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4. PARTE IV Trabalho de campo

4.4. Análise de dados

4.4.1. Perfil global dos aprendentes de PLE

4.4.1.2. Proficiência na Língua Portuguesa

Relativamente à Proficiência na Língua Portuguesa, este parece-nos ser um tópico central na nossa análise, para percebermos a evolução dos alunos em termos

comunicativos em LP desde que chegam a Portugal até que acabam os estudos de PLE neste país; e também a sua capacidade de uso da língua efetiva, o que permite avaliar a sua propensão para a utilização do Português como língua de trabalho. Como padrão de proficiência linguística decidimos utilizar o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (QECRL) que funciona a nível da União Europeia como referencial de qualidade internacional para o ensino das línguas. O Quadro Europeu Comum divide o conhecimento dos alunos em três categorias, cada uma com duas subdivisões53:

TABELA Nº 7- DESIGNAÇÃO DOS NÍVEIS DO QECRL A- Utilizador básico A1- Inicial A2- Básico B- Utilizador independente B1- Intermédio B2- independente C- Utilizador avançado C1- Fluente eficaz C2- Fluente estruturado Fonte: wikipedia54

São estas as designações utilizadas por nós ao longo da nossa análise. Em anexo poderá ser consultada igualmente a descrição das competências linguísticas para cada nível, por uma questão de economia de espaço. Quando se questionou “Qual o seu nível de Português quando chegou a Portugal?”, o nível de proficiência mais frequente da autoavaliação feita pelos estudantes é o do Nível B-Utilizador Independente, subnível B1-

53 https://pt.wikipedia.org/wiki/Quadro_Europeu_Comum_de_Refer%C3%AAncia_para_L%C3 %ADnguas

54 https://pt.wikipedia.org/wiki/Quadro_Europeu_Comum_de_Refer%C3%AAncia_para_L%C3 %ADnguas

Intermédio, com 7 pessoas. De acordo com o QECRL, neste nível o estudante tem as seguintes competências:

- Pode entender os pontos principais sobre assuntos do dia-a-dia como trabalho, escola e lazer.

- Pode lidar com situações quotidianas no país onde a língua é falada (viagem de turismo).

- Pode produzir textos simples sobre áreas familiares e de interesse. - Pode ainda descrever experiências, eventos, sonhos, desejos e ambições. - Pode ainda opinar de maneira limitada sobre planos e discussões.

Da mesma forma, o aluno ainda tem as seguintes limitações:

-Não é capaz de entender ideias principais de textos complexos, sejam eles técnicos ou não.

-Não consegue interagir com os falantes nativos com um grau suficiente de fluência e naturalidade para que a comunicação ocorra sem esforço por parte de nenhum dos interlocutores.

-Não produz ainda textos claros e detalhados sobre temas diversos -Não é capaz de defender o seu ponto de vista sobre temas gerais

Ou seja, os alunos de PLE inquiridos, na sua maioria, estão ainda a desenvolver a maior parte das competências que lhe permitirão ser utilizadores independentes da língua. No entanto, nem todos estão já nesse patamar intermédio, mas sim ainda num mais básico.

A segunda auto- avaliação mais comum foi o Nível A-Utilizador Básico, subnível A1-Inicial com 6 pessoas, ou seja, estamos a falar de alunos que vão frequentar a licenciatura de PLE como qualquer outro iniciante na língua, sem bases que lhes permitam comunicar. Este indicador pode ser algo preocupante pois a maioria dos alunos vem de cursos de PLE na China, o que prova alguma falta de preparação. No entanto, é importante relembrar que as autoavaliações dos jovens chineses são bastante rigorosas e exigentes, pois que desde pequenos estão habituados a fazer a avaliação do seu trabalho, de facto desde a pré-escolar. Não obstante, estes resultados demonstram que a barreira linguística vai ser um obstáculo na sua integração em Portugal, pois as únicas competências linguísticas que trazem consigo passam apenas pelo domínio de expressões

básicas direcionadas a satisfazer necessidades concretas e informações pessoais. Dependem altamente da boa vontade dos nativos na comunicação, o que significa que se os nativos não falarem pausadamente, não vão entender praticamente nada do que foi dito. Por outro lado, chegam a um país estrangeiro sem conseguir expressar estados, vontades ou argumentar, ou nem mesmo ir às compras de produtos alimentares. O que é uma grande limitação para estes jovens.

Fazendo uma análise por níveis, existe uma situação de empate. Quase metade destes jovens chegam a Portugal como Utilizadores básicos da língua de nível A. Neste nível encontram-se no total 47,6% dos aprendentes do nosso estudo, estando a maioria no subnível A1- 28,6 - e 19% no A2, sendo este resultado ainda uma fatia bastante grande, apontando a falta de proficiência de grande parte dos alunos. A outra metade chega no nível B-utilizador Independente, onde estão também 47,6% dos inquiridos, 33,3% no B1 e 14,3% no B2. Quanto ao nível avançado, apesar de haver uma resposta no nível C2, esta não vai ser por nós considerada pois que, na pergunta seguinte, o mesmo respondente afirmou encontrar-se presentemente no nível C1, presumindo então que teria havido um engano.

Quanto ao nível atual de Língua Portuguesa, ou seja, ao nível de competências linguísticas alcançadas aquando da resposta a este questionário, a resposta mais frequente é o nível B-Utilizador Independente, subnível B2, com 7 inquiridos, seguido do nível C- Avançado subnível C1, com 6 pessoas. Fazendo uma análise por níveis, 9,6% encontram- se ainda no nível A-Utilizador Básico (com 4,8% em cada subnível), 52,3% encontra-se no nível B-Utilizador Independente (19% no B1 e 33,3% no B2), e 38,1% está já no nível C-Avançado (28,6% no C1 e 9,5% no C2). São números animadores que denotam uma boa evolução nas competências linguísticas. Estando mais de metade dos inquiridos no nível B-Utilizador Independente, desde a sua chegada a Portugal para estudar PLE até à procura do primeiro emprego até 3 anos após a graduação, isso significa que os alunos de PLE inquiridos estão presentemente na condição de:

-Entender as ideias principais de textos complexos, técnicos e não técnicos. -Interagir com os falantes nativos sem problemas e sem esforço

-Produzir textos claros e detalhados sobre temas diversos -Defender pontos de vista sobre temas gerais

Parece-nos um bom patamar de competências linguísticas de nível intermédio, que já permitem bastante independência a estes jovens, e que têm uma grande propensão a serem depois desenvolvidas em contexto laboral prático.

Uma fatia relevante de mais de 30% dos inquiridos encontra-se já no nível Avançado, o que aponta para competências em:

- Compreender textos extensos e já exigentes

- Expressar-se de forma fluente e espontânea sem esforço

- Fazer uso efetivo da língua para fins sociais, académicos e profissionais

- Produzir textos claros, bem estruturados e detalhados sobre temas de certa complexidade

- Entender por completo um filme sem legendas.

Já poderá por isso utilizar a língua portuguesa em contexto laboral sem constrangimentos de maior. O que acontece muitas vezes, é que quando o assunto é demasiado técnico ou existe algum problema de comunicação, recorre-se ao Inglês, como língua internacional, por isso neste trabalho quisemos saber o nível de Inglês destes alunos.

Para um chinês, a língua estrangeira obrigatória é sempre o Inglês. Desde os anos 70 que a língua foi promovida em grandes campanhas educativas, e hoje em dia praticamente todos os jovens sabem inglês, pelo menos deram na escola até ao secundário. Neste estudo, mais de 90% consideraram que “Saber inglês ajuda na aprendizagem do Português”, com apenas 9,5% a dizer que não. Existem razões para tal facto. A começar por o alfabeto Português ser muito semelhante em termos de grafemas ao Inglês, e mesmo a pronúncia é muito parecida para várias letras. Para além disso, como muitas palavras têm origem no latim, escrevem-se de forma igual ou semelhante55 e os chineses começam a aprender línguas estrangeiras pela escrita, o que é uma grande ajuda nesta perspetiva. No momento de resposta ao questionário, a maior parte dos estudantes de PLE (38%) era já um utilizador independente (B2) ou fluente (C1) (24%) da língua inglesa, sendo que apenas 10% não tem qualquer conhecimento do Inglês. Isto significa que o Inglês pode servir como ferramenta complementar comunicativa em contexto laboral, e também

servir de alternativa à comunicação enquanto a aprendizagem do português não está consolidada.