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Escritores católicos (sécs XVI-XVIII)

nalício de Cisneros A Poliglota Complutense foi publicada em seis volumes Os

VII. Polémica Anti-Judaica

3. Escritores católicos (sécs XVI-XVIII)

Séc. XVI: Fino Fini, João Luis Vives, Gilbert Genebrad, Pedro Charron

Séc. XVII: o português Vicente da Costa Matos, Francisco Carboni Charles Joseph Imbonati.

Séc. XVIII: Vicente Luís Gotti, François-Ilharat de la Chambre, Sta- tler, Jean Bernard de’ Rossi, Beurir.

Séc. XVI: Victor de Carbén, Alfonso de Zamora, Paulo Weidner.

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Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (Sala Visconde da Trindade) existe uma colecção de sermões em autos de fé.

44 Vid. Dictionnaire de Théologie, dir. de Peter Eicher, trad. franc. do alemão, Paris,

Séc. XVII: Jules César Misuracchi, Jean Baptiste Jonas, Christian Held.

Séc. XVIII: Christiani Lebrecht Felss, Jean Xerz. 4. Escritores protestantes

Séc. XVI: Calvino, Münster, M. Kromer, Teodoro Bibliander (Buchman), Philippe du Plessis-Mornay.

Séc. XVII: Jean Buxtorf, Hugo Grotius, Jean Christophe Wagenseil, Philippe van Limborch, August Pfeiffer.

Séc. XVIII: Jean Baptiste Schudt, Caherles Lesley, Stanhope. 5. Escritos sobre a utilização de livros judaicos

A favor dos livros judaicos: Johannes Reuchlin, Pierre Colonna (Galatinus), Paul Ricci, Gil de Viterbo, Jules Bartolocci de Celleno.

Contra os livros judaicos: Jean Pfefferkorn, Jacques Hochstratten, Arnold Luydius de Tongres.

Conclusão

A célebre oração de Sexta-Feira Santa que falava dos pérfidos ju- deus sofreu recentemente algumas alterações em ordem a evitar uma ter- minologia tão agressiva aos Judeus. Bento XVI introduziu esta fórmula: Oremus et pro Iudaeis. Ut Deus et Dominus noster illuminet corda eorum, ut agnoscant Iesum Christum Salvatorem omnium hominum. Aliás os últimos papas deram passos significativos na aproximação entre cristãos e judeus: o Concílio Vaticano II com a Declaração “Nostra Aetate” traçou novos rumos no mesmo sentido e o trabalho de várias ins- tituições entretanto criadas muito contribuíram para o diálogo hebreo- -cristão. O Vaticano conta com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e com uma Comissão para as Relações Religiosas com o Hebraísmo.

A tudo isto tem havido por parte dos Judeus uma correspondência deveras positiva. Por exemplo, um grupo de intelectuais judeus, em Julho de 2002, elaborou o documento Dabru emet (“Falai a Verdade”), que é uma tomada de posição concernente às relações do judaísmo com o cris- tianismo.

No artigo inserto no Dictionnaire de Théologie, Franz Mussner, ao dissertar sobre o judaísmo sob o ponto de vista cristão, começa por falar do enraizamento da Igreja no judaísmo, passando de seguida aos elemen-

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tos de uma teologia do judaísmo, à teologia depois de Auschwitz e à hon- ra que cabe a Israel45. O “Shoah”, com tudo o que de trágico causou,

constituiu um marco importante para uma reflexão teológica valiosa46. Aterradas com Auschwitz, as Igrejas lembraram-se finalmente da raiz que as suporta (Rom. 11, 16-18): 16 εἰ δὲ ἡ ἀπαρχὴ ἁγία, καὶ τὸ φύραμα· καὶ εἰ ἡ ῥίζα ἁγία, καὶ οἱ κλάδοι. 17 εἰ δέ τινες τῶν κλάδων ἐξεκλάσθησαν, σὺ δὲ ἀγριέλαιος ὢν ἐνεκεντρίσθης ἐν αὐτοῖς καὶ συγκοινωνὸς τῆς ῥίζης τῆς πιότητος τῆς ἐλαίας ἐγένου, 18 μὴ κατακαυχῶ τῶν κλάδων· εἰ δὲ κατακαυχᾶσαι, οὐ σὺ τὴν ῥίζαν βαστάζεις ἀλλὰ ἡ ῥίζα σέ47.

A Igreja Católica, na Declaração Nostra aetate, art. 2, do concílio Vaticano II, que recorda o elo de união à linha de Abraão e onde se de- ploram os ódios, as perseguições e todas as manifestações de anti- -semitismo que, quaisquer que sejam a sua época e os seus autores, são dirigidos contra os Judeus. Este decreto foi seguido por numerosas decla- rações e revoluções nos diferentes países.

Esta nova posição conduziu progressivamente a Igreja a elaborar uma teologia cristã do judaísmo. Os elementos a ter em consideração re- sumem-se nos seguintes: Jesus foi judeu, a herança espiritual de Israel foi transmitida às nações por meio de Jesus e da Igreja; a Aliança jamais foi revogada. Em 17 de Novembro de 1982, em Mogúncia, o papa João Pau- lo II citou explicitamente Rom. 11, 28-29, ao falar da antiga aliança, «ja- mais revogada» com Israel, «povo de Deus».

45 Dictionnaire de Théologie, op. cit.; Peter Eich é também autor de Neues Handbuch theologischer Grundbegriffe, nova ed., Munique, 2005.

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Suscitaram grande polémica ultimamente as declarações do bispo tradicionalista Richar Williamson da Fraternidade de S. Pio X de que negavam a “Shoah” ou lhe davam uma outra interpretação. Veio depois a retratar-se, mas o Vaticano não aceitou as desculpas do prelado.

47 NV: Quod si primitiae sanctae sunt, et massa; et si radix sancta, et rami»; Quod si aliqui ex ramis fracti sint, tu autem, cum oleaster esses, insertus es in illis et consocius radicis pinguedinis olivae factus es, noli gloriari adversus ramos; quod si gloriaris, non tu radicem portas, sed radix te.

28 κατὰ μὲν τὸ εὐαγγέλιον ἐχθροὶ δι᾽ ὑμᾶς, κατὰ δὲ τὴν ἐκλογὴν ἀγαπητοὶ διὰ τοὺς πατέρας;·

29 ἀμεταμέλητα γὰρ τὰ χαρίσματα καὶ ἡ κλῆσις τοῦ θεοῦ48.

Israel continua a ser «o seu povo» (Rom. 11, 1). O Judeus e a Igreja são uma prova de Deus no mundo; o Judeu continua a testemunha da his- tória da salvação que se concretiza neste mundo; o Judeu testemunha o Deus absconditus cujos caminhos são incompreensíveis; o Judeus impede a destruição da ideia messiânica; o Judeu leva a manter o horizonte dum mundo melhor; o Judeus faz com que se tome consciência de que as pro- messas de Deus prosseguem em ordem à justificação universal.

Além de una, santa, católica e apostólica, a Igreja é também a que beneficia da raiz e da seiva da oliveira (Rom. 11, 17). Nesta passagem opta pela ideia de que o modelo das relações Israel-Igreja é cristológico- -escatológico de participação. O endurecimento de Israel propiciou a oca- sião de o evangelho ser anunciado aos gentios (Rom. 11,15).

No referido discurso de Mogúncia, o papa fez uma alusão à terra de Israel: «Amo rezar convosco pela plenitude do Shalom a favor de todos os que são vossos irmãos, pela nação e pela fé, e igualmente pelo país que todos os Judeus consideram com uma veneração particular». A grande honra de Israel é ter sido a pátria de Jesus, que nasceu Judeu.

O papa Bento XVI tem exercido uma grande influência na aproxi- mação de Judeus e Cristãos. Falou da “aliança estabelecida por Deus com Abraão, Isaac e Jacob” e ainda colocando-a …na eternal aliança do Todo- -Poderoso…e respeita os filhos da Promessa, filhos da aliança como ir- mãos queridos na fé”. O actual pontífice, no seu livro Jesus de Nazaré, aborda com extrema evidência os temas do monoteísmo, da Lei, da Ali- ança e do Messianismo49.

Na saudação dirigida à comunidade judaica de França o papa falou não de Aliança da Torah mas da Aliança que foi estabelecida por Deus com Abraão e os filhos da Promessa (Gal. 4, 28). Só os Judeus são filhos da Aliança de Deus pelo nascimento, mas espiritualmente, como disse Pio XI, os cristãos são igualmente filhos de Abraão.

48 NV: Secundum evangelium quidem inimici propter vos, secundum electionem autem carissimi propter patres; sine paenitentia enim sunt dona et vocati Dei!.

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É o desejo procura de fé, confiança plena de esperança, obediência que dela resul- ta. Sobre este assunto escreveu Martin Buber Deux types de foi, foi juïve et foi

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Durante um breve encontro na nunciatura apostólica, em Paris, com representantes da comunidade judaica, o papa Bento XVI lembrou que os católicos e Judeus são, como afirmara Pio XI, «espiritualmente todos Semitas».

Quanto ao ponto de vista judaico, R. J. Zwi Werblowsky afirma que o Deus da Bíblia é o Deus da história e que o homem recebeu os preceitos divinos no Shemá Israel, לארשי עמש‎ (“Escuta, Israel”, Deut. 6, 4ss.).

6,4 דחא הוהי וניהלא הוהי לארשי עמש 6,5 ךדאמ-לכבו ךשפנ-לכבו ךבבל-לכב ךיהלא הוהי תא תבהאו 6,6 ךבבל-לע םויה ךוצמ יכנא רשא הלאה םירבדה ויהו 6,7 ךמוקבו ךבכשבו ךרדב ךתכלבו ךתיבב ךתבשב םבתרבדו ךינבל םתננשו 6,8 ךיניע ןיב תפטטל ויהו ךדי-לע תואל םתרשקו 6,9 50ךירעשבו ךתיב תוזזמ-לע םתבתכו

Como grandes figuras desta aproximação entre Judeus e Cristãos, sa- lientamos Franz Rosenzweig que no seu livro Der Stern der Erlösung assinalou a sua profunda estima pelo cristianismo51. O mesmo se pode

dizer de Martin Buber, de André Chouraqui, Jules Isaac e de outros mais. Jacques Maritain, com o seu livro Le mystère d’Israël et autres es- sais, Paris, 1965, e os cardeais Agostinho Bea52 e Aaron Jean-Marie Lus-

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NV: Audi Israel: Dominus Deus noster Dominus unus est. Diliges Dominum

Deum tuum ex totó corde tuo et ex tota anima tua et ex fortitudine tua. Eruntque verba haec, quae ego praecipio tibi hodie, in corde tuo, et inculcabis ea filiis tuis et loqueris ea sedends in domo tua et ambulans in itinere, decumbens atque consurgens; et ligabis ea quasi signum in manu tua, eruntque quasi appensum quid inter óculos tuos, scribesque ea in postibus domus ruae et in portis tuis.

51 Der Stern der Erlösung, Frankfurt a. M., 1921, reed. várias vezes.

52 Agostinho Bea (28 de Maio de 1881-1968) foi um notável biblista e ecumenista e

o primeiro presidente do Secretariado para a Promoção da Unidade Cristã. Teve grande influência nas relações com as outras Igrejas e com os Judeus e o no Con- cílio Vaticano II notabilizou-se como o grande responsável do decreto Nostra

Aetate. Publicou vários livros e mais de 430 artigos. Sobre o cardeal Bea, vid. E. M. Jung-Inglessis, Augustin Bea. Kardinal der Einheit, Recklinghausen 1962; B. Leeming, Agostino Cardinal Bea, University of Notre Dame Press 1964; Maria Buchmüller (Hrsg.), Augustin Kardinal Bea. Wegbereiter der Einheit. Gestalt,

Weg und Wirken in Wort, Bild und Dokument aus Zeugnissen von Mitarbeitern und Weggenossen, Veröffentlicht unter dem Protektorat von Lorenz Kardinal Jaeger, Augsburg 1972; Malachi Martin, “Three Popes and the Cardinal”, Farrar,

tiger53 são alguns dos autores cristãos que muito lutaram a favor da causa hebraica nos últimos tempos.

Em conclusão, o Padre António Vieira, dentro dos condicionalismos do seu tempo, foi um verdadeiro precursor do diálogo judeo-cristão. Não atendeu ao sentido da frase latina Extra Ecclesiam nulla salus que pro- vém de S. Cipriano de Cartago (séc. III); com ela, quer a Igreja de Roma, quer a Ortodoxia, quiseram significar que fora da Igreja não há salvação porque a sua doutrina assenta na fé em Jesus Cristo que estabeleceu uma única Igreja, que a Igreja serve de meio pelo qual Cristo salva os seus crentes.

Bibliografia

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