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Escuta na mediação protege mais a criança

No documento Escuta da criança na mediação familiar (páginas 102-104)

4.4 REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA ESCUTA DA CRIANÇA

4.4.3 Escuta na mediação protege mais a criança

Esta Representação Social, a escuta na mediação protege mais a criança obteve freqüência equivalente a da anterior – 7 –, quatro dos participantes mediadores psicólogos e três mediadores advogados. As principais opiniões dos entrevistados foram: na mediação, a escuta é mais protegida para a criança do que em outras formas de escuta; a escuta na SMF é preventiva; a escuta na SMF traz menos danos para a criança; o ambiente da SMF não é amedrontador é acolhedor, protegido, não tem autoridade, tem cuidado e sigilo; na mediação, a criança é mais bem ouvida, acolhida, do que numa situação institucional, por um juiz; se comparado com o DSD, a mediação traz grande benefício, já que há o sigilo, não existe o medo decorrente da autoridade de um juiz; o ambiente formal do juiz não é favorável à tomada de informações, mais ainda para uma criança; o mediador não tem o protótipo de um poder como no âmbito judiciário, a mediação familiar é menos traumática para a criança, se comparada ao poder judiciário.

Nas palavras de Ávila (2004, p. 31), “a mediação familiar é um processo de gestão de conflitos no qual um casal solicita ou aceita a intervenção confidencial de uma terceira pessoa, objetiva e qualificada”. Sendo assim a mediação é confidencial, existindo sigilo, não tem como fim precípuo a produção de provas, mas sim que por si mesmas as partes encontrem bases para um acordo duradouro e aceitável mutuamente. Além disso, a mediação familiar

foi instaurada com o intuito de preencher as lacunas do sistema judiciário tradicional no que tange às transformações familiares que ocorreram durante as décadas passadas. Para responder a essas mudanças na vida familiar foi preciso criar serviços e procedimentos visando a solucionar os problemas sociais e afetivos ligados à ruptura conjugal (ÁVILA, 2001, p. 31).

Com vistas ao exposto, percebe-se que a mediação familiar possui uma lógica alternativa à resolução de conflitos, permitindo nova possibilidade ao frio ambiente jurídico. A autora Cezar-Ferreira (2007) discute a interface Psicologia/Direito, necessária na mediação familiar, e faz críticas referente à má condução de conflitos familiares:

Ao lado dos verdadeiros sujeitos da relação conflituosa, posicionam-se aqueles personagens de fora, compelidos, por dever de ofício e expressa previsão legal, ao difícil encargo de participar como árbitros das guerrilhas domésticas, a invadir licitamente a privacidade das pessoas envolvidas no conflito e buscar uma solução de autoridade, nem sempre aceita de bom grado, que se imponha como verdade do Estado a ser cumprida com os meios coercitivos do direito positivo (CÉZAR-FERREIRA, 2007, p. 26).

A isso decorre o surgimento da mediação, para melhor conduzir a comunicação dos envolvidos no conflito, com o intuito do surgimento da melhor solução a todos. Pode-se perceber uma clara diferença entre mediação familiar e o DSD, o qual é um procedimento que alguns defendem para obtenção de testemunhos de crianças e adolescentes. Estes são acomodados em salas projetadas com câmeras e microfones, para posterior inquirição por psicólogos ou assistentes sociais, nos processos judiciais. A seguinte fala demonstra essa diferença da escuta na mediação e no DSD: por exemplo, o DSD mais usado para abuso sexual, eu acho que a criança é

exposta já que vai nos autos [...] na mediação, a fala da criança não vai para o juiz, isso dá uma proteção à criança (P2).

Além disso, os profissionais que fazem a inquirição das crianças e adolescentes, no DSD, são meros intérpretes e partícipes nessa violação de direitos:

Uma audiência de instrução que é realizada na forma processual vigente, penal ou civil, pelo sistema presidencial – cumpre ao Juiz, exclusivamente, dar início e ordenar aos atos, conforme a lei, e decidir sobre as questões que forem suscitadas durante o seu transcorrer – cabendo ao técnico atuar como facilitador do depoimento da criança/adolescente. Essa tarefa atribuída ao técnico, como sugere Dobke (2001), assemelha-se à atuação do intérprete, que é o profissional nomeado pelo Juiz para traduzir o depoimento de uma pessoa que não conhece a língua nacional ou for surda- muda (DALTOÉ-CEZAR, 2007, p. 69).

Essa prática difere da mediação familiar, cuja proposta da mediação não se trata de recolher testemunho de nenhum dos envolvidos no conflito; todas as partes são sujeitos e a

criança tem mais proteção que outras formas de escutas (P2). Além disso, o mediador, para

Ávila (2004), tem a capacidade de uma escuta ativa, de entrar na relação, de propor idéias, de ver alternativas, autenticidade [...] não se tratando, portanto, de um mero intérprete das vontades do Juiz. Para Lévesque (1998 apud Ávila 2004), os cinco principais objetivos da mediação são: redução de conflitos; facilitação da comunicação; identificação e clarificação dos pontos específicos em questão; melhor utilização do sistema legal; alcance de um acordo. Lembrando que o acordo é visto como necessário em mediações mais acordistas, diferentemente das transformadoras.

Essas diferenças expostas da mediação, se comparadas com outras formas são expostas nos discursos dos entrevistados, como, por exemplo, desse mediador advogado, que se refere ao ambiente e ao sigilo:

O grande benefício, além deles estarem procurando a solução por eles mesmos, é o sigilo que se tem por mais que os processos na área da família envolvendo menor eles correm em segredo de justiça confidencial, mas fica em arquivos que podem ser consultados, isso no processo formal. Já na mediação, fica em sigilo protege mais a criança comparado ao depoimento sem dano. Além daquele trauma, as pessoas têm um trauma, não sei se é psicológico ou não, os psicólogos sabem disso, mas elas têm um medo muito grande de sentar à frente do juiz e dar um depoimento; qualquer pessoa por maior que seja o malandro ou ainda empresário, a gente conversa antes a gente tenta preparar, mas geralmente as pessoas tremem. Aquele ambiente formal do juiz não é favorável a essa tomada de informações, muito menos para uma criança (A4).

O sigilo, a proteção e o ambiente informal foram temáticas abordadas pelos entrevistados, como diferenciais da mediação: acho que na mediação a criança será melhor

ouvida, melhor acolhida do que numa situação jurídica, institucional por um Juiz (A1). Outros

entrevistados comentam sobre o ambiente distinto da mediação, o qual é acolhedor, parecendo ser mais protegido, por não possuir a questão da autoridade do juiz. Sendo assim, a mediação possui maior sigilo, é mais restrita e tem mais cuidado com a criança.

Tais relatos e literaturas demonstram os pontos positivos que o ambiente da mediação agrega à problemática dos conflitos familiares. Evidencia-se, assim, a importância que a escuta da criança tem dentro do contexto da mediação familiar.

No documento Escuta da criança na mediação familiar (páginas 102-104)