tradicionais do entendimento do vocábulo liderança. Não esquecendo, todavia, que a liderança visa, antes de mais, melhoria organizacional e, mais especificamente, trata-se de estabelecer orientações instituídas e que valem a pena para a organização em questão, fazendo o que for necessário para estimular e apoiar as pessoas a movimentarem-se nessa direção (Louis, Leithwood, Wahlstrom & Anderson, 2010). E, neste sentido julgamos que o papel dos líderes não deve ser somente dirigir, mas sim trabalhar com e para os outros com a finalidade de atingir objetivos comuns num mundo em permanente mudança. Na prática, isto significa que privilegiaremos, nos pontos que se seguem, uma perspetiva de liderança para a melhoria da escola, através de

7 Liderança transformadora de Burns (1978), transformacional segundo Bass (1985). 8 Liderança transacional (Burns, 1978).

uma distribuição da liderança dentro da escola e com a participação dos docentes sob um prisma formal, mas igualmente a partir de uma perspetiva mais informal.