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A escuta é benéfica em casos de guarda

No documento Escuta da criança na mediação familiar (páginas 107-109)

4.4 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA ESCUTA DA CRIANÇA

4.4.5 A escuta é benéfica em casos de guarda

Esta categoria obteve freqüência 4, três mediadores advogados e um mediador psicólogo comentaram a respeito de a escuta da criança ser benéfica em casos envolvendo questões relativas à guarda. Os relatos destacam que, em relação à guarda compartilhada, é interessante a escuta da criança, porque ela pode orientar o mediador no estabelecimento da guarda junto aos pais; a escuta ajuda na definição da guarda e das visitas; a maioria dos conflitos ocorre pela guarda, por isso a escuta pode auxiliar os pais nesses casos; um dos participante afirma ter vivenciado experiência nas quais a escuta da criança modificou inclusive a decisão de juízes, em relação de guarda.

Constata-se que todas as categorias de representação social, até então apresentadas – escuta como um auxílio na obtenção de mais informações/percepções sobre o caso para

instrumentalização técnica; escuta como um auxílio a uma relação saudável entre pais e filhos; escuta na mediação protege mais a criança; a criança é integrante da família, por isso deve ser ouvida – possuem inteira ligação com a representação social exposta neste item – a escuta é benéfica em casos de guarda. Isso ocorre pelo fato de que, existem maiores informações e diferentes percepções agregadas pela criança sobre a situação familiar, pela escuta mais tranqüila dela, por sua maior proteção que em outras formas de escuta, por exemplo, o DSD. Na mediação, ocorre a inclusão da criança como sujeito, validando sua participação no contexto familiar, uma vez que ela faz parte da família e das decisões tomadas. Com tudo isso, há mais elementos para que todos decidam qual é a melhor solução para o conflito, solução que auxilie a relação saudável entre pais e filhos: isso incluindo a definição da guarda e visitas. Essas considerações estão de acordo com Rosa, Oliveira e Cruz (apud CRUZ; MACIEL E RAMIREZ, 2005, p. 114):

O processo de separação conjugal, principalmente quando o casal tem filhos, implica numa série de adaptações e dificuldades em relação aos aspectos sociais, afetivos, relacionais, psicológicos e financeiros. Tanto o casal quanto os filhos necessitam de ajuda profissional, nestas ocasiões, para saber lidar com as questões decorrentes de uma ruptura conjugal. Os filhos precisam de maior atenção e os pais, na maioria das vezes, encontram-se vulneráveis para atender estas necessidades. Neste sentido, um auxílio profissional adequado contribui para amenizar os sofrimentos e facilitar a resolução dos conflitos de uma forma satisfatória. O acirramento dos conflitos pela disputa da guarda de filhos, de acordo com a literatura analisada, demonstra que o processo de separação gera mais inconvenientes do que vantagens para a criança.

Verifica-se, dessa forma, que a disputa pela guarda pressupõe um agravamento dos conflitos, geradores de inconvenientes para a criança. Tornando-se necessária a ajuda profissional. Esta é a proposta da escuta da criança na mediação familiar, com vistas a auxiliar em questões relativas à guarda. Relatos mostram que a escuta é de suma importância nesses casos: eu vejo é isso, que a criança em alguns casos podem ajudar os pais no que está

acontecendo ou até mesmo ajudar encontrar uma solução melhor, comum na separação a briga pelo filho a guarda, o pai quer ficar com o filho, a mãe quer ficar, muitas brigas sai em razão da guarda (A3). Pesquisas demonstram, conforme Carrielo e Brito (1999 apud CRUZ; MACIEL e

RAMIREZ, 2005), que, em casos envolvendo questões de guarda de filhos, se pode constatar a Síndrome de Estocolmo – trata-se da identificação da criança com seu guardião, fazendo alianças com ele e colocando o outro genitor no papel de vilão e a Síndrome de Alienação Parental – acontece quando um dos genitores possui comportamento manipulador, de tal forma a influenciar a criança a ver o outro de forma negativa.

Tudo isso evidencia o quanto a escuta da criança, proposta na mediação familiar, pode auxiliar nesses momentos pelos quais passam a criança e os pais. Em casos de guarda compartilhada, a escuta da criança poderá auxiliar para maiores esclarecimentos, percepções e considerações da opinião da principal interessada na decisão, ela mesma.

E acho que, o que eu percebi com a entrada em vigência da lei da guarda compartilhada eu acho que é possível que os mediadores também se percebam de ouvir um pouco mais a criança no sentido que a fala da criança pode orientar o mediador junto dos pais estabelecerem como vai ser essa guarda compartilhada, porque são os pais imaginando regras que vão colocar um pro outro e para os filhos se optarem pela guarda compartilhada: mas, mesmo na guarda convencional, eu acho que essa criança precisa ser ouvida para ver se está fazendo falta estar com o pai, se está fazendo falta estar com a mãe (P3).

Os relatos dos mediadores, em sua maioria advogados, propõem que a escuta da criança será válida em situações relativas à guarda; aspecto abordado por apenas uma psicóloga que referiu-se à guarda compartilhada. Provavelmente isso ocorra pela visão que os advogados possuem, como definidores do acordo entre as partes, qual seja, eles percebem questões relativas à guarda como interessantes para concluir o acordo; por outro lado os psicólogos têm uma visão como a da categoria anterior, na qual incluir a criança é importante posto ser ela um componente da família. Basicamente as duas representações têm a mesma finalidade a inclusão da criança na mediação; contudo, os psicólogos predominantemente defendem a inclusão da criança por ser ela o ator principal do conflito. Já os mediadores advogados na maioria defendem essa inclusão para fins de definição da guarda.

No documento Escuta da criança na mediação familiar (páginas 107-109)