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2. PARTE II O percurso em Portugal dos alunos de PLE

2.2. A escolha de Portugal como destino

O nosso país é o destino de cada vez mais estudantes de PLE. Por sermos a pátria da língua de Camões isso não devia surpreender. No entanto, essa não é a única razão. Dias (2016) demonstrou com o inquérito aos alunos chineses de PLE da Universidade Nova que a grande razão da opção de vir para Portugal em mais de metade dos casos (55%) relacionava-se com “a possibilidade de poderem estudar português em Portugal”, em “imersão linguística” e “próximos da língua original”. No entanto, 27% dos alunos referiram antes fatores como a “curiosidade” ou a “procura de conhecimento” e 18% relacionaram a sua vinda apenas com “questões protocolares interuniversitárias”. No trabalho de campo da presente dissertação quisemos verificar também o peso das questões de empregabilidade no mercado português, análise que é feita em capítulos posteriores.

Nos estudos existentes sobre os estudantes chineses em Portugal, para além das questões protocolares, obviamente razão facilitadora da sua vinda, destacamos 3 razões fundamentais para a escolha dos alunos chineses: 1 - a possibilidade de estudar num ambiente linguístico de imersão; 2 - a facilidade na obtenção do visto de estudante no ensino superior em Portugal; 3 - a facilidade legal para os estudantes estrangeiros de permanência em Portugal por motivo de procura de emprego no período pós-graduação.

1 - A possibilidade de estudar num ambiente linguístico de imersão

Toda a gente que aprendeu uma língua estrangeira sabe da importância do fator ambiente e da necessidade de se estar rodeado de falantes nativos quando se quer

realmente aprender a língua. Para Maria Helena Mateus (cit. por Silva 2010, p. 47) “a distinção entre aprendizagem de uma língua estrangeira e a aquisição de uma língua não materna (ou língua segunda) passa pela afirmação de que uma língua estrangeira é aprendida apenas em contexto formal, enquanto uma língua segunda implica que o aprendente seja imerso num contexto em que a língua é utilizada no seu dia-a-dia”. Isto porque, em imersão linguística, o estudante está também imerso na cultura do povo que fala a língua, e no seu dia-a-dia vai adequando a sua comunicação às necessidades efetivas que vão surgindo, criando automaticamente soluções e competências que de outra forma não conseguiria. Para quem quer usar a língua portuguesa como língua de trabalho isso é ainda mais relevante. Silva (2010, p. 58) reflete esta mesma ideia nas seguintes palavras:

Ao aprender em contexto de imersão, onde o público aprendente vive e trabalha, as tarefas ganham sentido mobilizando competências linguísticas e comunicativas em atividades que envolvem o aprendente numa comunicação real, como por exemplo, ir ao hospital, supermercado, comunicar no trabalho, executar outras tarefas, pois o objectivo é saber usar a língua nas determinadas situações.

Sobre o ponto 2 - A facilidade na obtenção do visto de estudante no ensino superior em Portugal, de acordo com o Plano Estratégico para as Migrações, existe uma série de ações com o objetivo de atrair a mobilidade de alunos do ensino terciário, como a criação de um guia de acolhimento e integração e a promoção de uma plataforma que facilite os procedimentos de visto para eles. Da mesma forma, um regulamento de março de 2014 garantia o estatuto de estudante internacional para estrangeiros de fora da União Europeia que não vivessem em Portugal ou que tivessem vivido no país num período de menos de 2 anos, quando são aceites por uma instituição portuguesa do ensino superior. Também uma alteração posterior do mesmo ano vinha facilitar a obtenção dos vistos aos investigadores e académicos.19 Para muitos chineses, estar em Portugal significa estar na Europa, perto de cidades da sua eleição como Londres, Paris ou Berlim. O acesso ao espaço europeu torna-se mais direto, e possível, pois que noutras capitais europeias a obtenção de vistos é muito mais concorrida ou de difícil acesso.

19 International Migration Outlook 2016

http://www.integrazionemigranti.gov.it/Attualita/Notizie/Documents/IMO2016_ENG.pdf

Quanto ao ponto 3 - a facilidade legal para os estudantes estrangeiros de permanência em Portugal por motivo de procura de emprego no período de pós-graduação, este motivo mostra-se ainda mais relevante para o presente estudo. Durante o curso, os estudantes podem envolver-se numa atividade profissional desde que essa atividade ocorra fora do período estipulado pelo programa do curso e na modalidade a tempo parcial. Isto é muito importante no caso dos alunos chineses que vêm normalmente a expensas próprias e que procuram começar a estagiar ainda durante o curso. Segundo o

International Migration Outlook 201620, após o término do seu programa de estudo, muitos estudantes internacionais desejam permanecer no país que os acolheu para poder arranjar emprego e pôr as suas aptidões adquiridas em prática. Portugal faz parte do grupo dos países da EU que facilita o acesso ao emprego aos estudantes internacionais em termos legais, permitindo aos alunos internacionais graduados permanecer em território nacional com o propósito de procurar trabalho, enquanto outros países, como é o caso de Espanha, fazem parte do grupo que só permite aos alunos internacionais permanecer no caso de terem um trabalho ou estarem continuamente empregados. Assim, os estudantes chineses podem continuar cá, no caso de desejarem entrar no mercado de trabalho. O visto para a atividade profissional neste caso é temporário, válido pelo período de um ano e renovável por períodos sucessivos de dois anos. Ademais, podem inscrever-se no centro de emprego e concorrer a trabalhos e formação profissional. Por fim, os estudantes internacionais podem tomar ainda iniciativas de autoemprego. 21